segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Sobre o incêndio no Museu da Língua Portuguesa


Neste momento um desastre está sendo combatido: o Museu da Língua Portuguesa (Estação da Luz, São Paulo, um dos mais importantes e frequentados da América Latina) está em chamas e o Corpo de Bombeiros, acionado às 15h57, ainda está combatendo o alastramento da destruição. O Plástico Bolha também está profundamente abalado por este incêndio de grandes proporções.

Por toda a história do Museu, por seu acervo, por sua importância, pela preservação da cultura no cotidiano de nossas vidas, pelo dia-a-dia de São Paulo, do Brasil, da literatura, da sociedade, da política e de tudo aquilo que a nossa língua portuguesa amalgama, manifestamos nosso profundo lamento.

A edição 37 do Jornal Plástico Bolha, dedicada à exposição Poesia Agora, realização do Museu da Língua Portuguesa com curadoria de Lucas Viriato e atuação da equipe Plástico Bolha, mais que nunca é dedicada também ao Museu que tão bem sempre nos recebeu. Pelo júbilo sem tamanho que representa, por seus escombros, pela sua memória e, acima de tudo, pela sua reestruturação.

A origem do incêndio ainda é desconhecida e será investigada. Felizmente (se é que se pode falar em felicidade neste post), por destino ou acaso, segunda-feira é o dia em que o Museu fica fechado ao público e aparentemente não houve feridos.

#‎forçaMLP

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Lançamento do livro Estranha de Mim, de Marcela Sperandio Rosa


Convidamos vocês para o lançamento do primeiro livro de poesia de Marcela Sperandio Rosa (autora do Plástico Bolha com textos disponíveis em http://jornalplasticobolha.com.br/autores/autor_marcela_sperandio_rosa.htm): "Estranha de Mim", editora OrganoGrama Livros.

Os textos e desenhos, feitos entre seus 13 e 21 anos de idade, ficaram um bom tempo na gaveta e agora, após atencioso trabalho, marcam as páginas deste lançamento tão especial.

A introdução é da querida Miriam Sutter — Professora Dra. de Letras Clássicas da PUC-Rio e autora do Plástico Bolha — e a edição é de Lucas Viriato.

Lançamento
Data: 15 de dezembro de 2015 | 3ª feira
Hora: das 18h às 22h
Local: Restaurante Avenca
Rua Pacheco Leão, 110, Jardim Botânico, RJ
Estacionamento: vallet no local | R$15

 Estranha de mim
Marcela Sperandio, 122p.
OrganoGrama Livros, 2015.
Preço R$ 32,00


- Equipe OrganoGrama -
Edição e Coordenação gráfica - Lucas Viriato
Produção Editorial - Alexandre Bruno Tinelli e João Moura Fernandes
Arte de capa e diagramação - Fernando Brum
Revisão - Alexandre Bruno Tinelli


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Tireoide — 1º lugar de poesia


O gel esfria meu pescoço e
a moça
diz que fala comigo quando
tiver acabado. Aquele objeto-olho
desliza so
bre
a pele da parte tão perto da
cabeça que só pensa só
pode pensar
durante meio minuto
no máximo
três talvez
cinco não
mais:

tomara que veja um treco esquisito mas o
que será aquilo?

Nada.
Tá tudo certo comigo.
A não ser esse pequeno prazer
obscuro,
pulsão de morte que mora em
mim e que me acomete
num simples
exame de rotina.

