domingo, 26 de fevereiro de 2017

Soneto


As estrelas que lhe emprestam o brilho
Não suportam mais sua usura.
Que credora intransigente e dura
Resiste a rogo por pai e filho?

E cobra juros de mora e multa
Dos pobres astros, já melancólicos.
Um apetite nada católico,
Que a todas galáxias oculta.

Será a bancarrota celeste?
Devedora, a Lua também,
Recorre ao Sol por algum vintém;
E ele já se esconde no leste.

Tudo isso por uma riqueza
Que tem infinda por natureza.

Leonardo Afonso

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Poema 1 de Rodrigo Brito


Sonhei que escrevia um poema
e nos versos desenhava o arrebol
dentro de mim cresciam castelos
dentro de mim nasciam árvores
na ponta do meu corpo brotavam confusões
ao norte eram apenas os segredos
de uma noite ilusória.

Imaginei Macário a declamar os meus delírios
em cada descompasso que minhas lágrimas
ofereciam ao Anjo de Sodoma

Desenharei algum dia a cena que me alucina
e será a grande obra do acaso.

Os sonhos não receberão aplausos
não receberão um beijo
não receberão um abraço

Rodrigo Brito

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Deriva


Desde que fugi para dentro de mim,
Pouco se me dá que o mundo exploda.
Política, esporte, guerra - que se foda:
Levar o circo a sério não estou afim.
Misantropia é meu refúgio enfim,
E com o cinismo ela celebra boda.

Por que dar ouvidos à cacofonia?
Tantas bizantinas e estéreis polêmicas;
Mediocridade e estupidez endêmicas.
Busco, no silêncio, uma sinfonia;
Na solidão, férias da humana agonia:
Desejos frustrados, afeições anêmicas.

Se é verdade que ninguém é uma ilha,
Sou tal como uma Península Ibérica.
Um terremoto que fende a América,
Faz a Califórnia seguir sua trilha.
Um lobo que se separa da matilha
E se entrega todo a sua sina tétrica.

Leonardo Afonso