Os bolsos do meu casaco são orifícios mofados,
Os bolsos do meu casaco são imundos, mal cheirosos
Os bolsos do meu casaco são fragmentos
De goela vazia
Escarrando grito
Os bolsos do meu casaco têm um furo na cabeça
E outro no estômago
Possuem a boca costurada
E o fundo mal cosido
Carcomido
Amarrotado
Como quem é expelido
Do cu do mundo
Pelos bolsos do meu casaco
Expurgam-se
Dois rins, um fígado e trinta e dois dentes quebrados
Mãos vazias
Preenchidas pela falta
Punho fechado
A escorar espirros de fúria e cansaço e
Miolos cozidos com coriza e restos
Do corpo que existe
Não gozado
Por debaixo d'
Os bolsos do meu casaco:
O ontem, o hoje e o amanhã
A morte de cada dia
Hora a hora
Da insustentabilidade da vida
Da sustentabilidade do mundo
Na ferida da pele corroída
Nos bolsos do meu casaco
O maior órgão do corpo
Putrefato
Onde o ar encontra caminho
Que do pulmão é tirado
No rombo que coincide com o umbigo
Do mundo que berra
Ao morrer
De insuficiência múltipla
Danielle Magalhães é leitora-colaboradora do Plástico Bolha, e tem outros textos publicados aqui no blog!!
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