tag:blogger.com,1999:blog-70994303541420858162024-03-18T12:00:33.626-03:00Blog do Plástico BolhaPublicação de textos de poesia e prosa, divulgação de eventos relacionados a literatura, notícias, atrações e muito mais. Se você ainda não conhece o jornal impresso, esta será a sua porta de entrada. Se você já conhece, então sinta-se em casa. Bem-vindo ao mundo do Plástico Bolha.
Visitem o site www.jornalplasticobolha.com.br/Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.comBlogger2254125tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-52306033347800106222024-03-18T12:00:00.001-03:002024-03-18T12:00:00.134-03:00Um poema de Clara de Góes<div><br />Quando o mar sossegar</div><div>e as ondas se cobrirem de silêncio,</div><div>restará essa tristeza de pedra,</div><div>loucura submersa</div><div>de ser.</div><div><br /></div><div>Clara de Góes</div><div><br /></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-90560244064451226952024-03-17T18:00:00.005-03:002024-03-17T18:00:00.144-03:00A rosa do tempo<p></p><div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br />a rosa do tempo<br />(a palha sob os frutos)<br />despetalou quase tudo.</span></div><span style="font-family: inherit;"><br />como uma flor que urina<br />suas próprias pétalas no final da tarde<br />em busca das cercanias do sonhado.<br /><br />assim como um elemento casual<br />é fruto e sêmen para o poema.<br /><br /><br />Rogério Batalha</span><p></p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-35933412872194846582024-03-16T18:00:00.011-03:002024-03-16T18:00:00.261-03:00Um poema de Mariana Junqueira Pedras<div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br />Não sou poeta nem escritora<br />Mas já que a vovó quer presente<br />Venho aqui como impostora<br /><br />Essa história começou a muito tempo atrás<br /></span><span style="font-family: inherit;">Como se diz por aí “once upon a time”<br /></span><span style="font-family: inherit;">Um vovô que ainda não era avô, mas muito audaz<br /></span><span style="font-family: inherit;">Enamorou-se por uma linda jovem hoje vovó, “just in time”<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Papo vai, papo vem... chegou o grande dia<br /></span><span style="font-family: inherit;">Estavam todos lá ouvindo a melodia<br /></span><span style="font-family: inherit;">(tocar marcha nupcial)<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />E numa tarde ensolarada<br /></span><span style="font-family: inherit;">Na maternidade lotada<br /></span><span style="font-family: inherit;">A filhinha muito esperada<br /></span><span style="font-family: inherit;">Chegou para animar a primarada<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />A vida foi vivendo<br /></span><span style="font-family: inherit;">E do Rio saíram correndo<br /></span><span style="font-family: inherit;">Numa terra muito distante<br /></span><span style="font-family: inherit;">Mais uma vez a vovó se fez gestante<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Em terras pernambucanas<br /></span><span style="font-family: inherit;">Nasceu uma menininha arretada que só<br /></span><span style="font-family: inherit;">Sorridente, alegre e curiosa<br /></span><span style="font-family: inherit;">Logo se tornou a gloriosa<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Mas o vovô não podia ser o único a reinar<br /></span><span style="font-family: inherit;">E no Figueiredo em aceleramento, veio a notícia para comemorar<br /></span><span style="font-family: inherit;">Esse Natal não será no Rio! Ficaremos para o nascimento do rebento que vai chegar<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />O mundo gira<br /></span><span style="font-family: inherit;">E uma grande oportunidade apareceu!<br /></span><span style="font-family: inherit;">Morar mais perto dos bivós...<br /></span><span style="font-family: inherit;">BH, aqui vamos nós!<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Mas cinco ainda era pouco<br /></span><span style="font-family: inherit;">Vovô e vovó queriam ser avô e avó<br /></span><span style="font-family: inherit;">Quanto mais netinhos, melhor!<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />A primeira a nascer foi a primeira a casar<br /></span><span style="font-family: inherit;">Só que demorou para se concretizar!<br /></span><span style="font-family: inherit;">Mas a primeira netinha nasceu<br /></span><span style="font-family: inherit;">Conforme a filhinha prometeu!<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Casamento aqui, casamento acolá<br /></span><span style="font-family: inherit;">Mais dois filhos a cantarolá<br /></span><span style="font-family: inherit;">A música que não quer calar<br /></span><span style="font-family: inherit;">(tocar a marcha nupcial)<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />O tempo foi passando<br /></span><span style="font-family: inherit;">E nada de netos chegando.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Até que a notícia apareceu.<br /></span><span style="font-family: inherit;">O segundo netinho nasceu.<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />E aí? Como vamos ficar?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Só dois netos para alegrar?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Que nada!!! Mais uma netinha chegando<br /></span><span style="font-family: inherit;">Em terras fluminenses iluminando<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />A família ainda não estava completa<br /></span><span style="font-family: inherit;">Vovô e Vovó precisavam de mais uma neta<br /></span><span style="font-family: inherit;">E a loirinha de olhos claros nasceu!<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Como aconteceu lá trás,<br /></span><span style="font-family: inherit;">O netinho não podia ser o único a reinar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">E fechando com chave de ouro<br /></span><span style="font-family: inherit;">Mais um netinho chegou para alegrar<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Agora sim, podemos dizer com certeza<br /></span><span style="font-family: inherit;">Somos uma família, que fortaleza<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />E nesse Natal sem presente<br /></span><span style="font-family: inherit;">Somos o presente e estamos presente!