sábado, 2 de abril de 2011

Consolação

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Você me disse que se eu fosse reto na Consolação sairia na Rebouças, que por sua vez cruza a Faria Lima, dobrar à direita e pronto, era por ali o caminho do shopping. Você me esperava lá, uma mensagem de texto um pouco antes dizendo que já tinha chegado. Eu ainda demorava um pouco, que o trânsito estava bem ruim naquele dia. Estava com saudades do Rio e hoje é você que está por lá de visita. Sua avó no apartamento do Leme, as enfermeiras que revezam. Ela diz: “minha netinha minha netinha”. Acho bonito à beça o fato de ela dizer sempre duas vezes qualquer coisa. Como quando fala “minha querida minha querida” ao te ver entrar pela porta com a mala e o computador na bolsa. Como se sempre tivesse de repetir para enfatizar aquilo, que você é mesmo querida, a única neta etc. No hospital ela me disse isso. E que era fundista, nadava da pedra do Leme ao Forte numa boa. Ao me ver chegar perto da cama perguntou, como sempre: “tudo bem com você, tudo bem?”. Tudo parado na Consolação e você me esperava um pouco mais, sem problemas, era até bom que dava tempo de ir no Extra. Hoje é aniversário do meu pai e você vai no jantar, aí no Rio. Pensei em ligar de novo só pra pegar todo mundo junto por lá e ir falando com um de cada vez, essa mania do meu pai de logo passar o telefone pra quem está do lado e depois ir dando a instrução de passar adiante o celular, afinal era eu na linha. Como se quisesse me colocar lá no meio. Liguei mesmo porque o trânsito estava inacreditável. O barulho no restaurante era tanto que mal consegui ouvir o que falavam. Acho que já tinham cantado o parabéns. Só consegui te dizer que estava parado na Consolação, sorte que você volta amanhã, antes que você passasse o celular para o próximo da fila.
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Miguel Del Castillo
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Miguel Del Castillo é uma das muitas descobertas literárias do jornal Plástico Bolha.
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