Maíra Fernandes

A Casa Queima — 1º lugar de prosa



Uma bolha no dedo indicador provoca um incômodo pontual, mas independente disso sou obrigada a trabalhar sem descanso. Suada e firme, executo a tarefa, sistematicamente. O cabo preto da faca afiada, eu abraço forte com palma e dedos, como um polvo de cinco tentáculos. Eu sou a mão de Maria Clara e neste instante corto as cenouras, as cebolas e os pepinos para os almoços da semana inteira. Minhas unhas estão roídas e tenho cheiro de louça engordurada e detergente. Sou decidida. Tenho talento e desenvoltura para este trabalho, que executo desde menina. Diferente é meu desempenho com as tesouras feitas para a maioria. Sou a mão esquerda de uma mulher canhota e nunca me adaptei à estranha direção deste objeto.
Nas linhas que me desenham constam informações preciosas sobre os futuros de Maria Clara: uma ruptura brusca na juventude, uma dificuldade aos quarenta e cinco anos, duas grandes viagens, que Maria Clara nunca fez, e dois filhos, dos quais Maria Clara só teve um. O mapa do destino, eu exibo quando me abro, mas cabe à sua dona encontrá-lo ou dele se perder. Não julgo os desencontrados. Nem toda deriva é morte certa. E de que vale uma viagem toda feita de certezas?
Hoje é o aniversário de Maria Clara e, portanto, meu aniversário. Daqui a pouco o Jão chega com um vasinho de flores, ela pensa, violetas, minhas preferidas. Ele vai lhe dar um beijo na testa e me apertando vai dizer “ô minha véia, que esse dia seja muito especial, que você tenha muito amor e saúde e que continue sendo a melhor mãe do mundo”. O bolo está cheirando. Mais cinco minutos e já posso desligar o forno. As mãos também sentem cheiros, ao contrário do que se pensa. Enxergam, saboreiam gostos amargos, salgados, doces e têm ideias.
Maria Clara e Jão vão conversar com as palavras da voz e eu vou tentar entrar na discussão. Nos momentos mais animados, nas frases mais acaloradas, vou dançar de um lado para o outro a linguagem dos gestos, que insiste na tentativa de dizer aquilo que não se consegue somente com as palavras. Aí, eu e o Jão vamos escutar o barulho da fechadura girando, mas Maria Clara vai se fingir de desentendida. Não vai demonstrar nenhuma expectativa, embora eu esteja suando. “Ih, o pai chegou mais cedo do serviço!”, o Jão vai falar. Maria Clara estará linda. E eu também, hidratada com óleo de lavanda, não mais cheirando a detergente e louça. Sim, já já vamos tomar banho e já sabemos qual vestido Maria Clara vai usar. Escolhemos um discreto para não alardear nossas esperanças. Queremos que tudo pareça natural e que atribuam nossa beleza a circunstâncias inexplicáveis; queremos que pensem simplesmente que uma aura de aniversariante torna mais alegre o rosto de Maria Clara, como uma maquiagem que não haveria de ter passado e que, no entanto, eu mesma passei.
O Theo vai colocar a pochete em cima da mesa e transpirando pelo bigode, vai lhe beijar os lábios, como nos sonhos. Todos vão comer o bolo que eu preparei. Repetirão as fatias, uma, duas, três vezes. Ficarei pra lá de orgulhosa dos meus talentos. A família vai beber a garrafa de vinho que o Theo trará da rua e como não estão acostumados ao álcool ficarão alegremente tontos. Eu estarei dormente e relaxada, provavelmente jogada num canto. O Jão vai dormir no sofá. Maria Clara, Theo e eu, iremos pro quarto e com dentes e unhas roxos de uva, seremos felizes. 
Estou quente do esforço repetitivo do corte das cenouras e sinto a ameaça da tendinite. Maria Clara me pede para parar. Eu obedeço aliviada. Ela se senta em frente à televisão como se aquele fosse um dia comum. Quer descansar a mente sei lá de que pensamentos que lhe acontecem. Como se não esperasse Jão, Theo e as surpresas dos festejos. Escuta, sem dar muita atenção, ao blábláblá de um apresentador de programa de auditório, que entre as mais insossas atrações anuncia medicamentos antianêmicos, presuntos, secadores de cabelo, poupanças, carros populares e bilhetes de loteria instantânea. Um domingão daqueles. Adormeço em sua coxa com o cafuné da outra mão, a direita, que me alisa doce e lentamente. Sonho com corpos macios sobre os quais deslizaria com gosto, barbas fartas, membros pulsantes. Sonho com muitos corpos, menos com o de Theo. Maria Clara me convida para um passeio entres os pelos do seu sexo e eu caminho até o seu clitóris, ora com passos firmes e decididos, ora leve, dedo-ante-dedo. Estou úmida. Minha pele tem um cheiro forte, que Maria Clara não lava.