<br /></span><span style="font-family: inherit;">Que é muito mais legal<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br /><br />Mariana Junqueira Pedras</span></div><div><br /></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-91467917947193007052024-03-15T18:00:00.021-03:002024-03-15T18:00:00.358-03:00Saideira, de Guilherme Ottoni<p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Para o amigo Thiago</span></div><br />O último gole acerta a dual vontade</span></div></div><div><span style="font-family: inherit;">De quem é livre por excesso, e o atira,<br />Com o achincalhe caro à realidade,<br />Ao chão de um bar que um dia lhe servira!<br />Dou esse gole ao fel da honestidade<br />Para inebriar-me da última mentira,<br />Mas se por vezes o ímpeto me invade<br />Deixo queimar a tentação em ira!<br />Bebo-o. Traio meu próprio livre-arbítrio.<br />E depois, boiando ao acaso em meu desejo,<br />Mofo nas lágrimas de um olho vítreo!<br />Sóbrio, tal apatia não se doma,<br />Porquanto a Liberdade, como a vejo,<br />Não se busca ou se pede, só se toma!<br /><br /><br />Guilherme Ottoni</span></div><p></p><div style="text-align: left;"><br /></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-76050335363068338102024-03-14T18:00:00.016-03:002024-03-14T18:00:00.144-03:00Urgências<div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br />Urge a paciência a passos lentos<br />Urge a guerra na Ucrânia<br />Urge retroalimentar o crânio<br />Urge libertar o pássaro<br />Urge assaltar o avaro<br />Urgentes indigentes<br />Urge indiferente, desta ou daquela gente<br />Passa ferro na minha mente<br />Fulgor dos unguentos<br />O que urge e desagua feito onda do mar ou lágrima<br />Urge a saudade no peito que rebenta<br />Esta troça não aguento<br />No teu útero o meu rebento<br />Filho da Pátria nossa que amamento<br />E se conclamo a dor derradeira cavalgadura<br />É que esparramado feito espasmo espirro o gozo na boca tua<br />Urge para o bem ou para o mal o ânimo<br />Urge não morrer nem matar o meu irmão eslâmico<br />Urge em nós o sexo tântrico<br />Urge a lâmpada<br />Urge o Vagalume<br />Urge meu peito roçando o peito teu<br />Urge o urso hibernando<br />Urge o último relâmpago<br />Urge minha sina<br />O sinal de trânsito<br />A construção<br />Urge a infância no futuro<br />Urge que derrubemos das prisões os muros<br /><br /><br />Antonio Marcos Abreu de Arruda<br /></span><span style="background-color: white; font-family: inherit;"><br /></span></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-57688350892815322542024-03-13T18:00:00.026-03:002024-03-13T18:00:00.131-03:00A noite, de Rogério Batalha<p style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br />sob o esporão da noite<br /></span><span style="font-family: inherit;">tu ouves a voz<br /></span><span style="font-family: inherit;">da tromba d'água.<br /></span><span style="font-family: inherit;">porque há em ti a noite<br /></span><span style="font-family: inherit;">(em plena luz do dia).<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />mas se o sol ainda brilha<br /></span><span style="font-family: inherit;">por que não persiste<br /></span><span style="font-family: inherit;">e invade esse breu?<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />por que<br /></span><span style="font-family: inherit;">(como um corpo<br /></span><span style="font-family: inherit;">exumado)<br /></span><span style="font-family: inherit;">tu não expeles<br /></span><span style="font-family: inherit;">essa treva?<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br /><br />Rogério Batalha</span></p><p></p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-71163784013583648122024-03-12T18:00:00.017-03:002024-03-13T15:18:02.132-03:00para um tema recorrente em bruegel<p></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br />a propósito da dor | não estavam erradas as pinturas antigas | quase nada mesmo muda | o </span><span style="font-family: inherit;">sol se põe e ninguém liga | talvez com algum tempo instaure-se na memória um pouco de </span><span style="font-family: inherit;">bolor | como geleiras que se fundem vagarosamente ao mar | talvez permaneça ainda a experiência do medo | numa confusão mental aguda | mas quase nada mesmo muda | apesar da cabeça embolorada de águas gélidas derretidas | permanece o mesmo o mar | exceto por um minúsculo ícaro alado | a morte triunfante alegre alaúde um ícaro afogado | as minhas pernas para o ar</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><br />Larissa Lins</span><p></p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-542789634340974022024-03-11T12:00:00.002-03:002024-03-11T12:00:00.241-03:00Um poema de Leonardo Gandolfi<div><br />Cada um, Totó,</div><div>tem o Kansas que merece</div><div>embora eu ache que</div><div>nem estejamos nele mais.</div><div><br /></div><div>Leonardo Gandolfi</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-5756426955356417432024-03-10T17:25:00.001-03:002024-03-10T17:25:00.148-03:00Oswald antropófago<p><br />como pode<br />tantas mulheres<br />todas tão fantásticas<br />caírem no conto<br />de um homem que <br />escreveu de tudo<br />menos um conto?!<br /><br /><br />Lucas Viriato </p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-31324385903645488642024-03-09T18:00:00.003-03:002024-03-13T18:34:22.771-03:00CADERNOS DE GLAUBER E GUIMARÃES ROSA: APROXIMAÇÕES, de Marília Rothier<p><br /></p><div style="text-align: justify;">O conjunto das obras literárias e visuais — legitimadas e circulantes entre o público consumidor — integra, certamente, parte importante do patrimônio de uma cultura. No entanto, esses bens arrolados nos levantamentos imagético-bibliográficos correspondem à parte visível de um acervo muito mais amplo e complexo (responsável, em maior ou menor escala, pela própria existência das obras), acervo apenas sugerido nas fronteiras incertas dos arquivos privados. O fundamento da afirmativa é óbvio: todo produto artístico, ao constituir-se, movimenta um enorme circuito de referências, tensamente articuladas, para consolidar, como novidade digna de divulgação, apenas um número reduzido de signos. Por sua vez, esses signos, constelados em objeto-arte, retiram a intensidade de seu brilho das marcas pouco nítidas, inscritas neles, durante o processo de construção.