sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A programação de setembro da Exposição Poesia Agora está imperdível!


A nova programação para o mês de setembro está intensa: um evento por semana!
No dia 05 de setembro teremos o Sarau Casa das Rosas, tradicionalíssimo centro de cultura e poesia de São Paulo. Esperamos um evento de alto nível comandado por Frederico Barbosa e companhia.
Para o dia 12, Slam Poesia Agora, com Yassu Noguchi e Marcos Bassini sacudindo a poeira, mantendo a peteca no ar.
No dia 19, um grande encontro entre Guardanapos Poéticos (Daniel Vieira) e Poesia Biossonora (Wilmar Silva de Andrade).
Finalmente, para fechar o circuito com chave de ouro no dia 26, todos aqueles que acompanham o PB estão convidados ao Espaço Plástico Bolha, sob a tutela de Lucas Viriato e João Moura Fernandes.

Esperamos todos lá!


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

No Jardim


respiro livremente
entre as flores
sinto as fragrâncias
danço com o vento
viajo até as flores,
as mais belas,
sigo meus instintos
os cheiros me atraem
não paro de dançar
meu círculo fascinante
meu mundo encantado
- a imagem da borboleta


Cristal Lacerda

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Senta lá, Sartre


brinquedos quebrados
não questionam
pureza

desinteressante a
ausência de foco
dos sentimentos:
                
                   o seguro morreu velho
                              e o apaixonado,
                                               cego

inocentes
os pés descalços
os cabelos
                amorfos

o fardo não é leve

mas vale o
uso da imaginação
e de crayons
pra colorir

enquanto isso
meu gato me encara
branco & preto
por trás do
verde –

habitante do brilho
prateado, ele sabe

certas as elipses
da vida
           (a miopia
                  necessária):

ocultam o inferno

em nós

João Meireles

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Irene no escuro


Estou suado e ofegante, largo a bicicleta na calçada de Irene, com cuidado, pra não fazer barulho, por mais que desconfie que ela saiba que cheguei, e mesmo que tão tarde da noite, tenho certeza que haverá uma testemunha.
Foda-se.
Não tenho nada a perder.
Aproximo com cuidado, conheço a casa de Irene como a palma da minha mão. Depois de dar uma olhada na rua deserta, pulo o muro do lado, que é menor e dá direto pra varanda, aterrisso no gramado bem aparado, tiro meus sapatos pra não fazer barulho.
Meu coração bate acelerado, sangue corre quente nas veias, tão vivo e fresco quanto o sangue que mancha minhas roupas.
Estou eufórico e tremulo de febre, sou como uma corda de violão que oscila e vibra criando imagens paralelas à sua.
Quando toco na porta vejo que está aberta, é a confirmação de que ela sabe que estou aqui, a sala tá escura, só com a luz da escada acesa, posso ver a silhueta do corpo magro de Irene parada no último degrau, me olhando enquanto seus cachos egocêntricos estão armados sobre sua cabeça.
Como ela sabe que eu tava vindo?
A corda ainda não terminou de oscilar.
Eu sou um cara possessivo e inseguro, é por isso que tenho uma faca presa na parte de trás do cinto. Meus óculos estão cada vez mais embaçados devido às bufadas de cansaço pela indisposição causada pela febre, enquanto a barba tá coçando.
Irene está nervosa.
Começo a andar em sua direção. Piso no primeiro degrau da escada e apago a luz para que não me veja.
Vou subindo cada vez mais rápido, vejo o vulto da Irene correr para a sacada da casa.
Mais gotas de suor escorrem pela minha testa, só que agora frias e incomodas.
Minha camisa ensanguentada pesa e escorre sobre minha calça jeans.
Sou a corda que oscila.
Vou puxar a faca presa na cintura, e vejo que não está mais lá.
Que merda é essa?
Noto também que já não estou subindo escadas, pois não existem mais degraus, e sim um chão gelado e plano, está uma total escuridão, mas posso sentir com os pés descalços o azulejo antiderrapante abaixo de mim.
Que merda?
Não sinto mais o corpo dolorido de febre, passo a mão pela testa, não estou suado frio, a camisa parece não estar mais ensopada do sangue da outra pessoa que matei antes de vir pra cá, até parece ser outra roupa.
Merda!
Eu chego ao fim do que deveria ser uma escada, só que agora parece ser um corredor.
Vou tateando pelas paredes.
Encontro um interruptor, acendo, por um segundo uma luz muito forte e branca toma conta de tudo, quando abro os olhos vejo que não estou na casa de Irene, realmente não há mais faca, nem roupas sujas de sangue, e sim um uniforme...
A corda parou de vibrar.
Levanto a cabeça, tudo começa a girar ao meu redor.
Merda!
Segundos atrás eu estava na casa de Irene, subindo as escadas, e agora...
Estou numa cantina...
Com pessoas de uniforme?
Uns três indivíduos velhos e barbudos jogam dominó numa mesa pequena e descascada, outro olha com cara de retardado pela janela, uma senhora acaricia um gatinho no chão, enquanto outras meia dúzia de pessoas assistem a uma pequena TV presa na parede, e três guardas armados vigiam as três entradas da sala.
Fico sem reação.
Onde é que eu tô?
Como?
De que jeito?
Um homem muito gordo de branco se aproxima de mim, puxa uma prancheta debaixo do braço, arrasta o dedo por ela e diz sem olhar pro meu rosto:
_Muito bem... Ah... O senhor, né? Hora do remédio.
Então tira duma pochete ridícula presa debaixo da barriga, um copinho de café, deposita dentro dois comprimidos vermelhos e estende o braço, eu apanho estupefato, mas não por isso, e sim pelo que diz no crachá pendurado em seu peito.
Clinica Psiquiátrico Santa Rosa.
Que porra é essa?
Eu começo a gritar e me debater, quero voltar pras escadas, o gordo tenta me segurar, puxo a caneta do bolso de sua camisa e enfio num de seus olhos, sangue jorra pra minha cara, um dos guardas corre, aponta a arma e dispara...

