quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O monstro


Acho que não vou conseguir dormir mais. Ele falou que era por causa dos monstros. Normalmente eu nem pergunto que é pra ninguém falar nada e ficar tudo quieto, muito quieto, como se a gente não precisasse falar nada mesmo. Mas eu perguntei: que monstros? e ele disse aqueles que ficam lá fora esperando quando a gente não consegue dormir, e então perguntou se eu estava ouvindo eles. Eu disse que era pra ele deixar de ser bobo porque não tinha monstro que nada e ele estava mentindo. Ele jurou por Deus e falou olha, fica quieta, parada, que você vai ouvir eles chegando perto da gente. Eu prendi a respiração e não ouvi nada, e contei pra ele que não dava pra ouvir nada e que ele ia pro Inferno porque tinha jurado que. Ele então disse não, é esse o som que eles fazem, eles ficam quietos, muito quietos, como se não precisassem falar nada mesmo. Eu falei deixa de besteira, mas o que ninguém sabe é que agora eu acho que tem um monstro dentro de mim.



Clara Balbi é nossa leitora-colaboradora, e tem poemas publicados na edição #28 do jornal. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Hoje tem Pizzarau!



Hoje tem Pizzarau, às 20, no restaurante La Carmelia!! Veja mais informações do evento no facebook, através do link: https://www.facebook.com/events/710866078931605/?fref=ts

Identidade


Se alguém perguntar
Quem eu sou
Diga que sou uma criatura quase humana
Algo entre religioso e monstruoso
Um simples moço.

Se alguém perguntar
Em que dia nasci
Diga que foi num dia
Em que Deus , muito estressado,
Com tanta coisa lhe enchendo o saco
Fez com que minha mãe
Botasse pra fora
Algo que não fosse nem pergunta e nem resposta
Uma complicada incógnita.

Se alguém perguntar
Qual é a minha cor
Diga que é a do mundo inteiro.
Pintada por festas, sofrimentos de amor,
Muitas revelações e alguns segredos.

Se alguém perguntar
Qual é a minha
Curto carne, frango e sardinha
Ou qualquer outra coisa que esteja na panela.
Curto também pessoas
Muito além do que elas têm entre as pernas.

Se alguém perguntar
Onde moro
Diga que por aí
Chegando de repente
Sem hora pra partir.

Marcio Rufino

Marcio Rufino nasceu em São João de Meriti e mora em Belford Roxo. Lançou o livro de poemas Doces Versos da Paixão (Ed. Lítteris, 1998). Em 2008, fundou com Ivone Iandim, Dida Nascimento, Jorge Medeiros e outros poetas da baixada fluminense o grupo "Pó de Poesia".

Clarice


Um pingo d’água estreita-se por entre as ramagens do flamboyant que se ergue monumental no parque, até atingir o lago encoberto de folhas secas, pressagiando o outono. As árvores se agitam ao pressentirem a chegada da chuva que, denunciada pelo céu escuro, não tarda muito a chegar. Ao longe, crianças enlaçam-se numa ciranda e brincam de roda sem se preocupar com o tempo. Seus pais, aflitos, apressam-se em fazer com que elas se despeçam para que possam chegar a tempo, em casa. No chafariz ao lado, habita uma ninfa de beleza bucólica e cujo olhar vago contempla as pessoas que passam e sequer percebem a tristeza singular de seu rosto. Ela segura uma jarra por onde sai um fio de água que desce chorosa até encontrar-se com o mar de água doce que a espera no fundo daquela fonte. Os pássaros não param de cantar. O vento torna-se mais violento. Os pingos são cada vez mais constantes. Começa a chover. E eu, sentada em um banco, ouço o choro imperceptível das águas: as gotas da chuva, em contato com os galhos, escorrem até o lago, o chafariz, os guarda-chuvas, os bancos da praça central, até chegar à areia que segue em trilha, em direção à saída do parque. Desvaneço-me ao perscrutar meu coração e perceber que suas batidas acompanham o compasso da chuva. Aos poucos vou me derretendo, vamos transformando-nos em uma coisa só, num fio fluido, transparente, liquefeito. Transformo-me também em água e acompanho seu fluxo, penetrando a terra para fertilizá-la. Num instante, penso descobrir os segredos da vida. A mágica do acontecimento transcende a minha normalidade. O mundo me sorri. Ressuscito minha alma a uma radical simplicidade. Estou liberta. Sou toda água. As folhas se mexem conforme o leve toque dos pingos que tamborilam, formando uma misteriosa música agradável aos meus ouvidos. A dança da natureza se faz completa. Aos poucos, a chuva permite passagem à luz que se infiltra por entre as ramagens, e atravessa os labirintos intermináveis dos galhos até chegar ao chão. O silêncio reina na natureza. A água da fonte restabelece seu curso normal e volta a cair apenas um filete choroso de água do jarro abraçado pelos belos braços da ninfa. Não há mais crianças. Todas já se foram e, como previsto, viram a chuva cair da janela de suas casas. Estas ainda não se deram conta da graciosa simplicidade que há nesse ato. Penetrei em minha própria realidade. A vida agora se apresenta deliciosamente clara. Clara como a água. Porém não sou mais água. Nem eu mesma. Fertilizei meu coração. Agora sou terra.

