quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ode à bicicleta


O frio me empurrou pra frente
Como fez a vida
a sua censura
e a dela
Sair do chão me deu ar...
lúdico.

Triste inferno trajado de civilidade.

Não fui por shortcut
Morte à praticidade!
Pode tornar-se invisível, o prático,
a sentir a imensa vantagem
de aguardar na linha de chegada,
invicto e invisível.

Alline Pedrotti

terça-feira, 29 de abril de 2014

Hélice


Os dias únicos
O rumor das horas
O trançar de ponteiros
As promessas desfeitas

O que nos escapa
Dá ao tempo fatias
Nos intervalos
Acontecemos

Marcos Gonzaga


Marcos Gonzaga é leitor-colaborador da cidade de Itabirito - MG.

Sinto, cinto, recinto


Sempre que impossível
Procuro no céu da minha boca
Os cometas que me atravessam
As luas que me iluminam
Os sois que me ardem
E os raios que rasgam.

Carolina Gonçalves

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O caderno de poemas e o velho espanhol


Sempre gostei de fingir que escrevia poemas. Na verdade só havia um caderno com rabiscos da adolescência. Nada demais! A adolescência nos traz bons questionamentos, mas não é nada demais. Nem completo estava quando, num dia de fúria ignorante, foi para o fogo junto outros objetos dispensáveis da casa, que passava por uma mudança. Um dia depois eu me achei dispensável. Porém, não havia nenhum pensamento de atear fogo ao próprio corpo. A gente se conserva, não é mesmo? Alguns anos depois, ouvi num filme de Woody Allen sobre um velho espanhol que nunca publicava seus poemas, alegando que o mundo não merecia a sua arte, sobre sua desilusão com a humanidade etc. Nunca concordei, mas sempre me pareceu uma boa justificativa. Ri bastante quando o ouvi dizendo! Quem sabe um dia eu escreva poemas decentes?! Quem escreve se arrisca: a sorrir de si mesmo; galantear; ludibriar; inspirar; perder o fôlego ou a fé; receber um beijo ou um soco... Aquele velho, até onde sei, compreendia o valor das artes e do amor, no entanto, aparentou um humor mórbido. O que estaria fazendo ali, isolando-se entre seus poemas e quadros? Ele também tinha um belo sorriso. O que conclui, afinal, depois do filme: maldito o dia [aquele] em que o caderno virou cinzas. Maldito o dia que ouvi sobre aquele velho. Aquela era a minha arte. Pobre em imaginação e valor, mas, pelo menos, minha. Pensando bem... o velho também reprovaria o meu ato.

Jhobert Abreu


Jhobert Abreu é leitor-colaborador de Paço do Lumiar, São Luís, Maranhão. 

Minha salvação


Estava eu estilhaçada
muito magoada
Ele avançou e falou:
— Dança comigo?

Eu disse não, mas ele tinha determinação:
-Ah, mas vai dançar sim.
E assim, começou
Me embrulhou, me acolheu
Me segurou, me envolveu

Estava eu encantada
muito assustada
Ele me soltou e falou:
— A música acabou.
E completou:
— E aí, doeu?

Eu disse não, com um pouco de irritação.
— Mais uma vez, então, por favor.

E assim, recomeçou
Me embrulhou, me acolheu
Me segurou, me envolveu
A música parou
Mas ele
nunca mais me soltou

Estava eu estilhaçada
muito magoada
E ele apenas avançou
A gente apenas dançou

Estava eu estilhaçada
muito magoada
e a determinação dele
me salvou
me levou de volta
para o amor
...



Carla Vilardi tem outro texto publicado recentemente no blog do Plástico Bolha. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Poema 37


vagamente se conhecem no
elevador aqueles rostos não são
estranhos um sorriso se desenha em
suas faces rosadas do calor que faz
lá fora e ela diz bom dia timidamente
ele responde com um suave movimento de
cabeça mal poderiam imaginar que se
conheciam de muito tempo atrás quando
eram crianças a brincarem naquele
parque que agora está abandonado ali
na frente do mesmo prédio espelhado que
antes não passava de um terreno
vazio onde o mato crescia sem limite
e a chuva caía e o cheiro de chuva e
mato molhado os fazia rir naquele
calor todo mas agora a porta abre
e a moça desce ainda com um sorriso
e ele se olha no espelho e pensa que
deve tê-la confundido com alguém
outro qualquer

Giovani Kurz


Giovani Kurz é leitor-colaborador da cidade de Curitiba - PR.

Poeminha canino


invejo mesmo
é o meu cachorro
que sequer
sabendo
que é um
cachorro
somente
deita e rola
balança o rabo
sabe a que veio
sem se perguntar
de onde e por quê.

Ulisses Borges

quinta-feira, 24 de abril de 2014

J'


Chez moi no espelho,
avec autre
nous autres
sans autre.
Mari sans Mari.
"a vida é rarefeita em qualquer lugar"



Naiara Barrozo tem poemas publicados nas edições #30 e #33 do jornal Plástico Bolha.