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Visto da perspectiva descrita, o patrimônio ganha um excedente de valor e nos desafia com sua incalculada riqueza espectral. Encontramo-nos como que diante daquele personagem rosiano de “O recado do morro”, o Coletor, que, fazia crescer suas posses em fazendas e gado, à medida que ia registrando as cifras e somando-as, alucinadamente, nos muros da igreja do arraial. Quando a visada crítica sobre uma obra atravessa-a para ir rastrear as etapas de sua construção, nos proto-registros de seus planos, rascunhos e versões abandonadas, a tarefa empreendida assemelha-se aos cálculos do Coletor. Não lida com quantidades materiais, tesouros palpáveis, mas com um excesso significante fluido, que só reverte em riqueza (nos termos de Oswald de Andrade), no momento em que se deixa prender nas redes do inventário. Num momento, como este, de reunião de certo modo festiva, como foi o caso da missa antecedendo à Congada, cenário das contas desvairadas do Coletor, propõe-se um exame dessa experiência desconcertante mas rentável de </span><span style="font-family: inherit;">compulsar fragmentos do trabalho artístico em meio à documentação de acervos pessoais. É um modo de fazer inventário conjurando fantasmas. Operação inútil, do ponto de vista pragmático, embora altamente lucrativa se o objetivo é duvidar da solidez dos haveres resguardados e buscar outros valores possíveis como lastro da arte-pensamento.<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />As amostras escolhidas para o exame proposto, no arquivo do escritor Guimarães Rosa, são três cadernos, guardados no Arquivo Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, em cópia xerox, sem que haja indicação do paradeiro dos originais. Tais cadernos, indicados pelos números 2301, 2303 e 2304, correspondem, sem dúvida, a anotações de estudo, pois alternam citações com registros de palavras e frases, cunhadas pelo autor-leitor, certamente ao longo de pesquisas sobre temas de seu interesse. Pela quantidade e extensão dos trechos citados e pela insistência no experimento com a cunhagem de expressões desautomatizadoras do corriqueiro da linguagem, entende-se que o estudioso operava um levantamento consistente de material informativo e lingüístico que pudesse fundamentar seu trabalho fabulador. Como se, diante do patrimônio herdado, o escritor precisasse reservar uma cota particular para seu uso. Reduplicava, então, em cadernos manuscritos, parcelas especialmente preciosas, garimpadas na riqueza de suas </span><span style="font-family: inherit;">estantes.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A atividade manual de copiar, exigindo atenção e paciência, certamente o predispunha aos experimentos lingüísticos, imaginados durante a operação mecânica da escrita. Aquele que rastreia um saber, colhido na distância dos sertões, demonstra, através de seus cadernos, uma atitude alternativa à do cientista. Não é o acerto da informação que lhe interessa, mas uma transposição da mesma para outro ponto de vista: o da experiência cotidiana, que se distingue da observação eventual. Enquanto copista </span>—<span style="font-family: inherit;"> e copista reflexivo </span>—<span style="font-family: inherit;"> o escritor comporta-se como o ouvinte de estórias, contadas e aprendidas durante o trabalho. A arte narrativa, preparada no preenchimento gradativo das páginas dos cadernos, situa-se em lugar especial, entre o conhecimento formalizado da biblioteca e a tradição oral. Para constituir temário, léxico e sintaxe, apropriados ao mundo concreto (sensorial-afetivo) da arte, é que servem os cadernos de Guimarães Rosa. Por isso, com certeza, preparando suas próprias viagens por trilhas sertanejas ou organizando o material nelas coletado, foi </span><span style="font-family: inherit;">que o escritor foi enchendo páginas e páginas. Assim aprimorava seu método de inventariar os bens de uma cultura em processo de esquecimento, ao mesmo tempo que inventava instrumentos de escrita capazes de manter essa cultura viva, inserindo-a no patrimônio valorizado pelo presente.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Em versão inicial de roteiro, nunca filmado, sobre “Testamento e morte de Dom Quixote”, o manuscrito de Glauber Rocha enumera animais (e partes do corpo de animais), pessoas, paisagens e edifícios (“Moinho de vento / Planície espanhola parada / <i>Travelling</i> aéreo da planície / Touro / <i>Travelling</i> aéreo sobre o palácio / Quixote / Mãos na pele do touro / No chifre do touro”) para situar a personagem, inserindo os quadros desconexos no contexto dos conflitos históricos (“As cabras / Bois / Carneiros / Cobras / Deitado e as mulheres nuas por cima dele enquanto faz os comentários / O pastor com uma camponesa dizendo um poema espanhol / <i>Travelling</i> que desce e sobe falando de Roma e sua decadência”). Enumerações desse tipo repetem-se em versões variadas, como que buscando um ritmo para a sucessão das imagens, que devem contar a estória. No caderno da marca <i>Theme book</i>, espiral, de capa vermelha </span>—<span style="font-family: inherit;"> guardado, hoje, no acervo do Tempo Glauber </span>—,<span style="font-family: inherit;"> o cineasta experimenta, através de listas de imagens possíveis, uma atualização </span><span style="font-family: inherit;">do <i>Quixote</i>, onde o foco narrativo evidencie sua perspectiva latino-americana. Figuras estranhas e familiares devem evocar o fascínio do cavaleiro andante, sempre equivocado, em confronto com a violência do imperialismo e da Igreja inquisitorial. A anotação de elementos desencadeadores de efeito dramático, entre esboços de outros roteiros (“A serpente de sete cabeças”, “<i>América nuestra</i>”), projetos empresariais e contas domésticas, conserva um momento precioso do processo de produção cinematográfica, aquele em que a relação de possibilidades múltiplas, anterior ao trabalho seletivo, revela a complexidade da construção estética. É preciso enorme amplitude de dados para que o recorte e articulação final tenham consistência.</span></div></span><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Enquanto a caligrafia nervosa de Glauber ocupa as páginas de cadernos estrangeiros, durante suas viagens em demanda de condições técnicas e políticas para condensar numa linguagem cinematográfica revolucionária a força das diferenças culturais do Terceiro Mundo, os estudos metódicos de Guimarães Rosa também se transcreveram em sua letra redonda, caprichada, indicando um processo lento e rigorosamente planejado de construção literária, desenvolvido, possivelmente dos meados dos anos quarenta até a redação dos grandes livros de 1956. Esses foram os anos de formação profissional do escritor-pesquisador das tradições épicas que, apropriadas em contraponto às experiências da vanguarda, resultaram num contradiscurso crítico aos modelos modernizadores à ocidental.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Se os bichos, enumerados no rascunho de um futuro “Testamento e morte de Dom Quixote”, só têm valor alegórico (valor que se explicita na versão final do roteiro de <i>O leão de sete cabeças</i>: “Eu a vi sair do mar, uma besta com dez testas e dois chifres, e em cada chifre trazia um diadema... e em cada uma das cabeças estavam escritas palavras de blasfêmia... e a besta parecia uma pantera... Tinha patas como um urso e uma goela de leão...”), as listas de animais dos cadernos de estudo de Guimarães Rosa registram dados práticos, específicos e detalhados, sem nenhuma dimensão simbólica. Interessa inventariar as “cores e sinais de cavalos” (“cor de canela: alazão; cor de ouro desmaiado / cor amarelo torrado: baio”) bem como “de bois” (“vinagre: castanho claro, tirante a rubro”) para alimentar a ficção menos com informações naturalistas do que com o saber dos vaqueiros, daqueles cujo conhecimento é matizado da percepção e afeto colhidos na lida cotidiana. No entanto, de perspectivas opostas, os dois inventariantes-artistas acabam alcançando um </span><span style="font-family: inherit;">efeito equivalente. Concedendo-se largo tempo para a pesquisa, Rosa reúne abundantes referências bibliográficas e observações etnográficas; experimenta combinar elementos das listas de diversas formas, transfere, com ligeiras mudanças, as enumerações dos cadernos para folhas datilografadas, onde as indicações de aproveitamento literário se inscrevem nas margens. Todo esse procedimento sistemático, porém, quando transfigurado em poesia, subverte a matriz científica e instaura o ponto de vista da intuição e até, de preferência, o da chamada irracionalidade. A estória se narra como que através dos olhos dos bichos. Já, nos roteiros de Glauber, a força épica, que se contrapõe à racionalidade moderna, é a da magia, da solenidade dos ritos apropriados das culturas selvagens.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Este exercício tateante de aproximação entre as poéticas de Guimarães Rosa e Glauber Rocha, a partir do exame de alguns de seus numerosos cadernos de notas, tem como propósito colocar o inevitável voyerismo do pesquisador de arquivos a serviço do desvendamento dos processos de inscrição do corpo (com suas sensações e impulsos, singulares e momentâneos) na produção da obra </span>—<span style="font-family: inherit;"> obra que se faz da matéria coletiva, codificada, genérica da cultura. A escolha dos dois artistas se deve, para além da razão óbvia de que seus arquivos pessoais são acessíveis, à afinidade entre os projetos artísticos de ambos (afinidade explícita em vários textos de Glauber, que se empenhou na tarefa de fazer-se herdeiro do legado rosiano), a despeito das diferenças marcantes de temperamento e métodos de trabalho. A escolha de cadernos (ou cadernetas), de preferência a outros suportes de escrita, é que estes, por seu próprio formato, têm de ser manuscritos. E a caligrafia é registro imediato dos movimentos da mão, conservando, na marca das emoções </span><span style="font-family: inherit;">experimentadas (urgência ou calma, empenho ou descaso, simpatia, irritação ou temor diante do assunto em pauta), uma nuance particular no emprego dos signos. Os cadernos manuscritos tomam-se, então, como o lugar onde a autoria começa a configurar-se. Aí, os inventários </span><span style="font-family: inherit;">—</span><span style="font-family: inherit;"> estratégias de apoio da memória </span><span style="font-family: inherit;">—</span><span style="font-family: inherit;">, sejam cópia de leituras, anotação de observações, registro de imaginação e lembrança, recebem mesmo involuntariamente um traço do instante vivido.</span></div></span><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Grande parte dos três cadernos de Rosa, em exame, é ocupada por cópias de trechos lidos pelo escritor. Seu interesse se dirige aos relatos dos viajantes, onde se encontram </span><span style="font-family: inherit;">descritas, com o relevo da curiosidade, a topografia, a flora, a fauna e a população dos </span><span style="font-family: inherit;">sertões. Certamente, preparando-se para suas próprias viagens de pesquisa (a uma fazenda </span><span style="font-family: inherit;">em Paraopeba em 1945, ao Pantanal em 1947, à Bahia, para assistir um encontro de </span><span style="font-family: inherit;">vaqueiros, e pelo interior de Minas, acompanhando uma boiada, ambas em 1952), o escritor </span><span style="font-family: inherit;">colecionava o que lhe podia ser útil, dentre os registros de seus antecessores do século XIX </span>—<span style="font-family: inherit;"> naturalistas ou exploradores estrangeiros, como Saint Hilaire, Spix e Martius e James </span><span style="font-family: inherit;">Wells, ou ainda brasileiros cultos, como Virgílio Melo Franco cuja carreira de juiz obrigava </span><span style="font-family: inherit;">a longas travessias. Mas as fontes de Rosa são variadas, incluem desde a literatura </span><span style="font-family: inherit;">(Alphonsus de Guimaraens e Afonso Arinos) até os textos de divulgação: este é o caso do </span><span style="font-family: inherit;">folheto da Estrada de Ferro Central do Brasil, <i>Vias brasileiras de comunicação</i>, preparado </span><span style="font-family: inherit;">em 1928 por Max Vasconcellos. Os longos inventários resultantes de tais estudos mostram </span><span style="font-family: inherit;">que a etapa inicial da construção literária rosiana é a tomada de conhecimento, tão </span><span style="font-family: inherit;">minuciosa quanto possível, da matéria de onde surgirá a narração. Duas das novelas de </span><span style="font-family: inherit;"><i>Corpo de baile</i> estruturam-se na forma de ensaios ficcionais sobre a demanda da poesia </span><span style="font-family: inherit;">(“Cara-de-Bronze”) e o “formar-se” de uma canção (“O recado do morro”). Naquela, o </span><span style="font-family: inherit;">vaqueiro Grivo, mandado em missão de rastreador da paisagem dos caminhos sertanejos, </span><span style="font-family: inherit;">relata o cumprimento de sua tarefa, entre os comentários de seus pares; nesta, um </span><span style="font-family: inherit;">naturalista alemão, Seu Alquiste ou Olquiste, acompanhado de guias locais, sai em </span><span style="font-family: inherit;">excursão de estudos (“a tudo quanto enxergava dava um mesmo e engraçado valor: fosse </span><span style="font-family: inherit;">uma pedrinha, uma pedra, um cipó, uma terra de barranco, um passarinho atoa, uma moita </span><span style="font-family: inherit;">de carrapicho, um ninhol de vespos.”), cruzando-se seu trajeto com os deslocamentos de </span><span style="font-family: inherit;">excêntricos loucos e de um poeta popular igualmente empenhados na aquisição e </span><span style="font-family: inherit;">divulgação do conhecimento. Enquanto o cientista observa, experimenta e anota, os </span><span style="font-family: inherit;">doidinhos ouvem a voz profética do Morro da Garça. Dos ecos desta é que se faz a canção. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br />No segundo caderno de Glauber Rocha (caderno de marca Conti, nº 830, de capa </span><span style="font-family: inherit;">vermelha e folhas grampeadas, também pertencente ao Tempo Glauber), escolhido para </span><span style="font-family: inherit;">esta reflexão, há referência às leituras necessárias ao desenvolvimento dos projetos. Numa </span><span style="font-family: inherit;">espécie de anotação esporádica de diário, inserida entre argumentos e roteiros, encontra-se, </span><span style="font-family: inherit;">no dia 2 de janeiro de 1974: “<i>Li Ciropédia</i>”. Trata-se da obra de Xenofonte, personagem </span><span style="font-family: inherit;">central de “O nascimento dos deuses”, roteiro encomendado pela RAI, a empresa italiana </span><span style="font-family: inherit;">de televisão. Na evidente velocidade da escrita não há tempo para citações de autores </span><span style="font-family: inherit;">antigos nem modernos. A conseqüência dos estudos só se apresenta já transfigurada pela </span><span style="font-family: inherit;">reflexão imaginativa do cineasta, decididamente avesso ao filme histórico de aparência </span><span style="font-family: inherit;">documental, mas decidido a uma apropriação renovadora das obras do passado, </span><span style="font-family: inherit;">interpretando-as de acordo com a conjuntura presente. Num dos primeiros esboços de </span><span style="font-family: inherit;">roteirização das campanhas bélicas narradas em <i>Anábasis</i> e <i>Ciropédia</i>, encontra-se o </span><span style="font-family: inherit;">destaque: “O texto de Xenofonte-Engels explica a formação do Estado Grego”.<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Como atestam os dois cadernos examinados, uma enorme dispersão caracterizou a </span><span style="font-family: inherit;">atividade de Glauber, entre 1969 e 1975. Há rascunhos referentes a projetos de filme dos </span><span style="font-family: inherit;">mais variados assuntos: o Quixote, as guerras africanas de independência, a máfia siciliana, </span><span style="font-family: inherit;">uma versão livre de <i>A tempestade</i> de Shakespeare e “O nascimento dos deuses”, além de </span><span style="font-family: inherit;">alguns tratamentos de “<i>América nuestra</i>”. A maior parte dos registros desses trabalhos </span><span style="font-family: inherit;">nunca transpôs os limites do caderno. Ficaram nas páginas manuscritas como excesso de </span><span style="font-family: inherit;">informação, descartada como dado independente mas capaz de fertilizar as obras </span><span style="font-family: inherit;">efetivamente desenvolvidas e levadas a público. A proliferação de fábulas roteirizáveis </span><span style="font-family: inherit;">corresponde, no arquivo de Glauber, à feição perdulária dos cadernos de Guimarães Rosa, </span><span style="font-family: inherit;">onde se grafam enormes levantamentos sobre as plantas do cerrado, a arquitetura colonial </span><span style="font-family: inherit;">mineira, um trajeto de ferrovia e ainda se insinuam citações de Toynbee sobre o helenismo, </span><span style="font-family: inherit;">notas referentes a índios no vale do Jequitinhonha e nada menos que expressões na língua </span><span style="font-family: inherit;"><i>Nahuatl</i> do México. Uma simples busca nos arquivos de escritores mostra que se reúne </span><span style="font-family: inherit;">uma enciclopédia para daí extrair um pequeno texto poético. <br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Tal enciclopédia babélica, contida nos cadernos, vai sendo filtrada para compor </span><span style="font-family: inherit;">cada obra, conforme critérios precisos de escolha e justaposição. Esse procedimento </span><span style="font-family: inherit;">preserva as ruínas de uma sabedoria popular e de uma noção comunitária de rigor estético </span><span style="font-family: inherit;">em confronto com o desejo singularizante de autoria. O corpo manipula o código para </span><span style="font-family: inherit;">roubar-lhe o efeito de consenso. É isso que torna inequívoca a assinatura do texto enquanto </span><span style="font-family: inherit;">garante a permanência produtiva de sua legibilidade, na cadeia da tradição. Os estudos de </span><span style="font-family: inherit;">Guimarães Rosa indicam exatamente o lugar de confronto entre a herança recebida e o </span><span style="font-family: inherit;">impulso pessoal de empregá-la. É o ponto marcado pela sigla m%. Distribuídas </span><span style="font-family: inherit;">desigualmente pelas páginas dos cadernos, as expressões marcadas pela sigla não indicam </span><span style="font-family: inherit;">nenhuma pretensão de inventividade autônoma. Ao contrário, resultam da aproximação </span><span style="font-family: inherit;">inusitada — em grau chocante ou sutil </span>—<span style="font-family: inherit;"> entre duas ou mais unidades lingüísticas ou </span><span style="font-family: inherit;">fragmentos de narrativa: “perciência”, “os fatos corriam como água”, “cabisduro”, “de leite </span><span style="font-family: inherit;">e de raça”. Organizadas em sintaxe, essas expressões cunhadas na fronteira dos cânones, </span><span style="font-family: inherit;">funcionam como impressões digitais identificadoras. No caso de Guimarães Rosa, é o eco </span><span style="font-family: inherit;">ardilosamente recuperado da oralidade sertaneja que perturba a estabilidade da escritura. Na </span><span style="font-family: inherit;">produção de Glauber, o conflito de fronteira, embora guarde equivalência com o caso </span><span style="font-family: inherit;">rosiano, surge mais agressivo e irregular. Se a trilha sonora de seus filmes sempre inclui os </span><span style="font-family: inherit;">tambores africanos, não é apenas com a sinfonia ou a dicção teatral das personagens que se </span><span style="font-family: inherit;">dá o choque. A cacofonia da metrópole cosmopolita também se faz ouvir, num </span><span style="font-family: inherit;">procedimento de dispersão do foco de