sábado, 30 de abril de 2011

Para Carlos e Adélia

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Quando eu nasci
Não veio anjo ou demônio
Tampouco parteira, benzadeira
Padre, pai de santo ou sinfonias
Uma enfermeira, um ou alguns instrumentadores cirúrgicos,
Obstetra, e um tapa do pediatra
Apresentaram-me o mundo.
Dum gole de ar, irreconhecível
Para a vida vim
Um vasto mundo
Na maternidade Praça XV para o mundo
De um enlace adolescente
Vasto mundo
Fruto do acaso
Não tinha caderneta de poupança
Nem muitas festas
[Um casamento encobria a barriga já saliente pós debute]
Criada assim,
Entre tios e avós
Nenhum anjo ou demônio
Apresentou-se
Vá, Munique
Porque assim te chamaram
[sem rima
Nome de cidade importante.
ou solução]
Neste vasto mundo vá
Nem que seja pra ser gauche na vida.
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Muca Velasco
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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sujeito-Homem

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O PM desceu do carro dizendo: eu vou perguntar só uma vez e não adianta mentir porque se eu encontrar vai ser pior, vamos lá, tem flagrante? Não, não tenho flagrante, o cara respondeu. O PM olhou desconfiado e disse: usou droga? Usei, ele falou tranquilamente. O PM mais uma vez: cheirou pó ou fumou maconha? E o cara: fumei maconha. Não cheirou pó? O PM insistiu. Não, não cheirei pó. O PM concluiu: isso é sujeito-homem! Vai lá, se adianta! E o cara continuou descendo a ladeira que dava para uma ruazinha do morro.
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Delano Valentim
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Delano Valentim é autor do livro Os Moleques da Penha, diretor do filme Hoje É Dia de Baile e cantor de rap lançando a mixtape Gringada. Fundador, cantor e letrista das bandas Nova Resistência, Mammatchaully e Desbunde.
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Oração Corpórea

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São os acordes da respiração
O som dos corpos em choque
Pra turbulência do beijo é um toque
No envolvimento lingua, pulsação

Tá no cheiro da carne, da boca
Nossos pelos entrelaçados
Na nuca o gemido abafado
Na sede o suor é uma gota

Na seiva do orgasmo o sorriso
Exaltado nos dentes travados
De um fez se dois corpos pesados
Largados no mar do indeciso

Nossa mãe nossa menina
Nos acolha em teu ventre estrelado
Nos retire este tempo gelado
Nos defenda da lingua ferina
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Vitor Granado
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Ciúme:

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mosquito zumbindo no ouvido
quando tudo que se quer é dormir.
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Romã Neptune
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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Espaço Plástico Bolha no CEP 20.000

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21 anos de invenção

ESPAÇO CULTURAL SÉRGIO PORTO

quarta – 27 / 04 /// 20:30 – 5 reais


20:30 - cine curta cep 20.000

querida b, |letícia simões 5:02

vide o tape | priscila de azevedo maia | 4:55

paó sem palavras | daniel paes | 5:17

os caminhos do espelho | paula manzo | 1:05

feito pedra | adélia jeveaux | 7:07

miró e manuel | pedro cezar e marcos kuzka | 3:30


21:00 – poesia & performance

laura liuzzi

masé lemos

coletivo organismo

os siderais

Espaço Plástico Bolha

Mínima Lírica com:

lucas viriato / domingos guimaraens

Receitas cantadas com:

gabriel fomm e ângela câmara


22:00 - música sólida sarau

roda de compositores com

dimitri br + achilles chirol + silvia rebello (diahum.com)

fernando paiva + flávia muniz (luisamandouumbeijo.com)

ismar tirelli neto + alice sant'anna + mariano marovatto


www.cepvintemil.wordpress.com

domingo, 24 de abril de 2011

Sô Rio

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O dia é feito de aventura
Com salves dias
dias sim
dias não
eu vou sobrevivendo sem
nenhum tostão

um prefeito
perfeito filho dedicado
limpando a bagunça pra
debaixo do tapete
todo o pretérito imperfeito

eu Rio
de quê?

o dia é feito de ventura

andar num campo minado
pisar em bueiros buracos
nos dentes de asfalto
sorriso que Rio

ta rindo do quê?
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Breno Coelho

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quinta-feira, 21 de abril de 2011

CAFÉ

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a Menalton Braff
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Dê-me café,
Quero escrever.

Uma xícara desse tônico
E terei forças renovadas,
Encontrarei a palavra perdida
Que caiu como folha
Da árvore da vida.

Dê-me café,
Quero escrever.

Sou aristocrata,
Poeta,
Basta o aroma
E cantarei a luta de amor e fé
Nesta página aberta.

