sábado, 28 de fevereiro de 2009

Plástico Bolha #25 já está no nosso site!

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Já está no ar em nosso site a nova edição do jornal Plástico Bolha. Confira agora as novas atualizações!
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O primeiro poeta

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Qual foi a primeira palavra proferida? Imagino o primeiro homem, ainda meio macaco, tentando exprimir algo completamente novo, que os grunhidos habituais simplesmente não conseguiam alcançar. Dirão todos que hoje vivemos uma peste da linguagem, uma fragmentação completa em que as palavras não têm mais significado e em que cada discurso, cada conceito, cada Deus e cada sujeito devem ser desconstruídos e esmagados com um martelo. Mas esquecem-se eles desse primeiro marco, desse anseio inaugural pela unidade. Em que modulação sonora diferenciou-se ele dos outros? Era “ele” um homem ou uma mulher? O que pretendia ele dizer? Pretendia ele descrever uma visão? Ou um pensamento? Ou um sabor que seus companheiros desconheciam completamente? Será que queria conquistar uma parceira disputada? Ou dar um conselho a seu filhote, ainda no colo? Queria ele falar do passado, do presente ou do futuro? Ou quem sabe dos três, de algo eterno e além do tempo e do espaço? Será que, como Narciso, foi a perplexidade ante a sua própria imagem? Ou, como Arquimedes, queria ele anunciar uma nova descoberta? Ou ainda, como Hamlet, questionava ele a validade das suas próprias ações? Terá sido a percepção da nossa pequenez diante de um universo indiferente? Ou algo tão mais simples quanto a percepção da beleza das coisas em seus mínimos detalhes? Será que ele se deu conta de sua invenção? Ou era somente algo que necessitava para falar de uma dor completamente inédita e insuportável, cujos desdobramentos e complexidade seus companheiros jamais poderiam reconhecer: a dor solitária de ser, pela primeira vez, humano. Mais do que o primeiro ser humano, este foi o primeiro poeta.
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

casal pula da ponte em nome do amor proibido

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cobrei dos teus olhos o que
não cobraria da tua alma.
lá fora o vento deságua,
fraco como a memória.
restam apostas ganhas
perdidas nos bolsos.
estamos sozinhos
agora que somos
a cor da junção.
e isso é tudo:
você e eu.
e lá fora
peixes
azuis.

Leonardo Marona



Leonardo Marona também enviou este poema para o próximo Desafio Poético. Mande você também o seu poema narrativo para redacao@jornalplasticobolha.com.br.

Os tacos, prévia do nosso Desafio Poético

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o colete, a camisa, a gravata
projetam-se sobre os caracteres
miúdos. ele não lê o jornal
fita os títulos dos artigos
como se os devorasse
num silêncio
de muito suor
mas sem faltar à indiferença:
remexe o corpo
puxa as dobras
da camisa, do papel
delicado e encurva
ombros enormes

os dedos da mulher
vez ou outra
em alguma tecla
não tocam, é como se pisassem
as notas
mas sem faltar à indiferença
logo ela abafa o som
exagerado
com remexos no banquinho
desconjuntando ainda mais o corpo
e ainda alisa os amassos
do vestido

ficarão assim
por um bom tempo. e então,
um dos dois
olhará para o relógio de parede
sem faltar à indiferença
já está tarde
seguirão calados, os sapatos
quase sem tocar
os tacos (alguns já estão
meio soltos) até o quarto.

ouvir-se-á, talvez, um boa noite
um tanto quanto pensado
abafado
pelo travesseiro. talvez
a resposta venha
num tom mais natural: boa
noite

e aí
já estarão desculpados
de toda a indiferença
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Bruno Nascimento de Abreu
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Bruno Nascimento de Abreu tem 16 anos e nos enviou este poema inspirado no quadro Early Sunday Morning, de Edward Hopper para o próximo Desafio Poético narrativo. Aproveitando o espaço do Blog, publicaremos aqui os poemas que recebermos para o Desafio Poético e os melhores vão para a edição impressa. Participem!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