Sentires e falares


Para que palavras se existem sentimentos?dizem alguns

Para que sentimentos se existem palavras? retrucam outros

Sentimentos calam no coração, palavras deslizam ao vento

Palavras saem das bocas, são ouvidas, são registradas em papel, pergaminho, paredes

Sentimentos não combinam com registros racionais

Palavras são sempre fluentes, convincentes, inocentes, repetentes

Sentimentos jamais se repetem jamais, são sempre inocentes sempre

Palavras a gente muda o tempo todo, o tempo a gente não muda tempo nenhum

Sentimentos são como flores bordadas num pano de prato, tão belas que parecem enfeites do coração

Palavras conhecem caminhos, decoram labirintos, descobrem descaminhos

Em que momento o sentimento fez da palavra sua expressão?

E como as palavras se tornaram a voz do sentimento?

Desentender mistérios é o que faço

Não me interessam as lógicas, as métricas ou as certitudes

Me encantam as  incertezas, porque as certezas desencantadas estão

Gostam de mim as inteirezas, porque metade é meio, divide, corta

Porque sentir tem sentido, saber tem gostar e gostar não tem palavras.

Priscila Beraldi


Priscila Beraldi é leitora-colaboradora da cidade de Brasília - DF. 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Caminhante


Esse aroma de estrela
Que vem de cima
Vem de cima e cai
Cai para me golpear

E mais a noite
A noite anota
E por de cima da copa

Nas raízes
Se deposita
Calma e pesada

O cheiro faz sombra
Seu ruído assombra
Constelações conspiram
E giro quieto
Um espirro mudo

Espio o mundo
E sua máquina oscilante
Canta a redenção dos mortos
Promete iguarias sem iguais
Finalmente

Ao cabo
No reino da igualdade
Aportados

O passo apazigua o caminho
Antes não visto

Eis a marcha

Continuar apenas
Sem menções a
Seivas e monções

Moldar o mundo
Com rasteiras
Pisadas
Que tão logo
Na noite se precipitam

Gustavo Chataignier Gadelha

Gustavo Chataignier Gadelha tem outros textos publicados no blog e no jornal Plástico Bolha! Confira!

No mundo de Cristina


um moinho se move
sem uma vez sequer
tirar os pés do chão.

mói
mastiga
tempo
semente
grão

e dentro dele
um rio de desejo quer
fazer do que é só vento,
pão.

Victoria Reis

quinta-feira, 17 de abril de 2014

PB contra o golpe — a poesia e o silêncio




Como parte de uma série de eventos planejados pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro para relembrar criticamente os 50 anos do golpe militar no país, o jornal Plástico Bolha convida você para o evento Plástico Bolha contra o golpe — a poesia e o silêncio. Serão apresentadas intervenções poéticas e musicais com a participação do grupo Movimento Territórios Diversos, do escritor Lucas Viriato e do músico Rodrigo Leite Pinto.

O evento ocorrerá na Biblioteca Popular da Tijuca, na rua Guapeni n˚61, das 15h às 17h.

Esperamos todos lá!!

Um pouco mais que um milhão de dólares


Uma mesa simples próxima da janela, quatro cadeiras, uma garrafa vazia e outra pela metade. Cachaça barata. Praticamente um litro e meio e não sentia efeito. Ele sentado no chão encostado na parede e a mala com os dólares, mais de um milhão, encostada na parede oposta. Como se o encarasse.

Devolver e eximir-se da culpa ou fugir com o dinheiro? E se ao fugir for preso?

Definitivamente, ou não, estava mergulhado em dúvidas. Definitivamente por que não via saída. Mesmo que ela existisse.

Mas, bolas, o que o incitou foi o fato de que a velha disse que não tinha herdeiros. E que se sentindo cansada e próxima da morte iria doar a pequena fortuna para alguma instituição de caridade. Ouvindo isso, ele foi ao banheiro, encontrou calmantes e misturou duas drágeas em um chá que a secretária do lar, antes de terminar seu expediente e ter ido embora, tinha preparado para ela. Ela adormeceu, de roncar e babar no sofá. Por que ela confidenciou sobre a fortuna? Provavelmente por caduquice.

Oito horas depois ela já deve ter acordado e ligado para a polícia. Ou não.

Ele não sabia o que fazer por que nunca tinha roubado. Nem bala no supermercado. Nem copo no restaurante. Muito menos cinzeiro em hotel. Nem um clips em alguma empresa que tenha ido fazer uma manutenção. Ele é eletricista. Ou, enquanto não fugir, conseguir converter os dólares em reais e viver da aplicação deles na poupança, sem mexer no principal, continuaria a ser eletricista. Se não for preso, é claro.

Pensando nisso tudo, decide: Vou devolver essa mala.

Pega um táxi e vai ao endereço dela.

Ao chegar, observa um carro funerário estacionado na frente do prédio. Pensa: nesse prédio antigo, de centenas de salas e quarto e quitinetes, deve morrer um velhinho por semana.

Aperta o botão do interfone chamando a portaria, para confirmar se a velha estaria dormindo ou não. Dona Rute? O senhor é parente dela? Não, ele responde. Bom, de qualquer forma sinto muito, ela faleceu.

E agora, sente-se além de ladrão também assassino…

Mais atordoado do que antes, pega outro táxi e segue pro aeroporto.