Dê-me café,
Quero escrever.

Estímulo para meu cérebro,
Investigarei pensamentos,
Sentimentos,
Decretos divinos
E registrarei tudo
Com dedos ágeis sobre as teclas.

Dê-me café,
Quero escrever.

Um pouco mais
Dessa infusão das Arábias
E não terei mais sono,
Revelarei segredos,
Juntarei letras em estranhas galáxias
E mergulharei num outro universo.

Dê-me café,
Quero escrever
Até morrer.
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Raquel Naveira
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Raquel Naveira é autora da casa.
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DIÁRIO

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Danço numa ciranda de fogo
olhos acesos pelo brilho da vida.
Subverto a morte
até o presente momento.
Descubro a beleza das coisas
quando não procuro por nada.
Canto a música barulhenta dos dias
melodia dissonante da existência.
Invento galáxias particulares
no Big Bang das ideias.
Ouço o silêncio das pedras
na insônia da madrugada.
Aprendo a educação pela dor
na escola dos erros.
Domestico a tristeza
em tempos de solidão.
Busco a felicidade
na carne feminina do amor.
Escrevo o meu diário secreto em forma de poesia!
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José Augusto Ribeiro da Fonseca
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Foras da lei

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Não moramos em lugar seguro
As opiniões sempre mudam
Os cobradores sempre ligam
E ela não cansa de se admirar no espelho
Se sair à noite com este colar
Pelo amor de Deus, terminaremos presos
Porque somos uma bomba relógio sem hora para explodir
Terroristas sentimentais
E juntos criamos um poema sem intervalos sem rimas
Sem espaço
Sem masturbação
Somos livres e toda a polícia está à nossa procura
O leão rugindo
Os teóricos em poesia
Os 181 e os 171 também
Por isso treparemos em praça pública
Depois fugiremos da cidade.
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Anderson Pires da Silva
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Anderson Pires da Silva é nosso colaborador de Juiz de Fora.
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O Homem-Peixe

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Pulou para fora do aquário
Rastejou-se no carpete
Procurou um mar imaginário
Sem que ninguém soubesse.

Rolou da escada
Querendo alcançar a rua
Chegou até a escada
Saiu embaixo da chuva.

Seguiu pegadas
Deixou vestígios
Descamou-se em estradas
De delírio.

Atravessou pistas
Chafurdou na lama
Prejudicou as vistas
Machucou as barbatanas.

Mergulhou em poças
Refugiou-se no cais do porto
Esbarrou em louças
Sem nenhum conforto.

Buscou um barraco
Um pedaço de vitrine
Uma peça de teatro
Um roteiro de filme.

Um conto
Uma canção
Ficou sem ponto
Sem noção.

Nada encontrou
Nem mesmo um tema
Só se encaixou
Neste poema.
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Marcio Rufino
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Marcio Rufino nasceu em São João de Meriti e mora em Belford Roxo. Lançou o livro de poemas Doces Versos da Paixão (Ed. Lítteris, 1998). Em 2008, fundou com Ivone Iandim, Dida Nascmento, Jorge Medeiros e outros poetas da baixada fluminense o grupo "Pó de Poesia". Participa também do "Gambiarra Profana", outro grupo da região.
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terça-feira, 19 de abril de 2011

relicário de desejo

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o que há são os pássaros.

inabaláveis, de recorte à janela

gritam:

vem

trôpegos de delicadeza

descobrem o caminho de budapeste

em uma reza, as mãos coladas:

o sagrado nasce do amarelo.
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Letícia Simões
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Letícia Simões é nossa autora desde o comecinho. Já publicou diversos textos no Jornal Plástico Bolha e, em breve, lançará seu primeiro livro pela 7Letras.
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segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Folho

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Triste é a folha, que jamais soube o que é amar a um folho.
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Daniel Perlin
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domingo, 17 de abril de 2011

PERGAMINHO DO FOGO

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Menos silêncio houvesse e seria a culminância da obra. Mas não: são as voltas. Como me tornar mais humana? Como provocar as chamas incisivas da fala? O amor é mais largo que a morte. O tempo não dissolve palavras escritas em cartas. Por isto escrevo, para fazer do tempo uma espécie de abraço enorme. O conforto é usar vírgulas no lugar de ausências. O corpo sabe dos lugares das páginas. Quando foi que nossas letras entrelaçaram os pés? Sempre sei a próxima frase, mesmo quando a boca diz outro nome, e o nome desatina a presença aguda da falta. Não é poesia o que escrevo e me permaneces a alargar as ruas, as vias, as praças. Porvir é pássaro livre. Voar é epifania. Na imaginação o amor acende o sol, a distância o desejo. Querer perto e beijo é oásis no deserto? O rio da vida deságua em mar aberto... O ponto final não aprisiona o cronos da história. Papel e pele guardam a memória do imponderável. As linhas não contêm a língua. A língua escreve em papel-corpo o pergaminho do fogo.
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Flávia Muniz
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Flávia Muniz é autora de três livros que compõem a Fantabulosa Caixa de Livros e ainda é vocalista da banda Luisa mandou um beijo.
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Pintura

