A vida humana é a tensão que se dá entre veste e nudez. (E. Coccia)
“Recepção”
quero me despir de toda a hipocrisia da saudade
e te sofrer como um espelho
“Partilha”
eles querem limpar as nossas ruas
eles querem duplicar as avenidas
eles querem acabar com todo o amor
mas nós nos absteremos da política
como de uma coisa infecta
e abjetamente desprezível
meu coração não é um motor
“Cogito”
penso em você
logo
o amor existe
“Fânero”
veste
meu corpo nu
a sua imagem e semelhança
“Matéria estranha”
sou o amante e a coisa amada
o meu corpo e o seu
o nada que ergo em sua falta
a forma que devolvo como a lei
o nosso amor
nessa guerra anunciada
defenderei defenderei defenderei
“Reprodução”
aquém da alma
além da pele
habito a matéria estranha do seu meio
e penso
que se vivo sem você
quero perder-me
“Amor”
tumor
“Como foi”
minha imagem era a sua
sua imagem era a minha
você não teve alegria
eu tampouco tive alguma
“Despedida”
você
voa agora daqui
para lá
onde tudo
sempre
se perde no passado
mas diariamente ainda
nasce
e se põe
como o sol
“Envoi”
preciso aceitar a ideia
de que a negação
não
significa um nada
que quando os espelhos
não devolvem a nossa imagem
não
quer dizer que não há nada a se observar
“Nachleben”
meu corpo é o que restou de nós dois
“Encerramento e gran finale”
só você me interessa
só me interessa o que não é meu
Rafael Castro é mestre em estudos literários pelo Pós-Lit/UFMG com a dissertação “A vida sensível do mito na literatura Huni Kuĩ”. É indigenista na Fundação Nacional do Índio.
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