Maria Clara também sonha sem querer, com amores corriqueiros, horizontes, liberdades e intensidades inclassificáveis; apesar da imaginação não caber no seu cotidiano repetitivo. Maria Clara não pode ter tempo. Vez em quando os suspiros lhe escapam, mas imediatamente são censurados pelas listas de supermercado, pelas camisas à passar do marido, pelo orçamento mais do que apertado da casa. Não sorri nunca, mesmo quando sorri.
O telefone toca. Maria Clara corre para atender como uma fera que avança sobre a presa.  Quem liga nesta data só pode ter a intenção de dar votos de felicidade.
— Alô!
— Alô. Dona Maria Clara Faria?
— É ela.
— Gostaríamos de oferecer um novo cartão de crédito. A senhora tem interesse?
Maria Clara coloca o telefone no gancho sem responder. Cartão de crédito? No domingo? Mal desliga, o aparelho toca novamente. A voz baixinha do outro lado lhe é familiar, mas eu não escuto. Ouço apenas Maria Clara, que diz:
— Oi, Jão tudo bem? Já está chegando? Está tarde, né? Aconteceu alguma coisa? Ah, na casa do Geléia? Você vai dormir aí? Ah, oi! Desculpa... Não, está tudo bem. Não tem problema, imagina, problema nenhum, imagina. Seu pai? Ah! Está aqui assistindo tv. Sim, vou deixar na geladeira,  arroz e  frango. Imagina! Vocês vão ficar em casa mesmo? Problema nenhum. É que sabe filho, hoje é domingo e...
Maria Clara torna a desligar o telefone. Catatônica, fala para ninguém.
— Não esquece de escovar os dentes antes de dormir.
O relógio marca meia-noite. Pelo visto o Theo não vem mais dormir em casa, pela terceira vez nessa semana. Maria Clara pensa em chorar. Há cinco anos ela não chora. Vive entupida de renites e sinusites. Pensa em chorar. Desiste. A falta de Theo e Jão é dor já acostumada. Há quanto tempo será que os espera? Algumas horas? Um dia? Dez anos? Pouco importa. A sua falta é outra. E se é a falta deles (quando é ) é porque não eles vêm nunca e ela sabe. Mesmo quando estão lá.
Ela sente que alguma novidade só atravessará sua vida quando lhe findarem as expectativas. E quanto a isso não há como se enganar. Ou é ou não é. Não adianta fingir a ausência de uma espera, a ausência de uma ausência, simplesmente. A falta de expectativa não está na forma, está na condição. É preciso mudar a condição. É preciso alterar o estado sem nome.
Sem mais nem porque, agarro um frasco com álcool, que desejo derramar sobre os móveis da casa, incendiando a memória e os apegos de Jão e de Theo. Penso em fugir (crime) ou quem sabe ficar (vítima); as labaredas engolindo o vestido e a pele, as cinzas como legado. Eu puniria eles e me puniria também. Mas neste segundo que segue, abandono o frasco, por cautela ou descuido, por culpa ou simplesmente porque não vale a pena. Porque talvez ainda nos dê tempo de vislumbrar outras possibilidades tão óbvias e ao mesmo tempo ocultas de nossa visão embotada; possibilidades reveladas somente no impossível. Quiséramos nós ter uma ideia no ritmo certo da pulsação dos acontecimentos. Ou ainda: quiséramos nós ouvir o incerto e fazer daquilo que escapa à métrica, música experimental.
Conduzo Maria Clara até a escrivaninha. Toco uma caneta vermelha mordiscada na extremidade, mesma cor do esmalte descascado. Escrevo um bilhete breve, deixo sobre a mesa, abro e fecho a porta, vou até a garagem e ligo o carro. Primeiro, o quarteirão da casa; depois, a principal rua do bairro; em seguida, a avenida do Centro e uma estrada sem destino certo. Eu, mão de Maria Clara, giro o volante, no balanço das curvas e buracos, subidas e descidas. Eu, pé de Maria Clara, piso no acelerador. Eu, perna e joelhos e pelos e barriga e olhos e boca, nariz, faringe, saliva, estômago, pulmão, apêndice, cicatrizes, manchas, xixi, resfriado, arrepios; eu, corpos que por aqui passaram, em um abraço desejoso de fusão ou em um esbarrão na fila do banco; eu, corpo-memória dos que vieram antes de mim; eu, corpo-trajeto, em conversa com a cidade, concordando e fugindo das melhores maneiras de sentar, de andar, de concordar, de discordar, de sentir, de fugir, de ser mulher, de ser mãe; cansada de ser isso aí que vocês queriam que eu fosse e que eu quase acreditei; vou embora. No banco de trás, uma muda de roupa e nossas economias, que ficaram lá no cofre, paradas, esperando por uma emergência. Pois bem, esta é uma emergência. Vento no rosto, música alta, futuros possíveis, outros encontros. Na escrivaninha da casa, eu, corpo-bilhete, fico. Preenchido por três palavras manuscritas em vermelho: “me/ sinto/ livre”. Ainda que provisoriamente.

Clarisse Zarvos

Citação — 2º lugar de poesia


para Ana Martins Marques
não vou falar de nós
vou falar da última conversa que tive no elevador
bom dia
o tempo vai virar
imagina no verão
vou falar dos agapantos brancos e lilases
que só dão flor em novembro
e morrem rápido
vou falar da nova receita que inventei
com quinua e passas
ah, eu aprendi a gostar de passas
e não largo mais no canto do prato
para você
vou falar de uma raça nova de cachorro que vi
atravessando a rua para não pisar na sua calçada
um pelo meio desgrenhado
seu cabelo depois do banho
vou falar da poesia que li no livro que ganhei de aniversário
pela idade que você não testemunhou
no jantar que você não foi
e falava sobre uma boa ideia para um poema
quase te achei uma boa ideia
você, uma frase que encontrei num caderno antigo
que achei que tivesse escrito
naqueles dias de tantas horas
e tantos beijos
mas era uma citação
que não era minha  

Luiza Mussnich

O ritual — 2º lugar de prosa


O homem aguardava paciente. Ele apreciava absorto o silêncio da escuridão noturna e se deleitava com a antecipação dos prazeres que ela lhe reservava. De vez em quando, deixava seu corpo fugir ao controle e se retorcia de prazer diante dos pensamentos que invadiam a mente - não as lembranças de todas as outras vezes em que tinha feito isso, e sim a fantasia de como seria a próxima. Era sempre a próxima que importava, porque ela renovava o ritual, dava-lhe novo fôlego.
Eram quinze para as onze. A essa hora, seu Floriano, o único vizinho, já estava dormindo. A esposa acabara de ligar para avisar que já havia chegado ao aeroporto. Dali a algumas horas, embarcaria no voo e estaria de volta em casa. Mas ele não tinha pressa, sabia que estava no controle. E essa capacidade de brincar com a ignorância alheia só o excitava ainda mais. Não pararia nem que quisesse, nem que pudesse. O gozo da onisciência não permitia. Nem o amor pela filha.
Às onze em ponto, a campainha tocou. A moça estava adiantada. Ele se levantou calmamente da poltrona onde estava e foi até a porta. Uma ruiva em trajes mínimos o esperava do lado de fora. A semelhança era inegável, de fato, mas ainda não era ela. Não com aquela roupa de vagabunda, batom vermelho e cabelo bagunçado. Não com aquele sorriso lascivo e olhos fogosos. A garota precisava ser preparada. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa idiota e desperdiçar o tempo dos dois, ele a puxou para dentro, ríspido. Odiava esse primeiro momento em que todas achavam que eram muito sexy e, soberbas, se consideravam ingenuamente capazes de realizar todos os seus desejos, experientes como eram. Não realizariam nem metade e, se ainda assim ele as contratava, não era porque se sentia atraído por quem elas eram – na verdade, delas não sentia nada além de nojo -, e sim por quem elas poderiam ser. A pessoa que elas lembravam.
Sem lhe dizer sequer uma palavra, fez sinal para que o seguisse e a levou até o quarto da filha. Camisola, calcinha e presilha já haviam sido delicadamente colocadas em cima da cama horas antes. Apontando para elas, ordenou que a menina as vestisse e depois o encontrasse na sala. Deixou-a. Foi até o quarto, pegou algodão, papel escortex e o removedor de maquiagem da esposa e sentou-se novamente na velha poltrona da sala. Onze e dez.
Pouco tempo depois, a garota apareceu. A camisola translúcida deixava transparecer seu corpo pálido e fraco, e, durante algum tempo, o homem se limitou a observá-lo de longe. Ele precisava perceber e corrigir cada imperfeição para que nada estragasse o seu momento. Por vezes, essa primeira fase, de análise e exame, podia ser não só extenuante, mas também frustrante. Ele sabia muito bem o que via, não era louco: elas não eram Ela. Ninguém jamais seria, tampouco ele o queria. Porém, já que ela tinha ido embora, que mais poderia fazer além de se contentar com parcos simulacros? Que mais lhe restava além da esperança de satisfazer, ainda que mal, seu desejo insaciável de possuí-la e, depois, naturalmente, extirpar o pecado pela morte? Ele já não tinha opção. Se não continuasse o ritual, se não vivesse e revivesse, ano após ano, aquela noite derradeira, não teria qualquer razão para existir. O desejo, a culpa e o prazer mórbido e fugaz que advinha dessa mistura masoquista dos dois eram o seu combustível. Ela não precisava estar viva para que ele a amasse e, principalmente, não precisava estar viva para que ele dela desfrutasse. Embora, às vezes, fosse fustigado por uma saudade lancinante, sabia que jamais teria coragem de tomá-la em seus braços e dominá-la como fazia com todas as outras e, por isso, preferia-a morta como estava. Intolerável seria olhá-la todos os dias se aproximando cada vez mais de homens desconhecidos, que nada tinham a lhe oferecer, e fingir que o que sentia era apenas um ciúme paternal; e não amor, amor carnal. Não vontade de jogá-la na cama e torná-la mais ainda dele, mais do que já era. Portanto, por mais que elas não fossem Ela, serviam, precisamente porque eram só disfarces, ilusão. E se ele as consertasse e, depois, tirasse os óculos, funcionariam adequadamente.
Desta vez, teria menos trabalho: o corpo da garota era bem parecido com o de sua filha e a depilação íntima havia sido feita exatamente de acordo com o que ele pedira semanas antes. Os seios realmente eram um pouco maiores do que esperado, a altura também, porém nada muito relevante. De repente, ele enxergou o maior problema: o rosto. Aquela maquiagem nojenta de rameira punha tudo a perder, não só porque denunciava a realidade, mas, principalmente, porque blasfemava contra a memória de sua amada filha, pura e maculada somente por ele mesmo. Furioso diante da afronta, avançou sobre a garota e a encurralou em um canto escuro - não aguentava ver aquele sacrilégio -, esfregando o papel em sua boca com toda a força que tinha. Quanto mais batom saía, mais prazer ele sentia. Ainda no escuro, pegou o algodão e o removedor e começou a limpá-la, regozijando-se a cada segundo. Aquele era o momento em que as vadias sumiam e sua filha, sua querida filha, voltava à vida e, encarnada naqueles corpos vãos, deixava-se possuir pelo amado pai. Era o momento em que ela manifestava todo o seu amor e coragem e se entregava a ele, de bom grado. Algo tão vazio e comum como a morte não atrapalharia isso: ela sempre pertenceria a ele, carnal ou espiritualmente. Eram onze e vinte. Quando terminou de limpá-la e tirou os óculos, seus olhos brilharam. Finalmente, era Ela que estava ali, pronta para ser dominada. Deu-lhe um beijo suave e cálido e começou:
— Que saudades de você, meu anjo... Você sabe como eu espero por esse momento, ano após ano. O dia em que você volta para mim...
Como não sabia o que fazer, a garota continuou calada.
— Você deve estar exausta, foi um dia longo, não? Deixa que o papai te coloca na cama.
Emocionado, ele a pegou pela mão e a levou novamente até o quarto. Deitou-a na cama, cobriu-a com o cobertor preferido da filha, e deu-lhe um beijo de boa noite na testa.
— Tenha bons sonhos, meu amor.
Saiu do quarto e fechou a porta. Onze e meia. Ele vestia exatamente o que vestia na noite em que a filha tinha morrido. Desde então, só isso o consolava. Esperou algum tempo até ela dormir e, quando achou que já havia se passado o suficiente, entrou sorrateiramente no cômodo, intacto desde a morte da filha. Venerou-a lá deitada, inocente e desprevenida. Andou calmamente até a cama e passou a mão pelo seu corpo, beijando-o lentamente. Encantado demais para se controlar, entregou-se à arte de reviver tudo aquilo que, durante certo tempo, tolamente tentou esquecer. Deitou-se em cima dela, colocou as mãos sobre sua boca, exatamente como havia feito cinco anos atrás, abriu a calça e se entregou à paixão. A garota acordou e, atendo-se ao teatro pelo qual havia sido paga, fingiu estar atordoada e, logo em seguida, aterrorizada. Começou a se debater e a tentar gritar, porém ele a possuía com cada vez mais força e urrava de prazer. Prazer e dor, prazer e vergonha, prazer e culpa.
Tão logo gozou, olhou para baixo e viu, enfim viu, sua própria filha, aquela mesma que ele ninou, acariciou e levou para escola tantas vezes. Aquela menina que agora o encarava em pânico e escondia suas lágrimas, desejando nunca ter acordado para viver na ilusão de que aquilo havia sido apenas um terrível pesadelo. Tomado pela vergonha, quis poupá-la. Pedindo perdão, colocou as mãos em seu pescoço e estrangulou-a. Ele não a merecia e nem ela merecia aquilo. Portanto, para livrá-la do mal, precisava fazer esse sacrifício e dar-lhe paz. Estrangulou-a por amor e, enquanto o fazia, entre lágrimas e espasmos, reiterava:
— Não se preocupe, meu anjo. Papai está com você. Sempre vai estar.
À meia-noite, ela morreu. A prostituta e a filha.

