segunda-feira, 25 de julho de 2016

Canto fúnebre e escalafobético


Quando atirastes em teu próprio crânio
e teus miolos se espalharam pelo chão,
pude ver os personagens dos teus escritos
levantarem-se lépidos e ganharem vida,
limpando, com displicentes piparotes,
restos de substância cinza e branca,
acopladas às tuas lindas roupas
e provenientes do teu cérebro esfacelado.

Quando atirastes em teu próprio crânio
e teus miolos se espalharam pelo chão,
pude ver os fatos e feitos dos teus estudos
(dos teus longos e exaustivos estudos)
alinharem-se bem perto do furo da bala
para, finalmente, poderem ser apreciados
e devidamente aquilatados
por toda a Humanidade.

Quando atirastes em teu próprio crânio
e teus miolos se espalharam pelo chão,
por via do rombo que te fez a bala de calibre grosso,
o sangue que jorrou da carne castigada
acabou por afogar teus clamores e tuas dores,
que permaneciam obscuros,
bem no fundo da ferida escarlate do teu cérebro.

Quando atirastes em teu próprio crânio
e teus miolos se espalharam pelo chão,
teus planos e teus sonhos afloraram à grande brecha
que a bala cavou no lado da tua cabeça
no afã de saírem todos de uma vez,
em louca revoada,
fugindo do catre em que estiveram confinados
durante toda a tua longa vida.

Quando atirastes em teu próprio crânio
e teus miolos se espalharam pelo chão,
a luz se apagou para sempre em teu olhar,
teus lábios se abriram num sorriso irônico,
e assim permaneceram engessados.

João Luiz Azevedo

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Em memória de Elaine Freitas


O Plástico Bolha acaba de ser informado sobre o falecimento da querida poeta Elaine Freitas. Professora, militante cultural, escritora e amiga do PB de longa data, foi participante assídua do Sarau Labirinto Poético de Lucas Viriato. Sua ausência será sentida assim como o foram seus poemas e sua importante voz.


Dentro da noite

Eu tenho todas as cores do entardecer
em pinceladas de céu
para inventar horizonte.

Olho a tela, crio o onde
de riso e mel,
arruda e dendê.

Eu sei o caminho porque vou com você
levando o tonel
com coragem da fonte.

Elaine Freitas


segunda-feira, 18 de julho de 2016

um corpo


O corpo quando morto
deixa de ser corpo
para ser corpo nulo.

Como um tiro
atirado no escuro.

No corpo haverá algo a mais
e no mais haverá um corpo a menos.

Um corpo quando morto
deixa de ser corpo
para ser lembrança.

e durará insípida
no tempo mínimo
de vida

das coisas.

Felipe Andrade

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Criatura, de Laura Bergallo




Uma aventura fascinante dentro do vídeo game: um gênio de 15 anos enfrenta sua criação num jogo sobre mitologia grega. Quem sairá vencedor?
 
Lançamento no dia 17/07, domingo, às 16h, na Livraria da Travessa Botafogo - RJ

Jogos virtuais já fazem parte da vida de jovens em todo o mundo e as tecnologias de criação de games ficam mais sofisticadas a cada dia. É o sonho de todo gamer imergir de corpo e alma dentro da história e vivenciar as aventuras do personagem que ele controla. Mas já imaginou se realmente pudéssemos nos transportar para dentro do jogo?

Em A criatura, da Escrita Fina Edições, a escritora Laura Bergallo traz uma história fantástica na qual nos apresenta o protagonista Eugênio Klaus, um adolescente de 15 anos, muito inteligente e muito arrogante, capaz de produzir jogos complexos que são sucessos de venda. E para testá-los, o rapaz cria um personagem virtual para ser seu adversário.

Esse é Loser, criado para disputar qualquer tipo de desafio com seu criador. Apesar do nome, ele não existe para perder, ele é programado para vencer em qualquer desafio, porém Eugênio sempre se sai melhor e se vangloria incessantemente disso.  Um dia, no entanto, Loser inexplicavelmente ganha vida e desafia Eugênio para uma disputa dentro do próprio computador.

O personagem virtual, cansado da tirania de Eugênio, lança a aposta: se seu criador o derrotasse, ele seria deletado para sempre, mas, se Loser vencesse, Eugênio teria que deixá--lo visitar o mundo real.