As apostas

ao Leonardo Gandolfi

como um pardal
ruinado
de regresso
de Las Vegas, ou qualquer
outro povoado de roletas,
este poema se posta à sua frente
e te adversa, silêncio. Já

o desafio que te coloco – trato-me
duma terceira separação – é, senão
claro, bem menos
tortuoso – descobrir
ao pássaro (lentes foscas) que, parado
à sua frente, dá de asas – alguma ternura,
vexada que seja. Acho

que não sei transbordar
para lá

Ismar Tirelli Neto



Ismar Tirelli Neto publicou seu primeiro poema na edição atual do jornal Plástico Bolha. Foi convidado por Alice Sant'anna para a estreia, sem acento agora, da coluna Dobradinhas - onde Alice sempre receberá um convidado para um diálogo poético. Convidamos Ismar para enviar mais poemas para o jornal e publicamos o primeiro deles aqui. Quem quiser pode conferir mais no seu blog Concessão do Amor, aqui. Mais um poeta na bolhosfera!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Amazonas em debate no Clube do Livro

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Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras, 112p.), de Milton Hatoum, é o romance eleito para o debate do dia 27 de fevereiro do Clube do Livro, que acontece mensalmente na Livraria da Editora da UFF, em Icaraí. A partir das 19h, o grupo, formado por amantes da leitura, convida o público em geral para um animado bate-papo. Em Órfãos do Eldorado, Hatoum - três vezes vencedor do prêmio Jabuti – reúne mitos, drama, romance, imigrantes, índios e o sonho do Eldorado amazônico. A entrada é franca e o evento acontece sempre na última sexta-feira do mês na livraria, que fica na Rua Miguel de Frias 9, anexo, em Icaraí, Niterói.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quarteto Bororo, poema de Carlos Andreas

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acompanhamento das vozes
e chocalhos feitos da cabaça verde
do cascalho-caingá e o corifeu
enchendo de pancadas secas o silêncio

modulando em crescendos e
decrescendos os dançarinos cegos
em alternâncias de vibrantes cantos
de língua baixa de articulações pesadas

de velha viúva sustentada em graves
horas a fio sobre o luto de cinco maridos
e do tempo feliz em que jamais lhe faltavam
a mandioca o milho a caça e o peixe

Carlos Andreas
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Mais Plástico Bolha pela Zona Sul...

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- Cantinella, Cobal do Leblon
- Teatro Leblon - R. Conde Bernadotte, Leblon
- Livraria Letras e Expressões - Av. Ataulfo de Paiva, Leblon
- Mundo Verde - Av. Ataulfo de Paiva, Leblon
- Clube Caiçaras - Av Epitácio Pessoa, Lagoa
- Casa da Táta - R. Prof. Manuel Ferreira, Gávea
- Café Astrobar - Planetário, Gávea

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Remédio, um poema de Danilo Briskievicz

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para o dia revolto
palavra
simples
para a noite insone
silêncio
impecável
para a música alta
ouvido
educado
para a saudade fria
cobertor
antigo
para lágrima certa
poesia
concreta
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Danilo Arnaldo Briskievicz
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Danilo Arnaldo Briskievicz é mineiro, da cidade de Serro, formado em Filosofia pela PUC-Minas, pós-graduado em Temas Filosóficos pela UFMG e mestre em Filosofia Social e Política, pela UFMG. Já publicou Identidade (1993), seguida de Tonel da memória (1994), Oratório de versos (2000), 300 (2002), Chão de poemas (2004), De tudo e de amor (2006) e O cheiro sem cheiro da rosa sobre a mesa (2008). Os livros de poesia, história, fotografia e artigos de filosofia estão disponíveis no site do autor onde podem ser baixados gratuitamente, acesse aqui.

Plástico Bolha em mais uma distribuição:

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Mais pontos de distribuição estão recebendo seus jornais impressos. Veja onde encontrar o Plástico Bolha em São Conrado:

- Locadora Session
- Fashion Mall


Também receberam mais jornais os pontos :

- Modern Sound, Copacabana
- Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema
- Estação Botafogo, Botafogo
- Espaço de Cinema, Botafogo


E em Belo Horizonte....

- UFMG, Letras e Fafich
- Agosto Butiquim, R. Esmeralda, Prado
- Flapel Papelaria, R. Platina, Calafati

81 Segundos, uma prosa de Camila Justino

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...nho que esquecer essa mulher, tenho que esquecer. O que tá acontecendo comigo meu Deus? O que tá acontecendo? Uma dissimulada... aqueles dentes nervosos — brancos lindos grandes me mordem —, sua histeria acaba comigo, ela leva susto dormindo — linda dormindo —, eu tenho que tá do lado dela pra falar que ela tá viva, ela diz que de noite seu espírito sai do corpo, eu acho que vou ligar pra ela, eu vou ligar pra ela hoje à noite. Sair pra jantar quem sabe? jantar. Mas ela não vai querer, vai querer me levar pra um buraco, adora buracos imundos cheios de bêbados nojentos. Me meter de novo em buracos, tenho que esquecer essa mulher. Eu prometi que ia sumir da vida dela. O banco. Eu tenho que ir no banco hoje, droga. Esse ano as coisas têm que melhorar, vou começar a fazer horas extras, tenho que mostrar mais desempenho. Desempenho. Só falta esquecer aquela infeliz, não deixa eu ter vida. Porra, eu sou homem, eu tenho que ser o homem da parada, tudo vai mudar. Esqueci a pasta, ah, foda-se eu não vou voltar. O verão é sem vergonha, o sol nasceu para todas. Que ridículo aquela balofinha posando de modelo, a outra até que eu pegava, dá pra pegar. Tranqüilo. Na teoria é muito bom, mas o que a gente quer ver é mulher gostosa. Gostosa. Puta merda, esses infelizes, não vou dar dinheiro não, não quero bala, não quero guarda-chuva, não quero biscoito, quero que você suma. Esses moleques. Podiam tirar todos da rua e jogar longe, do outro lado da cidade. Onde está o governo? Esses moleques. Ficam olhando com cara de piedade pra cima da gente, eu não tenho pena não. Sou cidadão decente porra, tenham pena de mim seus infelizes, se soubessem o que aquela descontrolada tá fazendo comigo. Se ela tivesse aqui no carro, me obrigaria abrir a janela e comprar uma paçoquinha. Adora paçoquinha, ia perguntar o nome do menino, ia querer levar o menino pra casa com ela. E eu, estúpido como sempre, me sujeitando a tudo. E sempre acaba me fazendo rir. Odeio quando ela me faz rir — eu amo. Mas eu sou o homem, tudo vai mudar. Porra que mulher gostosa, como é que passa devagar em frente dos carros, parece que sabe que tão olhando pra ela, tá só provocando. Essas mulheres são umas vadias. Será que ela atravessa a rua assim, aí fica um marmanjo nojento querendo comer a minha mulher, minha mulher. Eu vou ligar pra ela agora, agora. Não, não. Não posso. Pô, vontade de mijar, que merda de trân...
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Este texto estava na página 2 da primeira edição do Plástico Bolha, portanto é mais que um clássico do Bolha. Camila Justino é autora de dois livros: O mundo dá voltas, para meninas que não engolem sapos e Socooro, eu sou menina! (e tô crescendo!), ambos voltados para o público jovem feminino. Além disso, ela faz teatro, é entrevistadora da Revista Pilotis e dizem que, ultimamente, anda trabalhando muito em uma máquina engenhosa que te transforma automaticamente em autor canônico. Será? Quem quiser conferir o outro lado de Camila Justino pode ler o conto Ovulação que está na edição atual, 25, do Plástico Bolha. Essa menina vai longe!

Leia Notas Musicais para lá de literárias!

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Acreditando que a poesia cresce quando se aproxima da música, o jornal Plástico Bolha sempre deu bastante atenção a esta arte sonora. Em nosso suplemento musical, temos 3 colunas que tratam do tema: Por Dentro do Tom, em que a antropóloga Santuza Cambraia Naves analisa a música teóricamente; Futuros Estouros, onde se revelam novos talentos do cenário musical; e as Notas no Plástico, pequenos textos jornalísticos sobre o mercado fonográfico escritos pelo jornalista, e amante da música, Mauro Ferreira.
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Para quem ainda não sabe, Mauro Ferreira tem um blog, o Notas Musicais, que é atualizado 24 horas por dia com as notícias mais fresquinhas do mundo da música! Hoje, o Blog do Bolha veio indicar 3 notas musicais para lá de literárias. Clique aqui abaixo para ler as resenhas de:

- O Som do Pasquim
- O Bondinho
- As Aventuras da Blitz

Leia, ouça e divirta-se!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Distribuição do Bolha no Centro: pegue já!

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Hoje, o jornal Plástico Bolha acordou cedo, tomou um café da manhã reforçado e saiu para um giro pela cidade. Veja por onde ele deu uma paradinha:

- Fundição Progresso - Rua dos Arcos, Lapa
- IFCS - Largo do São Francisco
- Real Gabinete Português de Leitura - Largo do São Francisco
- Livraria 44 da Camões - Largo do São Francisco
- Livraria Letra Viva - Largo do São Francisco
- Academia do Saber - Av. Passos
- Escola de Música da UFRJ - R. do Passeio
- Cinema Estação Odeon - Cinelândia
- Livraria Ed. Capanema - R. da Imprensa
- Livraria Arlequim - Paço Imperial
- Cinema Estação Paço - Praça XV
- Escola de Cinema Darcy Ribeiro - R. da Alfândega
- Livraria Leonardo Da Vinci - Av. Rio Branco
- Livraria Berinjela - Av. Rio Branco
- Museu Nacional de Belas Artes - Av. Rio Branco
- Biblioteca do Centro Cultural de Justiça Federal - Av. Rio Branco

Poema inédito de Rafael Castro

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A folha de Montesinos
Pá apontada, cavo a cova
que me caiba até deitado
Pro repouso do trabalho
Operário que é a morte
Cavo em cinza, cova abaixo,
O que dista a tinta e o tanto
Pra que eu possa lá embaixo
Já no pouso do descanso
Ter visões de toda sorte
Numa poça preta em branco

Rafael Castro



Rafael Castro nos enviou há pouco tempo alguns de seus poemas. Esse foi o primeiro a se destacar nos votos da Comissão e aproveitamos para dividir com os leitores. Quem sabe não esbarramos com ele nas páginas de alguma próxima edição do jornal Plástico Bolha?

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Os gestos — um texto de Adriano Espínola

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Imantado de solidão, caminho pelo centro da cidade. A multidão em torno. Cumprimento alguém, olho uma vitrina, passo a mão no rosto suado, aliso os cabelos. Dobro uma esquina. Adiante, as mãos penetram no bolso, examinam objetos, seguram chaves, papéis, dinheiro. Pairam no ar.
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Os gestos! Como bóiam anônimos e silenciosos dentro da tarde, tão imperceptivelmente meus que parecem fora de mim, misteriosos.
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Em que cidade teria aprendido a carregá-los? Ou serão eles que me conduzem a mim, prosaico caminhante da tarde?
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Súbito, escapam, viajam.
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Quem os possuiria além? Teócrito, o pastor grego? Ali está ele (vejo-o na imaginação), caminhando pelo mercado de Corinto. Cumprimenta o louro Hilas, que passa com o cântaro e a sua morte para o festim da noite. Dobra uma barraca.
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Com ele, os gestos desaparecem risco na água. Vão dar de beber aos mortos na curva dos rios. (Ali, onde o meu avô genovês nada no esquecimento e em silêncio empurra os gestos, ondas, que pelos dias vou refazendo.)
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Sim, os gestos caminham com as águas. Porejam no tempo. Circulam, úmidos, por entre objetos, corredores, portas, desejos. Por entre corpos que avançam e recuam feito marés.
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E quem, noutra esquina ou noutra tarde, colherá a forma fluida dos meus gestos e os repetirá, surpreso, assim banais, assim obscuros?
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Adriano Espínola é poeta, ensaísta e professor da UFRJ. Autor de Em trânsito - Táxi/Metrô(1996), Fala, favela (1998), Praia provisória (2006), entre outros. Este texto "Os Gestos" ele nos enviou exclusivamente na época em que o entrevistamos para a edição #10 do jornal Plástico Bolha. Quem quiser, pode ler a entrevista completa aqui.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Enciplexo — um poema de Barbara Hansen

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sexo
em ângulo
convexo
preâmbulo
complexo
reflexo
o pêndulo
no óvulo
convexo
eu, trêmulo
perplexo
ridículo
sem nexo
crepúsculo
já baixo
— copulo
a deixo
ósculo
ulo
luxo
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Bárbara Hansen

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Adriana Maciel de volta na Fnac da Barra

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Sarau Conecte! em edição de carnaval!

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Na próxima quinta-feira tem o evento poético Sarau Conecte! à fantasia. A produção do evento informa que os artistas interessados em apresentar-se nas próximas edições devem entrar em contato pelo e-mail:novosuivos@gmail.com.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PB em Copacabana e no Jardim Botânico:

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- Livraria Ponte de Tábuas - R. Jardim Botânico
- Livraria Primeira Edição - Av. N. Sra. de Copacabana
- Jornaleiro Copacabana - Av. N. Sra. de Coapcabana
- Livraria Argumento - R. Barata Ribeiro
- Modern Sound - R. Barata Ribeiro
- Livraria Copabooks - R. Francisco Sá
- Livraria Mar de Histórias - R. Francisco Sá

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Distribuição na Gávea — busque agora:

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- PUC-Rio - R. Marquês de São Vicente
- Bar do Pires - R. Marquês de São Vicente
- Astrobar, Planetário - R. Vice-Governador Rubens Berardo
- Casa da Táta - R. Prof. Manoel Ferreira
- Livraria Timbre - Shopping da Gávea
- Livraria Malasarte - Shopping da Gávea
- Casa da Gávea - Prça. Santos Dumont

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A melhor parte de um ipod

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A melhor parte de um ipod
sem dúvidas
é ver o vendedor de paçoca e chocolate-dois-por-um-real
interromper o silêncio da sua viagem
mudo.
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Distribuição em Ipanema e no Leblon:

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Hoje, mais alguns pontos de distribuição da Zona Sul do Rio receberam suas edições do jornal Plástico Bolha. Veja quais:

- Livraria DaConde - R. Conde Bernadotte, Leblon
- Livraria Argumento - R. Dias Ferreira, Leblon
- Livraria Letras e Expressões - Av. Ataulfo de Paiva, Leblon
- Teatro Leblon - R. Conde Bernadotte, Leblon
- Livraria Café com Letras - Av. Bartolomeu Mitre, Leblon
- Livraria da Travessa - Shopping Leblon
- Livraria Letras e Expressões - R. Visconde de Pirajá, Ipanema
- Casa de Cultura Laura Alvim - Av. Vieira Souto, Ipanema

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Alta Temporada, um haicai de Sueli Rios

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Espetáculo em cena
Veneram o astro
No verão de Ipanema
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Distribuição na Barra — veja onde buscar:

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O bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, já recebeu os novos jornais Plástico Bolha. Veja alguns dos pontos de distribuição:

- Restaurante Ettore - Av. Armando Lombardi
- Livraria diVersos - Av. Érico Veríssimo
- Bibi Sucos - Av. Olegário Maciel
- Cinema Estação Barra Point - Av. Armando Lombardi
- Centro Cultural Suassuna - Av. das Américas
- Livraria Argumento Rio Design - Av. das Américas
- Cinema Espaço Rio Design - Av. das Américas
- Locadora Animatrix - Est. da Barra da Tijuca, Itanhagá
- Locadora BR Mania - Av. Rodolfo Amoedo
- Espaço de Yoga Karana - Bl.21, Downtown

Distribuição na Zona Sul — veja onde buscar:

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Já começou a distribuição da edição #25 do jornal Plástico Bolha. Os bairros de Botafogo e Ipanema foram os primeiros contemplados com os estouros de 2009. Veja onde buscar o seu:

- Espaço de Cinema - R. Voluntário da Pátria, Botafogo
- Estação Botafogo - R. Voluntário da Pátria, Botafogo
- Mundo Verde - R. Voluntário da Pátria, Botafogo
- Via Verde - R. Voluntário da Pátria, Botafogo
- Banca - R. Voluntários da Pátria / R. Real Grandeza, Botafogo
- Estação Ipanema - Av. Visconde de Piraja, Ipanema
- Livraria da Travessa - Av. Visconde de Pirajá, Ipanema

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A inspiração? — uma poesia de Rita Brás

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Eu sou uma ave.
Tenho as costelas de uma vaca.
Os olhos de todos os animais.

Olhem-me.
Eu não sou mais do que uma breve criança agitada,
uma pequena flor a crescer no muro ao canto do jardim.

Enfloro o largo de casa.
Convido com os meus passos os cidadãos a entrar.

Porque não rir?
Emprestar a minha última frase.
Porque eu sinto o sol a atribuir cor às minhas gengivas,
e ontem à noite lembro-me que tu coraste.

Há uma mão de ferro presa à minha cintura delicada,
a empurrar-me para a frente, a empurrar-me para a frente.

Porque não voltar ao tempo dos gritos súbitos,
dos estalos na cara e dos silêncios tristes,
só para chorar?

