segunda-feira, 17 de junho de 2019

Em meu coração


Não fales muito. Uma palavra basta
Murmurada, em segredo, ao pé do ouvido.
Nada, nada de voz, - nem um suspiro,
Nem um arfar mais forte.
Junqueira Freire

Enterneço-me apenas em recordar-te!
Eu que pensara — em um triste padecer, —
Nunca mais sentir o coração bater...
Mas, felizmente, só até encontrar-te!

Longe de ti, meu espírito se parte...
Perto, no entanto, sinto-me renascer.
Tu és o arquétipo de meu viver,
E a mais sacra e angelical obra de arte!

Porém, de que vale um amor que não fala?!
Próximo a ti tal sentimento se cala,
Como se nem fosses nada para mim...

Mas, na verdade, em minha vida, és tudo!
E se contigo por fora eu fico mudo,
Ressoam por dentro palavras sem fim.

Renan Tempest

terça-feira, 4 de junho de 2019

segunda-feira, 3 de junho de 2019

U


Dobro minhas
Mãos em seu corpo.
O pensamento é um sonho cheio de sede e
Há crianças em seu olhar, ouvindo
Uma promessa. A noite é irreversível.
Jamais vamos nosdescobrir e
Molhar o rosto. Somos uma ficção imortal.
As roupas no chão se olham como taças de vinho
Uma delas quebrada. O quarto
É um tecido levíssimo que nos veste sem número
Aqui cabem as casas, os cafés
Os cardumes, caminhos de ida
As tiras metálicas do céu noturno de onde
Serenavam cenas do futuro. A lua é nova
É necessário aguçar-se à
Sensível cicatriz na escuridão
Ao regresso da hora em que riscamos um
As vértebras do outro
E as gargantas colheram, desde cedo
Esquadrinhar o incalculável
Do amor, o movimento, o universo
Desembestado bumerangue sem
Oeste. Dobro meu
Corpo em seu corpo. Acende figuras de água
No côncavo das costas, inventa
Gostos, óleos, línguas
Emaranha com arte artérias
Inocência e impiedade. No peito há um bicho
Que bate duplamente
Enquanto vincos dessa entrega alteiam seu
Carrasco descoberto.

Daniel Gil