Com a ajuda de uma tecnologia inovadora, Eugênio viaja para o mundo virtual e fica frente a frente com sua criação. A partir daí, eles entram numa disputa para ver quem é o melhor num jogo que envolve a mitologia grega. Eles dão de cara com Zeus, Atena, Poseidon e enfrentam a temível Medusa, o feroz Cérbero e o poderoso Minotauro em seu labirinto.

Com a capa de estreia da promissora ilustradora Juliana Pegas e o design singular do Estúdio Versalete, A criatura leva o leitor a mergulhar nessa fascinante história e ainda o faz se posicionar a favor de um dos personagens antagônicos. E você? Por qual deles torcerá?



Trecho do livro
  
Assim que se viu sozinho, Eugênio tratou de encher até a boca o pote de água e a tigela de ração do Chip, pois desconfiava de que demoraria a voltar da aventura virtual em que ia se meter.

Depois foi correndo para o quarto, seguido de perto pelo cachorro. Estava ansioso para experimentar o Greeks. Ligou o computador e acionou o Loser, que logo apareceu na tela com aquele seu velho olhar gelado.

– Tudo pronto? Podemos começar?
– Está louco para se ferrar, não é? Olha que ainda tem tempo de desistir.
– Desistir de conhecer o mundo aí fora? Nem pensar. Eu quero muito essa chance.
– Bom, é você que tá escolhendo. Depois, não vale reclamar.
 
Com gestos lentos e coração acelerado, Eugênio enfiou num drive do computador o cd do cibertransporte e digitou a senha no teclado. Em outro drive introduziu o cd do Greeks e colocou o jogo para carregar. Em seguida, pôs o capacete e apanhou sobre a mesa o controle remoto.

– Está esperando o quê? – provocou Loser, notando a hesitação.
 
O garoto olhou para o personagem com desprezo e se ajeitou melhor na cadeira. Despediu-se de Chip, que o fitava com o olhar comprido, respirou fundo para tomar coragem e apontou o controle para a própria cabeça. Então apertou com firmeza o botão azul e a tecla trip.


A escritora

Amante da tecnologia, Laura Bergallo já publicou 23 livros em sua carreira (inclusive nos EUA e França) e já ganhou diversos prêmios, dentre eles um Jabuti em 2007 na categoria livro juvenil. Ela também é jornalista, publicitária e editora de publicações científicas.

Título: A criatura
 Escritora: Laura Bergallo
 Páginas: 128
 Dimensões: 14x21cm
 ISBN: 978-85-5909-002-4
 Preço: R$ 34,40
 Dimensões: 14x 21cm

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Serviço Lançamento:

Data: 17 de julho, domingo
Horário: a partir das 16h
Local: Livraria da Travessa Botafogo
End: Rua Voluntários da Pátria, 97 – Botafogo – Rio de Janeiro

Telefone: (21) 3195.0200

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Homo ex machina


O espaço acima da história,
a velocidade acima do tempo,
o ímpeto acima da memória.

Um corpo morto já não é gente.
Um corpo é agora
inenarravelmente apenas um corpo morto;
apenas um morto,
apenas um corpo,
apenas um pedaço de silêncio nos trilhos,
um negrume, um bloqueio
ao que está sempre livre
no ranger de dentes do tempo.

Um corpo morto esteve nos trilhos
sem nome ou expressão de fome.
Um corpo existiu nos trilhos trincados
até ser dilacerado
pela supremacia da máquina.
Um corpo esteve nos trilhos
até ser moído
pela supremacia do homem
sendo menos homem
e mais máquina.


Jenifer Saska

segunda-feira, 4 de julho de 2016

o centro do furacão


Gosto das rachaduras
na faixada dos prédios.

Das raízes da
árvore que destrói
a calçada.

Das pichações
atrás do banco do ônibus.

Gosto do adesivo
de prioridade que
descola da parede
opaca do metrô.

Da boca do lixo
e do bueiro entupido.

Do chiclete preso
ao mundo subversivo
embaixo da mesa de centro.

Gosto do centro oculto da Terra.
Gosto do centro oculto do outro.
Gosto do centro oculto do Centro
nos finais de semana.

Dos seus olhos
          das suas rugas
          dos seus pelos
cabelos desgrenhados
          dos seus gritos
          espirros
conversas aleatórias.

Até mesmo do cochicho daqueles
que hão de me empurrar
os ombros para trás
como uma onda de carne e ar
que me impede o futuro.

Escrevo sobre a cidade
porque não conheço o paraíso.

A parte mais calma do furacão

é o lado de dentro.

Felipe Andrade