quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Zoometarquia


Chinelos vermelhos
Tramas na geladeira
Quinta da carne
Terça das verduras
Papai e mamãe perderam a posição
Há sangue nas gavetas
Quarta do frango
Sexta da cerveja
Há umbigos roçando desonestos
Cristina chora no quarto escuro
Ao lado da goteira, afirmando:
“O mundo perdeu-se por andar em círculos”
Domingo teatro
Segunda folga
Feriados, sacolas cheias de água
Chico empresta dinheiro para a esposa
Com juros abusivos
Há um frasco de remédio vazio
Pendurado como um guarda-chuva
Na hélice do helicóptero
Urubus são anjos que deram certo
Sábado
A colheita, a colheita, a colheita
Dias, sabores
Quinta da carne
Terça das verduras
Kama sutra além do livro de receitas para colorir
Ingredientes sem giz de cera
Carnes, verduras
Tramas na geladeira
Chinelos vermelhos
O palhaço do semáforo
Após deixar seu nariz de plástico cair
Embute:
“Contudo,
Com nada
Se perde tudo”
Eu deixei as moedas em casa hoje

Ramon Carlos



Ramon Carlos (Santa Catarina, 1986). Escreve no site: www.estrAbismo.net. Sua carreira literária resume-se a dois contos publicados em uma antologia, além de materiais diversos em revistas como: Mallarmargens, InComunidade, LiteraLivre, Subversa, Philos, Escambau, Bacanal, Ruído Manifesto, Literatura & Fechadura e Jornal Plástico Bolha.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Patifes e Sherifes


Que Deus abençoe a América!
Terra de patifes
e sherifes.
De Marlon Brando
a Omar Sharif.
Finalmente, quem impera
é a cultura da burrice.

O sonho americano
se transforma em um verdadeiro monstro
quando você acorda.

Você não!
Aqui não pode mais!
Obrigado por tudo,
mas não te devemos nada.
Hahahahahahahaha
Hahahahahahahaha
Desculpe pela risada.
Esqueci que não “hablas” a minha língua
e não consegue
entender a piada.

Márcio Kozlowski

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Acontecido


Saudade tenho dos bons dias
em sua linha
vejo sorrisos e amigos.

Quanto a mim,
que penso em ti
admiro a imagem desses sorrisos
como se nada tivesse acontecido.

Olho para mim e vazio
minha linha
é um daqueles, imenso.

Quanto ao outro
que vai-se aos poucos
reconsidero, mas parece cinismo
como se nada tivesse.

E meu peito esfarela.
Não quero, mas me pulverizo…
E não adianta lutar,
eu vou somente fluir
como se nada.

Essa felicidade tão intensa
você vai explodir em luz
overdose de plenitude
em sua linha
como, se…

E passo adiante
só o necessário
como?

Geovani Gomes

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Amazona


Teu corpo vagando nu pela mata intocada da minha alma.
Você, guerreira, imponente, potente. Grandeza e força.

Eu que não sou poeta, nem poetisa.
Sou poema, rima e verso.
Sou língua macia, certeira, inquieta.
Teu corpo suado revela as mensagens que a tua boca faminta insiste em engolir.
As pontas dos meus dedos fazem uma leitura exata do teu ser pelo avesso.
Avesso da tua profundidade molhada e morna, caminhos ora conhecidos, ora cenário escuro para que eu possa tatear, apertar, amassar, morder e me perder.

Sigo deslizando pelas plumas das tuas asas que me embalam, me tiram o ar e, então, me devolvem a vida.
Vida que se concentra nas gotas de suor instaladas nas dobras dos teus joelhos, na curva do teu pescoço e nas linhas perfeitas dos teus seios.

Andas nua pela mata banhada de sol da minha alma. Amazona, grandiosa e desenvolta, me guias para dentro do teu templo, enlaças meu corpo com tuas pernas velozes, me derretes e transformas minha fome em deusa que descansa no sagrado do meu ser. Ser este – que agora e há vidas  possuis na palma de tuas mãos.

1. Amazona S.f.(a) 1. Na mitologia grega, membro de uma tribo de mulheres caçadoras e guerreiras que teriam vivido na Europa oriental. 2.P.ext. Mulher alta e resoluta. de ânimo agressivo e varonil. 3. Mulher que pratica a equitação 4. Traje especial feminino, para montaria.

