quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Do Feminino na Arte - Oníricas, Exposição coletiva, no Ingá, em Niterói



ONÍRICAS
Exposição Coletiva
Curadoria: Desirée Monjardim
Organização: Karenina Marzulo e Mariana Rocha
Do Feminino na Arte

O público vai poder ver obras variadas, entre desenho, colagem digital, pintura, fotografia e técnica mista, como aquarelas feitas com água do mar. “Oníricas” remete aos sonhos, à fantasia, a algo que foge do ‘mundo real’. Elas, oníricas. Os trabalhos selecionados, de alguma forma, te levam a um mundo fantástico. Os espectadores podem se distanciar de suas realidades e se transportarem quadro a quadro para outras dimensões como lhe aprouverem. 

Artistas
Ana Luiza Moraes
https://www.instagram.com/a.luizamoraes
Bruna Pelúcia
https://www.instagram.com/brunapeluciaartes
Graci Kaley
https://www.instagram.com/ateliergraci__kaley
Josiana Oliveiras Art
https://www.instagram.com/josianaoliveirasart
Karenina Marzulo Art
https://www.instagram.com/tatudoaaqui
Luiza Scarpa
https://www.instagram.com/luizascarpart
Marcelle Fagundes Art's
https://www.instagram.com/marcellefagundesarts
Mariana Rocha
https://www.instagram.com/anairamachor
Nicole Peixoto
https://www.instagram.com/nicapeixoto
Vanessa Ximenes
https://www.instagram.com/vanepinturas
https://www.instagram.com/encomenderetratos

Abertura: 12 de março, terça-feira, 19h - 22h
Local: Sala José Cândido de Carvalho
Visitação: de 13 de março a 13 de maio de 2019
Segunda a sexta, das 9h às 17h
Endereço: Rua Presidente Pedreira, 98, Ingá, Niterói-RJ
Informações: (21) 2719-6939/ 2719-9900
Entrada gratuita

Mais informações: https://www.facebook.com/dofemininonaarte

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Cacos


Teus espelhos refletem aquilo que temo
as pedras e os espinhos que conversam em minhas costas…
As vozes que gritam
implorando pelo fim do que talvez nunca tivesse sido real,
ecoam nos goles que dou entre um suspiro e outro.
Me aqueço em minhas chamas
nestas noites de inverno em que prometi a mim mesmo
que nunca te deixaria queimar,
e não deixei.
Me afogo nessas doses diárias de autodepreciação,
me fazem desmaiar uma ou duas vezes ao dia.
Me iludo com meus olhos que refletem o que temo
nos espelhos que a ti se estilhaçam em cacos de vidro,
como meu coração,
enquanto me reparto em mil pedaços
sussurro a mim mesmo
“Eu não quero mais ser você…”

Ian Veink

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

placas


derrubar placas
é divertido

e chacina o tédio

o sossego
a paz

tudo se revigora.

derrubar placas
te faz pensar na vida.
te faz querer somá-las.
talvez ficassem boas na parede.
no saguão ou na sala de estar?
hum, tanto faz.

derrubar placas é divertido,
mesmo que o motorista morra

por não enxergá-las
na pista.

Matheus Felipo



Matheus Felipo nasceu em 1986, em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. É formado em História pela Unesp. Escreve, tira fotos de bonecos e faz malabares como hobby.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Cão de Asas



Sérgio Monteiro de Almeida



Sérgio Monteiro de Almeida é um poeta e artista visual, mora em Curitiba, Brasil. Investiga a poesia não convencional, independente do papel. Seu trabalho foi publicado no Brasil, México, Argentina, Portugal, Londres, Bélgica, Holanda e nos Estados Unidos. Destaque para as revistas Cult, Nicolau, Oroboro, The Lost & Found Times, Plot, Rampike (University of Windsor), La Manzana Poética, Fleursdumal magazine for art & literature, Candido, Relevo. PVs expostos em vários locais do mundo: 51° e 53° Bienal Internacional de Veneza (Ilha da Poesia, 2005; Virtual Mercury House, 2009; ambas com curadoria de Caterina Davignio); Bienal Internacional de Poesia Visual e Alternativa do México (1987, 1990, 1992, 1996, 1998); Harvard’s Visual Poetry exhibition (2004, 2005); VII e VIII Salón International de Arte Digital, Havana, Cuba (2005, 2006). 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Sobre a multiplicação do amor


A vida humana é a tensão que se dá entre veste e nudez. (E. Coccia)