Rita Brás



Rita Brás é nossa talentosíssima autora portuguesa que já esteve na capa do PB #24, com o poema cujo primeiro verso é "O meu irmão João tem uma raiva nos colarinhos...". Ela chegou até nós por recomendação da nossa amiga mineira Bruna Piantino.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fruta com casca, texto de Fernanda Vieira

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Vede o que era dela
Vende o vão que sobrou
Gargalha e tagarela
Da casca que alguém tirou
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Vede o que era dela
Vede o que ela faz
Verde que tanto assusta
Verde não assusta mais
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Vede como se porta
Veste seu rebolado
Veste a carapuça
Do indefeso acanhado
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Vinde e vede o que veste
Verde o que veste é
Madura, a fruta verde,
Brincando de ser mulher
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

pl (quatro dedos) olha: mais um flagra!

Um plástico bolha em foto de Isabel Diegues.

As cartas ou Do homem que foi engolido por uma mulher com dentes de liquidificador

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Meu melhor amigo do último quarto de hora acha espirituoso brincar de soldadinho com filósofos franceses — Imagine só: Deleuze contra Foucault, quem você acha que ganha?
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Assentamo-nos — um valete de copas, uma dama de espadas e um rei de ouros — nos vértices de um triângulo imaginário. Somos simpáticos. Trata-se de um senhor valete encantador. Dentro de um simples colóquio de três pessoas, consegue surrupiar, através da fixação do olhar acima de nossas cabeças, a intimidade e a aprovação de uma legião inexistente de seguidores. Orador de alcova, saberia fazer, creio eu, as confissões mais doces e íntimas com um megafone. Mas está constipado. Trata-se de um senhor valete que sabe fungar. Ela, dama por sua vez, mastiga cigarros num embevecimento que me comove.
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Meu melhor amigo do último quarto de hora gosta de seus escritores beatnik bem passados — O Henry Miller bailava no jardim de infância perto da vida que o Kerouac levava — ricto compenetrado — quero ser como o Kerouac quando eu crescer.
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Discorremos sobre signos, a nova geografia dos países da antiga Iugoslávia, ele gosta de culinária, os trágicos rumos do teatro, primos sifilíticos, ela também, acampamentos inundados em Bangladesh, deve ter o paladar muito apurado, as corruptelas do magiar, cortes de barba para ditadores, artrites, acha que tem apenas uma boca sensível, fertilizadores japoneses, o amor segundo as revistas, não duvida.
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Meu melhor amigo do último quarto de hora não fala de Balzac depois das seis da tarde – C’est fort, c’est excessivement fort.
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Temos pernas parecidas, ela e eu. Ambos cruzamos para a direita e só depois passamos para a esquerda. Direita e esquerda, esquerda e direita: e caímos na questão da tradução para o italiano. Ela afirma ter certeza de que é per favore. Ele discorda veementemente. Sibila que por favor é sempre prego. A legião invisível estremece, buliçosa: em casos mais formais se diz per cortesia, peeer cor-te-sii-aaaa. Ela recolhe, aos poucos, aos bicos: peeer cor-te-sii-aaa. Peeer cor-te-sii-aaa. Peeer cor-te-sii-aaa. Entendo que tenha gostado deste pequeno capricho.
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Ela se vira e esconde a boca atrás do espaldar de cadeira. Após um breve olhar de soslaio do senhor para mim, ela tem súbito interesse em me estudar fixamente. Um ‘já disseram que a senhora tem uns olhos de comer capim?’ me percorre a espinha, inconstante. Sinto nos nervos de trás uns floreios estranhos.
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Meu melhor amigo do último quarto de hora soletra o-t-á-r-i-o nas minhas costas com a ponta dos bigodes.
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Uma mandíbula descomunal se ergue detrás da cadeira, a boca de quarteirões de largura, que cresce, que cresce, me engalfinho à perna de uma mesa, o traço reto do batom nos lábios se difunde em rachaduras homéricas, que aumentam, que aumentam, vales nos cantos da boca dessa mulher, quero xingar todos em russo, mas não sei como, como se deleitam!, ela tem dentes de liquidificador, a goela agora é um mundo todo, não vejo mais nada, ela quer me comer, oh Deus, ela vai me comer, ela me comeu.
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Meu melhor amigo do último quarto de hora, do fundo do mundo, sussurra ao pé do meu ouvido que devo procurar um analista.
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João Francisco Costa Ribeiro já publicou dois contos no jornal Plástico Bolha e a equipe do jornal não vê a hora de receber mais de seus textos. Este, publicado na edição #15, de agosto de 2007, foi ilustrado pelo nosso super-ilustrador Angelo Abu.