Ao chegar num guichê pede uma passagem para qualquer cidade do Nordeste. Como qualquer? Qualquer, moça, qualquer, quero esquecer um amor no Rio parando em qualquer lugar do Nordeste, pode ser Norte também. Falou amor para despistar, evidentemente, e o olhar da moça parecia ser de compaixão.

Chegando a João Pessoa procurou um hotelzinho barato. Dorme por umas três horas. Acorda e procura uma banca de jornal, compra um jornal do Rio. Nenhuma notícia de assassinato por envenenamento. Aguardar até amanhã. Um dia. Comprar algumas roupas, ir a praia, algum bar, conhecer garotas, quem sabe uma transa? Beber e dormir.

E assim seguiu ele, até o dia seguinte.

Na manhã seguinte ressaca e medo. Descer do hotel e comprar o jornal.

Notícia: Encontrada senhora morta em Copacabana, há suspeita de envenenamento. O corpo passará por autópsia. Ela deixou testamento, segundo depoimento da doméstica, ainda não encontrado, em favor de uma entidade filantrópica, por não haver herdeiros.

Ele tremeu, mas pensou. Além de mim mesmo outra suspeita seria a secretária. Estou longe. Outro dia de esbórnia e cachaça. Para não pensar no dia seguinte.

E naturalmente o dia seguinte chega. Ressaca e receio. Banca de jornal. A notícia: “A senhora de Copacabana teve uma parada cardíaca. Os calmantes somente não causariam isso. Havia algum comprometimento cardíaco. Como não deixou herdeiros iria se procurar por testamento.”

Que demoraria a ser encontrado se existisse.

Um dia um detetive encontra o testamento. Entra em contato com a entidade. Inicia a investigação de onde estariam o milhão e mais alguns dólares. Mas a investigação se arrasta. Nosso eletricista guarda a maior parte do milhão e abre uma lojinha de conserto de eletrodomésticos. Nunca foi descoberto. E teme ter vendido a alma ao diabo.

Claudio Pereira

A liberdade é intransigente


A liberdade é intransigente
Febre incoerente
Loucura que desagua na estrada
Na planície do tempo
Nas rodas que giram e giram até o fim

Nos olhos da liberdade há lágrimas
Que curam os desalmados
E dá esperança aos que perderam a fé

Senhor devolva toda a liberdade que me foi roubada

Espero
Enquanto canto a canção de fuga
Que diz:
Siga a voz das estrelas
Siga o que é imaginário
Ouça os tambores no meio da mata
E lá ao longe onde o sol derrete em purpura
A salvação espera o homem valente
Vestida de ouro
Com colares feitos de pedra bruta
Pendurados em seu pescoço

A liberdade não aceita escravos!
A não ser o escravo fujão

Ela não quer sistema
Quer o avesso
Quer o não
Quer a dor
Tampouco precisa de filosofia
Necessita apenas do que é selvagem

A liberdade só existe para quem quer fugir
Abrir um buraco no céu e pular para o desconhecido
Ela é a Deusa dos irreais
Dos suicidas
Daqueles que em uma noite chuvosa
Sentem vontade de voar

Bruno Bochio

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Menina dos olhos verdes (Em vão)


Enquanto o mundo desfalece,
me parece tudo tão mais vago;
afago com as mãos as desgraças,
e a graça percebo, mas em vão.

Tudo passa na vida, tudo corre;
discorre em mim a vontade inata
da nata colher dos teus olhos verdes,
rede que arria meus sentidos.

Maculo, internamente, o sentimento,
há descontentamento em não ver teu vil sorriso,
piso em estradas descalçadas,
em caladas, mas gritantes, teus olhares.

Tu, razão do meu suspiro,
inspiro-me em escrever em prosa e verso
nunca meço a dor em que me fere;
se queres ser minha não pergunto.

Mas sonho, mulher, com teus olhos verdes,
a sede na polpa que me trazem,
que fazem de mim poeta franco;
e estanco a paz no coração por eles.

Vem, mulher, perceber meu pranto,
o encanto teu molhar minha seca;
seca em mim todas as lágrimas,
lástimas, de mim, foram-se tantas.

Mas entende, mulher, o meu desejo
relampejo aos céus a minha luta,
a fruta dos olhos teus é minha poesia.
Por um segundo, nunca em vão, seja minha.

Galego


Galego é leitor-colaborador da cidade de Salvador - BA.

"Dorival Caymmi - O Mar e O Tempo"




Relançamento do livro "Dorival Caymmi - O Mar e O Tempo", de Stella Caymmi, comemorando o centenário do grande compositor baiano. Dia 28 de abril, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, Rio de Janeiro. 

Surpresa


A diferença entre
o romântico e
o psicótico
é tênue:
necessita-se
calma ao
abordar a vítima

Carlos E. Álvaro Velazco


Carlos é leitor colaborador da cidade de Rio Bonito - RJ. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sadame


Ele se jogou
O vento tocava seu corpo de forma violenta
Mas ele não escutava
Os fones no ouvido impediam de escutar o mundo

Sabia que iria em breve se chocar
E esse choque seria doloroso

Segundos depois a queda
Ele sentiu a dor da queda

A dor de mergulhar no próprio âmago

Horiatan Teixeira

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Mostra Cinema, Globalização e Multiculturalismo



A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 8 a 20 de abril, a mostra que abordará as transformações e singularidades da pós-modernidade. Mais informações sobre o evento aqui.

