domingo, 17 de abril de 2011

PERGAMINHO DO FOGO

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Menos silêncio houvesse e seria a culminância da obra. Mas não: são as voltas. Como me tornar mais humana? Como provocar as chamas incisivas da fala? O amor é mais largo que a morte. O tempo não dissolve palavras escritas em cartas. Por isto escrevo, para fazer do tempo uma espécie de abraço enorme. O conforto é usar vírgulas no lugar de ausências. O corpo sabe dos lugares das páginas. Quando foi que nossas letras entrelaçaram os pés? Sempre sei a próxima frase, mesmo quando a boca diz outro nome, e o nome desatina a presença aguda da falta. Não é poesia o que escrevo e me permaneces a alargar as ruas, as vias, as praças. Porvir é pássaro livre. Voar é epifania. Na imaginação o amor acende o sol, a distância o desejo. Querer perto e beijo é oásis no deserto? O rio da vida deságua em mar aberto... O ponto final não aprisiona o cronos da história. Papel e pele guardam a memória do imponderável. As linhas não contêm a língua. A língua escreve em papel-corpo o pergaminho do fogo.
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Flávia Muniz
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Flávia Muniz é autora de três livros que compõem a Fantabulosa Caixa de Livros e ainda é vocalista da banda Luisa mandou um beijo.
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