Élen Gonçalves


Élen Gonçalves é leitora-colaboradora do estado de Minas Gerais.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O espelho infinito


             um dos problemas do espelho infinito
é que para se captar todo infinito do espelho
é necessária uma mínima curvatura com o corpo
   e esta, ao produzir infinitude, causa um efeito1
que é:

as infinitas fatias de quem se olha
adquirem uma forma elíptica que
após infinitas voltas
na última curva
          passam a refletir
cinquenta anos depois
não mais a elipse
mas o que aquele observador foi
cinquenta anos antes
                  fazendo com que
                  aquele que estiver defronte ao espelho2
(o antigo observador (curvado) ou o novo (reto))
veja um fantasma

outro problema
é que dificilmente um espelho infinito
                             dura os tais cinquenta anos
para que a primeira afirmação se comprove

paradoxo comum a este espelho
que também nos reflete3


1dizem que cientistas húngaros / acabam de isolar / efeitos sem causa // 2mesmo os espelhos comuns / só refletem aquilo que fomos / uma fração de segundo antes // 3a primeira estrofe não conversa com a segunda

Marcos Bassini


Marcos Bassini acaba de lançar o livro Senhorita K (Ed. Patuá, 2013). 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Barreiras


meus poemas padecem
esguios
raquíticos
tão insossos
em meio ao tanto que eu penso em falar
eu penso no que escrever
e começo a escrever
mas as palavras
vão
se
quebr
and
o
e, fraturadas,
elas se juntam
— fr-áge-is —
debaixo da sombra
do que eu realmente queria dizer

Átila Mourão

Saindo


Amor, tô chegando

é, eu tô me expulsando aos poucos de mim
eu me amarguei minha vida inteira
E sempre procurei de fora, um sabor
quando a única coisa que podia me adoçar
era eu.

eu me venci e me deixei entrar
guardei e guardei tudo da minha maneira
sempre achando que a morena da rua
conhecia a mim, e à minha vida inteira
como eu.

eu tô tentando voltar ao mundo
eu tô saindo um pouco de mim
eu tô subindo bem lá no fundo
eu vô buscar minha parte do sim

eu te peço, só te peço três semanas
o que é isso comparado à vida inteira
e pelo amor de Deus, minha senhora
não me case com a porra do Ribeira.

Pedro C

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Primeiro Labirinto Poético de 2014!





Venha se perder no primeiro Labirinto Poético de 2014!!

O ano já começa quente!

Muita poesia e música se misturam no evento, que será realizado pela segunda vez nos pilotis da Cidade das Artes, Barra da Tijuca - Rio de Janeiro, RJ.