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Há dias em que os efeitos visuais são
[uma parte de um todo
que se acomete
Pelo acaso da coincidência

Então a poesia se faz pela tinta escorrida
Formas que nascem do pó
Milagres que o vaticano não
[oferece no cardápio

Espírito do giz de cera
Santa aquarela do perpétuo
[socorro!
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Fernando Andrade
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Fernando Andrade já publicou diversos poemas no Blog do Bolha. Este, vem com uma ilustração, em giz de cera, de autoria de Luisa Noronha.
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sábado, 16 de abril de 2011

Aos poetas contemporâneos

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Em homenagem a Pedro Paiva
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Há um oceano no caminho
Ao sudeste de Drummond, ao nordeste de Cabral

As montanhas, as praias
As garotas de saias
Matando aula à tarde
A imaginação do velho poeta: enfarte!

Você pode ser como dantes
Uma força respeitável contra as forças sociais
Você pode ser honesto
Ou doidona
Três ou trinta pontos na carteira

Desde que não cultive raízes na criminalidade
Desde que não seja “a porra imprestável de um difamador”
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Anderson Pires da Silva
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Anderson Pires da Silva é nosso colaborador de Juiz de Fora. Também escreveu o livro "Mário e Oswald: uma história privada do modernismo".
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O caminho do arco-íris

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Pombo, pobre e pão

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Hoje um pombo quase me atropelou! Um pombo bem do gordinho.
Esta praguinha tão bem alimentada pelos velhinhos nas praças.
Quantos pombos comendo pão dormido,
quantas pessoas dormindo do outro lado da calçada
e eu aqui escrevendo sobre pombos, pobres e pão.
Será que sou mais inútil que aqueles velhinhos?
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Alberto Pereira
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sexta-feira, 15 de abril de 2011

AS PALAVRAS SILENCIADAS

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As palavras silenciadas
emblemas (emblemáticas, né)
Condenação moral! nos pensamentos
Não quero que O Mar
feche minha passagem
como fez com o
Rio

Nem tô emagrecendo
rápido. Rápido. Rápido. Rápido
A resposta é que---
Tenho mais fome
de pança, vícios
– ah, viver sem eles!

Enxergo de longe as veredas que dão no Pão de Açúcar,
ou o Cristo clone Redentor
Ou negligente ou forte,
ele/ela me acompanha
Vem comigo
Floresta

Paulo Vitor Grossi
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Paulo Vitor Grossi é autor da casa.
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aterro do flamengo

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chão:

riscado.


a palavra interrompida na ordem do dia.


vãos em madeira quente:

de onde vêm os homens?


(de lá, apontam)


suspenso, o salto.

— a tarde, enquanto
você dormia


de resto, os pássaros
o jornal amarfanhado
e o branco enrodilhado à areia.
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Letícia Simões
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Letícia Simões já publicou diversos textos no Blog do Bolha e nas nossas edições impressas.
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quinta-feira, 14 de abril de 2011

A puta

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Sonho com um príncipe encantado. Sempre sonhei em estar perto de um homem que me tratasse bem, bonito, cavalheiro. Esse é meu desejo mais aberto, minha verdade mais divulgada. Nasci feia. Não tem jeito. Eu era um bebe feio, depois fui uma criança feia, continuei sendo uma adolescente feia e hoje, sou uma jovem feia. E sou feia não de gorda nem de torta, sou feia por proporções. Questão de relação entre nariz e boca, orelha e olho, peito e bunda. Não combino. Sou uma criatura que Deus fez com pressa.

A vida me permitiu adaptar-me aos homens de segunda categoria. Sou aquela que recupera os pedaços quebrados dos rejeitados. Sou a dona do colo que cala o choro de tantos meninos perdidos, envergonhados, medrosos. Não cabe, a mim, julgar com desdém aqueles que, como eu, nasceram assim, abaixo do normal. Nunca neguei um rapaz sequer. Estendo meus braços, para todo homem que busque carinho, afeto, prazer. Minha flor provém com todo o néctar que qualquer homem, renegado pelo mundo, precisar.