interesse, presente desde os diálogos do roteiro: </span><span style="font-family: inherit;">“Quixote sentado com o véu de noiva na mão. / Explodem produtos de publicidade e </span><span style="font-family: inherit;">anúncios de televisão e de filmes americanos à música de ‘Glória, glória, aleluia’”</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br />O movimento construtor da obra se define, nos cadernos de Guimarães Rosa, pelo </span><span style="font-family: inherit;">gesto de concentrar o trabalho inventariante na matéria regional: as cidades velhas e os </span><span style="font-family: inherit;">cerrados do interior. As listas da flora, fauna, topografia, arquitetura e urbanismo do sertão </span><span style="font-family: inherit;">é que se tornam o lugar fértil de inserção dos signos da diferença cosmopolita, </span><span style="font-family: inherit;">anteriormente arquivados em outros suportes. O sinal m%, indicador da combinatória dos </span><span style="font-family: inherit;">componentes das listas, como que vivifica, põe em movimento os registros até então </span><span style="font-family: inherit;">estáticos. Pode-se ensaiar uma analogia entre o papel atribuído a Pedro Orósio, </span><span style="font-family: inherit;">protagonista de “O recado do morro”, e o sinal m% usado nos manuscritos. Pedro, um </span><span style="font-family: inherit;">simples enxadeiro geralista, não pesquisa a natureza nem tem poderes mágicos de ouvir a </span><span style="font-family: inherit;">voz da pedra, mas testemunha todas as vezes que se transmite algum fragmento de saber; </span><span style="font-family: inherit;">assim, no desfecho da estória, é ele que performa a canção — sabedoria condensada — que </span><span style="font-family: inherit;">se produz. Também o sinal m%, germe da apropriação autoral do legado coletivo, </span><span style="font-family: inherit;">identifica-se com a potência performática do conhecimento viabilizado pela arte. Trata-se </span><span style="font-family: inherit;">de um tipo de engendramento estético que parte de uma memória local, de ancestralidade </span><span style="font-family: inherit;">familiar, para desautomatizá-la em confronto com o externo, o exótico, o vertiginoso da </span><span style="font-family: inherit;">distância cultural. Já, nos cadernos de Glauber Rocha, o procedimento toma direção </span><span style="font-family: inherit;">contrária: os rascunhos de roteiro compõem-se de inventários virtuais das bibliotecas, </span><span style="font-family: inherit;">tradições e notícias de oriente a ocidente — Xenofonte, ritos africanos, Shakespeare, </span><span style="font-family: inherit;">conflitos mafiosos, Cervantes, guerras anti-coloniais. Essa variedade desconcertante é </span><span style="font-family: inherit;">alinhavada, por sua vez, por uma espécie de núcleo de referências domésticas brasileiras, </span><span style="font-family: inherit;">lugar da performance atualizadora do acervo mundial apropriado. Observando o </span><span style="font-family: inherit;">funcionamento desses processos equivalentes mas inversos, percebe-se que, enquanto Rosa, </span><span style="font-family: inherit;">enfrenta a serialidade padronizada, que reverte no lucro da significação óbvia e imediata, </span><span style="font-family: inherit;">confrontando-a com a repetição vagarosa mas personalizada do artesanato, Glauber </span><span style="font-family: inherit;">desencadeia com mais violência a mesma operação crítica, sem recorrer ao ritmo lento do </span><span style="font-family: inherit;">trabalho manual. Sua estratégia consiste em romper a coerência da história antiga com o </span><span style="font-family: inherit;">raciocínio desconstrutor do presente; daí o emprego de Marx e Engels para apropriar-se da </span><span style="font-family: inherit;">lógica imperialista da <i>Ciropédia</i> de Xenofonte ou de <i>A tempestade</i> de Shakespeare. Além </span><span style="font-family: inherit;">disso, o registro dos argumentos, roteiros e reflexões teórico-políticas dividem as páginas </span><span style="font-family: inherit;">dos cadernos com as contas, os desabafos e os nomes das amadas. Essa convivência insólita </span><span style="font-family: inherit;">é que inviabiliza o resultado eficiente do produto da indústria cinematográfica. A presença </span><span style="font-family: inherit;">inescapável do corpo, que consome, sofre e deseja, deixa sua impressão identificadora na </span><span style="font-family: inherit;">letra gravada — letra que, por sua vez, também resulta na sabedoria poética da canção.<br /><br /><br />Marília Rothier Cardoso</span></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-6654579711087992842024-03-08T18:00:00.005-03:002024-03-08T18:00:00.137-03:00O consolo<div style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><br />Caminhando na noite sem fim,<br />sem direção, sem vida, sem futuro,<br />com a solidão como companheira,<br />que vive na dor do meu peito.<br />A luz está perdendo intensidade,<br />me deixando com apenas um consolo<br />esperando o sofrimento passar<br />quando a escuridão eterna chegar.<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br />Roberto Aguilar</span></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-41522242979055801052024-03-07T18:00:00.003-03:002024-03-07T18:00:00.177-03:00Lançamento de "Amor, desejo e Gozo", com diversos autorxs, em São Paulo<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaF7Y4r4arCe5jo46UgJpaSYbNPUJN1mSHQIXcEkSrdEBEbNzp-4B6DYyH2FodQQJb_A89w8gUXzwuVhP5Ci7PQQrWc3UwE4q6rH8xABFjx_xyfjBAuiwwMVglbPpa1DOYorGul67bht-zp3uDu-lmZeJPThmJfFlaV4IzfjCRF-eJNkp5k6aITGnqTRpO/s1080/PHOTO-2024-03-06-14-56-22.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaF7Y4r4arCe5jo46UgJpaSYbNPUJN1mSHQIXcEkSrdEBEbNzp-4B6DYyH2FodQQJb_A89w8gUXzwuVhP5Ci7PQQrWc3UwE4q6rH8xABFjx_xyfjBAuiwwMVglbPpa1DOYorGul67bht-zp3uDu-lmZeJPThmJfFlaV4IzfjCRF-eJNkp5k6aITGnqTRpO/s320/PHOTO-2024-03-06-14-56-22.jpg" width="320" /></a></p><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7uYAuCaFnPCfKdMOiUcIZ-lRxsq9qKUmaCrHgHT26AzUqZbnEBF5Lso5WK_uI5kTfqNto6gSVhKoiJiwgRENNPkzdI-wzHKoONjYuW16Xlo_fEcTfBnXgmOI9nT5XDQm7PxQn5mUJZ77LAcpfndqFx5XHyCmSs2ueiFLVGzQrL6LzLCqZLBJP-WDX9Ld2/s1080/PHOTO-2024-03-06-14-56-22%20(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7uYAuCaFnPCfKdMOiUcIZ-lRxsq9qKUmaCrHgHT26AzUqZbnEBF5Lso5WK_uI5kTfqNto6gSVhKoiJiwgRENNPkzdI-wzHKoONjYuW16Xlo_fEcTfBnXgmOI9nT5XDQm7PxQn5mUJZ77LAcpfndqFx5XHyCmSs2ueiFLVGzQrL6LzLCqZLBJP-WDX9Ld2/s320/PHOTO-2024-03-06-14-56-22%20(1).jpg" width="320" /></a></div><br />Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-47771429867292662762024-03-06T15:15:00.002-03:002024-03-06T15:15:49.873-03:00YOU CAN, um poema inédito de Eleazar Carrias<p><br />Vai, digita alguma coisa.