Programação:

- Feira de publicações

- Abertura: LUCAS VIRIATO

- Música: LUCAS MAMEDE E TOMÉ LAVIGNE

- Poesia: MARCIO RUFINO

- Grupo poético: FORA DE ÁREA

- Poeta convidado: GREGÓRIO DUVIVIER

- Show de encerramento: POSADA & O CLÃ


Evento é gratuito!!


A Cidade das Artes fica na Av. das Américas nº5.300

Lançamento de A arte de salvar um casamento




Na próxima segunda, 27/01, a partir das 19h, será o lançamento do livro A arte de salvar um casamento (Ed. 7Letras, 2014), de Thiago Picchi. Livraria da Travessa, R. Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.  

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

17ª Mostra de cinema de Tiradentes



O Cinema sem Fronteiras inaugura sua temporada em 2014 apresentando o maior evento do cinema brasileiro contemporâneo – a Mostra de Cinema de Tiradentes - que chega a sua 17ª edição de 24 de janeiro a 01 de fevereiro de 2014 apresentando ao público a diversidade da produção cinematográfica brasileira – uma trajetória rica e abrangente que ocupa espaço de destaque no centro da história do audiovisual e no circuito de festivais realizados no Brasil.

Consolidada como a maior plataforma de lançamento do cinema brasileiro independente, a Mostra de Cinema de Tiradentes inaugura o calendário audiovisual brasileiro apresentando ao público mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias mundiais e nacionais e, ainda, reúne todas as manifestações da arte no cenário da barroca Tiradentes. Homenagens, oficinas, debates, seminário, exposições, lançamento de livros, teatro de rua, shows musicais, performance, encontros e diálogos, atrações artísticas numa programação cultural abrangente oferecida gratuitamente ao público.

Nesta edição, coloca em debate a temática “Processos Audiovisuais de Criação” que pretende discutir e revelar os processos de realização dos filmes contemporâneos – as transformações, as tecnologias, o fazer cinematográficos dos cineastas em relação à intenção e processo, os imprevistos, as experimentações e provocações.

Presta homenagem ao ator paulistano Marat Descartes – apresentando seu percurso fílmico - uma trajetória progressiva e sólida que ganha o mundo.

Sedia, pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio Itamaraty para o melhor longa da Mostra Aurora - eleito pelo Júri da Crítica - segmento exclusivo da programação para diretores em início de percurso em longa-metragem – um reconhecimento ao surgimento e presença de novos talentos cinematográficos brasileiros.

Nos seus 17 anos de existência, a Mostra Tiradentes cresceu e se desenvolveu gradativamente. Apostou na inovação, apresentou uma nova geração de realizadores que têm propósitos instigantes e criativos, que fazem cinema com vontade própria, com vigor.

A pluralidade de conteúdos audiovisuais advindos das mais diversas fontes expressa a programação desta edição que reafirma o compromisso cm o cinema brasileiro, com a sociedade que o origina, com as representatividades políticas, com as mudanças, influências e tendências do audiovisual.

Você está convidado a conhecer, inserir-se, vislumbrar possibilidades,presenciar, assistir e conhecer as novidades da sétima arte brasileira contemporânea.

Mais informações no site: http://www.mostratiradentes.com.br/

Nuvem cinza


O caso do meu avô
é que me deixa intrigado
não tem um pingo de humor
mas sempre foi engraçado

Thiago Ricardo

Acabou o sal


Para ti, um verso desalinhado, beijos quentes na testa e sabedoria:
Talvez a insanidade chama-se um barco, que ancorou em minha atordoada alma...
Por ter pele negra, a mim permitem solidões e trabalhos infames, discursos cifrados e mesmo os amigos, apontam cartões de salvem-se quem puder.
Rouca e brusca,
Para que o precipício não trague nossas almas;
Viagens e silêncios, beijos e amenidades;
So-li-tá-ria e aérea, pássaros cantam ao redor de mim;
Cozida em lágrimas, refaço-me tinta e poesia nas esquinas.

Rosa Azul

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

ISSN Plástico Bolha


O Plástico Bolha agora possui ISSN!!