Todo homem que namorei, perdi. Talvez por ser puta, talvez por ser santa. Mesmo tendo pena do pobre que me enamora, mesmo sabendo e ignorando suas disfunções, suas deformidades, suas mais grotescas falhas, mesmo sendo um sacrifício aturar a criatura que se atrelava a minha carne tal qual carrapato, nunca fui eu quem terminei. Sempre cuidei, amei, sempre! Acredito que sou o fundo do poço. Sou o fim da linha. A partir de mim os homens se reconstroem. Eles renascem e me deixam.

Não posso negar o cansaço. Viver a espreita de um homem bom é duro. E olha que nem planejo tomá-lo para mim, do mundo. Nem casar, nem nada. Quero só ser adorada uma noite. De verdade. Que ele esteja triste, que ele esteja desolado! Mas que me queira! Meu sonho eterno como puta e como feia é ser desejada por um homem puro e bom. Ter um ser belo, cuidando, com o toque, meu corpo. Deixar-me ser guiada por um cheiro limpo de homem bom. Ah! Que isso seja por uma noite! Não queria mais do que isso. Sei que é pedir demais. Mas peço que seja! Quero estar banhada de gozo e suor daquele que vai fazer minha vida valer a pena. Preciso, quero, sonho, demais.

Mas sei que não é assim. Já me acostumei à ideia da miséria, da migalha... Ao menos tenho homens para que eu satisfaça. Homens ralos, de beijos duros, de mãos grossas, de vozes ou fracas ou roucas... Fedendo à cachaça, querendo minha graça, chorando de vergonha, querendo minha fidelidade, me ligando com saudade, me largando na sarjeta, esquecendo a gorjeta ou até pagando extra! Tanto faz. Não é o dinheiro que me agrada. Gosto mesmo é de ser amada.

Ah! Que nada... Tem vezes que eu até esqueço o que fazer com a vida. Eu sigo sem guia. Sou feia. Sou aquela. A sobra. A outra opção. Eu sou aquela que tem amor. E que quer ser como deus e ser fiel a todos que me amam. Pois sei, sou pouco, mas sou o consolo. Sou eu quem salvo aqueles que são o resto. O mundo é cheio de resto. Eu só quero um consolo... Sou pouca coisa, mas sou tudo que posso oferecer. Queria salvar o resto. Queria ser salva. Acho que o resto é feito para o resto. Deve ser isso. Dê a Cesar o que é de Cesar, dê aos feios o que é dos feios.
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Thiago David
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Três Borboletas Brancas

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Num dia de chuva, enquanto um corpo à terra descia,
Três borboletas brancas, miúdas brincavam
No jardim sem lamentar pel’alma que ali não mais jazia
E as flores ao redor delas erguiam o lamento pela vida
Em que já não mais existia o sopro pujante
Que apaga a chama da efêmera vela.
As três borboletas brancas, miúdas ziguezagueando
Em meio às folhas pinceladas pelo vento
Procuram nas coloridas flores a seiva fecunda
Que a elas concede mais tempo.
Se o pranto oculta o dia que
As miúdas borboletas brancas não exaspera,
O crepúsculo da tumba revela a luz do caminho
Que o eterno bolor cordialmente espera
Pelo corpo adormecido sob o solo do jardim florido
Que acolhe as três borboletas brancas, miúdas,
E agora chega mais uma,
Só que esta é amarela.
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Glaucia Brum Carlos
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Glaucia Brum Carlos é aluna do curso de Produção Textual da PUC-Rio.
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quarta-feira, 13 de abril de 2011

cajado express (ou new key)

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online
com o dedo
em riste
e rente/ na barra de espaço
no enter
no delete
e no deleite
da Serpente
#deusexiste
(e te cura
de repente)
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Um poema de Tatiana Batista

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No seu chapéu, mel de malandro;
que dá o tom, no sol, blusa de brim.
Na batida da bateria, o tom do tamborim,
que encanta meu canto, num rodeio
de cerveja, malandro de botequim.
No seu chapéu zulu menino candango,
ladrão de coração, de choro e canção.
Encontra na graça de um galanteio
o seu jeito, sua raça, inspiração.
Menino malandro de chapéu de palha
vem como num samba, desfaz a falha
de não pertencer à mim.
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Tatiana Batista
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Balada dos dois amantes

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Ela gritou o seu nome três vezes,
e o nome dele feriu o rosto do vento.
Foram amantes no hotel da esquina,
onde os meninos perdem a infância, e
a vaidade cerca até o mais velho dos homens.
Ela gritou o seu nome três vezes,
e o nome dele espantou as aves da praia.
Foram amantes às margens do Sena.
Nas ruínas da Cidade dos Mortos,
se amaram como os cães se amam;
foram cães, se amaram.
Ela gritou o seu nome três vezes,
e a noite sucumbiu, sem freios,
no fundo do mar,
e eles se amaram como peixe e sereia;
foram peixe e sereia, se amaram.
Ela gritou o seu nome três vezes, e
o Cristo Redentor ergueu os olhos,
vendo o céu pela primeira vez.
E eles se amaram, como homem e mulher;
foram homem e mulher, se amaram.
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Danilo Diógenes
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Danilo Diógenes já publicou diversos textos aqui no Blog do Bolha.
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terça-feira, 12 de abril de 2011