Numa fração de segundos estou no chão, sangrando e desfalecendo.

Igor F. G.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Bússola


o circo está na cidade
e o caminhão pipa
vem descendo pelo breu

eles correm para o portão
a boca cheia de areia
correm cansados de esperar
na sala de jantar

cresci sob um coqueiro
uma goiabeira
e um pé de acerolas

a ciência dos cuidados estraga
mas dos sonhos
me fiz sacerdote

entre mim e o outro
há apenas o meio
e no fim de todas
as estradas

o norte

João Meireles

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Gastronolobotomia


A ponta vermelha do dedo na pia.
Uma pilha de pratos.
A gota que vem da bacia, do cano do bico de uma torneira.
Alface prende-se no metal, papéis de flores encharcam lágrimas de cebolas risonhas.
Descascas de cascas descascadas.
Operante de cozinha, uma desgraça.

Luan Carlos Machado

sábado, 8 de agosto de 2015

Antes de usar,


Verificar se a voltagem de você coincide com a
da tomada. A rede elétrica deve ser de fio 14,
conforme determina a norma NB-3 da ABNT.
Instale o fio terra fixando-o no parafuso
indicado pela seta.
Para início de conversa, trabalhe
durante pelo menos 6 horas com o
botão de controle posicionado na graduação máxima.
Regule-o depois para a posição correta, segundo a
tabela de controle de temperaturas.
Em caso de falha,
você possui incorporada uma capacidade de diagnóstico
e mostrará um código de erro.
Caso o código não seja exibido, as demais funções de
controle e visualização não funcionarão e
não adianta contatar a assistência técnica.

Felipe Andrade

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Semana do Plástico Bolha no Blog do Noblat


Recém acabada, a segunda semana do Plástico Bolha no Blog do Noblat já deixa saudades! O blog publicou, uma vez por dia, poemas do PB publicados em diferentes épocas, dando mais visibilidade a nossos poetas e à poesia - algo de que sentimos tanta falta lendo os jornais de hoje e seus sites. Continuem acompanhando o Blog, que sempre apresenta aos leitores ótimos poemas.

Os links estão logo abaixo.
Curtam, compartilhem, pesquisem a semana do Plástico Bolha anterior!

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/07/capivara.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/07/orvalho.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/07/por-um-saira-de-sete-cores.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/07/ha-uma-aurora-desnorteada.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/07/alexandre-bruno-tinelli.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/08/ceia.html

http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/08/amargor.html

Orquestra


É preciso afinar o violino.
O piano
O violoncelo. Tocar a harpa até o acorde sair perfeito.
Dedilhar a corda. Ouve o tom.
Tá perto do certo.
Tá perto do bom.
Agora toca. Toca.
As notas deslizam pelo ar.
Chamam o piano.
E agora passeiam juntos. Mãos entrelaçadas.
Juntos assim. Até a perfeição.
Ah, a flauta!
Hora da flauta entrar por aqui.
Cantam passarinhos. Aqui brotam os pássaros.
E brotam pelo ar.
As explosões antecedem o grande silêncio.
Porque...
Psiu..
Chegaram os violinos.
Afina...
Um fio de luz. O movimento do corpo gera a brisa que balança a cortina.
Aparece a perna musculosa.
Entra a bailarina! Estica o corpo a exaustão. o máximo grau da dor.
O peso do gesso nas sapatilhas. Sobe força que rodopia e gira
Até que os braços se escancarem na oportunidade de um abraço
Que chama o abrir do cenário.
Telhas, teto e gesso cedem
à majestade.
Alegoria
Rompe o sol.

É primavera!

Regina Pombo Nogueira

domingo, 2 de agosto de 2015

Tentação do Mar


I
Vem, barqueiro
atira tua vida
contra as pedras
Já não é teu coração
um estilhaço de madeira
mágoa e engano?
Vês alguma diferença
entre a morte e o mar,
o amor e a ingratidão?
Atira tua embarcação
contra a lâmina dos rochedos
Por que ainda resistes
se não encontrastes
nenhum continente
onde houvesse pureza
sequer uma ilha
que a compaixão habitasse?
Vem, barqueiro
desiste de tua procura
tua bússola é o diabo
—leva-te para a desgraça—
Atira tua vida
contra as pedras
Teu sono será eterno
terás um travesseiro de sal
e a água limpará teu abandono
Dormirás como um inocente
nascerás e serás vidente

II
Vem, barqueiro
joga-te ao mar
As ondas são impiedosas
e engolirão tua embarcação
como saturno comeu seus filhos
Não adianta remar
o mar é o útero
para onde retornará
feito criança indesejada
Teu balde é raso
jamais esvaziará teu medo
e as águas te inundarão
revelando tua traição
Vem, barqueiro
abandona-te ao corte
serás mais feliz
quando fores morte

Pedro Spigolon