sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lançamento do livro do PB — quinta-feira!

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Na livraria Ponte de Tábuas: rua Jardim Botânico, 585 - às 19:30

Até lá!
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

as considerações, um texto de Carlos Gomes

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as considerações sobre essa passagem conturbada do tempo que acelera de modo não sincronizado as batidas descompassadas de alguma parte confusa de outra parte de qualquer outra sensação que vaga que vaga que vaga, a tentativa dissimulada de poema ainda é possivelmente a minha única motivação sincera nesses meses em que os filhos foram por aquela porta nunca trancada, que chaves, meu deus, que chaves?
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Carlos Gomes
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Carlos Gomes é nosso leitor do Recife e prepara sua estreia literária com o livro corto por um atalho em terras estrangeiras. Envie também o seu texto para jornalplasticobolha@gmail.com.
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Café com Letras: Ondjaki e Roger Mello na UERJ

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Plástico Bolha no CEP 20000 — HOJE!!!

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ESPAÇO CULTURAL SÉRGIO PORTO

(rua humaitá, 163 – fundos)

quarta, 27 de outubro – 20:30 – 5 reais.

DOMINGOS GUIMARAENS

MARIANO MAROVATTO

GABRIELA MARCONDES

MARCELO SORRENTINO

ANDRÉ CAPILÉ

AUGUSTO GUIMARAENS

MÁRIO CASCARDO

ESPAÇO PLÁSTICO BOLHA

AVE MARIA: ENCARNAÇÃO DA POESIA

MAURO REBELLO, MILLA TALARICO,

DADO AMARAL E LUCAS VIRIATO

ARTES CÊNICAS DA PUC

DIREÇÃO: CAÍQUE BOTKAY

CONVIDADOS SURPRESA

CEP 20.000, A POESIA

PROPRIAMENTE DITA

cepgalinha.jpg

apoio

Prefeitura do Rio

E AINDA:

Lançamento da Antologia de Prosa

do Plástico Bolha

Dia 4 de Novembro

19:30

Livraria Ponte de Tábuas

R. Jardim Botânico, 585

201 — peça teatral no Sérgio Porto

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

APARTAMENTO (Natureza-morta), um poema de Victor Heringer

Ludo-
-casa se desloca em blocos.

Os dados na mesa -- herança dos
lados que assumi -- dão sempre ímpar.
É assim que se decide o chão.

Sapatos & chinelos nus
fazem os passos de quem os estacou ali
e foi dançar sozinho (o mesmo de sempre:
dois pra lá pelas uvas, pão e café amargo;
dois pra cá pela rotineira qualquer coisa).

O pó acumulado no canto (em afinações
de escombro -- memento homo,
quia pulvis es) diz que tudo está bem.
Que a ordem é de queda e reentrâncias:
a quarta dimensão é a solidária gravidade.

Só as paredes são felizes,
desmoronadiças, em ânsias de cubismos.
Cada toque em seus interruptores é preparação
para o tombo. Baixo meretrício
violado por dedos de luz última.

E o teto debatendo a retirada possível.

Victor Heringer

domingo, 17 de outubro de 2010

Transtorno obsessivo compulsivo, por Mia Vieira

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A estrofe transtorna o vento do sono
Encanta o mistério sem calma dos rumos
...
Amoral, esta inércia periódica
Sem tempo, este espaço é catástrofe
No devaneio fúnebre, em que o sonho contorço
Registro o encontro no agora
Esmago o continuo a pressa
Libertino em cadência

A esperar, enferrujo o âmago selva
Sangra coragem a carne
Perpetuando-se pedras
Torno-me
estranha do caos e ausências

Pelas pérolas brutas
Escorrem sílabas
Agonizam rimas
Do meu corpo em consumo
Orgasmo o tédio em tudo.