“Recepção”

quero me despir de toda a hipocrisia da saudade
e te sofrer como um espelho


“Partilha”

eles querem limpar as nossas ruas
eles querem duplicar as avenidas
eles querem acabar com todo o amor

mas nós nos absteremos da política
como de uma coisa infecta
e abjetamente desprezível

meu coração não é um motor


“Cogito”

penso em você
logo
o amor existe


“Fânero”

veste
meu corpo nu
a sua imagem e semelhança


“Matéria estranha”

sou o amante e a coisa amada
o meu corpo e o seu
o nada que ergo em sua falta
a forma que devolvo como a lei

o nosso amor
nessa guerra anunciada
defenderei defenderei defenderei


“Reprodução”

aquém da alma
além da pele
habito a matéria estranha do seu meio
e penso
que se vivo sem você
quero perder-me


“Amor”

tumor


“Como foi”

minha imagem era a sua
sua imagem era a minha
você não teve alegria
eu tampouco tive alguma


“Despedida”

você
voa agora daqui
para lá
onde tudo
sempre
se perde no passado
mas diariamente ainda
nasce
e se põe
como o sol


“Envoi”

preciso aceitar a ideia
de que a negação
não
significa um nada

que quando os espelhos
não devolvem a nossa imagem
não
quer dizer que não há nada a se observar


“Nachleben”

meu corpo é o que restou de nós dois


“Encerramento e gran finale”

só você me interessa
só me interessa o que não é meu



Rafael Castro é mestre em estudos literários pelo Pós-Lit/UFMG com a dissertação “A vida sensível do mito na literatura Huni Kuĩ”. É indigenista na Fundação Nacional do Índio. 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Estranheza Ansiosa


Como um mero terceiro
Observo a escuridão tomando conta de
Pensamentos já, há tempos, obstinados.

Como um mero espectador
Clamo pela impaciência dos fótons, para
Que possam se intrometer nas loucuras
Visuais e mentais que nos assolam.

Como um simples cidadão
Perco-me nas imensidões à minha disposição.
Com mãos calejadas, horas e horas se esvaem em poucos minutos
Até o momento em que a deusa dos mares nos preenche com sua presença
Indicando sutilmente o repouso.

Como um simples ser
Noto a irregularidade cotidiana dos fantoches
e meus pensamentos me acentuam questões
que me fazem pensar se não sou apenas mais um.

Em um delírio pós-moderno
Fragmento-me. Dilacero-me. Reconforto-me
em saber que um dia tudo acabará.

HISTORY

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

x


é uma entrada de luz por um furo
que pode ser um poro
e a luz pode ser um touro
o amor pode ser um apuro
uma brutalidade
e pra retirar o bicho cirurgicamente
pode ser duro
pode ser duradouro
uma eternidade
tecnicamente uma fraude
um silogismo indecente
há um sismógrafo no escuro
que pode ser um soro
o sangue sumidouro
daí o amor pode ser puro
novamente (e novamente)

calí boreaz

Evento HIATUS na PUC-Rio



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Discurso de formatura Letras 2018


Bom dia a todas e todos.

Primeiramente, uma ressalva: escrevi este discurso, principalmente, como um ou uma estudante de Letras, e não para o ou a estudante de Letras.

Toda e todo estudante de Letras sabem que os tempos não vão bons para nós, os vivos. Já faz um tempo que eles não estão bons. Fala-se demais nestes tempos (e, inclusive, cala-se). As palavras se esmagam entre o silêncio que as cerca e o silêncio que elas transportam. É cada vez mais pesada a paz do dia-a-dia (há paz no dia-a-dia?). Mas o que é feito das palavras senão as palavras? E o que é feito de nós senão as palavras que nos fazem? Todas as coisas são perfeitas de nós até o infinito — somos, pois, divinos. E uma maneira trivial de exercer nossa divindade é por meio de nosso poder de escolha. 

Podemos escolher o que fazer após sair daqui, onde almoçar ou até mesmo se vamos dar um pulo na praia. Isso também é importante. Mas o essencial é que podemos escolher o que pensar. E nosso trabalho é destruir, aos poucos, e com muita intensidade, os pensamentos dominantes que promovem abismos sociais, preconceitos, desrespeito, desamor — e morte. Vamos imaginar que você saia daqui e resolva almoçar. Ao chegar ao restaurante, você pede seu prato favorito: um filé, mal passado, com fritas. Quando a comida chega, você percebe que sua carne está bem passada. O que você faz? Provavelmente, você reclama com o garçom.

Da mesma forma que você reclama, mesmo que internamente, do motorista que não te dá passagem na pista da esquerda ou da caixa de supermercado que insiste em conversar com os clientes e que, por isso, atrasa todo o andamento da fila. E assim, no tédio da rotina cotidiana, no tédio disso que as pessoas chamam de Vida, você vai, automaticamente, esgotando a si mesmo e aos outros.

Mas você pode escolher o que pensar. Você pode escolher pensar que o cozinheiro poderia estar tendo um dia estressante, muito parecido com (mas muito distante do) seu, após ficar mais de uma jornada de trabalho dentro de uma cozinha fervendo e entupida de gente, tendo saído de casa às 04:00 da manhã, fazendo uso de todos os meios de transporte público possíveis para chegar ao trabalho, pontualmente, às 08:00. E quanta história nas costas do motorista à sua frente não segura o carro dele; quanta coisa no peito da caixa de supermercado não a leva a puxar assunto com desconhecidos e retardar o andamento da fila?

