sábado, 2 de abril de 2011

A transcendência entre jornalismo e literatura

Ao tentar encontrar diferenças entre o texto jornalístico e o literário, sempre nos depararemos com dificuldades para explicar essa contradição, principalmente, devido à proximidade em que se apresentam. Entre os variados componentes de um texto, podemos corroborar que o jornalístico pressupõe algo imediato, totalmente ligado à objetividade e às noções realistas presentes em cada sociedade a fim de confirmar a prioridade de passar para o leitor algo informativo, enquanto que a produção literária está presente dentro de aspectos do senso-comum, da aparência apenas, em que ocorre a possibilidade da criação de dados totalmente imagináveis e, às vezes, intangíveis a realidade em que vivemos. No entanto, não podemos apenas falar da finalidade do processo comunicativo, é necessário também firmar que a estrutura jornalística deve ser colocada de modo mais rígido e imparcial, a qual não se encontra na edificação de um texto literário.

O estabelecimento desses dois escritos começou a transformar o modo de ver a realidade e de se colocar diante dela. Deste modo, deu-se início a uma junção entre o jornalismo e a literatura, tornando ainda mais difícil diferenciá-los. Esse fato ocorreu com maior força após o crescimento da imprensa escrita, que ainda se encontrava entre os mesmos leitores: a burguesia. Então, a atividade de interpretação da realidade se estendeu com uma maior divulgação de conhecimento científico que ampliava o nível e a quantidade de informações.

Os limites da divulgação de notícias cresceram ainda mais com a Revolução Industrial no século XIX. A propagação desses dois víeis ganhou ainda mais eficácia. Em 1827, o afamado jornal Times passou a ter uma produção de cinco mil exemplares por hora, fato bastante surpreendente que aumentou o número de leitores a procura de informações para se tornarem cientes sobre o que ocorre no mundo todo. O escritor inglês Daniel Defoe, autor da prestigiosa obra Robison Crusoé, e os franceses Honoré Balzac e Victor Hugo ganharam fama nesse contexto em que militaram sobre o engajamento jornalístico ao sobrepujar o julgamento sobre a sociedade. A comédia humana, de Balzac, e a O ultimo dia de um condenado, de Hugo, exemplificam muito bem esta decodificação dos problemas da sociedade francesa, misturando uma linguagem objetiva e investigativa com a visão naturalista decorrente da época.

No Brasil, somente a partir do século XIX, com a independência de Portugal, que a imprensa começou a obter espaço para erigir uma estrutura mais forte no campo do processo comunicativo, mesmo com a baixa taxa de alfabetização. Assim, a imprensa começou a se tornar temida e, ao mesmo tempo, glorificada pelas grandes elites da sociedade. Os escritores, de então, (como José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto, Olavo Bilac, dentre outros) passaram a fazer seu espaço no ramo jornalístico, ganhando grande reconhecimento e sendo bem remunerados. A obra, que mais teve significado nesse ramo jornalístico-literário, foi Os Sertões, de Euclides da Cunha o qual disserta sobre a Guerra dos Canudos, não apenas aprimorou a nossa literatura contemporânea, como também fortificou a nossa identidade nacional.

Entretanto, somente a partir do século XX que o costume de atuar como jornalista-literário teve maior impulso e com grande influência de João do Rio, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, João Cabral, Otto Lara Resende, Antônio Callado, entre outros. Nessa época, muitas áreas do jornalismo tiveram considerável participação e crescimento na sociedade brasileira, como a seção de repórteres, editorialistas, cronistas, editores, entre outros.

Destarte, pode-se argumentar que muitos autores tentaram, lucidamente, perpetrar uma união entre essas fronteiras totalmente diferentes, a do literato e a do jornalista, embora possuírem finalidades idênticas: passar para o seu leitor/ouvinte o caminho do conhecimento humano.

José Ricardo Costa Miranda Filho

Um comentário:

Fanzine Episódio Cultural disse...

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