Mia Vieira

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Surdos de Arrombalândia, por Gabriel Matos

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Uma festa divertidíssima. Uma finesse. Uma educação. Eu queria que vocês pudessem escutar o silêncio que eu presenciava ali. As mãos mais falantes que eu já conheci. As gargantas mais silenciosas que eu já ouvi. As gargalhadas mais ruidosas e interessantes que eu já ouvi. Gente fina e civilizada é outra coisa. Não é que nem eu e outros aí, que nos proclamamos Homens de/a Cultura mas temos abobrinha e outras agriculturas no cérebro. ó! Que saudade.
No meu último sonho, havia um horário eleitoral surdo.
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— Instalamos dezenas de telefones públicos para os deficientes auditivos — diz o Tucano.
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— Instalamos closed caption em todas as novelas mexicanas — vocifera a Macaca, ou melhorzíssimo, o Macaco-Fêmea.
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— Instalamos uma lei onde todas as empresas de telefonia móvel terão de estar lançando aplicativos para amparar os portadores de deficiência física, visual, sonora, olfativa e gustativa — proclama a Baleia Azul.
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O despertador de luzes coloridas... dESperTA. Acordo. Graças ao meu Papai Noel, em cujo sapatinho havia uma nota. Não foi sonho; foi uma aparição demagógica. Obrigado, Bom Velhinho.
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Eu queria uma festa. Uma festa divertidíssima, com nuvens de algodão-doce. Um templo de surdos-mudos onde eu pudesse moodar o mundo e suas onomatopeias. Vou me candidatar à lista do SurdosOL, a rede social de surdos On-Line, e prometer uma educação de fato inclusiva, onde os ouvintes se incluam num mundo irado que nem o dos surdos.
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Um cachorro-quente, por favor.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

caymmi revisited — poema de Fred Coelho

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O mar não quebra na praia.
Quebra dentro da minha cabeça.
A onda explode em meu peito-pulmão
E sorrindo solto a fumaça:
Verão.

O Corpo
Perfeito se estica
E a linha da pipa
Realça os contornos,
Adornos de morros:
Granito que grita.

O mar
Quando quebra na praia
É um mito.
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Fred Coelho
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Nosso amigo Frederico Oliveira Coelho é doutor em Literatura pela PUC-Rio, trabalha no MAM e já publicou diversos textos no Plástico Bolha, entre eles o Manifesto Sampler e um texto sobre o negro na música brasileira para a coluna Por dentro do tom, organizada por Santuza Cambraia Naves. Agora ele também estreia na poesia, aqui no Blog do Bolha e com outro inédito na edição #29.
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terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Antes de você acordar, por Ivan Cunnha

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Antes de você acordar
Queria poder fechar os olhos
E cair
Antes de você acordar
Queria ser Deus
E arder

Antes de você acordar
Queria engolir minha paz
E soltar bombas

Antes de você
Seria mais fácil não ser
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Ivan Cunha
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Revista Escrita - número 11

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Uma nova edição acaba de ser lançada, com artigos, resenha e conto dos alunos de pós-graduação em letras da PUC-Rio e de outras universidades.

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Neste número:

LITERATURA

. Kelvin dos Santos Falcão Klein (UFRGS)
Ficção como suplemento da história e voz do corpo: O caso Herta Müller

. Carla Victoria Albornoz (PUC-Rio)
Infância roubada: Os meninos-soldado a partir de uma leitura de Feras de lugar nenhum de Uzodinma Iweala

. Julieta Yelin (UNR-Argentina)
Escribir animales: Sobre las pequeñas prosas zoológicas de Juan José Arreola y João Guimarães Rosa

. Livia Grotto (Unicamp)
A segunda história de Respiración artificial

. Carolina Donega Bernardes (UNESP)
Entre a autoria e a redenção: Abordagens críticas acerca de Nikos Kazantzakis

. Maximiliano Linares (UNR - Argentina)
Por uma antropofagia contrapunteada: Oswald Transculturado

. Paula Aguilar (UNLP - Argentina)
Ciudad Letrada y dictadura: Los espacios em Nocturno de Chile, de Roberto Bolaño

. Milena Mulatti Magri (UNESP)
Revisão da história e testemunho no conto “Os sobreviventes”, de Caio Fernando Abreu

. Tiago Leite Costa (PUC-Rio)
Autonomia ou engajamento: A função da arte em Walter Benjamin e Nelson Rodrigues

. Isabel C. F. Auler (PUC-Rio)
As memórias de Carlos Lacerda: “só sei que não vou por aí”