Mari Cê

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

essência


o cheiro que te perfuma
tem meu sexo
na assinatura

Vinni Corrêa

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Poema prosaico


Rasgada esta candura das palavras
sobeja-se o falso amargor reprimido.
Prévio conhecimento, tolo, em lavras,
puramente utopia costurada ao tecido.

A limitação do cérebro sem oxigênio
privado, então, teu principal sentido,
iludido, crendo num dom, feito gênio,
ignorando àquilo realmente contido.

Compondo meras anedotas rimadas
Nomeando-se poeta; repreendido!
Dessa eloquência vil de outrora, cada
dor ou vício terminou por esquecido.

Lucas Luiz



Lucas Luiz nasceu em Guararema - SP, em 1991. Iniciou publicando crônicas no “Jornal D’Guararema” e depois poemas no site de variedades “Guararema Tem”. Recentemente colaborou com as Revistas Literárias: Avessa, Inversos, LiteraLivre, Ser Esta e Mallarmargens. Participou da Antologia “Além do céu, além da terra” da Editora Chiado.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

atacados os atabaques


sim, atacados os atabaques
certos timbres de couro proibidos
certos nomes de entidade
doces de Cosme e Damião
lá onde rasga insistente o motor da moto
e empinada a roda toca a lua
na madrugada de morros e encruzilhadas
e a luz azul neon na cruz da matriz
e no letreiro próximo do motel
e o pisca-pisca no manto da virgem
e seu rosto imaculado de manequim
alvo como o da modelo de peruca
na loja do outro lado da rua
um troféu de cimento e latão dourado
da altura de uma criança de dez anos
garrafas de cerveja derramando-se dentro
da copa, do grande cálice
a ser passado de lábio em lábio
mas primeiro nos do goleiro
que em seu salto de jaguatirica
afastou o último pênalti
garantindo o campeonato inédito
atual maior herói da galáxia
e no perímetro não há balde ou bacia
que já não tenha virado tambor
em contra-ataque indiscutível dos atabaques
e da música liberada dos terreiros.

Tomaz Amorim Izabel



Tomaz Amorim Izabel é doutor em Letras e poeta. Publicou recentemente "Plástico pluma", seu primeiro livro de poesia.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Homenzinho


O homem caminha lentamente. Seu tamanho chama a atenção. Melhor dizendo, não chama, pois quase não se nota. Ele não passa de centímetros. E mesmo assim é uma perfeita miniatura humana. Braços, pernas, tronco, cabeça, ombros, joelhos e pés, tudo bem formado. 

Sua origem é um tanto desconhecida. Nascera daquele tamanho ou encolhera? O certo é que estando nessa condição de homenzinho, muitas dificuldades ele enfrenta. Complicações essas que fazem parte já do seu cotidiano de desprezo e insignificância. 

Mora numa pensão. Conseguiu nela uma vaga. Mas ali ninguém interage com ele, ninguém conversa com ele, em suma, ninguém o nota. Muitas foram as suas tentativas de fazer amizade. Entretanto, não obtivera sucesso. Sempre que puxava ou se lançava pela roupa de algum morador dali, logo o expulsavam. Era confundido com mosquitos, com insetos. Será que nunca ouviam o seu clamor? 

Quando sai às ruas não é diferente. É como se ele fosse invisível. Em lojas não pode entrar, pois não haverá quem o atenda, não conseguirá comprar qualquer produto que seja. As prateleiras são altas, tudo é muito grande e pesado quando se tem poucos centímetros. É difícil sua locomoção, seu andar, sua vida é difícil. Nada é para ele adaptado. Não há cama de centímetros, não há chuveiro em miniatura, não existem sequer roupas que satisfaçam seu tamanho. 

Apesar de tudo isso, ele não cansa de buscar uma utilidade. Sim, porque ele poderia muito bem passar horas, dias, meses, sem nada fazer e ninguém notaria. Mas em seus momentos reflexivos, ele se inquieta e examina em que pode ser útil. Certamente, em pequenas coisas, pois em grandes falharia, sequer conseguiria. O homem junta pequenos papéis deixados pelo chão, estica tapetes chutados, dentre outros feitos. 


