quinta-feira, 31 de março de 2016

Pássaros


Dentro de mim há milhares de pássaros,
centenas de milhares de pássaros.
Dentre uma bicada e outra
rompe-se a casca,
a casca de novo.
assim nascem em mim
milhares de pássaros,
centenas de milhares de pássaros.
Logo rodeiam-me o estômago,
sobem-me o esôfago,
sobrevoam-me o céu da boca
e se chocam contra a arcada dentária.
Assim engulo dia após dia
milhares de pássaros.
centenas de milhares de pássaros.

Felipe Andrade

segunda-feira, 28 de março de 2016

Vazamento


  as artérias da minha
    casa estão
  entupidas com a
    sujeira dos
   anos que acumulam
     e pressionam
    por toda vida
      o desespero
 e as paredes
    quebradas como
  eu e o meu saldo
 devedor
  credor apenas
       do destino
 mero clandestino
        da existência
          resistente eu sigo
     insistentemente
     buscando saídas
      que nem sempre
         aparecem

Pedro Tostes

sexta-feira, 25 de março de 2016

Alice Cooper


tenho o cabelo comprido
e uso jeans azul rasgado

minha juventude é ininterrupta
não vivo pra ser demasiado breve 

gosto de Alice Cooper
e outros EP’S

as vezes me bate uma loucura
de querer as coisas

de uma vez só

as vezes eu até consigo
falar tudo o que penso

prefiro um copo de chopp
do que temer a vida enormemente

Matheus Felipo

quinta-feira, 24 de março de 2016

Adeus, oh pátria minha


Alegre o marinheiro
em voz pausada canta,
e a âncora já levanta
com estranho rumor.

Da corrente ao ruído
me agita a pena fria.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

O barco suavemente
se inclina e se remexe,
e logo se estremece
pelo impulso do vapor.

As rodas são cascatas
de branca prataria.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

Sentado, eu, na poupa
contemplo o mar imenso,
e em meu azar eu penso
e na minha tenaz dor.

A ti minha sorte entrego,
a ti, Virgem Maria.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

De fogo, ardente globo
nas águas se oculta:
uma onda o sepulta
rodando com furor.

Rugindo, o mar anuncia
que morre o rei do dia.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

As ondas, que se mexem
como o menino a ninar,
retratam do luar
o rosto sedutor.

Geme a brisa triste
qual homem em agonia.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

Do astro da noite
um raio brandamente
resvala a minha frente
enrugada de dor.

Assim como hoje a lua
no México luzia.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

No México!... Oh memória!...
Quando teu rico solo
e teu azulado céu
verei, triste cantor?

Sem ti, cólera e tédio
me causa a alegria.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

Penso que em teu recinto
há quem por mim suspire,
quem ao oriente se vire
buscando seu amor.

Meu peito profundos gemidos
à brisa os confia.
Adeus, oh pátria minha,
adeus, terra de amor.

Ignacio Rodríguez Galván

Tradução: Yasmin Barros

O poeta mexicano Ignacio Rodríguez Galván foi o autor homenageado do VI Festival Internacional de Poesía, que está acontecendo na cidade de Tizayuca, México, entre os dias 16 e 22 de março. Lucas Viriato, poeta e fundador do Plástico Bolha, foi convidado para o Festival, e levou como presente para os nossos amigos latinos o Jornal Plástico Bolha - Edición Latinoamerica, e este poema, traduzido por Yasmin Barros, membro de nossa equipe, como uma forma de estreitar os laços entre Brasil e México. Levamos nossas bolhas para o exterior - e fomos muito bem recebidos! Que venham mais oportunidades de derrubarmos as fronteiras que (não) nos limitam.


quarta-feira, 23 de março de 2016

aMarécomplexo


(H)á-mar agitado
(H)á-mar calmo
(H)á-mar imenso
(H)á-mar intenso
(H)á-mar(é)
(H)á-mar(é) simples
(H)á-mar(é) complexo
Há mar
Amar
Amar é
A Maré.


Vanessa Américo

segunda-feira, 21 de março de 2016

Contagem


1

Todo fim de mês
minha vó cabelos
brancos e vestido
florido doava
religiosamente
uma pequena quantia
da sua pensão
para a Igreja.

2

De tão religiosa
e evangélica
e fervorosa
que era cantava
uns hinos
mas não aquele hino
o hino conhecido
o hino obrigado
esse já nem lembrava
talvez um Ipiranga
ou nas margens plácidas
mas o que é plácidas?

3

Minha vó caminhava
pelos corredores
em passos lentos
dobrando o tempo
das coisas
e o dia
pela metade.

4

E ai de quem
lhe entregasse
a faca pelo cabo
ou dissesse “diabo”
ou chinelo emborcado
ou dissesse
“eu te odeio eu te odeio”

— porque isso atrai coisa ruim.

5

Minha vó sentada na sala
tomava sopa de batatas
enquanto conversava com Zé Pinto.

— mas Zé Pinto não morreu, vó?

— mas eu vejo
            eu vejo,
                dizia.


6

Quando partira
minha vó deixara
o vestido florido
que agora não é mais
tão florido
e alguns fios de cabelo
entre as almofadas
do sofá.

7

E há quem diga
que ainda canta o hino
mas não o mesmo hino
o hino evangélico
o hino religioso
mas um outro hino
talvez mais falado
talvez mais cantado
um hino que aprendera

da própria boca de Zé Pinto.

Felipe Andrade

sexta-feira, 18 de março de 2016

Amazonês


Brincar de falar
De escrever

Eita nóis ...
Difícil entender
Esse tal de português

Em cada cantinho
Um jeitinho

Riqueza de sotaques
De gente

Um fala “Uái”
O outro diz “Oxente”

Do Sul ao Norte
Uma presença marcante
Forte

A flor da pele
Originalidade

Na ponta da língua
Regionalidade
  
Quer ver só...sua língua dar nó?

No Amazonas tem
Um jeito invocado

Diferente de falar
Cheio de caqueado

De pensamento emborcado
Sobre o jeito de assuntar

Desse povo empombado
Paid´égua de lugar

Terra maceta, chibata
De Chibé e alguidar

Se você que lê não entende
Deixa eu te dizer

No Amazonas pra não esquecer
O português também se chama
Amazonês

Luciano de Abreu

quarta-feira, 16 de março de 2016

Hora magra


A vista pálida    
de uma dúbia natura que resvala
nos córregos de pedras silenciosas
e o silêncio de cada coisa viva,
tangível, preso ao rabo do Azulado,
repensa o fruto plástico das horas.

Nas asas da vogal o verbo líquido,
jamais pronunciado e de erudito
corpo, galho inerte e vento,  
retumba no jardim que se esboroa.

A rosa amarga, preta, rejubila
a torre de folhagens esquecidas.

O rasgo de dois versos num espinho.

No espaço entre duas asas o anelo
de ornar com seixos de ócio esta vereda:

Vales hirtos de espelhos retorcidos
refletindo o mar alto entre seus rotos
caules de vidro. Rezas junto ao cume  
De ferro arroxeado, dia findo, 
o magnético orvalho do suspiro,
o branco sobre o plano iridescente,
alma e plano, cerúleo patrimônio,
o faro insone do ocaso.

A flora quebra e escoa em pranto de ônix
sujando o véu turquesa pincelado.

Relva do azul, terreno amorfo. Eis  
a lâmina de sangue ensimesmada
cortando em som opaco estas veredas
incolores do espaço, tudo é negro.

A voz plúmbea da rosa destruída,   
que a chamam: letra cinza, vulcão débil.
Ecoa pelo vale e então se funde
ao olor que da terra exposta brota
Ungido no vermelho da consoante, 
e como gema insurge, ametista 
do dia, dissolvendo a noite em pétala.

Que, no ar, a treva imensa sobre os poros
da quietude cedendo ao próprio peso,
Se não salva o silêncio, salva a ti,
Que em mim redoura o verso morto.

E aqui, teu rosto em cor, aberto à rosa
descobre-me na condição de luz.  

Heitor de Lima

terça-feira, 15 de março de 2016

Nova quadrilha


João fornecia a teresa que mandava a
Raimundo
que repassava a Maria que entregava a Joaquim
que vendia a Lili
que não dava a ninguém.
João trazia dos Estados Unidos,
Teresa, da Colômbia,
Raimundo morreu de overdose, Maria
injetava na veia,
Joaquim suicidou-se e Lili passou a comprar de
J. Pinto Fernandes
que era do morro rival.

Pedro Rabello

segunda-feira, 14 de março de 2016

Ítaca não há mais


Ulisses
está sentado
no banco mais alto
preso entre
dois headphones:
lá fora o grito
da sereia indiferente,
da sereia egoísta,
da sereia coletiva.
A antiga Ítaca não existe mais,
a destruímos gradativamente
ao longo dos anos.
os Ulisses pós-modernos
são todos lotófagos.
Felipe Andrade

sábado, 12 de março de 2016

Lançamento da autora Luiza Mussnich


Convidamos a todos para o lançamento do livro de contos de Luiza Mussnich, vencedora do Prêmio Paulo Britto de Prosa e Poesia de 2015.

Será no dia 15 de março, terça-feira, a partir das 19h, na livraria Argumento do Leblon - rua Dias Ferreira, 417, Rio de Janeiro.


sexta-feira, 11 de março de 2016

Peixe de Aquário


                   solitário
 imerso em sua própria bosta
           preso neste imenso
   cubículo
   repleto de sonhos perdidos
     lembranças do que foi
         e outros tipos de lixo
 em vão
        nada
      rumo à superfície
   tencionando respirar
  buscar comida
      algum sentido pra
             essa porra toda
    tão cristalina quanto
  os vidros

     dessa janela

Pedro Tostes

quarta-feira, 9 de março de 2016

O Plástico Bolha 37 está no ar!!!


Depois de devassarmos as ruas do país com os exemplares impressos do jornal, chegamos à internet com a versão eletrônica do lindíssimo Plástico Bolha 37. Acesse-a pelo nosso site:

http://www.jornalplasticobolha.com.br/index.html

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poema de Fritz Nonato


Efêmera fêmea
Efêmera fêmea.
Fêmea, vida!
Efêmera vida?


Fritz Nonato

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ramo-Gineceu


I
Dar à flor e ter no pólen
o amor que outrora pétala, decanta
mordido, cuspe. o sopro lapidado
desce em orvalho e espinho roto
no cálice xerófilo da sépala,
descasca o cinzento,
coral de lânguidos saberes.
Tombo nouveau
de próteses desnudas, centopeia:
o furo torto e oco do endosperma,
a flor desloca o escroto, tessitura
de ambíguas coronárias,
e furta a espuma e pega à mão
um alvo, dente-de-leão, leve peludo
pendurado no ar, no destilado escudo
de umidade, corcunda sereníssima,
(assinatura de ilustre candelabro)
móvel, estojo escondido no outono.
Incerta e folha, menina

II
A flor estanca seca
barrando a exatidão que em si conserva
cínica, obesa, colorida
flor de esguelha, vacila e se desloca
orelha a orelha, no ramo digital
da mão estranha, dos namorados curvos,
 condensados, esquálidos urbanos.
Pote de vácuo, piolho súbito,
a flor descalça no diadema
silábico, de espirros e batuques.
mirrados colibris na copa descoberta
se estiram pelo fogo sensorial,
sem cinto, sem mensagem.
No parto este elástico de pele,
 o coma e a sudorese sensitivos.
 contida flor, explode flor, uníssona,
e é flor forçada a ser não mais que um sexo 
e fere a vã vontade deste branco, 
recolhida, figurada, adolescente 

III 
Cromo em faísca, este breu
de Eros e óleo no visível.
flor que anda preguiçosa
perto do êxtase, acima do estio:
séria, rútila, centrífuga,
mulher que habita o som

Heitor de Lima

sábado, 5 de março de 2016

Medida por Medida, de William Shakespeare, no teatro João Caetano


"Permanece a convicção de que Shakespeare é de uma atualidade fascinante. Hoje tive a oportunidade de assistir à montagem de "Medida por Medida", uma das peças conhecidas como "dark comedies", do diretor Ron Daniels. Em linhas gerais, a trama da peça se desenvolve uma vez que Angelo, detentor temporário do poder legislativo na cidade, decreta a sentença de morte para Cláudio. Cláudio convoca, então, sua irmã - Isabela - para que convença Angelo de voltar atrás em sua decisão. Isabela vai até Angelo e este a propõe um acordo: caso ela transe com ele, a decisão seria revogada. Ao recusar a proposta de Angelo, Isabela é assediada sexualmente por ele, mas foge antes de Angelo ser capaz de forçá-la a fazer sexo. A cena seguinte coloca Isabela na prisão contando a Cláudio do ocorrido, o irmão por sua vez acha que ela deveria aceitar esse "pequeno pecado" para salvar sua vida. Em toda peça, a plateia é crucial para o desenvolvimento dos atores em cima do texto encenado. No caso de hoje, assisti a essas duas cenas vidrado no palco. Vi de um lado da plateia subirem gargalhadas enquanto Angelo perseguia Isabela com a clara intenção de estuprá-la. Conforme os gestos do ator faziam de Angelo quase que um pateta machista atrás de Isabela, as gargalhadas pareciam inevitáveis; foi então que começaram a surgir ecos de um riso nervoso - daqueles que não temos certeza se podemos ecoar. A cena terminou. Seguiu-se para a cena de Cláudio implorando a Isabela para fazer sexo com Angelo e permitir-lhe viver um pouco mais. Risos, fossem eles de qualquer tipo, pipocavam raramente. A seriedade das cenas começaram a ser percebidas. Não havia nada de engraçado ali. A resposta a isso foi o clamor da plateia quando, no final da apresentação, todas as luzes do teatro se acenderam e Isabela pergunta a nós (!!!) o que merecia Angelo em resposta aos seus atos: JUSTIÇA! Parabéns Ron Daniels, Luísa Thiré, Thiago Lacerda e grande elenco, vocês fazem jus ao Bardo! Que comecem os 400 anos da morte de Shakespeare com uma belíssima montagem brasileira, retratando temas cuja atualidade chega a assustar o espectador..."
Gabriel Leibold

E é assim que começamos as homenagens aos 400 anos do falecimento de William Shakespeare: com as belíssimas montagens das peças Medida por Medida e Macbeth, dirigidas por Ron Daniels e com participação de Thiago Lacerda, já consagrado por sua presença em Hamlet. Ambas encontram-se em cartaz no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, do dia 03 ao dia 20 de março, nos seguintes horários:

Macbeth: quintas e sábados, às 19h.
Medida por Medida: sextas, às 19h; domingos, às 18h.

O valor dos ingressos para ambas as peças varia entre R$30 e R$60, e a classificação etária é 14 anos. Para maiores informações, acesse os sites:

Macbeth: http://www.ingresso.com/Rio-De-Janeiro/home/espetaculo/teatro/repertorio-shakespeare-macbeth/teatro-joao-caetano

Medida por Medida: http://www.ingresso.com/Rio-De-Janeiro/home/espetaculo/teatro/repertorio-shakespeare-medida-por-medida/teatro-joao-caetano

sexta-feira, 4 de março de 2016

Poema de Felipe Andrade


Os rastros
escavados
pelo pendulo
pelo tempo
a sola do sapato
e o pneu do carro
tornaram
possível
a criação
do nosso
pequeno
precipício.


Felipe Andrade

quinta-feira, 3 de março de 2016

Passageiro


Já nasci escorrendo,
minguado,
gotejando esperança.
Cresci levado,
danei a correr,
cresceram meus braços,
suava fertilidade.
Amadureci imponente,
expansivo, dura corrente,
atravessei-te mulher
— minha terra.
Envelheci calmo,
sorrateiro como serpente,
carregado de passado,
para encontrar-te mar,
morte:
abraço permanente.

Jade Prata

quarta-feira, 2 de março de 2016

Pessimismo


Dor de dente,
Febre de
Catapora.
Nova escola
De manhã cedo.
E todo dia
E ainda o medo
E dever de casa,
Quando se quer brincar, e brincar.
Mãe a falar:
Come tudo!
Primeira espinha
Empregada de saia na cozinha
Banho longo
Cabelo na mão
Videogame no chão e
N’algum lugar
Uma Capitu a chamar.
Primeira frustração.
A filha-da-puta então...
De mim nem gostava!
Baseado e álcool,
E o perigo das substâncias
No primeiro dia de trote.
Uma morena de rebote,
Que outro talvez não quis
O pinto de capote
A deslizar feliz
E quando acaba
Logo o primeiro romance
“Dane-se; era uma meretriz”.
E sem grana no bolso
Ou álcool na garganta,
Toma o ônibus pro trabalho
E arruma alguns trocados.
Faculdade e meio-expediente
Falta de garota e todos os ingredientes,
Faz as malas e sai de casa
E vai pros bares bater asas,
Qual gaivota suja de petróleo.
Tranca matrícula e se perde
Um ano nos albergues
De novo as substâncias
E xoxotas que enchota
Logo no dia seguinte.
Sem dinheiro, mulher, ou futuro,
De casa bate à porta
E, os pais, cristãos que são,
Lembram Mateus 15.
Enfim a formatura
E um emprego numa fábrica
De gazes e ataduras.
Ótimo contador
Futuro promissor.
E aparece uma estagiária
Falante e de beleza
Muito pouco ordinária.
Um namoro e um noivado
E logo tudo se tem por arrumado.
A moça engravida
Então nova vida!
E dor de dente
E febre
De catapora
E espinha
Empregada na cozinha
E as substâncias e...
Um desastre de automóvel.
Um filho morto nos braços
Sepultamento e os números
Agora são todos baços.
A mulher não aguenta
E na loucura se afugenta.
(Os avós a chorar)
E mais trabalho
Pro tratamento pagar.
Depois ela melhora
E quando enfim chega
Essa aurora,
Súbito uma pergunta:
“Isso é tudo?”
Sim.
Isso é tudo
E isso não é tudo;
Pois isso dói

Afrânio Santiago

terça-feira, 1 de março de 2016

A gente não nasce pronto


A gente não nasce pronto,
a gente vai se fazendo
que ninguém nasce sabendo,
a vida vai ensinando.
Quando se apaga um verso,
o poeta escreve outro,
se uma voz emudece
a ideia permanece !
Pra não ser reiteração
a gente vai se fazendo
sem data de validade,
inventando e reinventando
um tempo, um lugar não pronto,
um passo, um caminho novo.
a gente é um fato inédito,
a mais nova edição!
A gente vai se fazendo
e fazemos uns aos outros,
por isso não se limita,
não se acalma, não fenece,
se um dia a ponte desaba,
resta a fé na própria vida!
A gente não nasce pronto
está   sempre  aprendendo ,
não é refém do que sabe,
quando aprende alguma coisa,
passa a ser uma coisa nova
e assim nunca envelhece,
pois do tempo a gente esquece!

Maria Lídia Moreira