Isso significa que os textos publicados na versão impressa do jornal, desde a sua primeira edição, em março de 2006, podem ser usados como pontos no Currículo Lattes de cada autor. 

Além disso, a aplicação do ISSN auxilia no controle da produção editorial do país, promove a identificação de títulos, a recuperação e transmissão de dados, além de melhorar a organização de acervos, os empréstimos entre bibliotecas, os serviços de indexação e resumos, os serviços de aquisição bibliográficos e a comutação bibliográfica. Nos catálogos coletivos nacionais e regionais, o ISSN facilita as operações de identificação, localização de títulos, transferência de dados e fusão de acervos. 

ISSN 2318-972X

Ol-fato


O cheiro da chuva entra pelo meu nariz e vai se ramificando por todos os meus poros, minhas veias, minhas células, como se capaz fosse de me fazer florescer.

O cheiro de terra molhada me inebria e me hipnotiza, como um pêndulo mágico dos mais eficazes, daqueles dos mais renomados encantadores, repletos de magia e misticismo.

Mas não há terra molhada. A chuva cai sobre o asfalto quente, 30 graus de pura civilização, fazendo a fumaça branca subir pelos ares, formando desenhos tortos e sem sentido.

Estranhamente, o cheiro permanece. Como se tudo cheirasse a terra molhada, lembrando-nos que a terra construída nada mais é do que terra originária modificada.

Agora, a chuva cessa e o vento refresca o ambiente. O calor infernal de há poucos segundos se abranda lentamente, deixando espaço para que a respiração volte a funcionar com perfeição.

E voltando a respirar, percebo ainda mais forte o cheiro de terra molhada, inundando-me por inteiro, como numa verdadeira tempestade tropical.

Bianca Rolff. 


Bianca Rolff é nossa leitora-colaboradora de Belo Horizonte, MG. 

Quer ter seu trabalho publicado no blog ou na versão impressa do jornal? Mande seu material para a sessão "Envie seus textos" no site do Plástico Bolha! 

Sobre a chuva


chove
farra de mosquitos brincando em meu quarto
refugiados de uma guerra aquática e de ventos desvairados
lá fora
e aqui desse lado da janela
tudo borra-se como um transformador de matéria esponjosa
embaça a visão
e meus 70% de água confundem-se
em milímetros de escassez ou profusão de sentimentos 
o nítido torna-se vago
o corpo, lasso
tento respirar aqui de meu escafandro

minha pele desfaz-se
com as gotas que nada aspiram
além
de
cair
como se ordem suprema as ordenasse
que chover nas plantas
ou furar o bloqueio do vidro
missão de vida ou morte fosse

de qualquer suma importância
acho graça
do canto da boca, um traço
a chuva intermitente me faz contente
acolhido, aprecio
e, talvez, quem sabe
ganhe o embate.

Daniel Granato

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"É que os Hussardos chegam hoje" - Antologia Poética da Cidade de São Paulo




Livro-festa reúne 77 poetas residentes em São Paulo no aniversário da cidade

A cidade de São Paulo receberá, na véspera de seu aniversário, dia 24 de janeiro, um presente poético: o lançamento do livro-festa "É que os Hussardos chegam hoje" – antologia que rende homenagem ao recém-inaugurado Hussardos Clube Literário.

Com título inspirado em verso do poeta grego Kaváfis (“É que os bárbaros chegam hoje”, na tradução de José Paulo Paes), o livro apresenta poemas, dentre eles alguns inéditos, de mais de 70 poetas residentes em São Paulo. O lançamento contará com a presença desses escritores de diferentes gerações para autografar a obra e realizar leituras.

Com edição de luxo, em capa dura e papel especial, É que os hussardos chegam hoje conta com a edição e organização dos poetas Ana Rüsche, Eduardo Lacerda, Elisa Andrade Buzzo, Lilian Aquino, Stefanni Marion e Vanderley Mendonça. Ilustrações e capa são de Leonardo Mathias.

Localizado no centro da cidade, o Hussardos Clube Literário é um multiespaço dirigido pelo editor e poeta Vanderley Mendonça, que reúne livraria, lounge, café, oficina, editora e agência literária.

Serviço

Lançamento da antologia É que os Hussardos chegam hoje
24 de janeiro de 2014, a partir das 19h - Entrada Gratuita e o livro estará à venda por R$ 20.00

Hussardos Clube Literário

Rua Araújo, 154 – 2º andar – República – São Paulo – SP

Sobre a língua a linguagem


sobre a língua a linguagem
sobre meu cobertor de lírios
a possibilidade de uma dança
abre a fronteira dos significados
que eu passo aí para buscar
um abraço depois do trabalho
sempre que as palavras
estiverem enxutas
podemos chacoalhar a árvore
para ver cair os frutos
amanhã cedo, numa esquina da Rua da Emancipação
numa parada de ônibus
eu posso acordar com um sorriso
no rosto e perguntar onde estou
alguém pode responder ou não
pode ficar olhando com cara de tonto
ou me chamar pelo nome
tanta coisa nesse mundo têm
nome, um homem feliz não devia ter
as ruas em transe, os sintagmas
não deviam ter, nem crocodilos
se chamássemos tudo de "aquilo ali"
seria tão bonito que um arco
íris nos faria caminhar sobre ele sem
pedir nada em troca
mas pediria sim: "não quero ser fotografado"
diria, com um jeitinho de criança
tímida ou menina que se acha feia
quando na verdade é tão bonita quanto
o horizonte retilíneo por cima das ondas
do mar



Danilo Diógenes tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha, além de ter sido publicado também na edição #30 do jornal. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Lançamento de "Tanto Mar"




Lançamento do livro Tanto Mar (Ed. Galerinha), de nossa amiga de Plástico Bolha Tatiana Salem Levy e Andrés Sandoval. Dia 19 de janeiro, domingo, às 10:30h, no Salão Nobre da EAV do Parque Lage, Rio de Janeiro - RJ.  

Oficina de poesia com o poeta Chacal na UERJ



Ontem aconteceu o primeiro de uma série de encontros com o poeta Ricardo Chacal na UERJ. A oficina de poesia acontecerá no departamento de Letras da universidade, sempre às quartas-feiras, a partir das 18:00h. Mais informações com o Departamento de Letras da UERJ.  

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Linha de sucessão


Inverter rei
Improvisar rei
Interpretar rei

Eu que nunca sonhei ser rei



Leia outros poemas de Douglas Batalha aqui no blog do Plástico Bolha!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Susto


Para a verdade
há este caderno
onde também
sou burocrata

há também
uma gota
de gordura quente
em meu peito

para os mistérios
há a palavra não
transeunte
em meus cílios
que estouram

para a verdade
simplifico é uma
questão de tempo
mas não há narina
que compreenda

para o mistério
há sangue
em meus dentes
que finjo não ser
meu


à verdade
há gritos
ao mistério
me sou findo



Sebastião Ribeiro é nosso leitor-colaborador do estado do Maranhão, e tem diversos textos publicados no blog do Plástico Bolha. 

Resumo da manhã


difícil dizer do corpo
como quem sabe onde fica
a parte como um todo

a onda
que
é pacífica

transborda entre os céus
entre a respiração
- a ladeira concreta
dos fumantes
reflexivos

fez elos e nós
porque nós tínhamos a deixa
de um dia escrever o que a mente
esquece de repente e pára no estalo
que o silêncio pediu

difícil é a alma
que cala enquanto chora
chora pela vida ausente
pelo amor inconsciente
dos apaixonados

(e é sutil)

os tropeços
as esquinas
os encontros
as rimas
um abraço apertado

que entrelaça o corpo
a alma

quando ter alguém
ainda
é fácil
Yasmin Nariyoshi é nossa leitora-colaboradora da cidade de São Paulo - SP, e tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Os latidos de Jacob


De quando em quando aquele tédio extrapolava qualquer limite. Vez em vez – logo no começo – ele dizia “te amo”, sem nenhuma parcimônia. Desconfiava daquela histeria com toques de cavalheirismo que, todavia, sempre circulavam qualquer atitude exata e sem falhas. Mas de qualquer modo, o raspar daquele pecado, daquela fingida acomodação com toda e qualquer suposição e agrados pacificavam e aquietavam os dois, que sem nenhuma estranheza ou estremecimento se aguilhavam sem saber o por que.

Ela e o cão beiravam um silêncio enorme. A extravagância de uma saudade sem fagulhas. E pouco importaria se Ian dobrasse a esquina cheio de flores e beijo fresco. Sua necessidade consistia em observar a passagem das horas, dia após dia, noite após noite. Como se naquela doentia espera, a angustia trouxesse cheio de vontades àquilo que nela também fluía. A ânsia arruinava qualquer forma regular de sua lembrança. Seu único alívio físico eram aqueles sorvetes coloridos e de certo modo elétricos que comprava naquela sorveteria da pracinha.

De cabelos flamejantes, mal entendia que, naquelas horas tudo se expandia. O corpo se auto-contornando como quem descobre ali, o jeito de não vacilar. Ele, Jacob, latia. Latia, cão sem sarna, pêlo escovado, dentes brilhantes como sol.  A menina nem olhava, porque todo esse rebuliço? Não acabou. Esvoaçava os cabelos ao voltar pra casa, os dois. A menina e Jacob.

Apanhava da tristeza, calcava todo espaço vazio da sala que nem móveis tinha e no meio daquela indulgência que só as apaixonadas sabem ter. Mesmo depois de estar acessa há dois dias e ter esfriado a cabeça no salão de beleza, como se isso fosse realmente um prêmio por competência, fidelidade e amor próprio, ele liga.

Depois de passar duas manhãs jogando bolinha pro totó, passa-repassa e começar a noite com aquele negócio de fazê-los bêbados e embebedar-me e terminar com dia raiando numa revanche motivada por ódio quase mortal a 120 km por hora no banco carona do melhor amigo, ela atende.

Seu rosto, até então, de menina, se tornara mais que de imediato uma exclamação, mas não antes de se desmanchar inteiro e corar. Sensação de triunfo, seu peito dizia. O cãozinho ainda latia e chegando do outro lado do mundo, ele dizia entre um “meu amor” e outro “ainda sinto seu cheiro” e como se fosse tão correto falar abertamente:

- O que faria se nunca mais nos víssemos?


 Mas como um caçador, que ronda durante toda madrugada a procura de alguém para amar, hesitava na mais obscura profundidade e sem frivolidades, o jogo a partir daquele instante começava. Sustentaria nas noites de bebedeira esse amor? Melhor perguntar, sustentaria nas manhãs de ressaca, sob o mesmo teto, todo amor?

Juliana Vallim


Juliana Vallim é nossa leitora-colaboradora de Belo Horizonte - MG. 

O amor é um rock


o amor é um rock

marrento
feito pra pular

o amor é um rock

sol maior
vocal berrado 

o amor é um rock

durável até o ponto
de quase tudo
sacrifício

o amor é um rock

Matheus Felipo


Matheus Felipo é nosso leitor-colaborador da cidade de Mogi das Cruzes - SP.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Plástico Bolha na Cidade das Artes




O jornal Plástico Bolha sendo muito bem recebido pela equipe da Sala de Leitura da Cidade das Artes!

Exposição Joseph Beuys



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eco



E já o dia anda a pôr-se baixo
Por onde pouco se enxerga
Na Luz que faz falta à sombra a que se entrega
Donde vindo se ergue novamente alto
O inverno que se já anunciou
De medo o frio encheu de dor
No verão que não veio acalentador
À noite em que o ruído de quem gritou não ecoou.

Paulo Victor Torres

Comunicação aos terráqueos


Chega de patentear os sonhos!
Chega de acordar e desligar o despertador!
Chega de vetar os sentimentos!
Chega de varar as idéias e encaixotá-las no Futuro!
Chega de transgênicos!
Chega de cores perdidas fora da moldura!
Chega de cabeças que flutuam nas univeridades!
Chega da escassez de criatividade nos políticos!
Chega de chegar chegando!
Chega de velhas crianças enjauladas no televisor!
Chega de chiado!
Chega de azul no azul!
Chega de Chuva Chovida!

Chega Nova Geração, Chega!

Luan Carlos Machado

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Exposição Interpolares



A Sala Carmela Dutra inaugura a exposição INTERPOLARES com os artistas Fernando Brum e Gabriel Cavalleiro com trabalhos de pintura e escultura. Colocando ora em paralelo e ora em interseção questões de suas pesquisas individuais. São cerca de 20 obras interpolando trabalhos com tinta spray, acrílica, óleo e escultura em dimensões variadas.
Vernissage no dia 14/01 às 19h.
A mostra continua aberta a visitação até o dia 31/01 (de 11 às 19h).
A entrada é gratuita.
Endereço: Av. Rio Branco, 251, 1º andar – Centro RJ

Subversão


abrir a porta,
todas as manhãs
colocar o tijolo que cabe
no edifício da superprodução de bens.

ao meio-dia pastar nuvens,
depois de comer
boa comida para bons músculos. 

Ao fim do expediente,
retirar, sorrateiro,
o tijolo, penélope.

pelo prazer de furtar
o troféu
da eficiência operária.

Marilia Kubota


Marilia Kubota (Paranaguá/ PR, 1964) é escritora e jornalista. Em 2010, organizou a antologia Retratos Japoneses no Brasil - Literatura Mestiça, que recebeu o Prêmio Nikkei de Literatura em 2011. 

Roupa nova


Vista-me do ardor de seu beijo.
Ao me desnudar, vislumbro-lhe.
Preparo-me para o ensejo.
Que a muito nutro por você.
Venha linda donzela, aproxime-se.
Bem aqui, pertinho de mim.
Assim, eu sinto seu perfume.
Seu cheirinho doce.
Quiçá, visto-me de você.
Para então estrear minha roupa nova.
Nova!
Que será eterna por cada segundo vestida.

Alexandre Andrade Brandão Soares


Alexandre Andrade Brandão Soares é nosso leitor-colaborador do estado de Rondônia. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sobre a fuga de si ou os prazeres que ela não tinha


Naquela manhã ela se posicionou a beira da janela para olhar o horizonte, o silêncio de seus pensamentos podiam ser ouvidos de longe. O barulho dos carros, com o qual estava acostumada, a faziam imaginar que estava partindo para longe, bem longe, aquele horizonte de que via de dentro da sua casa não era suficientemente distante. Por que a fuga? De si mesma Mayra sabia que não podia escapar, já havia tentado antes, mas não importava onde estivesse, aquelas batidas fortes no coração e as mãos suadas sempre estavam lá, ela atribuía isso a uma disfunção de seu corpo, meu palpite é que toda aquela ansiedade vinha do fundo da alma.

S.X

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Vazio


Vazio sem vida
Tesouro esquecido
Entre vidros moídos

Tesouro vazio
Esquecido entre vidros
Da vida moída

Tesouro da vida
Esquecido moído
No vidro vazio

Arnoldo Pimentel


Arnoldo Pimentel é nosso leitor-colaborador de Nova Iguaçu, RJ. 

Simpatia por Nietzsche



Elogio a loucura sim. De louco temos pouco e assim somos poucos.
O louco é aquele que foge, esconde-se, revolta-se, abala os padrões.
Convenções. Situações. Aversão. Assim acaba o louco.
Isolado, desolado, marginalizado.
Mas vale a pena tornar o louco são?
Ser louco significa mudar, transformar, adaptar. Grande dádiva humana.
O poder da mudança. Um louco então é homem, o louco é vivo.
Pensa logo existe. Pensa logo muda, pensa longo transcende.
Se um louco, doido, pirado é isso. Então, por favor, irei para a morada dos doidos
Pois prefiro Elogiar a Loucura ao invés de me Orgulhar da Apatia.

Marcos Santana