sábado, 29 de dezembro de 2018

O Galo gago - Clara Gavilan



O Galo gago é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Exposição "Arruar Tapacurá", de Joana Passi




“ARRUAR é sentir a cidade. Evocar seu passado, partilhar do seu presente, sonhar com o seu futuro. Conhecer e recordar. Pisar e querer adivinhar os que pisaram. Ser ao mesmo tempo a geração de agora e as gerações de outrora. Regalo dos olhos e entendimento dos espíritos.” (Mario Sette)

“ARRUAR TAPACURÁ”, a ser realizada na Torre Malakoff, é uma exposição dos trabalhos de Joana Passi, com data de abertura para o público no dia 04 de janeiro. A artista ocupará as 6 salas do centro cultural com trabalhos resultantes de uma pesquisa sobre Tapacurá – antiga região de São Bento, onde atualmente é localizada a Reserva Ecológica de Tapacurá e a Barragem de Tapacurá, situada a poucos quilômetros do Recife e protagonista do maior boato que entrou para a história da cidade – “Tapacurá Estourou". 

A exposição apresentará videos, desenhos, mapas, pinturas e instalações: trabalhos que surgiram do esforço da artista em vislumbrar a paisagem submersa, lembranças e narrativas sobre Tapacurá. 

A parceria com a Torre Malakoff teve início em julho, com uma ação na data em que o boato completou 43 anos. No dia 21 de julho de 2018, a artista realizou uma espécie de “monumento efêmero” e percorreu as ruas da cidade do Recife com um carro de som relembrando o grito que correu as ruas em 1975. 

A ocupação na Torre Malakoff ocorrerá durante todo o mês de dezembro, com a montagem de um laboratório no espaço do centro cultural para distribuir seus trabalhos nas salas de exposição. A artista realizará, também, um encontro com estudantes e professores da rede de ensino da Secretaria de Educação do Estado para realizar trabalhos sobre memória e histórias locais. 

Sobre a arista: 

Joana Passi é artista plástica e seu trabalho consiste em investigações realizadas no ateliê, sobre histórias e paisagens. Suas ferramentas investigativas são de diferentes mídias, como pintura, desenho, vídeo e escultura. Formada em Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente é doutoranda do departamento de Literatura da PUC-Rio. Atua como professora de desenho e artes visuais, já lecionou na UFRJ e ocupou o cargo de arte-educadora do Instituto Moreira Salles. Desenvolveu trabalhos em cinema e teatro, onde obteve  premiação como cenógrafa e foi indicada a prêmios como figurinista.

A curadoria da exposição é de Juliana de Moraes. 

Co-criações artísticas:
Os videos que fazem parte da exposição contam com a fotografia de Bento Marzo, a criação musical de Jam da Silva, e sound-design de Gian Ciminelli, gravados no estúdio da Áudio Rebel. 


ABERTURA: 
04 de janeiro de 2019 às 19 horas 

SERVIÇO: 
Local:  Torre Malakoff - Praça do Arsenal, s/n - Recife, PE.
Visitação:  04 de janeiro à 28 de fevereiro de 2019
Horários: terça a sexta, de 10h às 17h; sábado, de 15h às 18h; domingo, de 15h às 19h30

Narciso


Cinéreo Gris



Cinéreo Gris é Bruno Oliveira Fernandes: formado em Letras pela UERJ; músico licenciado; skatista aposentado; escritor não publicado; poeta por necessidade da alma; professor por necessidade do corpo. Ele é, também e principalmente, marido devotado; pai apaixonado; esquerdopata congênito e crônico; punk rocker que sofre da síndrome de Peter Pan e vive a crise da meia-idade.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Deixar para trás - Márcia Monteiro



Deixar para trás é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Achados & Escritos 1


Na medida do impossível ela caminhava entre os escombros de sua sanidade.

Aos tropeços se equilibrava em devaneios para não se perder na realidade que a consumia.

Os dias já não eram suficientes para preencher o vazio que transbordava de suas vestes.

Esquecer tornou-se uma necessidade que a afligia a cada estalar de suas memórias.

Ricardo Dantas



Artista sonoro e visual, participa do Coletivo inTRANSEgente! – “Hibridismo das Artes” (poesia, microconto, nanoconto, vídeo poema, intervenção sonora, etc). Aluno do Curso de Música da Universidade Estadual de Londrina integra os Projetos de Pesquisa e Extensão “Botequim de Música Contemporânea” com um projeto de Iniciação Científica sobre Instalação Sonora. Participa também do Grupo Armila, pertencente ao CLIC (Coletivo de Livre Improvisação Contemporânea).  

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

karma sutra


uma estranha sensação
de que já vi este cu.
ou de outra encarnação,
ou é mero deja vu.

Vinni Corrêa

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Korean Woman #3 Hanbok - Helena Carneiro



Korean Woman #3 Hanbok é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita

Incandescente


Corpos nus, sua chama ereta; nós fundimos e nossas retinas se aliaram.
Nossos gemidos deram um tom desconcertante, a madrugada fria e aparentemente silenciosa.
Banhados e emaranhados em suor, nos tornamos unos e nos flagramos sorridentes...
Diante do gozo – passado e futuro viraram borrões e o presente resplandeceu.

Rosa Maria

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Lançamento dos minilivros "Para quando faltarem palavras", de Luiza Mussnich, e "O caçador de ginseng", de Ana Bartolo



Dèjá vu


A Bahia da minha lembrança,
onde me banho
desde o princípio,
corre por ladeiras à boca do céu,
escapa,
mas não passa de mim.

À distância,
no encalço da imagem indefinida,
ganha a forma de um
desejo íntimo.
Alcança meu tamanho,
de mim não passa,
bate no teto dos
meus (quase) trinta anos.

Trago seu canto sem saber palavra.
O saber das ruas e das coisas,
de olhá-las
e guardá-las. Onde mais
o esquecimento, mais o amor,
não palavra,
irrompe de um gesto,
que é todo o movimento,
                          das folhas aos pássaros,
de perder e achar e
querer e não falar.

Tem essa Bahia o viço
da pele ingênua debaixo da barba,
donde brota já
o primeiro fio de cabelo branco.
Terra sempre nova
que por algum feitiço
hesito pisar.
Põe-se a meio caminho, noutro plano.
Bahia que é minha e
dos baianos.

Daniel Marones



Daniel Marones tem 35 anos, nasceu e mora no Rio de Janeiro, e já leu seus poemas em alguns saraus, apesar de nunca tê-los publicado.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Refúgio e suas margens/deslocamentos e acolhida a Venezuelanos no Brasil: reflexões preliminares



Granada


Da mancha no olho casto
Do prurido na pele branca
Dos calos relevantes no pé 33
Das paisagens que sobram na cama
Leio Azevedo por 3,99
O primeiro livro vendido no bazar
Segundo a caixa
Pedido de ordem nas cruzadas
Não sei a capital do Líbano
Sugiro Lindóia do Sul
Muita letra
“Não sei”, por fim, nos une
Uníssonos
Tocamos cabelos e formigas
Nas paredes mofadas
Nos panos de pia
No pacote de lixo
Na folhagem que atrai abelhas
Nas folhagens que nos une
Que regamos com suco de limão
E adubamos com erva molhada
Assim sentamos à margem
Das tristes notícias do erro comum
Das traças viciadas em naftalina
Dos equívocos das tesouras com ponta
Do nome no lápis sem ponta
Da taça trincada por um erro comum
Dos beijos si-lá-bi-cos
Voltamos a caminhar
Torcemos nossos corpos
Na quina do sofá
Na porta do box
Achamos engraçado esse porte de arma
Quebramos, esparramamos
Os cacos da porcelana verde por dentro
Vamos embora, vamos embora
Nosso chão tem carvão em brasa
Nossos símbolos vestem chapéu
Nossa ternura usa bigode
Nossas extravagâncias estão no sótão
Deixo a toalha de banho marcada de cera
Uso dois pingos de gel
Repito a cueca
Corto as unhas dentro do cinzeiro (um pote de metal para presente)
Cheio de ilustrações geométricas
Mas saem voando, capazes de orbitar
Vamos embora, vamos embora
Ela deixa rastros de primavera pela casa
Ela queima como um verão bêbado
Ela é outono quando sonha e inverno quando chora
Suas toalhas de banho têm cheiro de pêssego
Seus cigarros ardem como incenso
Damos nomes aos insetos que respiram pela boca
Das patrulhas pelas travessas
Do mendigo que fala chinês e mendiga em espanhol
Da noite que embrulha a ópera
Dos centímetros que separam metros
Do último furo no cinto
O álibi como um simples não
À margem, à margem
De um confuso ato
Os espelhos podem marinar
A recompensa que nunca acaba
Ela já está dormindo
Minha lira de 29 anos

Ramon Carlos



Ramon Carlos (Santa Catarina, 1986). Escreve no site: www.estrAbismo.net. Sua carreira literária resume-se a dois contos publicados em uma antologia, além de materiais diversos em revistas como: Inutensílio, LiteraLivre, Subversa, Philos, Escambau, Bacanal, Ruído Manifesto, Literatura & Fechadura e Jornal Plástico Bolha.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Plástico Bolha no evento Edição comentada: estudos sobre o livro



No dia 12 de dezembro, quarta-feira, João Moura Fernandes, membro da equipe do Plástio Bolha, estará no evento do Selb falando sobre edição de poesia.

Para mais informações, clique aqui.


Figurando um planeta


Houve um tempo em que tudo era mais simples e plano. Até o planeta era plano. Um mundo do tipo match column A and column B:

(1) céu                      ( 1 ) conecta duas unidades em uma oração
(2) da                       ( 3 ) para muitos, representa onde tudo começa e onde muita coisa termina
(3) boca                   ( 2 ) frequentemente aparece em caso de posse inerente

Nesse mundo, correspondências eram óbvias. Os nomes dados às coisas eram seus nomes certos, e era possível dizer por meio da palavra o que era e o que não era. Quanto às orações, não a todas cabia um julgamento entre verdadeira ou falsa: às orações, por exemplo, não cabia. Assim, os habitantes desse mundo não eram deixados cair na tentação de misturar da linguagem suas parcelas racional e poética; amém.

É importante (?) declarar qual seria a parcela racional e qual seria a poética, porque, estando em outro mundo hoje, pode ser que não tenhamos esses aspectos tão evidentes – não sei bem se algum dia alguém os teve de fato, mas sei que acreditavam ter. À parcela poética correspondem todos os usos metafóricos da linguagem: os usos escorregadios, bêbados, incertos, deslizantes. Um óbvio exemplo desses casos seria “Aqui minha nave se deteve”. Não pelo uso hoje bastante estranho da palavra nave (não significando uma nave espacial, mas sim um navio), ou por dizer que a própria nave se deteve, quando ela certamente foi detida por alguém, mas pura e simplesmente pelo uso do verbo deter-se. Sabemos, é claro, como falantes da língua, que deter-se é um termo genérico, e que a este caso melhor caberia o uso específico. Não sabemos? “Aqui minha nave ancorou” seria a forma literal de dizer tal frase; o fato de a nave ser personificada nesse caso deve ser, tal qual a resistência do ar, desprezado.

A outra parcela de linguagem, aquela que é racional, opera de modo diferente. Ela é simples, direta, e pode sempre ser julgada em verdadeiro ou falso. “Michel Temer exerce seu poder de modo ilegítimo”. Essa é uma declaração, puramente racional, suscetível a julgamentos subjetivos, desprendida de qualquer termo figurativo. Diferente de quando se diz que “Michel Temer, tal como um vampiro, suga nosso sangue”. Apesar de me parecer que essa também pode ser julgada como verdade, analogamente à primeira. Mas vai saber. Se são padrões tão bem delimitados e indiscutíveis, melhor não ficar procurando chifre em cabeça de cavalo.

Reasseguro aos leitores a certeza que esse mundo trazia de que as metáforas da linguagem são o simples transporte de nomes de uma coisa para outra. Claro, inteiramente controlado e regrado. O fato de a palavra “transporte” aqui ser usada também personificada e fora da sua forma mais tradicional e literal deve novamente ser descartado pelos leitores, mais perspicazes e atentos do que desejamos para o momento. Por enquanto fiquemos agarrados à impressão de que falas figuradas são erros em meio a um sem-número de absurdos, insinuadoras de ideias erradas e consumadas fraudes. Fora do meio poético, só servem para enganar e persuadir. Que nem os sofistas.

Mas eis que um dia o mundo arredondou. As pessoas também. Os entendimentos também. A linguagem também. Assim, ficava difícil definir tudo em termos diametralmente opostos, porque nada parecia ter só dois lados, como são as coisas planas. Ingenuidades precisaram sair de cena para dar lugar a dúvidas. E como dúvidas não têm valor em lugar nenhum, as explicações precisaram passar a ser tantas quantas pudessem ser as ocorrências. Precisamos das caixas. De muitas caixas. Nos munimos de um arsenal de caixas para fazer tudo caber e ser devidamente categorizado. Nunca esperamos nos deixar soterrar pelo excesso de possibilidades, nunca esperamos não estar num ponto alto o suficiente para recortar a onda e observar seu único movimento. (O leitor atento pode aqui observar que a ingenuidade nunca nos deixou inteiramente.)

A língua também foi vítima das caixas. A parcela racional foi lacrada e uma etiqueta que dizia GRAMÁTICA NORMATIVA foi colada bem na sua frente. Suas possibilidades de movimento foram lançadas ao mar aberto (e Palomar nem viu). Lá dentro dessa caixa, vários compartimentos foram colocados para delimitar bem o funcionamento de cada uma das partes. Tolinhos, nem viram que os conteúdos se liquefaziam e passavam por entre os compartimentos com muita facilidade. Os que não
se deram conta disso em momento algum seguiram firmes, acreditando terem resolvido todos os problemas da linguagem racional, sóbria e orientada, e partiram para a outra parcela.

A parcela poética, figurativa, periférica da linguagem também foi encaixotada. Na caixa, um papel que dizia METÁFORAS já vinha de fábrica colado. Consideravam que elas fossem um gênero do qual todas as ocorrências seriam apenas espécies; o guarda-chuva sobre o qual todas as emissões bêbadas se abrigavam. Depois parece que repensaram, encontraram mais umas classes que mereciam se juntar ao gênero, e mudaram para um nome mais genérico: FIGURAS DE LINGUAGEM. Diz-se também que no estágio inicial da caixa, não sentiram necessidade de colocar compartimentos, mas
depois viram que podia ser melhor ter lá um ou outro. Traçaram a princípio três: metáfora, metonímia e sinédoque.

Depois disso, parece que perderam o senso. Tudo desandou. Saíram dividindo e redividindo, e então dividindo uma vez mais para tentar abrigar caso a caso com a maior distinção e o maior detalhamento possível. Explodiram não sei quantas definições, e nunca deixam de surgir mais. Lembro-me que certa vez, pelos treze anos, dediquei dias ao esforço de redigir um resumo de toda a matéria do ano. Constavam lá as famigeradas. Eram, à época, onze: comparação ou símile (quem diria que comparar duas coisas era na verdade um recurso estilístico decorativo); metáfora; prosopopeia ou personificação; hipérbole; eufemismo; disfemismo; antítese; ironia; sinestesia; metonímia; antonomásia. A maioria delas era facilmente percebida em discursos correntes do dia a dia, portanto foi curioso perceber que seriam assunto de prova e tema de aprofundado estudo nos anos escolares.

Quando concluí que até tinha certo sentido debruçar algum olhar cuidadoso sobre esses fenômenos esquisitos, descobri que tinham mais casos: paradoxo; anáfora; pleonasmo; coisificação ou reificação. E mais: aliteração; pleonasmo sintático. E mais: silepse, catacrese, elipse, zeugma, quiasma. E hipérbato apóstrofe gradação assonância paronomásia onomatopeia polissíndeto assíndeto anacoluto perífrase e por aí vai aparentemente sem poder nem parar para respirar. Pausa.

Ouvi quinhentas vezes e disse aqui quinhentas e uma (hipérbole; zeugma) que as figuras de linguagem pertencem à parcela da linguagem poética. Ornamental. Figurativa. Decorativa. Talvez os habitantes do mundo plano olhassem hoje para o que fazemos com as metáforas e as enxergassem como golpistas que se apropriam de um lugar da linguagem a que não deveriam pertencer. Diriam: Não é certo que não encontremos outro nome para dizer pé da mesa ou céu da boca ou braço da cadeira sem que pareçamos ridiculamente desconectados da nossa própria língua. Não é certo que não encontremos força nas expressões literais para comunicar o que desejamos. Não é certo que não vejamos saída e forma de estar na língua que não envolva esta parcela que antes julgavam tão descartável. Não é certo que o inútil, recusável e imperfeito canto a que relegamos as figuras se misture e de repente seja tão racional quanto o campo racional.

Há algo que parece muito engraçado, curioso ou patético da parte dos que legislam sobre a língua (e aqui digo dos que de fato legislam, não de uma possível analogia com certo tear de que certa vez ouvi falar). Eles seguem buscando o estrito caroço de um conceito. Já existe uma palavra para falar sobre casos em que designamos a um ser um outro nome próprio para que se o reconheça, por exemplo. Não digo por isto chamar Montecchio de Capuleto; digo chamar Pelé de Rei do Futebol, chamar Rio de Janeiro de Cidade Maravilhosa. Mas alguém um dia achou que era bagunça colocar pessoas e tropos sobre a mesma classificação, e bipartiu: perífrase e antonomásia. Fez assim também para elipse e zeugma; metáfora, metonímia e sinédoque; e um bocado de outras variantes. Aliás, parece que fez assim para tudo. Explodiu em pormenores aquilo que nenhuma divisão ultradetalhada será capaz de encerrar.

Vazam. Vagam. Vagueiam. Esvaziam. Escorrem por entre os dedos as línguas os ares as mentes sem que sequer nos demos conta. Não damos conta. Nada dá conta. Talvez tentemos controlar a língua quando na verdade ela nos controla. Talvez tentemos chamar de metáfora uma parcela da língua quando ela é o todo e mais um pouco. Talvez pensemos no substitutivo em lugar de aditivo. Vai saber. Não sei. Concluo nada e penso muito. Deixo aqui em suspense o suspense de lidar com a linguagem figurada que talvez melhor seria dita linguagem protagonizada. Vai saber.





Caramba! Já agora, indo embora, me dei conta de uma falta gravíssima! Desculpe, leitor. Sabe o que é? Não me curei dessa doença de ser artista. Isso faz mal, a gente acaba imitando um pouco as coisas do mundo real sem nem perceber. É por isso que acabei copiando aqui uma frase ou outra de Platão, Aristóteles, Locke, Hobbes, Calvino, Eco, Helena Martins. Seria uma pena se eu ficasse de fora da República por um deslize desses... Mas, afinal, quem no Brasil hoje não está?

Yasmin Barros


sábado, 8 de dezembro de 2018

Corpo de Carne sobre um Corpo de Água - Lari Arantes





Corpo de Carne sobre um Corpo de Água é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita

Edição comentada: estudos sobre o livro




Desde a sua inauguração, em março de 2016, o Laboratório de Publicações Lima Barreto vem trabalhando ativamente na difusão das práticas editoriais no Instituto de Letras (ILE) da Uerj. Mantendo-nos sempre alinhados à missão de fomentar, produzir e editar projetos acadêmicos e literários, exercemos nossas atividades com o objetivo de oferecer capacitação teórica e prática aos estudantes de Letras e de áreas afins para a atuação no setor editorial.

Em 2016, numa tentativa de atender ao interesse dos estudantes do ILE e de trazer de volta a uma Uerj em crítica greve alunos, professores, técnicos, estudos, discussões, produções, realizamos o ciclo de debates Mercado editorial: inserção, atuação e análise, um evento-teste, experimental em muitos aspectos. Neste ano, retornamos com um evento repensado, reestruturado, renomeado, o ciclo Edição comentada: estudos sobre o livro.

10 a 14 dezembro, manhã, tarde e noite
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Campus Francisco Negrão de Lima (Maracanã)
Rua São Francisco Xavier, 524
Maracanã – Rio de Janeiro, RJ – 20550-900

Para mais informações, clique aqui.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Jardins


Quando no outono das tardes sombrias,
Entre a caligem, nos gráceis abrigos,
Eu me recordo dos tempos antigos
De auras divinas, porém, fugidias...

Pelas soturnas ruelas esguias,
Na soledade dos ternos jazigos,
Jogo-me sobre os relvedos pascigos,
Molho teu leito de lágrimas frias...

Neste semoto moimento das dores,
Onde adormecem os nossos amores,
Desta fulgente e fugaz mocidade...

Ali, me perco e me encontro, em meus sonhos,
Na realidade dos tempos medonhos,
Nestes soturnos jardins da saudade...

Sérgio Márcio

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O torneio


Foi na esquina da Marnoco e Sousa com a Dr. Júlio Henriques, no Bar do Borges. O ano, penso que 2015. Era a final do campeonato de sinuca e o pequeno estabelecimento mal suportava a quantidade de estudantes que se apinhava ali, uns em cima dos outros, ao redor da mesa. O barulho intenso de risos, gritos e choque de copos invadia a rua silenciosa, às duas da manhã, e ecoava por pelo menos dois quarteirões acima, subindo na direção do Penedo. Quem entrasse por último não acharia possível dar um passo a mais em meio aos corpos que se apertavam, mas no final, sempre cabia mais um. Uma vasta e densa fumaça de cigarros se acumulara no teto, dando ares de neblina às fracas luzes da casa. Todo ano seu Borges colocava os móveis nos cantos e trazia a mesa que jazia sob o pó da garagem. As bolas, de tão velhas, perdiam a tinta, e a branca tinha traços pretos e indeléveis que algum inconsequente havia desenhado.

Durava cada vez mais aquela confusão, porque todo ano aumentava o número de participantes. Havia estudantes, professores e funcionários da Universidade de Coimbra tentando a sorte. Neste ano cinco finais de semana foram necessários para se chegar aos dois últimos contendores. Arthur, detentor do título, graduando de História, jogava com os incentivos da namorada, a francesa Delphine, que com a cabeça cheia de imperiais consumidos ao longo de pelo menos cinco horas, soltava, vez por outra, palavrões em sua língua pátria, logo encobertos por uma saraivada de impropérios lusitanos. Jorge, quarto ano de Medicina, argentino alto como um tronco de árvore, nunca participara de uma final, mas tinha naquele ano eliminado com extrema eficiência todos os seus adversários, que não foram poucos, diga-se de passagem. Ao contrário do seu oponente, que começava a ficar um tanto vermelho por conta das taças de vinho consumindo ao longo do torneio, Jorge não ingeria álcool. Em compensação fumava um cigarro atrás do outro.

A excitação era intensa. A partida ganhara ares de final de copa do mundo. Delphine, namorada de Arthur, de postura selvagem por trás dos olhos pequenos e pretos, explodia a aproximadamente cada vinte minutos, para reclamar dos cigarros: Mais arretez cette fumée de merde, connards!, ao que se seguia um murmúrio incompreensível de expressões confusas, oooooeeeoopáááá, ôôôôconarda é tu, ó parva! – e a fumaceira continuava. A gritaria só se suspendia um pouco em duas ocasiões: quando chegava uma nova rodada de cerveja, que Maria trazia a muito custo equilibrando a bandeja acima da cabeça, sob as orientações já não tão seguras do velho Borges, bêbado, os cotovelos no balcão, a observar a partida com seus olhos turvos; ou quando um dos competidores se preparava para dar sua tacada. Era um instante de silêncio, como se estivessem todos na quadra de Roland Garros, só entrecortado pelas vozes da francesa, que nesse instante encontrava sempre o que dizer, ainda que ninguém a compreendesse. Depois tudo voltava ao normal, as mesmas vozes altas, o tilintar dos copos, os gritos e conversas intermináveis, a variação nos valores das apostas sendo lançadas aos gritos de uma ponta a outra do bar, com o Pedro, um sujeito de óculos embaçados pelo suor que se mantinha em pé em cima de uma mesa, a anotar no seu caderninho o aumento ou a redução de euros envolvidos na jogatina.

A partida estava difícil para Jorge. Nunca chegara tão longe no torneio e aquela euforia mexia um pouco com seus nervos. Começou sendo praticamente massacrado, o adversário distanciando-se com segurança na pontuação. Depois, da metade da partida em diante, Arthur perdera a concentração, permitindo que o argentino se aproximasse. De tal forma que a mesa agora se esvaziava com equilíbrio, bolas eram encaçapadas de ambos os lados. O nervosismo não permitia que qualquer dos oponentes se impusesse e terminasse o jogo de uma vez. Erravam-se tacadas fáceis, e em lances mais difíceis, algumas vezes, ocorriam pequenos milagres. A torcida seguia as emoções do jogo como o par de uma dança excitante, com rompantes de alegria e momentos de decepção, a depender das afinidades, e à medida que se reduzia quase a zero o número de bolas, a tensão atingia o ápice. 

Os derradeiros movimentos eram a partir de então acompanhados por um silêncio profundo. A bola branca batia com violência nas outras, ninguém queria deixar de graça os últimos lances ao adversário. Além dela, só mais duas restavam no tapete verde. Na vez de Jorge, o futuro médico conseguiu pôr na caçapa a penúltima esfera e ainda deixou a branca numa posição perfeita para finalizar a última – a preta. Um murmúrio percorreu o ambiente, cabeças viraram para não ver e, sobretudo, para não ter que desembolsar quantias financeiras já estratosféricas. Arthur recostou-se no banco alto, segurando o taco encostado no chão, entre os dois pés, a ponta na direção do teto. Delphine segurava seu braço. Cochichavam-se comentários técnicos. Jorge se concentrava, a boca contraindo-se em meia palavra dita para si mesmo. 

Contaria mais tarde que refletira bastante sobre aquela jogada pouco antes de executá-la. Deveria colocar suavemente a bola, como exigia, certamente, a situação, ou finalizar com violência, para causar um efeito na plateia? A proximidade da vitória, o rush de sangue que lhe correu pelas veias foi decisivo: terminaria com uma forte batida de mão esquerda (era canhoto), tomando cuidado, claro, para posicionar o taco de maneira a que a bola branca não seguisse a preta no buraco, mas retornasse de onde partira. Posicionou-se. Jorge pôs a mão direita firme sob o taco, fazendo um “v” com o polegar e o indicador, ao passo que com a esquerda movimentava, num pêndulo preciso e concentrado, o instrumento da vitória. 

Tudo ocorreu muito rápido – muito mais do que o ritmo de qualquer narração. A pancada veio violentíssima, acompanhada por um estalo característico, mas decuplicado em intensidade sonora, e pelo grito de Delphine: nom de Dieu! A bola branca não se movera um milímetro. Não é que Jorge não a tenha tocado, ao contrário: acertou-a em cheio, justo onde queria, mas ela se manteve ali, imóvel, sólida como uma rocha, e o resultado foi o estudante sofrer o imediato contragolpe daquela imponente inércia: foi jogado para trás com a mesma força que havia usado para atacá-la, o taco partindo-se em dois e o jogador caindo de costas no chão, não sem antes atropelar uma cadeira, cujos quatro pés se quebraram como frágeis palitos de fósforo.

O estrondo de um trovão fez tremer os alicerces do Bar do Borges. Era a gargalhada dos torcedores, misturada a copos estilhaçados no chão e a gritos ensurdecedores de gozo incontido. Riam a plenos pulmões, apontando para o infeliz, como teriam feito de alguém que vissem tropeçar e cair no meio da rua. O argentino, estatelado no chão com as mãos apoiadas para trás, olhava o pedaço de madeira partido com ar assustado. Fixando a bola branca percebeu, pela primeira vez e antes do seu lendário desmaio, que o desenho que nela fizeram eram dois olhinhos pretos e uma boca. Os olhos o encaravam; a boca sorria.

Bruno Mendonça

sábado, 1 de dezembro de 2018

Retrato de Família - Laura Loyola




Retrato de Família é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita