sexta-feira, 31 de agosto de 2018

desgramatical


Tu, que embaralhais minhas regências,
ó vós, que anarquizas minha linguagem
e minha pretensa sanidade,
você, convergência de tudo quanto digo
giratoriamente, como louco,
em direções divergentes,
nem liga pra eu...

Thássio Ferreira

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

arte do desentendimento


não escrevo
sobre o que detenho.
escrevo
para apropriar-me
do que há
no mundo.
para inventar oceanos,
terra,
céu,
gente.
para preencher-me de vazio,
do que não é pleno,
do espanto inquieto
e do questionamento
sobre tudo o que eu penso que eu sei.
ser poeta é desentender.

Dênis Rubra

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Queira. Peça:


A protagonista – ou antagonista, agora tanto faz – retirou-se de cena aos prantos, como deve ser. Fica na coxia tentando se recompor e voltar. Há de voltar, é claro, pois a peça deve seguir. Rica em movimentos caricaturais, para que o espectador, único no teatro feito para dois, perceba todas as expressões. Algumas sempre escaparão, e é por isso que resolveram gravar em algo além da memória. Fitas, por favor. Prossiga.

Remonta-se e torna a desmanchar-se, sempre perdendo pedaços pelo palco. Torna-se fluida, diluída no pouco, e cada vez menos, em que se transformava. Sim, o conteúdo ainda está muito bem definido, mas escorre por frestas e pelos olhos da caríssima plateia de um.

Assim, diluída, mais fácil provar, entristece e furta a cor de todo o cenário. Sublime. Forma cristais translúcidos no teto e volta ao chão. Move-se estupidamente, corpo rijo e frágil. Gira, bailarina graciosa da caixinha de música, mas desequilibra e cai. Perdeu mais alguns cacos, que sublimam. O movimento de gás e sólido coloridos compõem a cena. As luzes baixam e tudo fica roxo. E preto.

Reaparece, sentada ao centro. Blasé, de acordo com o único que o disse sem ser pedante. Atua como se nada doesse e não estivesse cansada. Levanta, agradece e se retira. Na coxia, sozinha – era ela a roteirista, diretora e atriz desse monólogo sem palavras – cai. Permaneceu desmaiada enquanto a platéia se retirava, silenciosamente. A gravação cessa.

Amanda Bastos



Amanda Toni Bastos leciona e aspira ao doutorado. Transita entre o consumo de literatura e a escrita acadêmica, observando cada vez mais similitudes entre ambos. Entre atos de militância e as obrigações profissionais, pensa, rabisca, apaga e eventualmente submete o escrito para onde caiba.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Inauguração da C.galeria, no Jardim Botânico



Primavera árabe


E SE TEUS PÉS SE INFILTRASSEM EM SOLO SÍRIO?
Estremeceriam a terra
Fazendo tombar cemmil fileiras do ISIS
Que desfaleceriam instantaneamente                                                                       
Ante à visão arrebatadora
De suas faces laterais

E SE TEUS PÉS ESCALASSEM O SINAI?
Ressuscitariam Moisés
Que por decreto divino-imperioso
Desceria para disseminar entre os homens
O Décimo-Primeiro-Mandamento

E SE TEUS PÉS ADENTRASSEM A HÉLADE?
Uniriam o Helesponto
Submeteriam Dioniso a cortejo bacante
E seriam o arco da flecha mortal
E certeira de Apolo

E SE TEUS PÉS ATRAVESSASSEM A SAVANA?
Produziriam um clarão estrondoso
Que ressoando por toda a África
Atiçaria o cio das Mambas-Negras
Afungentaria os Gnus
E emudeceria os Leões

E SE TEUS PÉS INVADISSEM O IRÃ?
Fundariam uma Nova Teocracia
Que regida por Eros
Entronizaria as Mulheres
Faria eunucos os soldados
E converteria os aiatolás

E SE TEUS PÉS SE BANHASSEM NO CARIBE?
Tornariam a vida mais molhada
Azul-turquesa
Cristalina
E Ensolarada!

E SE TEUS PÉS RETORNASSEM AO BAHREIN?
Seriam o epicentro de um Maremoto
Que engoliria torres, shoppings
E tudo mais de desmedido
Erguido nas Arábias

E SE TEUS PÉS NAVEGASSEM O MAR VERMELHO?
Amorteceriam suavemente
As gotas púrpuras do teu Mênstruo
Cuja maresia embalaria as tuas velas
E atrairia o faro arguto dos Audazes

E SE TEUS PÉS PASSEASSEM NO ATACAMA?
Deixariam um rastro de videiras
Que exalariam no deserto
O odor penetrante
De uma Primavera Árabe
Inebriada

E SE TEUS PÉS VISITASSEM...
A minha casa?

Caio Moura

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Poems don't hurt


É só um poema
Não se exalte
– Nem se retraia! –
Na sua carapuça maravilhosa.
Melhor que um oi tudo bom,
Ou não, qualquer coisa
Grite alto
Morte aos poetas!
Provável que nem sobre si seja,
Perfeição não se descreve.
Certeza que é só a familiar angústia
Fuga do desejo que me apetece
Que nem desejo por ti é
Mas desejo do desejo
Ilusão de consumo
Da beleza.
Merda!
Quanta tinta gasto,
Quanto neurônio assassino,
Para dizer o de sempre,
Que tua juventude exuberante
É meu martírio de poeta.
Fazes o mais simples:
“Curtes”.
Tão bom receber versos
E calar.
Ser musa a se contemplar de longe
(Merci, arrivederci!)
Ou não.
Então grite...
(já sabes).

Bruno Mendonça



Bruno Macêdo Mendonça (ou Caio Lobo) nasceu em Recife/PE. É Colunista e Curador da Revista Philos, autor da coletânea de contos Trôpegos visionários (2016), bem como do romance Liberdade (2017), lançamentos da Editora Kazuá. Atualmente realiza Doutorado em Línguas Modernas: Culturas, Literaturas e Tradução, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Portugal). Página do escritor no Facebook: https://www.facebook.com/escritor.brunommendonca/?ref=settings. Instagram: @escritorbrunomendonca.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Composição


A música era para o Renato, meu antigo namorado. Sofreu um acidente de carro no Mato Grosso e quase perdeu o braço, mas infelizmente tiveram de amputar dois dedos (o mindinho e o que vem antes dele, que ninguém lembra o nome).

Me disseram que Renato era um nome muito anos 80, e que no máximo meu pai se chamaria Renato, nunca um rapaz de vinte anos. Daí trocamos para Matheus. Substituímos Matheus por "baby" no refrão. E, no refrão, ninguém quer ouvir sobre um acidente de trânsito, a não ser que seja do Smiths, então modificamos pela viagem do Matheus pela estrada. Mas uma estrada para o Mato Grosso não teria cara de hit, já uma estrada para São Paulo...

No fim, adicionamos uma parada num posto de gasolina em Atibaia e uma girl pedindo carona, para dar aquele clima wild. E um pouco de sacanagem, você sabe, em homenagem aos fingers do Renato original.

Diana Joucovski



Diana é uma jovem escritora, natural de São Paulo. Leia mais da autora através do link: https://medium.com/@dianajoucovski.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Lançamento do livro "Nenhum mistério", de Paulo Henriques Britto, em Botafogo



A nação mata a população


Não existe eu-lírico neste poema
E nem muitas definições.

A real é que
Nem eu existo direito.

E quase tudo do que sei
Aprendi por meio dos meus sentidos.

De alguma forma sei que
O que está acontecendo ao meu redor é real,
E eu não queria que fosse.

Porque ser jovem é bom
Mas melhor que isso é ter voz
É ser ouvido
E eu não ouço!

Eles comparam e criam as competições
Enquanto as pessoas morrem de fome.

Eles investem em prisão, porque é isso que o sistema cria!

A cura que está em nossas mãos,
Busca a legalização.

E o agrotóxico que nos mata está em nossas mesas!
Porque o verdadeiro intuito da nação
É ver a população dentro de um caixão!

Sara Freitas

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Quatro poemas-abismos


I.

Desliga o gás e volta pra cama
há um incêndio nos pés do menino Jesus
uma mãe anestesiada rompe no leito
sem máquinas de inalação ou suspiros largos
Desliga o gás e volta pra cama
o consulado do café te exila da festa
come duas salsichas sujas na calçada
e finge a existência de algumas palavras
Desliga o gás e volta pra cama
então pula da cama e atravessa o espelho
toma um ônibus ao largo do Arouche
pra assistir um filme pornô em película
Desliga o gás e volta pra cama
acabou o soro acabaram as veias
restaram flacidez e figos murchos
& seus olhos gastos de velho tabagista
Desliga o gás e volta pra cama
mas evita o vão da castelo branco
onde cônegos atropelam moleques
em seus caminhões vermelhos
Desliga o gás e volta pra cama
desliga o gás, Matheus
desliga o gás


II. CASI NUNCA

Enquanto breco a garganta
e dissolvo meu hálito num tonel esmeralda
a ciência e seus tiques panfletam minha loucura
Sartre com o dedo na tomada estrangulando calafrios
malditos rapazes girando os ventiladores da mente
                                                 
                                           y casi nunca follando
                                              casi nunca amando
                                              casi nunca bailando en techos con goteras

Encaçapado na sinuca de febres e sonhos
pregado nas paredes limpas pelo sol da tarde
no aguardo do acidente câncer infarto latrocínio
ou mesmo da Coragem
de espetar Luzes Vermelhas com o carbono dos dedos
e engolir solfejos pra vomitar uma modinha
no pau mais solitário da grande São Paulo
                                                 
                                           y casi nunca follando
                                              casi nunca amando
                                              casi nunca bailando en techos con goteras


III. DÓI

Peguei o ônibus pralgum lugar
e a estrela vital molhando a mesa dói
dói dói dói todo minuto dói
a espuma contendo glúten dói
e eu preciso beber com moderação
e isso dói porque não sei beber
e não tenho moderação e inferno
como dói estar de frente pro mictório
não bêbado mas quase
de frente pro mictório doendo
como dói sentir tanta dor
e ter que amarrar um cigarro na boca
odeio cigarros odeio cigarros odeio cigarros
DÓI
dói muito e eu preciso de um cigarro
e da espuma gelada
e de uma companhia qualquer
e de ir ao banheiro só pra escrever
como dói estar aqui
medindo os abismos do corpo
tentando não cair em todos eles


IV.

É preciso me agarrar ao parapeito
tão grande é a vontade de me jogar
um espasmo me derruba numa dessas mesas de plástico amarelas
com marcas de cerveja gravadas aos murros
É preciso esconder os canivetes do meu pai
tão grande é a vontade de me arreganhar o bucho
e mostrar pra esses desgraçados o que guardo na carne
Moleque boiola que bate três quatro punhetas por dia
com uma facada no cu deixa de ser besta
e sente tesão no instante de morte
É preciso tirar o cerol das pipas do meu irmão
tão grande é a vontade de as enrolar no pescoço
e voar pra longe do teu alcance
onde não sou bastardo medíocre & maldito

onde fumo três cigarros e passo o tempo
apagando bitucas na mão esquerda

Matheus Molina



Matheus Molina é rondoniense e tem 21 anos. Atualmente mora em São Paulo, cursa Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e é poeta.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Pergunta simples ao coração de Flaubert


Sabemos que Sra. Aubain era invejada pelos burgueses de Pont L'Évêque por ter à disposição uma criada mais do que dedicada a salário tão baixo - quase meio século de infelicidade remunerada a cem francos por ano. Você nos descreveu em detalhes as desventuras da infeliz empregada, que escolheu chamar Felicité...

Você mencionou os nomes de muitos outros que circularam em torno das desgraças da criada. Dos Larsonnière, por exemplo, todos sabemos que chegaram à cidade logo depois da Revolução de Julho. Deixou-nos saber que o Barão de Larsonnière veio em função de sua nomeação como novo subprefeito do local e que fora ex-cônsul na América. Em sua companhia vieram a mulher e a cunhada com três filhas crescidas. “Eram vistas sobre a relva do jardim, vestidas de blusas flutuantes; possuíam um negro e um papagaio”. Você fez questão de nos fazer conhecer o nome do papagaio: Lulu. Contou-nos que Felicité quis o bicho, que remetia, pela origem, a seu sobrinho Victor, morto pelos lados das Américas. 

Sabemos da generosidade da Sra. Larsonnière, ao enviar o negro para entregar a Felicité o papagaio Lulu como presente. Sabemos do começo, meio e fim da vida de Felicité. Interessa-nos a história do emissário de seu presente. Portanto, ousamos dizer (não se ofenda): Faltou uma história. Faltou um nome. Por quê?

Paulo Vicente Cruz



Paulo Vicente Cruz teve textos publicados na Revista Piauí, Subversa e em duas edições especiais da Revista Gueto. Alguns de seus contos também integram a edição comemorativa de 40 anos dos Cadernos Negros, tradicional publicação de literatura afro-brasileira. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Lançamento do livro Sozé, de Anelise Freitas



Imagem dos campos de caos


Os pivetes de carvalho chupam seus dedos
raízes e ejaculam nos furos da terra
Os monumentos gritam maldição de memória
O horizonte pinta bacanais no encontro
de Del Rey e Sodoma
as cadelas se arrastam
no chão e pintam
o asfalto de vermelho
Os sátiros lambem os lábios das garotas que se masturbam
A voz de Deus é o grunhido de um porco
e sua vontade nossa desobediência
Em brasa os pivetes fazem da sua palavra de ordem desespero

Lucas Romano

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Um poema de Paulo Donadelli


Eu sou o homem médio da história
arquétipo perfeito de historiadores e etnólogos
Sou o vulgo, o qualquer do povo
[de qualquer povo
aglutinado fungível na massa indistinta de miseráveis que compõem o mosaico milenar da população planetária

Sou ninguém e ao mesmo tempo espécime exemplar de todos

Meus ossos são o cimento da muralha da China
e as fundações do Empire State
meu sangue azeitou o caminho
por onde arrastaram as pedras das Pirâmides

Esse tempo secou minha  voz
mas milhares de intelectuais de pau mole
ainda dissertarão sobre mim
vendendo consciência social pros otários

No fim, nós todos cagamos uns pros outros
e nossa bosta vira uma pasta uniforme que
flana sobre o rio de nossa cidade
com a esperança de desaguar ainda inocente numa praia turca
nas margens do oceano da mazela humana

Paulo Donadelli

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Sísifo moderno


Se não estivesse lá todos os dias, como poderia ter certeza de que sempre o mesmo homem conduzia aquela imensidão engenhosamente construída, aquele gigante de ferro cujo peso e velocidade ignoravam tudo e todos?

Aos poucos, a máquina se aproximava e quase perdia a monstruosa imponência, mas continuava seu inevitável percurso. O barulho crescendo num contínuo desesperador. O chão ao redor vibrando o atrito incansável de ferros que se chocam. Um gigante deslizando pelos sulcos cravados no concreto.

Diante de todo aquele aço subjugado, o homem persiste, desesperadamente parado.

O condutor, já acostumado às adversidades que sua profissão lhe impunha, percebeu em seu observador um desejo. Tarde demais. O vento já alcançava seus cabelos.

Das inúmeras pessoas que o rodeiam na plataforma, esse anônimo já gravou algumas feições. Rostos comuns numa multidão de desconhecidos. Sentiu-se ainda mais só. Sentiu ainda mais a necessidade do fim. E permaneceu, inabalado.

Já pode distinguir as marcas exageradas no rosto do condutor. Quarenta e sete anos, sempre julgou. O mesmo bigode, o mesmo uniforme azul celeste surgia do fundo negro de um túnel sem fim.

A distância diminui ao ritmo de seu coração. O peito arfa amedrontado. Lança ao seu redor um olhar de súplica. Alguém o compreenderia e o seguraria no último instante?

A máquina não espera. As toneladas que lhe constituem aproximam-se incansavelmente. Algumas pessoas distanciam-se numa atitude de segurança, de verdadeiro pavor. Não querem ser testemunhas de algo tão trágico.

O trem, sujo como tantas vezes o vira, rasga os trilhos à sua frente. Acovardado, vacila o passo e acompanha, com os olhos, o brilho metálico que, como em tantos outros dias, lhe pareceu tão belo e eficaz.

Julian Guilherme




Julian Guilherme F. Guimarães, 32 anos, é graduado em Letras. Integrou a oficina de criação literária de João Silvério Trevisan, no primeiro semestre de 2018. Publicou textos ficcionais e críticos em revistas virtuais e realizou as seguintes adaptações: A bela e a fera no jardim do castelo – baseado na história infantil “A bela e a fera”, de Madame Leprince de Beaumont, Editora Scipione, 2010; e O gato de botas e o mistério da floresta – baseado na história infantil “O gato de botas”, de Charles Perrault, Editora Scipione, 2010.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Artista nunca


Negam-nos no útero de nossas mães. Engenheiro, médico, atleta, advogado, dizem.

Artista nunca.

Negam-nos na juventude. Hobby, passatempo, distração, criancice, dizem. 

Artista nunca. 

Negam-nos na vida adulta. Ociosos, vagabundos, preguiçosos, promíscuos, dizem.

Artista nunca.

Negam-nos nos estudos. “Para quê”, “para quem”, “por quem”, “por quê”, dizem.

Artista nunca.

Negam-nos o trocado. “Por amor”, “por prazer”, “por saber”, “por favor”, dizem. 

Por labor, por mim,  por você, pra viver, não dizem.

Não.

Artista nunca. 

Negam-nos a profissão como negam-se a si mesmos. No cubículos, nas diárias, nos plantões, nos tons de cinza, digo. 

Negam-nos a profissão como negam o vazio que sentem já por hábito, por mérito, por medo, por dentro, digo. 

Negam-nos a profissão como quem aceita dar as costas, fazer coisa outra, fazer nada, fazer silêncio, digo.

Mas enganam-se.

Artista, nunca. 

Ana Luiza Albuquerque 

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Descortinando a manhã


Paisagens claras
de uma luz
incomensurável
invadiam a forma
restrita do quarto
no qual descortinei
o teu corpo,

como quem
descortina
a si próprio,

como o sol
descortina a manhã,
como um galo busca,
através de seu canto
(que convida outros cantos),
fazer o dia nascer de
seu obscuro
mistério.

William Soares dos Santos




William Soares dos Santos (1972) é carioca, professor da UFRJ e escritor. Publicou Rarefeito (poesia) em 2015, Um Amor (contos) em 2016 e Poemas da meia-noite (e do meio-dia) em 2017. Este poema pode ser encontrado no mais recente dos três livros.