<br />Mamãe mamãe não chore.<br />Isso não é seu. Digita de novo.<br />Vai, você consegue. Não espera<br />o som a voz o ritmo. Escreve, porra.<br />Digitar não é escrever.<br /><span style="font-family: inherit;">Digita, que a escrita se faz.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Não pensa não elabora não faz que.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Taca os dedos no teclado<br /></span><span style="font-family: inherit;">Vai ficar obsoleto, os teclados<br /></span><span style="font-family: inherit;">vão desaparecer.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Mas tudo vai desaparecer, idiota.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Taca os dedos no alfabeto, vai.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Ihtguurg judia gfgb nok fhieg yung<br /></span><span style="font-family: inherit;">Viu? Quase. Tenta de novo.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Fhitf ji9eg girls vsuwg fato<br /></span><span style="font-family: inherit;">urrd saedli ftoxck ddoitjkaf wxov<br /></span><span style="font-family: inherit;">Ooooooa gpiiiiberrscb xxaaaaaas<br /></span><span style="font-family: inherit;">Ffegj ooogevj 4u7 reckhggg<br /></span><span style="font-family: inherit;">sass eewewrll fiiiix<br /></span><span style="font-family: inherit;">Para para. Deixa eu ver.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Que merda. Apaga.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Cê não nasceu pra isso.<br /></span><span style="font-family: inherit;"><br /><br />Eleazar Carrias</span></p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-19388736570314805162024-03-05T14:48:00.002-03:002024-03-05T14:48:29.375-03:00Poema inédito de Fred Coelho<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPS3zcA7Y3ziGb6oBNmNJqXFffY7FA0TWJCkX2O6FbaV1I3OQhvXLWjEPTWXuKNzdHSir6FDaBvIKsF2vNeIUvSJ-6KPY2nSr9DWyiXsKshwyYzO9MaBlsXCkM0eg-RIJWznrF5GlhRewUi7rgWoT7q3iieofsaFNy2mzitvTGKQ2kuT7SDshlU-_9kPRM/s1213/Rio%20Lapa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1213" data-original-width="739" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPS3zcA7Y3ziGb6oBNmNJqXFffY7FA0TWJCkX2O6FbaV1I3OQhvXLWjEPTWXuKNzdHSir6FDaBvIKsF2vNeIUvSJ-6KPY2nSr9DWyiXsKshwyYzO9MaBlsXCkM0eg-RIJWznrF5GlhRewUi7rgWoT7q3iieofsaFNy2mzitvTGKQ2kuT7SDshlU-_9kPRM/s320/Rio%20Lapa.jpg" width="195" /></a></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br />Rio d'Janira<br />De Gaza e Guiné<br />Da Gávea a Maré <br />Leme solto de Macalé<br />Do Cruzeiro do <br />Comando<br />Miami entre Milícias<br />Maraca são janu Bariri<br />Polícia feitora<br />A lei de murici<br />As Caravanas de Chico<br />Os playba os lekes e o<br />Peruquinha<br />Trem, bala e louvor<br />Cosmos e Damião<br />Amor que engole a ira<br />Eis aí<br />Rio d'Janira<br /><br /><br />Poema (e foto) de Fred Coelho</div><br /><p></p>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-10736192759571940922024-03-04T12:00:00.001-03:002024-03-04T12:00:00.148-03:00Momento<div><br /></div><div>A noite é fria</div><div>o céu é lindo</div><div>a noite é nossa.</div><div><br /></div><div>O luar é doce</div><div>a hora é escura</div><div>a noite é nossa.</div><div><br /></div><div>O desejo é fogo</div><div>o prazer é momento</div><div>a noite foi nossa.</div><div><br /></div><div>A saudade é minha.</div><div><br /></div><div>Marina V. Medeiros</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-48470445386760644992024-03-02T12:00:00.005-03:002024-03-02T12:00:00.136-03:00espreita, um poema de Paula Reis Vianna<span id="docs-internal-guid-a81b6a88-7fff-c50d-75c3-ee717c66572a"><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYThEUvhaxkFIrHkdZ2bM91-sCeI8hLPNQZACfj1Tr5v-JWEo2U7fyuRKY8Cw1LykgfooG8N9ScT6ku7ME9aSKloWA9LmrbmuCyyNYlmiE2m2b8Im_6erNLfJqBt4N06YJ5lOpx_73l49Z7zbvI68gAL3M0DsA6UqK3o-5LW4AV7Kk_RIVdnAa6bfbFROq/s1024/espiar.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="680" data-original-width="1024" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYThEUvhaxkFIrHkdZ2bM91-sCeI8hLPNQZACfj1Tr5v-JWEo2U7fyuRKY8Cw1LykgfooG8N9ScT6ku7ME9aSKloWA9LmrbmuCyyNYlmiE2m2b8Im_6erNLfJqBt4N06YJ5lOpx_73l49Z7zbvI68gAL3M0DsA6UqK3o-5LW4AV7Kk_RIVdnAa6bfbFROq/w400-h266/espiar.jpeg" width="400" /></a><br /><br /></div><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">uma atriz em pleno palco</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">se esconde atrás do cenário</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">discreta, espia a plateia</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">e imagina uma peça ao contrário</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">o espectador se perdeu na métrica</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">entre atores e plateia</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">se invertermos a dinâmica certa</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: normal;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">quem atua? quem especta?
Paula Reis Vianna</span></span></p><div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div></span></div></span>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-78509891595215437692024-02-26T12:00:00.001-03:002024-02-26T12:00:00.234-03:00Dominação Europeia<div><br /></div><div>Cidade de Deus.</div><div>Fui à padaria.</div><div><br /></div><div>Saldo: risco de vida,</div><div>2 pães franceses</div><div>e onze balas de fuzil 762 de fabricação belga.