Mirna estava sentada com seus olhos contornados de grossas linhas pretas e seu perfume sufocante. Mirna estava sentada com seu vestido longo que balançava com o vento que espalhava seu perfume. Mirna estava sentada com seus cabelos em trança que não se mexiam. Mirna estava sentada com seus lábios secos e murchos imóveis. Mirna piscava olhos suficientes para olhar e compreender o mundo, mas não olhava. Mirna apenas mirava um ponto qualquer e piscava devagar. E o vento balançava seu vestido azul e espalhava seu perfume sufocante. Mirna piscava grande e não percebeu a criatura que pequena e pasma que seus cachinhos até tremiam, não sabia como absorver Mirna.
Pequena e pasma nas suas pernas frágeis, a criaturinha não sabia como olhos assim tão grandes de contornos assim tão fortes podiam ser. E seu pobre nariz, confundido, acostumado a talcos e perfumes sóbrios, não podia compreender aquele odor nauseante que cada vez mais lhe penetrava as narinas e cada vez mais desejava que penetrasse. E os lábios murchos, secos, mortos; por que tão murchos, secos, mortos? O vestido tão azul, recorte do céu que não podia mais ser olhado: hipnose.
Com pupilas em susto de tanto sentir, ela intuiu que tanto assim era proibido. Pequena, frágil, pasma, estática, nascia a pergunta sem palavras. Do outro lado, a resposta de boca morta piscava a verdade ausente.
Gabriela Bouzada
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