Excertos da imaginação

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I. A pequena criatura dança, como se houvesse palco. Ela crê. Então na plateia estão seus parentes e amigos, apreciando seus belos movimentos. Rodopia. É como se em seus pés estivessem as sapatilhas de cetim e gesso que erguem os seus gestos. Contudo, são apenas osso, pele e ligamentos as suas estruturas. Mas ela crê. E, terminando mais uma pirueta, ela dobra ligeiramente uma das pernas e curva todo o seu corpo — ela está agradecendo aplausos, flores jogadas sobre o palco e holofotes a ela direcionados. Assim se fecham as cortinas e a noite acaba. E é como se houvesse palco.

***

II. Não há dúvida de que aquela antiga canção foi ouvida. Era a ladainha das senhoras que vinham da igreja. No entanto, a rua está vazia e se faz noite. Não houve missa na paróquia próxima. Um padre faleceu. A cidade está parada e sem expectativas. Apenas uma pessoa resiste à janela — e ela não tem dúvida de que aquela antiga canção foi ouvida. As notas soaram, as vozes chiaram e o painel com bocas e corpos se ergueu diante de seus olhos. Ladainha e senhoras, tudo junto, bem à frente. Ninguém poderia negar. Ninguém estava para perceber. Logo, não há dúvida e há apenas um lado que resiste pela razão: ouviu-se a canção, sim. Cantaram, sim. Em algum lugar; e ela aconteceu, não foi trazida pelo vento.

***

III. Quando ele aponta para o céu — reclamo. “Vai nascer na ponta do dedo uma verruga”, porque estrelas se vingam. E ele olha como criança que é, retraindo as mãos, apagando os dedos. Dividimos as noites entre as histórias que um dia me contaram. quando passa um cometa ao longe — aceito. “O seu pedido será realizado e você será feliz”, porque jamais no tempo presente; tudo não passa de sussurro de imaginação. Um dia ele vai crescer e se tornar homem e eu quero estar lá para isso. Quando ele contornar as minhas palavras — reafirmo. Será verdade porque o tempo torna a sabedoria em experiência adquirida.
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Bruna Maria
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Bruna Maria é carioca e mestranda em Literatura Portuguesa. Enquanto não publica seu primeiro romance (selecionado em 2010 pela Fundação Biblioteca Nacional para receber amparo do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa durante o término de sua escritura), bloga em: http://blog.brunamaria.com.
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AMIGO SECRETO

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Sujeito oculto
Objeto indireto
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Alberto Roiphe
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CORREIO ELEGANTE

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essas saudades de encostar a cabeça
no ombro
de algum
são saudades da minha própria
(ternura)
de um tempo de
torrões de açúcar
com remetente
e de extravios delicados
que no máximo adocavam a boca de outro
sem um alguém a receber ou enviar
limões
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Gabriela Bouzada
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Gabriela Bouzada é nossa leitora de Belo Horizonte.
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Família

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O homem faz logo seu trampo - quer descansar.
A mulher cozinha o feijão (para o homem)
a menina sonha em ser feliz
o menino leu um livro e ri.

O homem já não tem pretensões
a mulher não sabe o que é isso
a menina nem pretende saber
o menino é pretensioso (pensa que sabe)

O homem não chora, não ri.
A mulher só chora, só ri
a menina não sabe se chora ou se ri
o menino caçoa do pai, da mãe, da irmã..
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Marcílio Tursi
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Estudos de Identidade

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O furto do celular amarelo

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Olá,

meu nome é Martha Marinho, sou mãe de um aluno do primeiro período do curso de Direito da PUC-Rio. Li no jornal O Globo sobre esta iniciativa de vcs e achei que pudéssemos conversar e talvez propor uma discussão até mais ampla, sobre alguns valores principalmente morais que estão faltando na universidade.

Na segunda feira , dia 04 de Abril, meu filho teve o celular furtado dentro da sala de aula, durante uma aula de RELIGIÃO, e apesar de testemunhas, o professor banalizou o fato, limitou-se á pedir que se algum colega "tivesse pego por engano" o celular que o devolvesse. Ocorre que o celular em questão é AMARELO CANÁRIO — o último tipo com design Ferrari — e ninguém obviamente pega "por engano" um celular amarelo.