Aqui chegamos a um ponto importante — mas muito, realmente muito mal visto e muito, muito pouco considerado atualmente: vou chamar esse ponto de “O Outro”. “O Outro”: essa entidade que, neste exato momento, por exemplo, está ao lado de cada um de vocês e também está bem aqui, no centro de toda beleza, lendo este discurso. Quem diria: logo eu, que quando criança sempre brincava sozinho. 

Hoje, eu não estou sozinho. Quem me olha agora vê não um, mas muitos. Neste discurso, inclusive, há outras escritoras e outros escritores presentes. E eis o grande segredo que mantém as estrelas no céu, eis a unidade mítica de todas as coisas: nós não estamos sozinhos. Eu sou todos vocês. E todos vocês são eu. O coração de vocês bate pelo meu coração. Mas somos filhos da época e toda época é política. Essa é a verdadeira educação que devemos levar de agora em diante. Para entender isso, é preciso coragem, amigas e amigos. Afinal, a vida é coisa perigosa — é feita de escolhas, e escolher requer coragem.
Encerro este breve discurso agradecendo a todas e todos que participaram desta caminhada: cada professora e professor, homenageada ou não, famílias, amigas e amigos, que compartilharam momentos, alegrias e agonias. De uma coisa vocês podem ter certeza: somos gratos pelo que aprendemos e pelo que vivemos e saímos daqui prontos para seguir a boa luta. Obrigado.

Alexandre Bruno Tinelli

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Episódio saturnino


Persuadido pelo insondável
Transponho o tédio matinal
E o espectro rastejante da labuta
Trava com a indolência sua luta;

Coagido pela ventura inescrutável
Reconheço o pendor bestial
Projetando múltiplas representações
No rascunho torto das imperfeições;

– Ainda respiro, digo em solilóquio
E o existir dura em seu imbróglio
Como a dor de um convalescente;

A consciência inflada de paradoxos
No irremediável niilismo – tóxico
Submerge em fluxo decrescente.

Cássio R. Alves da Silva



Cássio Robson Alves da Silva nascido em Fortaleza - CE, é doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, tem seus poemas publicados em algumas coletâneas e, gradativamente, está aperfeiçoando a técnica para fabricar caleidoscópios artesanais.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Boleto - Um quadrinho de Linhas Tremidas



Reno



Quadrinista e ilustrador, Reno aborda dramas e conflitos psicológicos em seus trabalhos, frequentemente fazendo uso da ironia e do bom humor.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Ainda por cima


todos
por baixo de suas carnes cálidas
maçãs coradas istmos
ajambrados peles adornadas
contêm os alicerces respectivos
de um esqueleto surrado e frágil
que em sua fria feiúra
sustenta todas as energias
líquidos e músculos
todos
nos subterrâneos de seus sorrisos
francos falas encadeadas firmes
apertos de mão
guardam dispersas dentaduras
resistentes cucas hesitantes
tremores controláveis
à espera do comando
convincente
sob cada mecha doirada e leve
paira a aridez de um couro
cabeludo pálido e reticente
no contraponto da retina ubíqua
a breve cegueira das manhãs mal
despertas
à revelia de cada nome cada
mãe cada manhã
o número incontável de
fragmentos de poeira estelar
na ausência de cada presença
incógnita certeza de vida
acima de cada corpo inteiro
um espírito anêmico pronto para
a qualquer momento
flanar

Clidevar Araujo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Ulisses


Depois de tudo
deixo o teu leito
com tudo
o mais de óbvio:
molhado de suor,
com a face relaxada,
e uma ferida
encravada no dorso.

Deixo o teu leito
como quem
cumpriu uma promessa,
esperando o pão com manteiga
que chega com o cheiro do café
perpassado pela alvorada,

Deixo o teu leito
com a incerteza
de um retorno tranquilo
à minha Ítaca sonhada

— barco sem porto
faço de ti meu ancoradouro.

Deixo o teu leito
com um adeus
desacenado
de quem procura te
encontrar,

— após batalhas
contra troianos, ciclopes e
sirenes encantadas —

na próxima
dedirrósea manhã.

William Soares dos Santos



William Soares dos Santos (1972), é carioca, professor da UFRJ e escritor. Dentre os seus trabalhos literários se destacam o livro de contos Um Amor (2016) e os livros de poesias Rarefeito (2015), Raro - Poemas de Eros (2018) e Poemas da meia-noite (e do meio-dia), livro ganhador do Prêmio PEN Clube do Brasil para livros de poesias em 2018 e finalista do 3° Prêmio Rio de Literatura 2018.