Ar liso, lisomar


O que é segredo surtado sentido emaranhado entrado de pé esquerdo na sala de estar?
O que é santo imaculado virgem derrapado libertado do grito que esperneia em soltar?
O que é tratado liberticídio amante calado ser decapitado no que insiste no par?
O que é eu de ser seu sendo meu de ter eu ali no seu lugar?
Não sei se é figo ou ter sido ou ser dito ou ser sido interdito na clareza do caminhar?
Apenas sei que piso impreciso
pauta paraliso
minto rescindido
assim não consigo comisso
te ter em mim aqui o seu lugar.

Lior Zalis

Distribuição do PB em escolas municipais da zona oeste



Distribuição do jornal Plástico Bolha nas Escolas Municipais 25 de abril e Dyla Sylvia de Sá, em Jacarepaguá e na Taquara, respectivamente. Na foto, a amiga, professora e colaboradora Silvia Castro, em sala de aula com o Plástico Bolha nas mãos. Veja mais fotos nos links: album 1 e album 2.  

Mineiridades


O sol esconde atrás das montanhas
e entrete o tímido habitante das gerais.
Sem mar, o itinerante divide os retalhos.
Tantas dores, lampejos de arte.
Finos teares de sombra, cores da tarde.
O falar provinciano reconcilia os opostos,
de Brecht ao mais convicto dos liberais.
Distrai os opostos com queijo e goiabada,
viola, causo e piada.

O menino veste o adulto,
o errante pede o indulto.
Quer o culto ao sábio tempo de nascer dilema.
Conselho de um certo Guimarães,
que me fez colher Rosa
nos prados de Adélia,
nos versos de Drummond.

O riso discreto espreita atrás da porta,
entreaberta tamanha espera.
Serena lágrima que acende a fogueira.
Eu madrugando no clarão da ribanceira,
ao som do cancioneiro popular
embalado em noite estrelada.

Os mineiros se perdem nos mistérios
que nem seus ricos minérios conseguem pagar.
O detalhe sutil ressurge para reparar
a beleza altiva da estrada real,
pouco afetada pelo falso ideal
de um controverso inconfidente feito herói.
Velho Chico, choro-rio agonizante,
gemido pungente que dói.
Seca escassez, contido em barragens, ganância dos patrões.

As lavadeiras alvejam roupas nos quintais
enquanto o jovem desassossega-se lendo jornais.
O doce caseiro satisfaz a boca
enquanto a alma se deleita na tristeza
divertindo-se com o tom barroco dos vitrais.
A arte também tem seus frágeis cristais.
Sentada na calçada,
alcoolizada de indecifráveis ais.
Fingindo-se mal-amada,
útil e fútil, tudo e nada.
Sentencia-se suportável e, às vezes, não.
Bem-vindo ao interior das bagagens.
Identidade plural de Minas Gerais.

Patrícia Vieira de Faria 


Patrícia Vieira de Faria é leitora-colaboradora da cidade de Uberlândia - MG. 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Canção noturna para melodia nenhuma


dois dos muitos pontos de brilho no asfalto
distorcem sutilmente o reflexo da lua
(que tudo o que tem de nua,
pede chuva)

as noites de súbito úmidas
são um balé com corpos tortos
e eu não sei em que ponto do tronco
foco o guarda-chuva para o que não me revela
o outro

tudo o que nunca revelará

- diz que pra atrair mirada
fixa-se um ponto na nuca
e, com um tempo,
a pessoa olha.

(mas não há tempos)

fugisse das pessoas ligeiro
corria a noite, solta
e fixava era o mar

Carina Carvalho

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Vida morta


Nesta vida nada mais se sabe. Nestes dias tudo é diferente. Os sorrisos são falsos. Os olhares são tortos. Os beijos são dados por simples forma de cumprimento. Os parabéns são dados por tradição e os desejos de felicidade são dados por etiqueta. Os elogios são meras cortesias. Os abraços são dados por educação. Os “te amo” são falados por hábito ou para não perder o hábito ou ainda para criar um hábito. As amizades são passageiras. Os romances são breves. As pessoas são indiferentes. A quê? Elas são indiferentes ao resto da humanidade. São indiferentes à ética, à moral, ao pudor. São indiferentes à vida.

Simplesmente não ligam. Trilham o seu caminho procurando chegar ao ápice da ordem lógica que criaram para seguir. Não fazem as coisas porque querem, de verdade, fazê-las. Fazem-nas por fazer, porque acham que assim será melhor. Fazem porque todos fazem. Fazem para seguir os ditos da sociedade atual. Fazem para poder dizer que fazem. Mas qual é o grande valor nisso? No fim do dia ainda lamentam. Lamentam por nada. Lamentam por tudo. Lamentam por estarem onde estão. Então, olham-se no espelho. E o que vêem? Algo que não queriam ver. Vêem o reflexo de outra pessoa. Mas repetem para si mesmas que tudo está normal, tudo está bem. Como tudo pode estar bem se, ao olhar-se no espelho, vê-se um outro alguém? Um alguém bem diferente daquele que se tinha idealizado ser.

