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domingo, 24 de agosto de 2014

Enterro da Rosa


"– Roubada foi
Do túmulo de meu amor
Que afronta aos entes queridos
Não se rouba uma flor"

Todos exasperados
Onde está o ladrão?
Procura de cá e de lá
Mas que baita confusão

Uns choram de tristeza
Outros riem de desespero
A velha agarrada à bengala
Põe a mente num cativeiro

O chão úmido está
Sujo com barro de solados desgastados
O lugar está mofado
E continuam os soluços abafados

Mas e nada de flor
Nada de reposição
O morto não poderá descansar
Sem nenhuma prestação

Ninguém agüenta mais
– Tem que enterrar
Diz a velha com a bengala
Que no momento, só sabia resmungar

Vamos respeitar
Ela é a mulher da vida do morto
Ou pelo menos era
Antes de tudo se torna assim: meio oco

Eis que se ouve um grito
A sobrinha Marieta anuncia:
– Achei a mulher roubada!
Estava jogada atrás da porta

O soluço cessa
A flor é devolvida ao seu lugar
A confusão se encerra
E a velha põe-se a chorar

A flor já foi achada
A vida já tinha sido levada
Junto daquela alma inquieta
Podem enterrar

E no final
Lá se foi, a flor,
Ironia, quem sabe
Deixar um pouco de vida
Junto daquele ser já morto

Beatriz Mota



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