I
O tempo sempre responde
a pergunta nunca feita.
Mesmo não se sabendo de onde
veio a resposta, ela é aceita,
pois que a pergunta em questão
não foi feita por ninguém.
Ignorá-la? Não é opção.
Reclamar? Como? Com quem?
II
Ser incompleto, e só, é ser.
O ser completo é só ter sido.
E mesmo assim o que se busca
é a sensação do concluído,
acreditando (por ingênua
superstição gramatical)
que o “in” de “incompleto” implica
que a completude é o natural.
III
Tudo entender, nem tudo perdoar.
Sempre se pode perdoar mais tarde,
mas entender requer velocidade
e precisão, pra derrubar do ar
a ave em pleno voo. Já o perdão
(tal como a vingança) nunca tem pressa.
A ave pousou, pôs ovos à beça
e os chocou — sim, perdoar. Por que não?
IV
Um dia ainda vou rir de tudo isso.
Mas serei eu mesmo a rir nesse dia?
O eu novo estará rindo do antigo
ou daquilo de que
hoje eu não riria?
Paulo Henriques Britto