É como se todos tivessem desistido. Desistido de lutar, de sonhar. Não desistiram de amar porque este é um conceito que todos os seres inseriram na sua inútil ordem lógica da vida. Em algum momento, todos amam. E se orgulham disso.

Mas será que esse amor é mesmo o amor planejado? Será que é mesmo o amor verdadeiro? Será que, no final das contas, é mesmo o amor? Não, na maioria das vezes não é. É só um amor. Um amor qualquer. Um amor que foi criado para que, no fim do dia, possa se dizer que se ama alguém. E então, todos se sentem melhor. Pensam que conseguiram realizar uma das metas da sua vida inútil e sem-graça. Sentem-se mais competentes por amarem, fato que está de acordo com o plano que traçaram. Mas o amor não pode ser uma meta, tem que ser um sonho. E não pode ser planejado. O amor, o verdadeiro, o original, é arrebatador, inusitado, vivificante. O amor é assim. Um amor não. E hoje, o que mais se tem são uns amores. Amores comprados. Não literalmente, claro. São amores nos quais as pessoas se empenham e nada se resolve. São daqueles amores vagabundos, traiçoeiros, revoltosos, turbulentos, complicados, confusos, estranhos, mesquinhos, egoístas, falsos. São amores falsos porque eles só existem porque duas pessoas infelizes se sentiam sozinhas. Então se encontraram. E se juntaram. E se suportaram. E felizes com a chance de finalmente terem encontrado algo que as fizessem felizes, chamaram aquilo de amor.

São amores confusos, porque com toda a sua turbulência e todas as mágoas que geram, confundem os seus adeptos, que já não sabem se “amam”. Na verdade, nunca se amaram. Mas dizem para si mesmos que sabem o que é amor. Uns até realmente acreditam que sabem. Outros não, eles sabem que estão se iludindo, sabem que o amor que estão vivendo não serve nem de rascunho para o amor que queriam ter. Pois o amor que queriam ter é tão magnífico, esplendoroso, compreensivo, paciente e vivo que parece até uma fantasia. E por acharem que esse amor tão divino só pode ser uma fantasia, as pessoas desistem de procurar por ele. E ficam, dessa forma, sonhando com ele. Não têm coragem para realizá-lo, nem mesmo intenção, mas fantasiam. E ficam dia após dia fantasiando. Acabam vivendo uma vida de sonhos, sonhos que sequer acreditam que vão se concretizar. Chegam a casa após um dia cansativo e sonham acordadas, imaginado a vida que queriam ter, criando a rotina da vida que almejavam. E se tornam pessoas frustradas.

Porque um dia acordam, olham ao redor e enxergam que a vida que queriam não era aquela. Enxergam que a rotina com a qual sonham acordadas está distante, na verdade, nunca nem foi real. É como todos os dias ter um mesmo sonho e ser feliz com ele. Até que um dia você acorda e percebe que tudo aquilo que tinha vivenciado nunca aconteceu. Você percebe que estava, todo esse tempo, dormindo. Percebe que tudo foi apenas um sonho. É isso que essas pessoas sentem, a única diferença é que sonham acordadas. Mas um dia acordam para a vida, percebem que esse tempo todo estavam dormindo, deixando a vida passar. Percebem que os sonhos que têm estão bem longe da realidade em que vivem. E se desesperam, no íntimo.

E, ao invés de lutar, se acovardam ainda mais. E recorrem às futilidades, ao consumismo, aos prazeres mundanos, numa tentativa desesperada de esquecer a sua frustração. Mas tudo isso só faz com que elas se lembrem ainda mais. Porque no final, tudo o que lhes resta é um vazio no peito. Um vazio grande e impetuoso, que já não pode ser preenchido. Então, elas se amarguram. Passam a olhar de soslaio os outros. Passam a analisar, a julgar todos de uma maneira cruel. Passam a desforrar a sua dor nos outros. E esses outros passam a desforrar a sua raiva em outras pessoas, por pura vingança. Querem mostrar o que têm. Passam a almejar, mais do que tudo, o poder. E tornam-se pessoas ainda mais ambiciosas, vaidosas, traiçoeiras, perigosas e instáveis.      

Passam a procurar amores. Passam a planejar amores. Passam a procurar motivações, motivações pra viver. E quando não acham, respiram fundo e começam a fazer com que outras pessoas também não se sintam bem. Ficam destruindo, de uma forma ou de outra, as vidas alheias. Ficam destruindo a própria vida. E se escondem numa bolha de cristal, longe de tudo e de todos. Limitam-se a assistir a vida ir embora, passando devagar. E já não ligam. Ficam esperando a morte, apáticas.

Agora elas só existem, vão seguindo o fluxo, obedecendo à voz de comando, com a passividade de bons animais domésticos. Quem comanda? Já não se sabe. Todos viraram fantoches, prisioneiros na própria liberdade.