Aguardam na pensão a chegada dum novo morador. Haviam preparado um quarto para a ocasião. O homem, vendo naquilo oportunidade duma possível amizade, planeja como se aproximar do novo hóspede. Já sabe. Ficará em cima da cama. E o incomodará, caso o desavisado deite ou sente sobre ele. Depois disso, se apresentará, contará sua história. E serão amigos. 

Assim acontece. O novo morador ao chegar no quarto, não demora a depositar o corpo na cama. Ali está ele, muito pequeno, muito ínfimo. Baterá nele até que o hóspede recém chegado o note. Ao sentir um incômodo em seu pé, o morador inexperiente se aproxima dele. 

– Mas o que é isso? – assusta-se.  
– Ah... Oi! Oi! Meu nome é...
– O que está fazendo aí? – interrompe o outro. 
– Bom, eu moro aqui. 
– Aqui? Como? 
– Cheguei aqui, fui ficando, ficando. 

Conversam muito. O novo hóspede ao ganhar proximidade, coloca o homem sobre seu peito. Ele por sua vez, por ali caminha, desviando-se dos pelos. Na presença dele, procura demonstrar sempre satisfação. Não quer desagradar o quase amigo. Relatado o drama, ele tinha conseguido o que queria. Pelo menos alguém, única pessoa que fosse, havia dado atenção para ele. Havia-lhe escutado a história de desprezo e insignificância. 

Agora eram bons companheiros. Ele resolve mudar-se para o quarto do amigo, que por sua vez havia adaptado alguns objetos para seu uso. Agora, com a permanência de bancos que serviam de escalada até a pia, o banho estava fácil. Girava a torneira e se refrescava nas águas. Depois descia e se vestia, podendo escolher entre calças e blusas, costuradas à mão por seu gentil amigo. 

Rara é a vez que seu mais novo amigo o nega conversa. De vez em quando, é tratado como sempre. Nem mesmo o seu companheiro de quarto o reconhece. Desprezo ele até entenderia, o que não suporta é ser confundido com pernilongos ou coisa do tipo. Como poderiam fazer aquilo? E faziam muito. Ao menor sinal dele puxando a calça ou blusa de alguém, ou mesmo tocando braços ou pernas, recebia bem perto uma palma de mão ou dedos que escorriam sobre onde estava. Obrigava-se então imediatamente a desviar-se, indo para outras superfícies, outros corpos. 

Quando saem para passear, é colocado no bolso. Aí, quando o amigo quer mostrar-lhe algo, retira-o cuidadosamente e coloca-o em sua grande mão. Satisfeito como criança, valorizado como um homem, só volta à tristeza quando precisa regressar ao bolso. Mas essa é uma condição quase necessária para que ele veja o mundo de outro ângulo. Ora, afinal não custa muito aguardar dentro de tecido sombrio, o momento de ver a luz do sol, o movimento da gente, tudo isso numa boa altura. 


O seu parceiro de aventuras, decide apresentá-lo aos demais moradores da pensão. Mas não o avisa de nada. Num habitual jantar, após levar-lhe várias vezes, grãos de arroz e pequenos pedaços de carne até a boca, fazendo repetidos e discretos movimentos entre seu prato e seu bolso, chega a hora. 

– Quero apresentar pra vocês o meu amigo – diz retirando o homem do bolso. 

Todos olham com admiração. 

– Ele mora aqui há muito tempo – aponta para a mesa. 

O homem que agora está sentado na borda da tigela de feijão, fica todo sem jeito e não consegue dizer palavra. Transtornado com tantos olhares, cresce ligeiramente. 

Dum instante para outro, surge na mesa um homenzarrão de quase dois metros.

Felipe Feijão



Formado em Filosofia. Blogueiro em portal de notícias. Escreve para jornais de Fortaleza.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Amazonidas


Somos filhas da ribanceira
Netas de velhas benzedeiras,
Deusas da mata molhada,
Temos no urucum a pele encarnada,

Lavando roupa no rio, lavadeiras,
No corpo o gigado de carimbozeiras,
Temos a força da onça pintada,
Lutamos pela aldeia amada,

Mas, viver na cidade não tira o direito de ser
Nação, ancestralidade, sabedoria, cultura,
Somos filhas de Nhanderú, Senerú, Nhandecy
O Brasil começou bem aqui...