. Maria Alessandra Galbiati (UNESP)
Consciência literária e posicionamento político no processo de composição de The voyage out, de Virgina Woolf

LINGUÍSTICA

. Marcia Vieira Frias (PUC-Rio)
Auto-retrato do presidente Lula: Narrativas pessoais com estratégia de construção de identidades em discurso político

. Bruno Bimbi (PUC-Rio)
Em torno da palavra matrimônio

. Cloris Porto Torquato (Unicamp)
Políticas lingüísticas, linguagem e interação social

. Janete Maria De Conto (UFSM)
Atores sociais e ações sociais em crime infame: Sobrevivi... posso contar

. Cinara Monteiro Cortez (PUC-Rio)
Gêneros e PCNS: Uma reflexão sobre os pressupostos teóricos e práticas pedagógicas no ensino da língua portuguesa

. Hellen Cristina Picanço Simas (UFPB), Regina Celi M. Pereira (UFPB)
Desafios da educação escolar indígena

RESENHAS
. Luciana Tiscoski (UFSC)
Personalidades postiças do eu: Uma leitura da Falsa memória, de Silviano Santiago

VERSO E REVERSO
. Davi Pinho (UERJ)
The Flowered Apron
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domingo, 3 de outubro de 2010

Evento Turbilhão Poético em Laranjeiras!

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Eleição — por Gustavo Paes

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X X X X X X X X X 1
Vote em mim! Não tenho voto nenhum,
Pois não sou um candidato comum!

X X X X X X X X X 2
Vote em mim! E se me esqueça depois...

X X X X X X X X X 3
É pela primeira e última vez...

X X X X X X X X X 4
Vote em mim! Eu já fiz muito teatro!

X X X X X X X X X 5
Já que não minto, pelo menos brinco...

X X X X X X X X X 6
Vote em mim! Eu nunca fui de xadrez!

X X X X X X X X X 7
Eu darei, de graça, videocassete...

X X X X X X X X X 8
(Quem não votar em mim eu só açoito...)

X X X X X X X X X 9
Só não faço chover onde não chove!

X X X X X X X X X 0
Ó, “mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero”!
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Gustavo Paes
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sábado, 2 de outubro de 2010

O Começo do Fim, texto de Carla Mühlhaus

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Li no jornal outro dia que o filósofo italiano Giorgio Agamben acredita que, para enxergarmos o presente, não podemos estar totalmente imersos nele. Não sei se é preciso ser filósofo para saber disso. Hilda Hilst e Duchamp também sabiam essa como ninguém. Eu não sou artista nem filósofa e nem muitas outras coisas, mas confesso que já desconfiava. Não podíamos passar sem essa piada, não seria coerente. Nossos roteiristas são muito criativos e se entediam facilmente. A vida precisa ser mais difícil.
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Devo seguir na contramão do italiano, no entanto. Decidi mergulhar no presente e tentar entendê-lo, tarefa que foi sempre muito difícil. Principalmente lendo os jornais todos os dias pela manhã, misturando cafeína com o chumbo das manchetes chicletes. Manchete chiclete é aquela que faz uma pastinha puxa-puxa com o cérebro e nos dá de aperitivo o gostinho de saber do que se trata. Mas a comida é sempre falsa, não tem nada de autêntico e ainda corrói os dentes por dentro sem que a gente perceba – quando menos se espera, comendo um trivial pãozinho pela manhã, eles caem sem a menor cerimônia. E antes de você se desdentar é um tal de kani se fazendo de lagosta, jaca virando estrogonofe de frango e tantas outras contrafações que vocês não seriam capazes de imaginar. Essa do estrogonofe de jaca é coisa de vegetariano e as intenções são até boas, mas vai dizer isso para o estômago.
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Vejamos. Li também que um historiador inglês disse que, a não ser que mudemos algumas coisas, estaremos no Começo do Fim. Não sei bem de que coisas ele estava falando, mas sem dúvida o aquecimento do planeta devia estar incluído. Ao que tudo indica nossas próximas gerações vão viver num grande e redondo microondas, portanto a preocupação me parece legítima.
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Também houve quem dissesse que vivemos uma época de indiferença em relação ao pensamento. É que a velocidade da revolução tecnocientífica é tão grande que o pensamento simplesmente não consegue acompanhar as transformações. Isso é o que sempre digo quando querem me empurrar uma novidade tecnológica. Quando finalmente consigo ler o manual e aprender as funções básicas do novo e milagroso aparelho-feito-para-facilitar-a-vida, ele já está obsoleto há tempos. Então sobra o problema do descarte, de onde jogar fora bateria. E ninguém diz como varrer os neurônios que vão caindo pela casa. Esses ficam lá, grudados no rodapé, pedindo um aspirador de última geração, daqueles que desintegram os ácaros e de brinde esterilizam sua aura. Custam 5 mil reais, podem ser pagos em dez prestações e você ainda concorre a uma expedição antropológica a uma comunidade Amish.
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Tive um professor que dizia estarmos vivendo uma época de puro empilhamento de objetos. Ele disse isso há mais ou menos uma década, então é plausível acreditar que hoje o empilhamento cutuque a estratosfera. Lembro de um romance que li na adolescência e do qual não recordo o título (esses são os que mais ficam): era a história de uma mulher que queria largar tudo, família e mobília. Num desejo irrefreável de viver apenas com o peso de uma mala de mão, ela passava os dias colocando as cadeiras da sala de jantar na calçada, com a esperança de a coleta levá-las. Nunca manifestei tanta solidariedade por um personagem. Eu era só uma adolescente cheia de espinhas mas sabia exatamente o que aquela mulher estava sentindo. Não me lembro, mas quando acabei de ler o livro devo ter arrumado o meu quarto. Devo ter jogado muita coisa fora, mas a vontade mesmo era de que tudo evaporasse no espaço. Minha mãe deve ter ficado feliz e concluído que eu estava amadurecendo. De certa forma ela tinha razão. Sobrou-nos isso de muito humano: ainda é com angústia que amadurecemos.
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Minha angústia é razoável e portanto imagino que minha idade interna esteja pra lá dos 50. Camuflada no corpinho que ainda resiste nas aulas de yoga está uma velha encarquilhada, enrugada e rabugenta. Dizem que os idosos acordam cedo, mas essa velha acorda tarde e mal. Ao meio-dia ainda está ruminando as manchetes. Um problema esse das manchetes. Foi por isso que ela decidiu largá-las e estudar outras fontes. Foi aí que ela começou a vasculhar melhor o presente. Pobre velha.
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Antes disso, antes de arranhar a garganta: quando percebeu que o poder das manchetes era algo tóxico, como os psicólogos americanos adorariam falar, pensou num experimento social. Ligou para um amigo diretor de TV e sugeriu que dois voluntários, alfabetizados mas não muito cultos, mundanizados mas nem tanto, atentos mas não alertas, topassem a seguinte experiência: que viessem para a cidade grande e ficassem sozinhos, cada um numa casa, por um mês. O voluntário 1 teria à disposição, como fonte de leitura e portal para o mundo, apenas um determinado jornal. O voluntário 2 não teria acesso a esse jornal, mas poderia usufruir de revistas culturais, artigos científicos e o melhor da literatura brasileira. A idéia inicial proibia a televisão mas como a idéia estava sendo passada a um diretor de TV, a velha achou por bem incluí-la na rotina. Duas horas de televisão liberadas por dia, desde que fossem cumpridas as duas horas de leitura obrigatórias. A escolha do que ler era livre: o 1 poderia escolher qualquer seção do jornal, enquanto o 2 poderia escolher qualquer livro, revista ou artigo. Cumprida a única obrigação do dia, ambos eram liberados para sair às ruas e conhecer a cidade. Também seria permitido conversar com quem bem quisessem. Ao final do dia, eles dariam suas impressões. E assim seria possível comparar as diferenças de visão de mundo entre o voluntário dependente das manchetes e o voluntário de repertório mais generoso.
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A idéia foi considerada esdrúxula, o amigo diretor de TV nunca mais convidou a velha para seus aniversários na cobertura e ela nunca pôde saber qual seria o resultado do experimento. Mas tinha a certeza de que seria o melhor BBB de todos os tempos.
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Carla Mühlhaus
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