Esqueceram-se de como é viver. Perderam a racionalidade, a vontade de viver. Vivem por covardia de se matar. Mas morrem do mesmo jeito, por covardia de viver. E quando morrem, morrem com aquele sentimento de nunca nem terem vivido.

Bruna Romeu

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Eu, planta


que vontade de ser orquídea
dependurado em casa
ou numa árvore pacífica
aquietado
o sol leve em minhas folhas
a água escorrendo
e tons pacíficos se formando
de cores vivas em furta-cor
em meu corpo de matéria orgânica
que vontade de ser copo-de-leite
branco desnudo
branco que me adormece em paz de sono de criança
raízes flores folhas só e tudo
clorofila ao invés de sangue
que me esquenta em excesso
que vontade de ser girassol
buscar o sol como salvação
procurar vida e nunca desejar escuridão
sentir-me vivo, iluminadamente amarelo
lindo tão lindo de rasgar os cantos da boca
não querer saber onde nem quando nem quanto nem quem
às vezes
que baita vontade me bate
de só sentir o vento inconstante
absorver água que nuvem sem pantone
me fornecem ou de mãos caridosas
quando lembram-se de mim
o simples com carinho é mais que suficiente
planta ser
e de mais nada querer saber

Daniel Granato


Daniel Granato tem outros trabalhos publicados no blog do Plástico Bolha. 

Palestra "Crimes de ontem e de hoje"



Os bolsos do meu casaco


Os bolsos do meu casaco são orifícios mofados,
Os bolsos do meu casaco são imundos, mal cheirosos
Os bolsos do meu casaco são fragmentos
De goela vazia
Escarrando grito

Os bolsos do meu casaco têm um furo na cabeça
E outro no estômago
Possuem a boca costurada
E o fundo mal cosido
Carcomido
Amarrotado
Como quem é expelido

Do cu do mundo
Pelos bolsos do meu casaco
Expurgam-se
Dois rins, um fígado e trinta e dois dentes quebrados
Mãos vazias
Preenchidas pela falta
Punho fechado
A escorar espirros de fúria e cansaço e
Miolos cozidos com coriza e restos
Do corpo que existe
Não gozado
Por debaixo d'

Os bolsos do meu casaco:
O ontem, o hoje e o amanhã
A morte de cada dia
Hora a hora
Da insustentabilidade da vida
Da sustentabilidade do mundo
Na ferida da pele corroída

Nos bolsos do meu casaco
O maior órgão do corpo
Putrefato
Onde o ar encontra caminho
Que do pulmão é tirado
No rombo que coincide com o umbigo
Do mundo que berra
Ao morrer
De insuficiência múltipla
Miserável

Danielle Magalhães


Danielle Magalhães é leitora-colaboradora do Plástico Bolha, e tem outros textos publicados aqui no blog!!

terça-feira, 8 de abril de 2014

O voo


Lá se vão as aves de rapina
Magnânimos animais de porte
Com suas penas esvoaçadas
E seus leques de caçadores.

Esbravejam por sobre as águas
Imponentes em seus rasantes
Não deixam escapar, pois, nada
Em seus olhos de diamante.

Oh, aves de linhagem plena
De grandes dotes e sangue azul
De pureza extrema e cheias de virtudes.

Mal sabeis, vós, que desse colosso
Imponente e vistoso de onde alçam
Estão pedras amarradas em tuas patas
E homens que manipulam tuas asas.

Miquéias Dell'Orti

Máscaras


Sob as máscaras da realidade meu discurso cai no descaso. São letras aquelas lá no fim do poço? Sim. As letras que eu usaria para fugir deste hospício. Como meu amigo diria: “I was h(r)opeless.”

Sob a faceta de um mundo unitário a escolha de viver em um hospício não me parece loucura tamanha. Reprimidos, oprimidos, subjugados destituídos. Descrita nossa realidade parecemos pouco. Somos poeira de verbo, não de Beckett, mas de Ocidente. Condenados à reclusão, pois da vida fomos capazes de retirar tudo: vida e morte, apenas para começar.

Sob a luz estarrecida de manhãs felizes permito-me comungar meus prazeres com Tristeza, senhora que vive no quarto do outro lado do corredor. Ela caminha esquisito quando está sozinha. O que me causara medo em um passado distante. No entanto, esse sentimento passou quando percebi que – ao meu lado – suas pernas como que curavam-se milagrosamente e seu andar restituía a vivacidade de seus Dias Felizes. Winnie?


Sob a escuridão de noites melancólicas aperto-me pelos corredores em direção à ala dos deficientes mentais. Ando tendo preferência pelo paciente a que os interinos denominam Albee. Os médicos o diagnosticaram como: suscetível à tendências absurdas. Tratam-no, portanto, como um ser sem inteligência. Seu senso de humor dificulta a compreensão plena de que haja, ao menos alguma, seriedade em sua fala. Eterna alegria de um sádico. Desencadeador da desordem humana. Ideia paradoxal quando ao lado da experiência de plenitude à qual ele me encaminha. Um possível reencontro à realidade de um eu contemporâneo? Talvez. Nunca esquecerei aquela musiquinha que ele sempre cantava: “Quem tem medo de Virgínia Woolf? Virgínia Woolf? Virgínia Woolf?”

Sob a dor de meu contato com outros pacientes reflito sobre a minha condição. Não sei se encontro-me presa a uma âncora. Mas lá fora sinto-me presa a um navio! Como posso deixar esse lugar me vencer?! Permitir a acepção de um mundo o qual, em primazia, nega a dualidade inerente à toda e qualquer pessoa. Dor.

Sob a realidade deito meu corpo. O hipnótico Doutor Hoffman coloca-me sob os cuidados de seu assistente. O homem da areia. Para onde foram os outros pacientes? Só resta a mim? A última a enfrentar o inevitável lamento de nosso mundo dual? Quais serão os ícones estes que permeiam meus sonhos de defeitos e simbologias? À partir de agora conduzo-me aos pacientes mais subjetivos desse hospício. Sigmund e Friedrich. Nessa eterna paralização do real, na qual o social se dissolve e escorre como água derramada, o homem sofre a pequena morte do gozo, que, no auge do desejo, lembra-se de tudo que o une á morte. Eis que aquilo que não o mata, o fortalece. Passo, finalmente a existir onde não sou. Existir no outro. Caem, então, as máscaras da realidade e colocam-se as máscaras da experiência alheia. Incessantemente.

Sob o inconsciente ascendo-me à inteireza do ser.

Gabriel Leibold

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sarau Plástico Bolha



Na última sexta-feira, 4 de abril, aconteceu o Sarau Plástico Bolha, uma realização do Calé, a Casa de Letras da PUC-Rio. É um prazer retornar à nossa casa em um evento tão rico e com tantas participações bacanas! Obrigado à todos que estavam presentes, assistindo e participando! Um obrigado especial ao nosso amigo Rodrigo Leite Pinto, e parabéns pela bela organização do evento! Veja as fotos do dia no álbum do evento, na página do Plástico Bolha, pelo link: Sarau Plástico Bolha.

Leio poemas como quem busca


leio poemas como quem busca
um tropeço
um golpe brusco
o soco na boca do estômago
a falta de fôlego
o passo trôpego do bêbado
a brusca percepção
da falta que nos aflige

leio poemas como quem busca
busco como quem luta
luto como quem ama
amo como quem basta

mas bastar não é o bastante

Salvador Passos


Salvador Passos é leitor-colaborador do jornal Plástico Bolha e tem outros trabalhos publicados aqui em nosso blog! 

sábado, 5 de abril de 2014

Adeus a José Wilker


É com grande tristeza que recebemos a notícia do falecimento do ator, escritor e diretor José Wilker. Além de um talento indiscutível para o cinema e televisão, José foi também um amigo das letras e do jornal Plástico Bolha. Foi com muito orgulho que publicamos a sua entrevista na nossa edição #17, que temos a honra de republicar aqui, como uma última homenagem. Todo o nosso sentimento a nossa grande amiga Isabel, sua filha, que assina a entrevista, e a todos os demais amigos e familiares. O Plástico Bolha se junta a este sentimento e temos certeza de que este amigo do bolha deixará saudades. 

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José Wilker é ator, escritor, diretor. Tem mais de quarenta anos de carreira, já atuou em mais de quarenta e cinco filmes, trinta e cinco novelas, e um sem número de peças de teatro. Escreveu crônicas durante cinco anos para o Jornal do Brasil, que resultaram na publicação do livro Como deixar um relógio emocionado, em 1996. Também escreveu sobre cinema para a revista Contigo por um ano.

Você tem o hábito de escrever desde criança ou começou mais tarde?

Minha memória mais antiga está numa foto na qual estou escrevendo. Ela está perdida, tenho apenas a memória dela. Estou sentado diante de uma mesa, num lugar que suponho seja o quintal das minhas tias. Escrevendo. Então, devo dizer que o ato de escrever exerce desde sempre um fascínio todo especial para mim. Eu já escrevia mesmo antes de saber escrever. Copiava letras. Juntava várias delas em grupos, apenas porque as formas delas me encantavam. Depois, lia em voz alta lhes atribuindo significados, algo como a reprodução das histórias que andavam pela minha cabeça.

Tem o hábito de escrever regularmente?

Escrevo sempre, todos os dias. Às vezes por obrigação profissional, outras por simples prazer ou para não esquecer.

O que o faz ter vontade de escrever?

Não tenho exatamente “vontade” de escrever. É como respirar, a gente nem percebe. De repente, está escrevendo.

Como funciona a escolha dos seus temas? Quando trabalhou no JB, por exemplo, e precisava escrever uma crônica por semana, como fazia?

Escolho ao acaso. Escolho quando algo me chama a atenção. Quando percebo algum humor num acontecimento. Para o JB – e nessa época eu escrevia para mais dois outros meios – por conta da exigência de um texto novo a cada semana, eu usava um método um tanto quanto maluco. Escrevia uma frase qualquer e esperava que ela me conduzisse daí para frente. Ficava olhando a frase na tela do computador até que ela me ensinasse como continuar.

O que mais gosta de escrever, crônica, teatro, cinema, poesia, contos....?