Não nos sentimos aculturadas,
Temos a memória acesa,
E vivemos na certeza de que nossa aldeia
Resistirá sempre ao preconceito do invasor,
Somos a voz que ecoa. Resistência? Sim senhor!

Marcia Wayna Kambeba

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Índia Makusi


Escorro diamantes imprecisos
Do leito da trilha.
Lágrimas índias da tribo Makusi
Minha cintura vale mais!
Makunaima passou pelo meu ventre
Fez morada ali
Subiu a Serra Grande e ventou a Cruviana
Assustou seus irmãos que tinham inveja
De sua pele castanha
Mas não esqueceu que seu azul se confunde com o olhar de outro céu,
Que seu Branco são areias de outro rio
Ensinei que são meus cabelos que enegrecem a noite
Embalam o sono da rede do curumim
Deixei que brincasse com meus colares
Ao longo da Ponte Laranja
Do céu é mais bonito o espetáculo dos homens
Na terra de Makunaima
Sou índia Makusi
Sou filha e mãe de Roraima.

Sony Ferseck

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Presépio


Começaram a cavar um precipício entre nós
                [mais do que nunca o wifi cria ilhas no lugar de redes]
e o buraco é alimentado agora por nossas próprias mãos
se servindo de memes e de “lacração”

Urge ri da desgraça
saber tudo é imperatório
ser inteligente e engraçado soa mais curtível
do que abrir a cortina
do que combater a confusão

Cada qual do seu lado do precipício
dá ao mundo uma mostra
do quão eficaz é manusear o medo
 o desamparo, a afetação

Viva o mal entendido!
Alucinação acima de tudo!
Não importa o quanto isso custe
é vital o gozo da presunção

Das mãos e bocas cheias de goiabas
                             [e laranjas]
as respostas já vem prontas
Control C - Control C - Control C
Tudo está sob controle – indicam em gestos e sinais

enquanto esbanjam sorrisos e cochicham:
“eles já não enxergam as pautas, não escreverão nada mais”
e gritam aos quatro cantos
                    [e contas e contos]
que serão visíveis as imprescindíveis mudanças

Nesse grande acordo nacional
nossas ilhas e mínimos salários e barulhos
                        [curtida não se mede em hertz ou decibéis]
casam bem com os máximos privilégios dos que circulam no tribunal
julgando quem merece e quem não merece
ser cidadão de bem ou do mal

Renata Rosa


sábado, 5 de janeiro de 2019

Klimt Kat - Karenina Marzulo



Klimt Kat é uma das vinte obras expostas em ILUSTRADORAS! - Exposição Coletiva, que estará na Galeria SESC Engenho de Dentro até o dia 25 de janeiro de 2019. Essa exposição, elaborada pela iniciativa Do Feminino na Arte, traz ilustrações com temáticas e técnicas variadas para que a visão particular de cada ilustradora possa ser evidenciada sem imposições aos seus processos criativos.

Período da Exposição
25/10/2018 - 25/01/2019

Horário de Funcionamento
Ter a Sex – 09h a 21h
Sáb e dom – 09h a 18h
Faixa Etária: Livre
Entrada: Gratuita

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

armadilha


armadilha da noite de natal,
sob o signo de destilados anônimos, diz adeus e morre de delicadeza.

essa noite o céu parece uma
piscina vazia, pontilhada por estrelas de streptomyces.

a tevê acentua essa ausência,
cospe um crime com vodka na minha cara, me leva pra perto de portas intocadas.

Ígor M.



Ígor M. tem o ensino fundamental incompleto, trabalha em uma fábrica de ferramentas, corta o próprio cabelo e tem um gato chamado Ubu Rei.

Prêmio MTD de Fotografia



O Prêmio MTD de Fotografia: Walter Firmo é uma iniciativa pioneira cuja essência é a valorização do “olhar”, a difusão da arte fotográfica e o incentivo a todos os amantes da fotografia, de toda a cidade do Rio de janeiro, por meio de um concurso que premiará os vencedores em uma inédita Cerimônia de Premiação e Mostra fotográfica na Zona Oeste do município, em Santa Cruz, no Casarão Imperial Palacete Princesa Isabel que abriga o Ecomuseu de Santa Cruz. 

Para mais informações, acesse: