sábado, 31 de janeiro de 2009

As pazes de Terturiano, de Rafael Viana

.
Terturiano cortava cenouras
E resolveu cortar Márcia um dia
A delegacia de mulheres não gostou
E resolveram cortar Terturiano da sociedade
Jogaram-lhe numa cela, com dezesseis Terturianos
Para cinco metros quadrados
Enquanto o juiz resolvia quem iria cortar desta vez

Numa briga na penitenciária
Cortaram Terturiano com quatro iguais facas opostas
E cortaram Terturiano em nove pedaços indefectíveis
Márcia, no canal onze, assistiu a rebelião com suas quatorze cicatrizes
E acendeu seis velas de sete dias para agradecer os cinco palmos de terra rasa
Que deus no nono dia de descanso sábiamente lhe reservou


Rafael Viana

Hoje: evento "Boca de Baco", no Odeon


Para ler os detalhes do evento basta clicar na imagem!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Panapaná, uma poesia de Raquel Naveira

.
Já viram um panapaná?
É uma onda interminável de borboletas
Que pousam sobre o pântano fumegante,
Batendo as asas impacientes,
Sorvendo sais da lama,
Num desassossego
De seres que não cansam.

Já viram um panapaná?
As borboletas formam nuvens,
Miraculoso caudal
De pétalas alaranjadas,
Perdidas e ligeiras,
Em busca de flamas brilhantes.

Crisálidas,
Meninas aladas,
Espíritos viajantes,
Esvoaçam como almas saídas
De estranhas moradas.

Atravessei o panapaná:
Era um banhado,
Um brejo
Banhado de flores,
Virei fada
Do lado de lá.

Raquel Naveira


Panapaná é o mais gostoso dos coletivos e Raquel sabe muito bem disso! Raquel Naveira já publicou três textos no jornal Plástico Bolha. No momento, ela está em São Paulo, dando aulas na graduação da faculdade Anchieta e na pós-graduação do UNINOVE.

Mauro Rebello: show do Futuro Estouro

.
.

Mauro Rebello é músico, poeta e assina a coluna Futuros Estouros do jornal Plástico Bolha, onde divulga novas bandas e cantores. O show de amanhã marca o lançamento de seu primeiro CD, feito de forma independente e que demorou quatro anos para ficar pronto. Vamos todos prestigiá-lo! Você pode conhecer mais do trabalho de Mauro em seu MySpace.

SHOW MAURO REBELLO
DATA: 31/01/2009, ÀS 21H
LOCAL: CLUBE NÁUTICO MANDALA
(AV. PREFEITO DULCÍDIO CARDOSO, 777, BARRA DA TIJUCA)
ENTRADA GRATUITA

Puzzles: A Rotina Categórica de Kant

.

Perdão por não obedecer ao categórico imperativo da honra e abusadamente me enfiar nas íntimas entranhas da vida particular de Immanuel. Poderia ser apenas mais um relato à la Big-Brother, uma mera narrativa descritiva, não fosse o fato, ou o pesado fardo, de que nosso objeto de investigação não é uma pessoa comum, mas o grande, o tradicionalíssimo, o sábio filósofo: Kant, o Imaculado Immanuel.

Ninguém escapa aos olhos dos outros e hoje, Kant estando vivo, seria personalidade garantida para a próxima edição da Casa dos Artistas. Que voyeur (eu não seria capaz de dar outro nome para o telespectador) não julgaria bela a experiência sublime de observar os meandros e as reticências do comportamento obsessivo daquele que tanto insistiu no conceito de sujeito transcendental, tornando-se quase que o teórico de um voyeurismo metafísico?

Dando, então, pirulito na boca de criança, palmas para o palhaço ou pão e circo para os cidadãos de Roma, contarei alguns a posterioris sobre a vida de Kant para que, a partir dessas brechas de subjetividade, possamos penetrar, com nossos olhos curiosos, em seus a prioris mais íntimos. Antes de começar a novela, uma pergunta sibila em minha mente cheia de galhofas: será que no detalhe de um comportamento está contida a chave de interpretação de um gênio? Fica a pergunta em off, como se ocupasse o espaço das charges de cartunista antes do programa, ou fosse o comercial de geladeira na hora do intervalo.

Uma curta biografia de Kant certamente seria uma caricatura de sua filosofia, fazendo ver exemplos práticos de sua atitude teórica. Nascido na Prússia, ganhou condições de ter uma educação abrangente por receber auxílio financeiro de um parente próximo. Entrou na Universidade com 16 anos e, aos 22, escreveu sua primeira obra, intitulada “A Avaliação das Forças Vivas” acerca de uma questão levantada por Leibniz. Os últimos dias de sua vida foram relatados por Wasianski, um ex-aluno que se tornou fiel companheiro na velhice, fase mais angustiante da vida de Kant. Thomas de Quincey, no livro Os últimos dias de Immanuel Kant, lançado pela Editora Forense Universitária, relata os depoimentos daqueles que permaneceram ao lado do filósofo e puderam observar suas manias e hábitos tão peculiares.

É bem verdade que a vida de Kant era um pouco irritante: acordava todo dia abrindo o olho esquerdo antes do direito e pisando com os dois pés ao mesmo tempo do lado de fora da cama porque não era muito dado a superstições. Vestia-se rapidamente para estar, pontualmente, às cinco da manhã, sentado à mesa para o desjejum. Nessa hora procurava manter-se em silêncio para capturar toda a potência contemplativa contida em sua xícara de chá. Quando uma não o saciava, contemplava mais e bebia duas, três, várias, até que seu momento estivesse pleno. Dirigia-se então ao escritório para planejar sua aula com a ajuda de um cachimbo e um pouco de fumo.

O aspecto mais interessante de sua rotina era a organização da mesa para o almoço. Kant nunca almoçava sozinho. Era um adepto rigoroso da regra de Lord Chesterfield – de que os convivas em sua mesa, incluindo ele próprio, não fossem em número inferior ao das Graças nem excedessem o das Musas. Então convidava, diariamente, uns poucos amigos para o almoço, de modo a formar um grupo de no mínimo três e no máximo nove convivas, e, por ocasião de algum festejo, de cinco a oito pessoas. Tomava aquilo que ele próprio chamava de “tônico”, um vinho da Hungria ou do Reno e, na falta deste, uma bebida inglesa chamada Bishop. O copo ficava servido, mas não bebia até todos estarem a postos e confortáveis. Para que a bebida não se evolasse, cobria-a com um papel. Após o pequeno ritual de arrumação de seu vinho, ia vestir-se para receber seus convidados em trajes de cerimônia.

A mesa era composta de um número suficiente de iguarias para atender à variedade dos gostos. Kant mostrava desprazer ao perceber espírito cerimonioso em seus convidados e tinha horror a ter que esperar o último convidado. Antes de chegarem à mesa de almoço, Kant fazia comentários sobre as condições climáticas e o assunto era desenvolvido durante a parte inicial da refeição. Questões mais graves, como eventos políticos, jamais eram introduzidas antes do almoço. Raramente dirigia a discussão para algum aspecto de sua própria filosofia. Os temas de discussão eram relativos à filosofia da ciência, da química, da meteorologia, da história natural e da política.

Além do cuidado com os temas para conversas e da variedade de comidas, o filósofo buscava convidar pessoas que formassem um grupo heterogêneo para garantir uma variedade suficiente na conversa: desde um número adequado de jovens a representantes de todos os tipos profissionais. Como verdadeiro anfitrião que era, nunca deixou de cumprir normas do bom trato social, e acabou ficando conhecido como um verdadeiro artista na composição de almoços.

Encerrado o almoço, Kant ia, sozinho, fazer seu famoso passeio de três da tarde. Passeio cumprido em hora tão precisa que, diz o mito, toda a cidade de Koningsberg acertava seus relógios quando Kant passava. Esse passeio era feito sem companhia porque queria preservar os outros de suas longas falas e também porque desejava respirar apenas pelas narinas ao caminhar. Dizia que assim preservava-se da rouquidão, de tosses e de indisposições pulmonares.
.
Quando voltava, ia para a biblioteca e lia até o anoitecer. Quinze minutos antes de ir se deitar parava de ler e de pensar para não ficar com insônia. Como era de se esperar, também ia dormir com uma ordem solene, cumprindo formas rotineiras de aninhar-se e envolver-se nas cobertas.
.
Para Kant a monotonia da sucessão de formas postuladas por ele para organizar seu dia não era fatigante e acabou contribuindo, juntamente com a uniformidade de sua dieta e outros hábitos regulares, para prolongar sua vida. Kant era comparado por seus conhecidos a um ginasta porque conseguiu equilibrar-se sobre a corda tensa da vida durante quase oitenta anos, sem jamais se inclinar para a direita ou para a esquerda. Kant acreditava que sua saúde era a melhor que um ser humano poderia ter. Sua rotina, estritamente vinculada a hábitos e regras de vida, o permitia viver com a segurança de uma rigidez imóvel. Rotina de um filósofo que pensou a mais dura das leis morais. Sua vida era organizada e cumprida como sugere seu próprio imperativo categórico: “aja como se suas ações pudessem servir de espelho, por toda eternidade, para todos os homens”. Alguém se habilita?
.
.
.
.
Nastassja Saramago de A. Pugliese, aluna da pós-graduação em Filosofia da PUC-Rio, é a autora que mais publicou na coluna Puzzles, sempre desvendando a biografia dos pensadores mais consagrados. Escolhi este texto emblemático em que ela fala sobre a vida de Kant, mas quem quiser conferir no site pode encontrar Nastassja falando de Spinoza, Leibniz e até Santo Agostinho! No momento ela desvenda a vida de Sartre em um Puzzles duplo, cuja segunda parte sai agora, na edição 26 de Fevereiro/Março.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Receitas deliciosas no Quitanda de Minas

.
Já está no ar o blog Quitandas de Minas, de nossa amiga Rosaly Senra de BH. O espaço pretende ser um espaço aberto para trocas de receitas, ideias, casos e anotações das tradições culinárias. Aos poucos serão postadas fotos e receitas do livro Quitandas de Minas, receitas de família e histórias, que já está nas boas casas do ramo. Vá lá, visite, palpite, comente e conte seus casos; afinal, receita de familia também é literatura!

AB-SINTO, poema inédito de Mia Vieira

.

São cinco ou seis sentidos
E você.
Ab-sinto!
Muito!
Tudo!
Todas as lágrimas do mundo em meus olhos.
Todos abraços do mundo no seu.
Sofro como quem rega flores mortas.
E uma saudade letal;
Que me faz correr no escuro
Enlouquecer!
Meu sub-in-conciente.
Ab-sinto uma dizima periódica de outras coisas mais.
Além de cinco ou seis sentidos
E você.
.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Chico Buarque: onde está o Plástico Bolha?

.


Amigos leitores, essa é para ver o que lêem os grandes poetas. É ou não é um sovaco lírico?

Clube da Leitura e a filha de Machado

.
Seria a jovem paciente de um médico psiquiatra filha de um dos escritores mais importantes da literatura brasileira? Com esse mote, Gustavo Bernardo engendrou o romance A filha do escritor, livro eleito para o primeiro debate de 2009 do Clube de Leitura, realizado sempre na última sexta-feira de cada mês na Livraria da Editora da UFF, em Icaraí. O encontro reúne leitores de diferentes idades e formações profissionais, a partir das 19h, para um animado bate-papo sobre as impressões provocadas pela obra. A entrada é franca, e a livraria fica na Rua Miguel de Frias 9, anexo, em Icaraí, Niterói.

Um belo poema de Paloma Espínola

.

Quando retiro os óculos do rosto
espio, atenta, toda a cercania.
Então, o mundo se revela exposto
à vaga luz dos dez graus de miopia:

percebo as coisas pelo que suponho.
Assim, a mesa não é só uma mesa,
assim meu corpo se refaz em sonho,
sem nem saber se estou liberta ou presa.

Meu Deus, duvido tanto do que vejo,
quanto confio na vida que pressinto!

As impressões me dão um tênue beijo
e me conduzem pelo labirinto
da solidão de quem não vê direito.

No entanto, sei: somente ali eu pinto
(com os pincéis lavados em meu peito,
e o carmesim de um coração faminto)

a tela desse meu olhar estreito,
e nela, tudo aquilo quanto sinto.
.
.
.
.
Paloma Espínola é poeta e cantora de mão cheia, para conferir basta dar uma passada no seu MySpace aqui.

Teatro: Apropriação e Los Engrenajes

.

O convite teatral vem de nosso amigo Patrick Sampaio, que lembra que neste próximo fim de semana serão realizadas quatro apresentações a preços populares do projeto Operação Orquestra Improviso. A estréia de Bel Garcia na direção de Apropriação recebeu elogios do crítico Macksen Luiz, do JB.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Defesa do Amor de Cleo e Toni

.
Mote: Para ambos, o suicídio não foi pecado, mas castigo.



O que seria o suspiro
Sem ter por quem suspirar?

Contra a solidão conspiro
A favor de suplicar
O perdão para o casal
Que junto permaneceu
No pecado mais mortal.

Conhecemos Prometeu
Cujo fogo tem trazido
Não só a sabedoria
Para humanos mais franzinos,
Mas também a orgia
Para os mais desinibidos.

Já diante dos seus olhos
Senhores do júri, eu rogo:
Lembrem de Cleo como era,
Que maldição ser tão bela!
Concedam o seu perdão,
Que Toni já tem sofrido
De embriaguez de paixão:

Enquanto trocavam beijos
Era um colar com calor
Línguas loucas de tremor,
Seios duros como seixos
Apertados contra o peito
Muito antes de no leito
Consumarem seu amor.

Para as criaturas digo:
Não há pior castigo!

Como pena alternativa
Que eles juntos permaneçam
Como os dois eram em vida
Pois que ambos só mereçam
O veneno que os matou.

Pior pecado seria
viver como quem nunca amou.

Renan Mendonça


Vitória mostra sua poesia com Renan Mendonça Ferreira, nosso primeiro leitor capixaba a enviar um texto. Segundo ele, o poema seria uma defesa póstuma do amor de Cleópatra e Marco Antônio. Renan é estudante de Letras pela instituição Pitágoras e formado em Comunicação Social pela FAESA.

Desafio: escrevendo um poema-cabeça...

.

Esta aí em cima é Tatiana Faro, nossa amiga de Plástico Bolha, com uma de suas Cabeças... Tatiana, que prefere se expressar com imagens, acaba de nos mandar fotos de algumas de suas esculturas da série Cabeças. Ela achou legal convocar os leitores do PB para criarem textos a partir das imagens das esculturas. São duas imagens, que vão a seguir, em fotos de Milton Montenegro:




Vale mandar textos de poesia, prosa ou qualquer outra modalidade que rompa com essas especificações para o nosso e-mail: redacao@jornalplasticobolha.com.br. Todos estão convidados a participar e o melhor texto será publicado também no jornal impresso. Então, está esperando o quê? Escolha a sua imagem e coloque a cabeça para funcionar!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O homem que matou Plutão, Tiago Maviero

.

Confesso. Fui eu que matei. Nunca gostei dele mesmo. Tem um cara aí ganhando a fama. O nome? Acho que é Brown. Mike Brown. Pra mim esse nerd não mata nem formiga. Tá certo que o defunto era pequeno. Andam chamando até o maldito de anão. Conheci na escola... Isso mesmo! Estudamos juntos. Já contei? Foi na quinta série. Ele sempre era o último da fila. Cara meio frio. Não tinha muitos amigos. Vivia do brilho dos outros. Sem luz própria, sabe? Depois da formatura, nunca mais o vi. Sumiu! Quer dizer, uma vez passou correndo na praça XV. Um jeito esquisito, meio fora de órbita. Tentei chamar, mas não deu tempo. Não sou doido. Quebro umas velas vez ou outra. Louco, não. Tem coisas que só falo na frente do meu advogado. Nessas horas funciona o tipo estrela. Tenho os meus direitos. Sou réu primário. Aqui tem chuveiro quente? Não posso tomar banho frio. Tenho um papel com telefone da minha prima Arlete. Ela é puta aqui na rua de trás. Um dia me falou pra ligar nesse número se precisasse. Vai pagar a fiança. Não tô com grana. Que olhar é este? Qualquer um mataria o filho da mãe. Fui encurralado quando soube que era regente. Ele! Absurdo. Não sabia nem dele mesmo. Ia saber de mim? O infeliz estava na casa cinco. Corri para o quintal e vi que era o número do vizinho. Na casa cinco sob influência de Marte. Nem sei quem é esse tal de Marte. Só sei que o cara ia me deixar agressivo e violento até o dia doze. Eu ia esperar até o dia doze?! Peguei a pistola. Invadi sem delicadeza. Sei que vocês estão aí! Larga de esconde-esconde. Puxei o gatilho. Arma carregada. Virei no corredor dando de cara com a foto de uma gordinha. Era azul de tão obesa. A foto tava num quadro enorme preso na parede. A gorda não tava bem. Muito ozônio na cabeça. Logo saquei qual era a deles. Fui até a cozinha. Ninguém por perto. A geladeira estava aberta. Tinha um bolo assando no forno. Voltei para o quintal. Era noite. Não vai ligar pra Arlete? De repente, ela traz algo pra eu comer. Tenho jeito de mentiroso? Olha pra mim. Parece que tô inventando? Estou algemado, senhor policial! Estou preso neste lugar fedido, mal iluminado. E essas pessoas? Uma mais estranha que a outra. Se um meteoro cai aqui, acaba logo com esta história. Cheguei atirando pra todos os lados. Acertei dois. Um no ombro e outro na cabeça! Confesso. Foi assim. Puft! Paft! Puft! Paft! Não tem pra ninguém. Fiz curso superior. Tenho direito a cela especial. Escuta! Policia! Seu nome? Vou anotar. Gostei de você. Não é aluado feito esse amigo eu. Haley? Pronto. Ouça este conselho. Cometa um crime. Vale a pena ser um astro desses. Eu nem podia imaginar o quanto é divertido. Antes eu escutava Mozart e comia baba de moça. Agora vou ver o sol nascer quadrado. Puft!Paft!Puft!Paft! (gargalhadas). Na verdade só soube ontem que o defunto tinha oito irmãos. Ele era o caçula. Por isso o apelido? Não sei. Pelo menos com tanta gente nem vão sentir falta. Não tinha televisão na casa deles. Na minha casa sempre tivemos TV, telefone, telegrama, telescópio, teleférico... Teleférico era no sítio. Foi no sítio que conheci Maria Fernanda, Maria Eugênia e Maria Priscila. A Maria Priscila tinha enfermidades nos ossos. Eugênia dizia que eu não falo coisa com coisa. Nunca entendi o que ela quis dizer com isso. “Coisa com coisa”. Se ainda fosse coisa com coisa nenhuma, tudo bem. A Maria Fernanda era insignificante. Bem sei por que estou aqui. Saturno denuncia crimes. Não imaginei que tivesse um detetive na minha cola. Saturno não é nome de gente, é nome de cachorro (gargalhadas). Moro numa vila de doze casas. Uma grudada na outra. Não gostam de mim. Dizem que sou um escorpião do deserto, um peçonhento. Sou? Não sou, não. Matei com base em cálculos matemáticos. É ciência. Cúmplices? Não tenho. Talvez os velhos gêmeos da casa três. Eles apontaram a direção e ficaram rindo por trás das cortinas. Alegravam-se ao som da confusão. Minha avó dizia que eu levava jeito pra show-man. Antes de morrer, me deu esta roupa pra eu usar nas minhas apresentações. Quando fui intimado a depor, peguei pra vestir. É uma ocasião mais que especial. Tinha fotógrafo na entrada, microfones, até o pipoqueiro veio fazer um bico. Fui magnífico na entrevista. Primeiro escondi o rosto, depois levantei e olhei pra multidão. Muita gente. Escondi o rosto e pensei: E agora? Levantei a cabeça e dei um sorriso. Um largo sorriso. Foi tanto flash que por fim eu queria um buraco negro pra me enfiar. Então gritei. Sou inocente! Sou inocente! Só pra fazer figura. O repórter perguntou: Você nega o crime? Respondi: Não negarei mais. Fui eu que matei. O povo vibrou! Nossa, nunca vi tanto estardalhaço. Meu coração estava a mil. O assassinato virou matéria e antimatéria em toda a impressa. Quando virei pra entrar na viatura, alguém pediu uma última palavra. Fui olhando tipo câmera lenta e falei: Não se esqueçam de dizer pro Brown que estou de olho nele. Ninguém leva a fama às minhas custas. Puft! Paft! Puft! Paft!
.

Poema: A Corrupção dos Santos Libertinos

O sabor de tuas memórias
O doce ardor de minha estória
Juntas, parecem complementar-se
Ligam-se neste Universo sombrio
O Universo lascivo...
Nem o Pai assume os erros
Apenas apodera-se da misericórdia carnal...
O aroma fortificante deste ser
Ilumina-me pelos outros
Mas estas adoráveis e ignorantes pessoas
Nunca saberão,
Nunca tocarão.
Vamos nos calar frente ao caos
Calemo-nos frente à discórdia
Barulhemo-nos no momento certo
O momento que o pai descer
E escolher todos os seus crentes
Com aquela discurseira amarga
Discursos enfadonhos são necessários...

Gilvan Irineu Oliveira


Gilvan Irineu Oliveira é formado em História e Filosofia e já publicou um poema na edição #14 do Plástico Bolha.

Bolhas em Desfile — Letras está na moda!

.
Já que mencionamos o evento Bolhas em Desfile que foi realizado na PUC-Rio, em 18 de maio de 2006, no lançamento da terceira edição do jornal Plástico Bolha, não custa mostrar aqui algumas das fotos desse dia. Alunos do departamento de Letras e de Desenho industrial se juntaram para apresentar uma coleção inteira confeccionada com... plástico bolha! Na foto de cima, da esquerda para direita: Luane Pontes, Isabel Wilker e Lua Blanco.


Acima, a aluna Elaine Basílio desfila com um dos modelitos mais badalados da noite: a noiva-bolha. No sábado seguinte, a fantasia estava em uma grande foto na coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, no Globo.

Com o slogan O que era texto agora é têxtil, o jornal inspirou inúmeras peças: malandro, melindrosa, japonesa... Nesta foto, temos Rebecca Liechocki, Rodrigo Ségges, Camila Justino e Wesley Carneiro — o vencedor da noite com sua fantasia de Aladim.

Adriana Maciel faz show amanhã, no CCC

.

Adriana Maciel é amiga do Plástico Bolha; já se apresentou até no Bolhas em Desfile, um dos vários eventos organizados pelo jornal. Quem puder, deve dar uma passada no belo site da cantora, ou então no seu MySpace. Um outro convite é para ler a crítica que o nosso colunista Mauro Ferreira, das Notas no Plástico, fez sobre o novo CD dela no seu blog Notas Musicais. Depois disso tudo, não tem como não ir, amanhã, ao Centro Cultural Carioca e conferir o show de Adriana às 21h. Todos lá!

domingo, 25 de janeiro de 2009

o louco apaixonado pela diva

.
fala-se muito, diz-se muito pouco.
o movimento não faz muito mais.
o movimento engana, tabu maior.
o movimento é tábua de transferência,
a psique te pergunta, Freud no banheiro.
das coisas leves, malditas e fundas,
virá o gracejo do cinismo mitológico,
a idade do perdão, a idade do adeus
– a idade de dizer a idade de dizer a –
o infinito presságio, infinito refúgio,
solidão repartida em sorrisos técnicos.

Leonardo Marona



Leonardo Marona é a capa da próxima edição do Plástico Bolha, com o poema Clint Eastwood. Quem quiser pode conferir mais de seu trabalho em seu blog aqui.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Corujão da Poesia — na livraria diVersos

.
A livraria diVersos, na Barra da Tijuca, tem se revelado um espaço de efervescência cultural em um bairro do Rio que é geralmente conhecido por seu potencial de consumo.

Além de ser um dos pontos de distribuição do jornal Plástico Bolha na Barra, também é lá que acontece o evento — já tradicional na zona sul da cidade — Corujão da Poesia, Universo da Leitura. Nele, o microfone está aberto democraticamente para quem quiser ler suas poesias, liberar a criatividade e permitir que seus talentos reverberem. Quem quiser pode conferir o blog do Corujão da Poesia aqui. O próximo é nessa segunda, dia 26 de janeiro.

A livraria diVersos (anexa ao restaurante Balada Mix) fica na rua Érico Veríssimo 843, no Jardim Oceânico, Barra da Tijuca — RJ. Para mais informações o telefone é 2495-0040.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

4 novas colunas no site do Plástico Bolha

.
Já estão no ar, no site do Plástico Bolha, as novas colunas Quarto de Despejo, Contos Insólitos, Notas no Plástico e Futuros Estouros.
.
Finalmente as atualizações ficaram prontas e os textos, antes dispersos como textos avulsos, ganharam o seu devido espaço. Escritos de Ana Chiara, Carolina Maria de Jesus, Roger Almeida, Greco Blue, Leonardo Vieira, Tiago Maviero, Mauro Ferreira, Mauro Rebello e seus futuros estouros Alexia Bomtempo e Os Azuis.
.
Muito ainda falta para corrigir e melhorar no site do jornal. Como o material é muito grande (são centenas de texto, cada qual com sua peculiaridade), os editores convidam os autores que já tiveram textos publicados a nos ajudar a levar o site à perfeição conferindo se seus textos no site estão com algum tipo de problema. Qualquer mudança que seja necessária, basta nos avisar por e-mail que alteraremos imediatamente.
.
Em 2009, ajude a construir um Bolha melhor!

Poema inédito de Aline Miranda

.
Posso pintar, mas as estações não são iguais.
Cada instante é navio que parte,
mesmo junto não reflete o improvável da vida.
Quero, procuro, estou.
Depois, nada. O assim, assim é.
Não sou quietude,
sou plenitude,
sou fim.


Aline Miranda e Juliana Veiga


Aline Miranda mora em Niterói, onde estuda Letras na UFF. Contudo, acabou conhecendo o jornal Plástico Bolha pela primeira vez no Centro Cultural de... Paraty! De volta à casa, já achou vários lugares mais próximos para encontrar seus exemplares e nos enviou alguns poemas; este feito a quatro mãos, com Juliana Veiga. Na próxima edição do jornal, os leitores ainda poderão ler mais um inédito de Aline, até lá podem conferir mais do seu trabalho no seu blog aqui.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Champagne, poema de Gustavo Gadelha


Ó, vida passageira!
Passa logo, qual água de cachoeira.
Tão difusa e espumante
quanto constante e cristalina:
profana e divina.
.
Gustavo Gadelha



Gustavo Chataignier Gadelha é formado em Jornalismo, fez mestrado em Filosofia na PUC-Rio e, agora, cursa o doutorado, também em Filosofia, em Paris. Já publicou dois textos no Plástico Bolha, sendo este o primeiro. Mais um Clássico do Bolha para os leitores do Blog!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Leitor de Plástico Bolha: tipo em ascensão

.
.
Está cada vez mais comum esbarrar com algum desses pelas grandes cidades. Você se reconhece? Já viu algum por aí? Envie sua foto com o PB para o nosso e-mail jornalplasticobolha@gmail.com.

Milésimo de Segundo, por Tatah Gouveia

.
Ele chegou atrasado. Muito atrasado. Olhou em volta, não reconheceu os prédios, os cenários. Buscou dentre os rostos dos passantes, o rosto que deixara de contemplar há tanto tempo. Lembrou de ávidos momentos passados, abandonados e mal aproveitados. Refletiu sobre sua escolha, refletiu sobre suas decisões. O sol queimava a pele de seu escalpo, antes repleto de cabelos, e agora exposto ao tempo e ao vento. Olhou o relógio sem muito interesse, pois relógios não marcavam anos, marcavam apenas horas. Caminhou lentamente desejando que o tempo parasse, que o tempo voltasse. Aquelas pedras portuguesas guardavam os passos que não haviam acontecido em um tempo distante, por medo. Por medo da felicidade, e do destino óbvio, entregue sem dificuldade a ele. Esse medo traçara a sua vida, e fizera dele, não um covarde, mas um infeliz. Um solitário infeliz, cercado de multidões. Multidões de mulheres, de filhos, de netos... multidões de genros e noras... multidões de personagens que não deveriam estar ali, naquele cenário, naquela vida, naquela encarnação. Ele sentou-se no roto banco da praça, no centro da cidade. Uma das poucas coisas que restara do que existira antes ali. Cruzou as pernas para descruza-las em seguida — para não dar a impressão errada a ninguém. Cruzou-as novamente, afinal não devia nada a estranhos, aliás, nem a conhecidos. Puxou um cigarro, escondido numa carteira falsa para enganar os filhos preocupados com sua saúde e acendeu. Deliciou-se com a fumaça, com os desenhos feitos no ar, com o cheiro, com o gosto. O gosto daquele beijo, um beijo boêmio repleto de fumaça, cigarro e álcool, veio à sua mente. O gosto daquela noite, daquele encontro. O gosto daquele beijo que fora uma promessa e tornara-se um adeus. O adeus não prometido, o adeus covarde e não avisado. Uma lágrima silenciosa e tímida escorreu em seu rosto, envergonhada e desconfiada. A lágrima guardada para aquele momento. O momento do confronto. Passado versus presente, em tempo real, sem intervalos. Decidiu-se: era hora de desculpar-se, era hora de admitir sua culpa. Levantou-se com dificuldade graças ao seu nervo ciático, inflamado e envelhecido, cansado. Deixou o automóvel estacionado e decidiu pegar o metrô, como nos velhos tempos. Seguiu calado, medindo as palavras que seriam ditas. Resolveu que levaria flores. E chocolates. Ajeitou o cabelo com as mãos, desajeitado, e seguiu decidido. Chegou aos pés da mulher que amara, e a quem prometera uma vida, e que não cumprira. Ajoelhou-se, olhou firme, e desabou. Desabou corpo, ombros, cabeça... desabou uma vida inteira não vivida, não compartilhada. E chorou, gritou, até cansar e desabafar tudo, tudo que ficara guardado por tantos anos. Tocou a lápide gelada, envelhecida, tão fria, tão diferente da linda e quente jovem que um dia estivera em seus braços e a quem prometera tanto e não cumprira. Chorou mais, chorou mais, envergonhado, arrependido. Não teve coragem de fazer declarações, nem de dar explicações. Decidiu fazer apenas um carinho, decidiu apenas tocar "naquilo" que antes fora "aquela". Decidiu dar àquela lápide, o que não dera àquela linda jovem que acreditara em suas palavras e em suas promessas. E, dever cumprido, após pedir perdão pela vida não vivida entre os dois, decidiu que era hora de cumprir sua promessa, e deixou-se levar, deixou-se ficar ao lado de sua amada, sempre amada. Decidiu morrer a seu lado para realizar a vida que não vivera. E por um milésimo de segundo, antes de ir, foi feliz.
.
Tatah Gouveia
.
.
.
Tatah Gouveia (pseudônimo profissional de Tatiana da Silva Barboza) é formada em jornalismo pela PUC-Rio, quem quiser ler mais de seus textos pode entrar no seu blog aqui.

Magnífica Cidade, por Maurício E. Fonseca

Em nossa alma o teu passado ressuscita
Por entre as serras das Gerais se faz memória
É Ouro Preto encenando as tuas glórias
E proclamando tua grandeza infinita.
É testemunha o Brasil das mil vitórias
Da merencória e antiga Vila Rica
Em voz triunfante Ouro Preto glorifica
Os grandes feitos que compõem a tua história.
Oh! Que esplendor, que magnífica cidade!
Do teu silêncio nasce uma inspiração
As tuas obras nos refletem, na verdade,
A grande arte da mais pura perfeição.
És, Ouro Preto, na sua singularidade,
A arte máxima da nossa tradição.

Maurício Elizeu da Fonseca



Maurício Elizeu da Fonseca mora em Belo Horizonte e estuda jornalismo na PUC-MG. Em julho de 2008 foi com alguns amigos no Festival de Inverno na cidade de Ouro Preto e acabou conhecendo o jornal Plástico Bolha nº 22 que estava sendo distribuído na rodoviária da cidade. Leu, gostou e decidiu participar enviando este poema, um soneto em que possui como tônica a cidade de Ouro Preto. Em cada verso escrito há a exaltação do lugar, rememorando para o leitor os grandes feitos que compõem a história do local.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Breve: Plástico Bolha 2009 — leve literatura

.
Muitos perguntam o que vai acontecer com o jornal agora que seus idealizadores e organizadores estão se formando na faculdade. Gostaríamos de responder que o jornal não mudará em nada; isso porque, desde o início, ele expandiu suas fronteiras para além do curso de Letras da PUC-Rio, onde foi criado, e estabeleceu vínculos com outras faculdades, outras cidades e com os seus leitores e autores de modo geral, independente de quem sejam. Assim o jornal continuará crescendo sempre e explorando novas mídias como o site e este novo blog.
.
Falando nisso, já está no forno a edição número 25 do jornal Plástico Bolha, a primeira de 2009. Abaixo, alguns dos destaques da próxima edição:
.
- Entrevista com Silviano Santiago por Luiz Coelho
- A continuação de Jean Paul Sartre na coluna Puzzles
- Antonio Mattoso e novo CD de Calcanhotto na coluna Oráculo
- A música em análises, notas e previsões por Santuza C. Naves, Mauro Ferreira e Raïssa Degoes
- Contos de Ciro Trevisan, Camila Felicori & César Urbano
- Poemas de Ramon Mello, Letícia Simões & Ricardo Domeneck

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Concurso "Uma Viagem para Pasárgada"


A sétima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que vai acontecer de 1º a 5 julho, irá homenagear um dos mais importantes nomes do Modernismo brasileiro, o escritor pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968). Juntando-se a esta merecida homenagem, a Litteris Editora está promovendo, com exclusividade, o concurso literário “Uma viagem pra Pasárgada”.

O objetivo do concurso é escrever um poema de no máximo 45 linhas respondendo à pergunta: “Se você fosse para Pasárgada, como seria a sua passagem por lá?” Para conferir o regulamento e participar acesse o site da editora aqui.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Uma mágica de agora (em diante)

.
Agora que entendi que antes doido que doído,
monto uma prática para insignificar-me.
Agora, que me influíram esses astros de que tudo é fluido,
vago vagaroso divagando meus encontros.
Hoje que sei que só sou hoje e ontens,
não quero me secar do banho de orvalho de retinas.

Energias de gente-mundo me cambalhotaram pássaro.
E agora, agora mesmo, agorinha,
sigo mais a rolar vôos de alegria.

Leandro Jardim, do livro todas as vozes cantam, Ed. 7Letras


Leandro Jardim é poeta, letrista, compositor e comunicador. Editou de forma semi-artesanal e independente os seus minilivros de minipoemas Gotas e Pétalas, da série Poesia Presente. Todas as vozes cantam é seu primeiro livro publicado oficialmente. Leandro também é um dos organizadores do evento FLAP, que debate a literatura contemporânea. Quem quiser ler um pouco mais de seus escritos pode visitar o blog Flores, pragas e sementes.

Blog do Bolha retoma as suas atividades

.
Olá, querido leitor,

O Blog do Bolha acaba de retomar suas atividades! Para você que gosta de literatura, aqui tem poesia, prosa, os textos clássicos do jornal, notícias, divulgação de eventos, efervescência cultura e muito mais .

Para divulgar eventos literários ou mandar seus textos, basta enviar seu material para nosso e-mail, jornalplasticobolha@gmail.com . Estamos esperando

A próxima edição impressa do Plástico Bolha, de número 25, já está a caminho...

Que 2009 venha com tudo!

Abraços da Equipe do Plástico Bolha