Gosto de crônica e de teatro. Já escrevi poesia e morro de vergonha dela. Minha poesia é medíocre. Contento-me com as letras de música que escrevo para as minhas peças. Letra de música é mais fácil, basta colar algumas imagens desencontradas, um verso quase brilhante e a música se encarrega de dar sentido àquilo.

Quando está trabalhando com prazo, consegue fazer as coisas com antecedência ou espera o último minuto possível para começar a escrever? A urgência ajuda ou atrapalha?

Escrevo sempre no último minuto. A urgência é uma conselheira razoável. Mas, se não publico de imediato, faço centenas de revisões. No caso do teatro, por exemplo, das peças ainda não encenadas ou publicadas, faço revisões intermináveis. Minha peça O sim pelo não vem sofrendo revisões freqüentes nos últimos dez anos.

Acredita que o trabalho de ator — e também de diretor — faz de você um crítico mais cuidadoso?

Sem dúvida, saber do calvário do ator e do diretor me faz um crítico mais cuidadoso. Mas, também e paradoxalmente, mais rigoroso. Como ator e diretor, não me sinto confortável com a superficialidade. O mesmo vale para a crítica.

O que é mais libertador? Expressar-se através do corpo (atuando) ou das palavras(escrevendo)? O que cerceia mais ou menos - a linguagem ou o corpo físico?

As palavras são mais libertadoras. Posso continuar a fazer malabarismos com as palavras em qualquer tempo. O corpo, coitado, depois de um certo tempo, de uma certa idade, já não responde com a devida presteza e eficiência aos nossos apelos. As palavras, porém, vão se enriquecendo, ganhando novos significados com o passar do tempo.

Você trabalha mais com a crônica e com a crítica. Isso aconteceu naturalmente ou foi uma escolha?

Aconteceu naturalmente. Não foi uma escolha. De repente, lá estava eu fazendo aquilo. Mas, devo dizer que não me considero, não quero ser tomado como um crítico. Na verdade, escrevo sobre as minhas paixões e divido as minhas paixões com os amigos que tenho, ou quero ter, e que eventualmente me lêem ou me escutam.

Ser um leitor voraz fez você ter vontade de escrever? A leitura está sempre ligada com a escrita?

Para escrever é fundamental ler. Não duvido do fato de a leitura ser ótima fonte de inspiração e de orientação.

Algumas palavras para nós, leitores, jovens escritores e interessados em geral?

Está em Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras”. O verso, para mim, é o resumo do melhor método de interpretação e de escrita.


* Foi com enorme prazer que dei conta desta tarefa para o Plástico Bolha. Acho que nunca tinha entrevistado meu pai formalmente, e tentei aproveitar a oportunidade como pude. Digo isso porque, além de filha, também sou fã apaixonada, e fico tímida, curiosa, deslumbrada... Fiquei nervosa por não saber o que perguntar. Tive medo de que ele não gostasse das minhas perguntas... Mas acabei por me conformar com perguntar só o que eu gostaria de saber e nada mais. O resultado está aqui, e espero que gostem!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Brad Pitt ao meio-dia


Mesmo que eu não seja a garota da primeira sessão de Clube da Luta, Tyler continua a fazer sentido como nunca
Fez
Para meus contemporâneos que seguiram como estagiários em engenharia, direito ou economia e penduram os violões, os colhões, na parede decorando o quarto.

Não queremos eu e Tyler afirmar nossa superioridade sobre você – a conservaremos intacta enquanto em silêncio – mas para nós a rotina sanitária do autoaperfeiçoamento alveja o yin-yang a tal brancura
Que não constrói um humor forte o suficiente para suportar o que vem pela frente.

Depois de tantas transas de uma noite só, você acaba se repetindo ou pior
esbarra com um deles ao meio-dia.

Teu jeans já não te aceita tão facilmente e como se você comesse um bolo inteiro por acidente
Um amigo te alerta sobre o horror de tua adiposidade.

Aos vinte anos a gente diz que é por causa da idade. 

Tainá Rei

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ajude o Tastequiet a voltar ao papel!



Depois de publicar 366 quadrinhos no blog do Tastequiet, Vidi Descaves pede a sua ajuda para levar o personagem de volta ao papel! Através da plataforma http://benfeitoria.com/tastequiet você pode ser um dos colaboradores e contribuir para a publicação do livro Tastequiet, um belíssimo projeto de 392 páginas coloridas, com a reprodução das tirinhas publicadas ao longo de um ano, além de alguns bônus que prometem! 

Palavra última


a palavra última
é muito
perigosa

há relatos de já a terem
feito de
lança

e pior
ter estado à altura do
trabalho

alguns por ela feridos
vão para manicômios
outros apenas
se vão

a palavra última,
também conhecida como
byebye, tchau,
adiós,

só na minha rua
fechou uma vendinha
acabou com duas famílias
tirou a casa de um gato

por isso recomenda­se
utilizá­la com parcimônia
na presença de uma bula
com muita atenção

ou caso contrário
se decidir usá­la, favor
mirar bem no centro do peito
e não errar.

Nathalia Rech


Nathalia Rech é leitora-colaboradora da cidade de Porto Alegre - RS.