Escrevi para a ouvidoria da PUC que lamentou mas nada fez. Escrevi para a coluna do Anselmo Góis do Globo e este publicou uma pequena nota intitulada "DEUS CASTIGA" no dia 07 de Abril. Não sei se seria possível, mas não gostaria de deixar passar em branco esta situação, que acredito que não pelo valor, mas pela atitude principalmente do professor de religião. Meu filho me questionou, que tipo de ensinamento, que parte da aula daquele professor seria para levar a sério se, quando ocorre um furto, dentro da sala, ele nada faz. A direção nada faz e a pessoa que é roubada acaba sendo vista como encrenqueira e errada.

Aguardo um contato de vcs
Att,
Marta Marinho
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Pulsação

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Pulsa forte
Oh, Como pulsa!
Esse coração maroto
Cuja alma de garoto
Pula, corre, brinca e blefa.

Pulsa forte
E pulsa a vida,
Rotina corrida
De escola, bola e cama.

Pulsa os primeiros pêlos,
O pré-vestibular,
Os sonhos e a primeira faculdade.
Pulsa o campus e os trotes de verão.
Pulsa as festas, e da chapada, pulsa...
Pulsa jovem coração.

Do trabalho,
Família, namoro
O estresse não podia estar de fora.
E nesse pulso-atropelo de quem vive.
Pulsa médicos, remédios e o descanso.

Pulsa praia, o vai e vem das ondas.
Aquele afeto de quem ama e cuida.
Pulsa da esposa o carinho terno.
Pulsa o olhar. E do que é findável, também pulsa.

O como que de repente
Num demorar que não tarda.
O sussurro anuncia a velhice
E num último pulsar já riste
Pulsa feliz um tranco.
Como quem num pulo
Pulsa num gesto final-barranco.
Num impulso só, termina.
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Felipe Guimarães
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Felipe Guimarães cursa Letras na PUC-Rio.
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domingo, 10 de abril de 2011

Demaquilante

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Para área dos olhos: enxergar melhor.
Para área dos dedos: escrever melhor.
Para área da boca: falar melhor.
Para área dos cabelos, do sangue, da literatura.
Demaquilante para o mundo.
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Liza Almeida
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O CANTO

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ouço do canto dos pássaros
o sotaque do sul
o gosto tropical
e o drama bacana
da praia de copacabana
com mar-azul-carnal

e há uma nova onda vindo
que chega na ponta
bem de fininho
e atinge a sombra da alma
no balanço das águas
cálidas de mágoa

— os pássaros saíram do ninho

só para me fazer auscultar
o canto do corpo soprano
que prefere o céu
a mar.
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Yasmin Nariyoshi
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Yasmin Nariyoshi mora em São Paulo e é a nova descoberta poética do jornal Plástico Bolha.
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(ins)piração

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a beleza é como algo sutil
entra pela janela da alma
abanando o rabo
deita e ocupa quase

a metade do travesseiro
— tem cheiro de tosa —
é como verme de ouvido

entrando no lugar errado
— esse lado do peito
tá ocupado? —

leva segundos para notar
que de repente você já está
cantando

de novo.
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Braulio Coelho
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sábado, 9 de abril de 2011

Meio dia

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Sua pele quente me queimou.
A lua por onde escorrega fácil,
no meio,
o dia.
Minha pele
de gota em gota,
teu suor
e nesse dia fez chuva de verão.
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Mayara Almeida
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Mayara Almeida enviou esse poema para o desfio poético das 30 palavras, para o Plástico Bolha #30.
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Entroncamento

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É festa — vê — a luz
defronte. O entroncamento
aberto: é uma rua onde
passa um trem
de carga, que, às vezes,
engole
um passageiro.
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Danilo Diógenes
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Danilo Diógenes enviou esse poema para o desfio poético das 30 palavras, para o Plástico Bolha #30.
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Dois de novembro

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Ele pintava pessoas mortas. Acordava todo dia às seis da manhã. Tomava um café, comia um pão com manteiga e abria o jornal. Dispensava as notícias sobre política, economia ou cultura. Buscava logo a página do obituário. Escolhia os retratados de acordo com a sua conveniência: o velório precisava ser em um horário adequado e em um cemitério próximo de sua casa. Quando havia mais de uma opção, decidia pelo nome. Gostava daqueles diferentes, próprios de tempos distantes. Onórios, Serafins, Godofredos, Dorotheias, Conceições.

Procurava não chegar muito cedo, mas também não muito tarde. O ideal era entrar quando houvesse muitas pessoas na sala. Tentava passar despercebido. Vestia sempre um terno preto e agia com discrição. Evitava olhar os familiares nos olhos. Temia ser abordado. Quando isso acontecia, costumava dizer que era um amigo distante. E se faziam mais perguntas ele se calava, baixava os olhos e simulava choro. Pedia licença para ir ao banheiro e não voltava.