</div><div><br /></div><div>Viviane Salles</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-21865333960454843112024-02-22T12:00:00.002-03:002024-02-22T12:00:00.238-03:00parágrafo 5º art.II<div><span id="docs-internal-guid-aad67009-7fff-ca19-b4ad-a5c76b1d8d16"><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 1.332000732421875pt; margin-top: 17.732269287109375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">proibiria a palavra dardo </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.9840011596679688pt; margin-top: 1.86517333984375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">e daria fim a precisão </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 1.332000732421875pt; margin-top: 1.865142822265625pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">proibiria a palavra magma </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.864105224609375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">depois a palavra chão </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 1.332000732421875pt; margin-top: 1.864227294921875pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">proibiria então o sintagma </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.865142822265625pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">depois a palavra </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.865081787109375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">de livre apenas o som </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 1.272003173828125pt; margin-top: 1.864288330078125pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">(logo entenderíamos os bichos </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.864166259765625pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">decodificando cada ruído) </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.9840011596679688pt; margin-top: 1.865081787109375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">e se estivesse me sentindo má </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.865081787109375pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">decretaria ao acordar </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.936004638671875pt; margin-top: 1.864166259765625pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">o fim </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998046875pt; margin-top: 1.864227294921875pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">do próprio sentido
Paula Reis Vianna</span></p></span></span></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-78572655129936118162024-02-19T12:00:00.001-03:002024-02-19T12:00:00.130-03:00Ressaca<div><br />como se o sono fosse o mar</div><div>dormi com saudade</div><div>acordei com saldade</div><div><br /></div><div>Andressa Coutinho</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-11631232803628660202024-02-12T12:00:00.001-03:002024-02-12T12:00:00.128-03:00Tormento<div><br /></div><div>Astro maligno</div><div>poeira no vento</div><div>silêncio no escuro</div><div>do apartamento</div><div><br /></div><div>informo</div><div>aos meus sentidos</div><div>o lamento</div><div><br /></div><div>é um só</div><div>não aguento</div><div>o tormento.</div><div><br /></div><div>Carlos Cardoso</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-89685597553492127552024-02-05T12:00:00.001-03:002024-02-05T12:00:00.148-03:00gênese II<div><br /></div><div>no princípio era o verbo</div><div>uma vaga voz sem dono</div><div>vagando pela via láctea.</div><div><br /></div><div>depois veio o sujeito</div><div>e junto com ele todos</div><div>os erros de concordância.</div><div><br /></div><div>Gregorio Duvivier</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-62172542909406794482024-02-02T12:00:00.002-03:002024-02-02T12:00:00.136-03:00cavalo marinho<span id="docs-internal-guid-ca3dfa7b-7fff-f513-c173-648289c92bbf"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 1.332pt; margin-top: 3.29614pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;"><br />meus passos pela terra exibem certeza </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.959999pt; margin-top: 1.86462pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">quando olham para os seus </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.695999pt; margin-top: 1.86462pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">vagarosos </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998pt; margin-top: 1.86462pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">de encontro contra a correnteza </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.912003pt; margin-top: 17.7333pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">sei que trocamos os papéis </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.984001pt; margin-top: 1.86462pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">e seu corpo de cavalo te implora a languidez da água </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.984001pt; margin-top: 17.7333pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">enquanto o meu </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.947998pt; margin-top: 1.86465pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">de serena sereia </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.912003pt; margin-top: 1.86465pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">suplica a espessa dura beleza </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.959999pt; margin-top: 1.86465pt;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">que sustenta uma pegada na areia<br /><br />Paula Reis Vianna</span></span></p></span>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-75385884000649779752024-01-29T12:00:00.007-03:002024-01-29T12:00:00.137-03:00QUEBRA-CABEÇA<div><br /></div><div>Um dia vai descobrir</div><div>É necessário errar</div><div>Pra evoluir.</div><div><br /></div><div>Monique Nix</div><div><br /></div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-71392390329649258772024-01-22T12:00:00.005-03:002024-01-22T12:00:00.157-03:00war, poema de Paula Reis Vianna<br /><div>estou na cama— </div><div>sem roupas, sem tropas </div><div>a cerca de 70 passos do mar<br /><br /></div><div>se solto o pensamento </div><div>volto àquela criança </div><div>sua insatisfação dinâmica me fez lembrar da minha<br />antiga </div><div>presente na palpitação cardíaca<br /><br /></div><div>mas ontem era noite </div><div>e a criança saiu irritada </div><div>farejou o descaso com a guerra </div><div>o segredo suspenso entre os adultos: a trégua<br />verdadeiro conluio para que fôssemos dormir<br /><br /></div><div>saiu bufante </div><div>criando um conflito determinante: o seu<br />e que portanto ninguém teria o poder </div><div>de desfazer</div><div>batia os pés emburrada </div><div>sumindo nos degraus de cimento </div><div>e nós enfim pudemos </div><div>desfazer os territórios </div><div>afrouxar os limites </div><div>e jogar como adultos jogam </div><div>à condição de mortais<br /><br />Paula Reis Vianna</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7099430354142085816.post-17689780413616402152024-01-21T12:00:00.000-03:002024-01-21T12:00:00.366-03:00Um abraço<div><br /></div><div>Um abraço apertado</div><div>despedaça até</div><div>a mais robusta</div><div>dor.</div><div><br /></div><div>Márcio Kozlowski</div>Blog do Plástico Bolhahttp://www.blogger.com/profile/07522933075903285086noreply@blogger.com0