Bruna Karyne Romeu Fernandez Ribeiro

lua — 3º lugar de poesia


quando o sopro
            das estrelas
        dança
nas suas pálpebras
            van gogh
    e cai
nos seus olhos
           em grãos       
de brilho
     mel
           o mar chora
     lágrimas de lua
(água com açúcar
          e coca-cola)
e um coração
             (qualquer)
     transborda.

Júlia Rabello

A redoma de vidro, de Juliana Lopes — 3º lugar de prosa


            Olhava para o nada do lado de fora da janela, olhava para o tempo surpreendentemente fechado. Desviou seus olhos lentamente das nuvens de chumbo para as folhas das poucas árvores que convulsionavam perto dos postes e, cantando uma música em voz fraca - já estava cantando antes? -, voltou-se para o quarto. Viu a velha garrafa d’água e a máquina de escrever verde, em que nunca conseguira escrever nada. Então olhou os globos de neve. Primeiro, viu o de Veneza. Depois, Paris. Rio. San Diego. Nova York. Rapidamente procurou os outros dois com um sobressalto, como se tivesse os perdido. Aliviada, viu que Disney e Madrid continuavam onde sempre estiveram.
            Não comprara nenhum daqueles bibelôs de que tanto gostava (nem mesmo o do Rio!), foram presentes de amigos e familiares. Observou o Cristo dentro de sua redoma. A torre Eiffel ao lado da Estátua da Liberdade. Uma gôndola e um casal apaixonado. O Mickey vestido de “Aprendiz de Feiticeiro”. Todos lindamente sufocados em suas cápsulas perpétuas. Afogados pela mesma água parada há anos.
            A chuva agora agitava as árvores e cuspia nas janelas. De repente, sentiu-se bem por estar seca e protegida. Com a mesma rapidez, sentiu-se igualmente mal. Queria que o vento a arranhasse e  que a chuva cuspisse na sua cara. Engraçado esse ímpeto, ela não era assim. Mas foi. Nem calçou os chinelos, permitiu-se ir como estava. Antes de ir, no entanto, deixou sua mão libertar os jovens apaixonados da prisão de vidro.
            A chuva entrando pela janela aberta aumentava a poça em que a gôndola finalmente velejava.

Juliana Lopes

Extração de minérios — Menção honrosa


Toda palavra
pedra bruta

Toda palavra
minério explode

jazidas

lavra
até o fino brilho do metal
precioso da terra

[e permanece selada
sem poros – rocha]


Cristina Parga

Cicatriz — Menção honrosa


Para Jorge Hausen
A silhueta sobre a pedra mais próxima do mar, imóvel e solitária, segurava apenas uma vara de pesca. Um pedaço de nuvem se desgrudou do céu e pairou pela atmosfera. A leve brisa acompanhava a dança nebulosa e o balançar das folhas das árvores preenchia o silêncio. O oceano sem horizonte visível comportava-se como um espelho. Suspirou. Tinha os ombros curvados e caídos e, como um borrão de tinta ao acaso, desmanchava-se numa chuva fina e quase inexistente. Segurava um bambu que seguia a curva de seu corpo, uma linha gasta até a água e, por fim, uma isca mergulhada, um pequeno ponto luminoso para que não a perdesse. Enquanto o pequeno objeto oscilava na água gelada, sentou-se por alguns minutos; suas mãos doíam e os olhos buscavam um pouco de repouso. O mar era feito de incertezas.
Quando abriu os olhos, a claridade o cegou por alguns segundos: a vara inclinava-se na direção do mar acinzentado. Era vivo, muito mais forte do que podia imaginar, e debatia-se desesperadamente ainda dentro d’água. A linha era resistente, feita exatamente para peixes grandes como aquele parecia ser. A superfície da água antes calma agitava-se e, puxando com toda sua força, sentiu uma pontada de dor dentro de seu corpo. Puxou um pouco mais e seu estômago embrulhou-se. Sentiu a mente menos lúcida; quanto menor era o pedaço de linha oferecido, mais sua cabeça latejava. Fisgar e arrancar aquilo do mar era como encontrar e extrair de dentro de si a mesma dor de um anzol que deixa um gosto metálico na boca. A mesma dor da ponta afiada cortando e rasgando uma pele frágil e aflita.
Quanto mais puxava, mais doía. Deixou correr, então, um ou dois metros de linha e algumas palavras lhe vieram à mente. Passou a linha por trás das costas e puxou mais uma vez. Sentiu cãibras nos braços e o nylon começou a cortar sua pele já fraca. Queria ver, queria tocar no que lhe roubava as forças. Continuou puxando, mas se sentia cada vez mais tonto e agoniado. Os ombros pesavam, a visão já meio turva, centenas de palavras lhe vinham à mente e cada vez sentia-se mais fraco. Doía a cabeça, mas continuou puxando com as duas mãos. Pôde ver o fim da linha chegando a superfície, o anzol quase para fora e soube que só lhe restava mais uma puxada, a última, e conseguiria. Puxou. Arregalou os olhos, assustado, já sem fazer força alguma, os braços soltos alinhados ao corpo, os ombros ainda mais curvados, a mente absolutamente confusa, os pés paralelos e o joelho que mal conseguia aguentar seu próprio peso.
Sentia-se vazio guardando a produção do dia dentro da sacola sem cor, que deixou para trás quando resolveu ir embora. Seguiu para a pista que o levaria para casa e não ouviu nem o som de seus passos. O vento já não balançava as folhas das árvores e nada preenchia o silêncio. Não pôde continuar. Voltou para as pedras, sentou e pegou no pedaço de pano com as duas mãos. Ouve sua barriga roncar um eco vazio e tenta devolver, sem mastigar, palavras que arrancara de si mesmo. Rasga pedaços de pano sem cor, os engole junto, a saliva com gosto metálico desliza e penetra pela mistura pegajosa de sentido, cheiro espesso de sal, escamas, algas, corais, medusas, cor branca de rima, susto e carapicu. Cospe tudo no chão. É azedo demais.

Laura Chaloub

O açougueiro — Menção honrosa


Tinha aprendido com o tio falecido o ofício: pegava a peça com a mão esquerda enquanto a direita já empunhava a machadinha, sempre afiada. Cortava primeiro as laterais, onde havia mais músculos. Em seguida, com o caminho livre até o centro, o sangue quente escorrendo pela bancada de mármore, metia a mão e arrancava o osso maior. Dalí em diante era mais fácil. Ia cortando em pedaços mais ou menos iguais, e embrulhando em saquinhos plásticos. Os saquinhos eram então pesados na balança adulterada (O que são 100 gramas a menos?) e empilhados na vitrine congelada do pequeno açougue do português.
Para o galego era quase de graça o funcionário: pagava-o com um café com leite e pão na manteiga, um prato de comida e alguns pedaços de carne de 2ª para ele levar para a mãe, uma senhora de 63 anos, mas que achava que tinha 19. De lambuja, ainda oferecia a experiência no serviço, uma grande reputação no bairro e uma promessa de viagem a Braga, onde trabalharia numa futura (e utópica) filial daquele açougue de esquina.
O jovem açougueiro, no entanto, precisava ganhar mais. A sua mãe  viu em uma revistinha dessas de R$ 1,99, que uma máquina de fazer chinelos bordados com miçangas podia render até 10 mil por mês. 10 MIL! Imagina que já no primeiro mês eles poderiam cobrir o preço da máquina, comprar outra e ainda faturar muito mais? Era garantido que até o final do ano pudessem mudar de bairro, comprar um carro, fazer um cruzeiro e ter um poodle de estimação.
 A ocasião para o dinheiro rápido veio mais cedo do que o açougueiro pensava. Numa tarde, enquanto misturava gordura com acém que ia ser moído, o português foi até o fornecedor para revolver uns assuntos. Como alguém que espera a oportunidade certa, um senhor, todo engravatado, coisa rara naquele bairro, entrou no estabelecimento procurando o jovem artista dos cortes de carne.
- Você é o jovem açougueiro com maestria na arte de desossar, cortar e estripar carnes de diversos tipos, daqui deste bairro?
O jovem respondeu um tímido sim. Não havia entendido a maior parte da pergunta do engravatado, mas assimilou as palavras “jovem”, “açougueiro” e “carnes” e entendeu que aquele homem procurava por ele.
- Então tenho uma proposta de emprego para você.
O trabalho era bem simples, mas sujo. O engravatado era advogado de uma organização de matadores de aluguel do bairro vizinho. De acordo com ele, estavam tendo problemas para esconder tantos indícios depois de feitos os trabalhos, o que poderia dar problemas futuros com a lei. Ouviram falar da maestria do jovem cortador de carnes do outro bairro. Daí em diante foram feitas as negociações.
O português teve que se virar sozinho. O jovem apareceu uma semana depois dizendo que não dava mais. O gajo até disse que podia pagar a passagem do moço, mas este estava decidido: iria sair dali e seguir em uma carreira que pagava o quanto ele merecia pelo seu duro trabalho.
Não demorou mais que um mês, e os corpos, previamente embrulhados em papel alumínio e envoltos em grandes sacos pretos de lixo, foram entregues de táxi na casa do açougueiro. O taxista, um russo que  não falava bem o português, não sabia o que carregava e tampouco queria saber: era bem pago para isso e fazer contas era uma língua universal que ele conhecia bem.
Com a vinda do primeiro pagamento, a mãe conseguiu realizar o seu desejo. E como o dinheiro era mais do que ela precisava comprou duas máquinas logo de uma vez, para o lucro ser maior, de acordo com a revistinha. Não sabia bem o que o filho fazia no novo serviço, mas quando este, que lhe poupou de alguns detalhes mais inescrupulosos, contou que foi contratado por uma organização bastante eficiente e importante do outro bairro, ela sentiu orgulho da educação que dera a ele e agradeceu a memória do irmão falecido por ter ensinado a profissão ao sobrinho.
Um acaso no entanto surgiu. Era certo que o jovem carniceiro não tinha problemas no que estava fazendo: era só fingir que se tratava de uma pata de boi, ou um lombo de carneiro e fazer o serviço. Mas o volume do que resultava do trabalho era grande, e estava sendo conservado na geladeira de sua própria casa. O congelador estava agora abarrotado e a mãe por várias vezes se confundia e quase acabava assando a tal “carne proibida” da qual o filho havia alertado para ela não mexer.
A primeira saída de início foi procurar o advogado e contar que os indícios, mesmo cortados, estavam começando a acumular e poderiam levantar suspeitas da tal lei.
- A parte do corte e do armazenamento estão sob sua responsabilidade. Está no contrato que você assinou na cláusula referente aos serviços que irão ser prestados.
O jovem, que não sabia ler, teve que se contentar com as palavras do advogado, que deveria ter razão no que estava falando. Ele era um homem bastante estudado e ainda se vestia de terno e gravata, então deveria ter algum crédito de que falava a verdade.
A máquina de chinelos também não vingou: não demorou muito para a mãe descobrir que chinelos com miçangas não poderiam ser vendidos pelo preço que a revistinha de 1,99 sugeria. Assim, eles acabaram sendo repassados para as comadres e para as irmãs da igreja pelo preço de custo. Agora a casa da família do jovem carniceiro estava com restos de carne para todos os lados e duas máquinas de fazer chinelos encostadas.
A mãe, no entanto, tinha um espírito empreendedor. Cansada das peças de carne espalhadas até mesmo debaixo de sua cama e do cheiro de podre que começa a exalar de algumas partes da casa, ignorou o pedido do filho de não mexer em nada e pensou no que havia lido na última revistinha culinária que comprara. Em dois dias, ela já havia preparado 500 salgadinhos que variavam em rissoles, coxinhas, empanados e empadinhas. Todos com destino certo e pagamento adiantado.
O filho, que andava muito ocupado em negociações com o dono de um terreno baldio com o intuito de fazer a desova das peças, demorou a constatar o que a mãe havia feito. Conseguiu, contudo, parar o empreendimento da mãe antes dela fechar negócio e ser a fornecedora oficial dos salgadinhos da cantina do único colégio particular da região.
A mãe, que teve outro grande empreendimento de sucesso fracassado, comentou com a mulher do português, que era uma velha amiga, o quanto o filho, apesar de estar num ótimo emprego, havia mudado muito desde de que saíra do açougue, e agora criara o hábito de estocar carnes em casa, colocando até mesmo nos vasos de plantas dizendo que era um ótimo adubo natural.
 A esposa do português que não tinha fama de ser uma pessoa reservada, foi logo contar ao marido como andava seu ex-funcionário.  O galego, que andava de mal a pior depois que perdera seu pupilo e    agora vivia a trancos e barrancos com o fornecedor (- 6,99 O KILO DA MOELA? - É a crise portuga!) teve uma ideia e procurou seu ex-açougueiro para lhe propor um negócio.
Depois de 6 meses, o jovem carniceiro, virou um jovem fornecedor. Depois de acertar as contas, ele e seu ex-patrão agora estavam em uma sociedade. O português finalmente conseguiu abrir a filial em Braga, na Rua do Souto, a principal da cidade. A mãe estava orgulhosa do desempenho do filho, e ajeitava as últimas questões para um novo investimento:  uma loja ao lado do açougue do filho, onde ela venderia suas exclusivas criações nos mais variados pontos-cruz, que ela aprendera no último manual da Trico & Crochê.

Judite Cypreste

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vencedores do VII Prêmio Paulo Britto de Prosa & Poesia


Foi realizada ontem no Anfiteatro Junito Brandão, PUC-Rio, a cerimônia de premiação do concurso de prosa e poesia aberto a todos os alunos da universidade. Organizado pelo PET-Letras, recebeu este nome em homenagem ao grande professor, poeta e tradutor Paulo Henriques Britto — um dos padrinhos do jornal Plástico Bolha. Os textos vencedores de cada categoria vocês conhecerão ao longo dessa semana, aqui, no Blog do Bolha!

Segue a lista com os nomes dos vencedores do Prêmio Paulo Britto de Poesia & Prosa:
  

PROSA
1º lugar: Clarisse Zarvos. Texto: A casa queima
2º lugar: Bruna Karyne Romeu Fernandez Ribeiro. Texto: O ritual
3ª lugar: Juliana Valadão Lopes. Texto: A redoma de vidro

POESIA
1º lugar: Maíra Fernandes. Texto: Tireoide
2º lugar: Luiza Mussnich. Texto: A citação
3º lugar: Julia Rabello Ferreira Alexandre. Texto: Lua



Menções honrosas
PROSA Laura Chaloub. Texto: Cicatriz
PROSA Judite Cypreste. Texto: O açougueiro
POESIA Maria Cristina Amorim Parga Martins. Texto: Extração de minérios

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Cerimônia de premiação VII Prêmio Paulo Britto de Prosa e Poesia + Festa no Calé


Convidamos a todos para a cerimônia de premiação dos vencedores da 7ª edição do Prêmio Paulo Britto.
Teremos a leitura dos 6 textos vencedores - 1º, 2º e 3º lugar de prosa e de poesia - e um coquetel no final.
Este ano, os apoiadores são Jornal Plástico Bolha (publicação em jornal impresso e mídias); Estação das Letras (um curso gratuito na instituição para os primeiros lugares); Carga Nobre (vales-compra); Editoras Rocco (livro), Organograma (Antologias de prosa, para os vencedores na categoria prosa, e poesia, para os vencedores na categoria poesia, do Plástico bolha) e Zahar (livro).
Após a entrega dos prêmios teremos a comemoração de 10 anos do Calé e do Jornal Plástico Bolha na casinha de Letras. Vai ficar de fora dessa?
Esperamos você para um término de ano cheio de Literatura! Emoticon smile

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