quinta-feira, 24 de julho de 2025

O chapéu de Beckett — Helena Martins (trecho)


          

Destaca-se com frequência na literatura sobre Beckett o seu apotropismo — seu decidido afastamento de toda linguagem figurativa: “Nada de símbolos quando disso não houve a menor intenção”, são as famosas palavras finais de Watt, muitas vezes tomadas como resumidoras do projeto literário do autor. Muitos outros exemplos de apotropismo confesso poderiam ser aqui evocados, entre eles este, bastante conhecido e registrado por Ackerley e Gontarski: “se por Godot eu tivesse querido dizer God”, afirma Beckett para um desapontado Sir Richard Ralphson, “teria dito God e não Godot” (2004, p. 232). Bem antes disso, em um ensaio de 1929, ele já manifesta com semelhante ênfase e explicitude o seu desinteresse pela alegoria, por sua “operação in­telectual tripartida”, incluindo “a construção de uma mensagem de importância geral, a preparação de uma forma fabulosa, e o exercício de considerável dificuldade técnica de unir essas duas dimensões” (GE IV, p. 502). E em carta a Thomas MacGreevy, de 1955, ainda protestando contra interpretações simbólicas e alegóricas de Esperando Godot, ele declara, aborrecido: “por que as pessoas têm de complicar uma coisa tão simples é algo que me escapa”.


Helena Martins



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