Na maioria das vezes ninguém o incomodava. Tinha total liberdade para se aproximar do caixão e observar com cuidado o morto. Desenvolveu uma memória fotográfica incrivelmente eficiente. Bastavam-lhe trinta segundos para registrar todos os detalhes do modelo: os traços do rosto disfarçados com maquiagem, as narinas preenchidas com chumaços de algodão, o cabelo penteado para o lado, os olhos fechados, a boca semiaberta. A roupa fúnebre varia pouco. Os homens vestem terno. As mulheres vêm de vestido, às vezes de tailleur.

Nunca ficava para os enterros. Voltava à casa ansioso para pegar o material de pintura. Com carvão, desenhava em poucos minutos o retrato do defunto na tela em branco. Depois, espalhava as tintas na paleta e passava uma tarde inteira pintando. Os mortos são os melhores modelos. Nunca se mexem. Até mesmo as paisagens se movem. Mas os mortos, não. Nem sequer respiram. São perfeitos.

Pintou centenas de defuntos. Guardava as telas no porão. Não as mostrava a ninguém. Nem mesmo aos amigos mais próximos. Tinha receio de que não entendessem. De que o denunciassem. De que o internassem em uma clínica psiquiátrica. Mas um dia tomou coragem e convidou um renomado crítico de arte à sua casa. Mostrou-lhe a coleção completa. Explicou seu método de trabalho. Contou-lhe as razões mais íntimas que o haviam levado a se especializar em retratos de defuntos. O crítico amou. Viu na sua frente um gênio. E uma oportunidade de fazer muito dinheiro também.

Marcaram a vernissage para o dia de finados. Em vez de uma galeria, reservaram uma capela num cemitério próximo. Mandaram convites para as famílias de todos os falecidos retratados. No grande dia, o obituário do principal jornal da cidade trazia um aviso com o nome do pintor convidando para a exposição.

Havia muita gente na capela. Os jornais se interessaram pela pauta e mandaram seus melhores jornalistas dos suplementos culturais. Vários outros artistas também estavam presentes, interessados em conhecer aquele novo expoente da cena de arte contemporânea da cidade. Entre os familiares dos modelos havia aqueles que estavam indignados. Um deles arrancou o quadro de seu parente da parede e levou-o embora. Outro, em protesto, jogou tinta vermelha em três quadros. As famílias de outros cinco defuntos compareceram acompanhadas de advogados e avisaram que entrariam com um processo por danos morais contra o pintor e o curador. Havia também muitos curiosos, funcionários do cemitério, agentes funerários e simples amantes da arte.

O pintor chegou depois de todo mundo. Veio dentro de um caixão. Estava vestido como um defunto, de terno. Tinha os olhos fechados, maquiagem no rosto, a boca semiaberta e chumaços de algodão no nariz. Parecia um morto de verdade. E era.
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Fernando Paiva
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Fernando Paiva é guitarrista da banda Luisa mandou um beijo, publicou um livro de contos pela 7Letras e mantém um blog de parágrafos-poesia.
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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dentaduras na vitrine


A velha cozinheira já colocou a comida na mesa;
Quase tão enrugada como ela;
Apoiada em sua bengala, vem mostrar
A esfera de labaredas, refletida no vidro
Do casarão.
— Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de
Mostarda, lambendo a minha torta de
Alcachofra!

Assim diz a caduca.
A dentadura cai e mostra aqueles
Jardins poderosos(agora inflamados).
Viraram cinzas.
Não sinto meu corpo como sentia quando
Assistia os céus psicodélicos de sábado;
As flores não caem mais no meu peito;

Se caem estão murchas.
A voz calou-se padecendo nas notas que
Valem uma vida inteira; voam pelas quatro
Estações débeis sem as asas que tocavam a
Lira esculpida nas claves dos venturosos
Filhos nativos nutridos de luares ínfimos

Que em frenesi nos arrebatavam.
Apenas mímicas perturbadas com efetivas
Bofetadas no pulso tombado e tolhido
Que não sangra. Apodrece!

E vai transformando-se em pó para ser
Levado para túmulos frígidos que
Servirão de palanque para ratos.

Fragmentos de intensidades excomungadas circulando
No meio-fio das pontes tatuadas por perucas
Amalucadas. Escorregaram nos fungos
Zangados, raivosos, não suportaram os
Traços dos arco-íris que saiam dos
Amplificadores embutidos em nossas artérias.

Ave que anda sobre as telhas, tu
Vens toda lânguida manhã enfrentar-nos
Com feitio bravio de pudores de um mundo
Que destila vinagre em penicos, para
Bebermos e depois pagarmos mais uma dose.

— Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de
Mostarda, lambendo a minha torta de
Alcachofra!
Assim diz as dentaduras colocadas na
Vitrine, aguardando sedentas os sedentários
Zumbis;
E elas riem das mímicas que fazemos
Nos túmulos frígidos.
Nada sangra, só apodrece!

André Siqueira


André Siqueira é nosso leitor de São Paulo.

BOEMIA

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hoje a lua é verso
de loucos, de putas
e de poetas

hoje a lua é verso
prazer bêbado
regaço
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Luiz Otávio Oliani
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Luiz Otávio Oliani
cursou Letras e Direito, conta de mais de 45 antologias literárias e já publicou mais de 300 textos em jornais e revistas alternativas.
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Chuva e Sol

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Chuva e sol juntos em mormaço afetivo;
Ficam os pingos de leveza mais claros.
Minha paz declaro à linha do universo;
É isso que levanta meu amor.
Quem dera que tudo fosse claro como os
Pingos dessa tarde utópica.
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André Siqueira
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

FUKUSHIMA - CRISE NUCLEAR

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A verdade não é dita.
Ela se espalha de forma escondida.
Torna-se realidade em feridas,
quando tudo hereditariamente se edita.
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Fabiano Mafia Baião
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Fabiano Mafia Baião já publicou diversos textos no Blog do Bolha.
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Janela

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quando quase tudo é cinza
fica difícil saber
se são seus olhos que colorem
os meus
ou se sou eu quem enxergo
o que não devia
na rotina da sua retina
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Yasmin Nariyoshi
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Traçado

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O pano que a agulha fura
Apura o desenho que a linha forma
Depois que ela mergulha com empenho
Em sua estrutura fina e retorna

E o caminho que a linha anda
Quisera alinhado, certinho,
Borbulha como água que ferve
Comandado pela espera que verve
Na cabeça míngua da agulha

Assim, melhor seria se
A linha que forma a figura,
Amarrada em toda sentença,
Não fosse também isca para o passado

Forte qual risca de bordado
Deixa sempre
O firme passo
De onde passou

Mas digo, sem dúvida,
Que se um fio da minha vida
Escapa vadio do tecido
E desatina a desmanchar a costura,
Principio novo a mesma tapa do puído
Da moldura ao ponto de nó.
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Eduardo Pascottini
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lanterna sem luz

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Dedico a quem queira consentir

de toda a minha alma partida

por meios deste curto discurso

uma série de palavras perdidas.

Amenas, serenas, pequenas

Rogo-lhe o silêncio quando pedires

e também a balbúrdia se assim quiser

Para que quando assim agires,

tirar esse azedo do rosto, mulher

Sigo lhe em busca da lanterna

da luz dos segundos infinitos

Abro os olhos logo, mas em vão

Ajoelho-me e então me deito

a dança profunda logo indica

Estou só

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Anderson Estevan

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Anderson Estevan é nosso leitor de São Paulo e escreveu o livro Cores Primárias.


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Cidade Cítrica

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*ninguém me cita*

Um poeta rasgaria esses interiores


Um deles
desidrata suas entranhas

desperdiçando seu êxtase

pelas ruazinhas

desertas de gênios

...........Ou de beleza


O apático passeio desse símio sutil


.......................................................Esse lacaio

opera delírio

nas desvias dos nomes

das coisas


esse ladino calculando um balão de lambreta

na paleta das cores que os comuns

pintam a ordem dos dias ordinários

não especula expansão


simplesmente ele

estica a perna do

...........................................“é” (ex.)



e a engancha num hidrante da

Gávea.


Desenrola o corpo da letra pela Jardim Botânico

.............................................................................Humaitá

........................................................................................Botafogo



...................................................................................................Catete

.............................................................................Lapa


....................................................................................



esse lúcifer

enlaça sete isopores de vender cerveja

e deixa que a mola da letra

destrua o resto


quando volta a sí

(a letra “é” (ex.))

tem dentro

um ajuntamento

desajeitado

juntado nesse jetè

de bairros


Dali,

os catadores

de coisas desimportantes

vão vagarosamentepinçando os poemas

na calçada transbordada

da praça Santos Dummontda sua janela

esse Chacal

range os dentes

de tanta alegoria

ele debulhou mais um dia

às vistas

haja ventilador na maresia.
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Pedro Rocha

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Pedro Rocha nasceu no Rio de Janeiro em 1976. Já participou de diversos eventos poéticos, como o CEP 20.000 e o Falapalavra. Em 2002, lançou seu primeiro livro, 11, pela Azougue. Em 2010 lançou Chão Inquieto, pela 7Letras.

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