sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Boas festas!


Amigos do Plástico Bolha, toda a equipe do jornal gostaria de lhes desejar um excelente Natal e um muito próspero Ano Novo!

Voltaremos no dia 05 de janeiro de 2018 para mais poesia e mais poetas em nosso Blog, impresso, e outras mídias! Esperamos todos vocês conosco nessa parceria de muitos anos!

Ficam aqui os nossos sinceros desejos!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

DAS SAGAS E DAS LENDAS: PEQUENÍSSIMA FÁBULA DO CONTEMPORÂNEO


O seu nome era Octavius,
que quer dizer oitavo em descendência,
um nome que serviu muito depois a homem de mil rostos
falar do mais volátil: os humanos ofícios nas marés
que, quando aproveitadas, conduzem
à fortuna

Casou com Agripina, herdou tribuna,
tiveram filhos, terras
que lhe herdaram o nome –
o nome dele, que o nome dela de pouca serventia:
nem rito de passagem

E a linhagem (parecia)
foi clara e sossegada

Astrid veio uns séculos depois, em embarcação esguia
coberta de plumagens e dragões,
desembarcou com Igor e guerreiros,
ali chegados não só para pilhagem
de terras e mulheres, mas para as bem lavrar
(às mulheres e às terras)

E límpida (parecia)
lhes foi progenitura

Mas por certo algum curto vórtice de luz,
ou deus de natureza, ou deus qualquer,
não fez perfeita a história acontecida,
e ao baralhar os naipes de outra forma
criou pares novos numa arca nova:

a descendência muito ameaçada,
filhos meio alourados, outros sem cor distinta,
nalguns casos sombria, ou alva como a neve
em baixa temperatura

O filho de Igor: baixo,
íris escura

Igor bramando a Thor e a Odin,
ah, os trovões clamados, Astrid sussurrando-lhe
ao ouvido, dizendo-lhe nem sei, não compreendo
como aconteceu, mas ele era tão hábil e gentil,
tinha uns olhos rasgados, falava-me de estrelas,
e o seu perfil, um pouco estonteante,
e tu estavas na guerra –

E um dos filhos de Octavius, seu herdeiro por lei,
com olhos muito azuis

ah os murros fincados sobre a pedra do lar,
Agripina dizendo-lhe nem sei, perdoa, meu amor,
não compreendo como se passou,
mas ele tinha tranças e eram louras,
e chegou devagar, não fez estrondo de trovão nenhum
(como disseste que eles sempre fazem)
e trazia uma pedra cintilante, dizia ser o deus
que o protegia e que o acompanhava,
e tu estavas na guerra –

E assim por aí fora,
assim deve ter sido, assim foi,
de certeza mais segura

Célticos imigrantes, africanos, alguns árabes
fugidos sorrateiros do fim do continente,
mas que a lenda parece ter esquecido dos efeitos futuros,
e quanto a isso tentou ser
obscura

E godos, visigodos, pictos, germanos, hunos,
alguns casando por amor e terras, outros por terras
e talvez amor, outros porque ordenados
pela ordem das terras e dos usos,
mas na verdade amando o vizinho do lado
em vez da doce esposa, alguma esposa
ansiando das ameias a aia cumpridora e desejante –
mas todos dando filhos, pretexto para saga,
mais tarde literatura

E sempre eles em guerra –

Ah como sabe bem,
como é reconfortante
pensar que nesta circular e comum terra
há os limpos e puros!

Ana Luisa Amaral

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Plágio da nostalgia do presente


Num exato momento, disse a mim mesmo:
Queria providenciar o futuro
mas descobri que ele não existe
e sabendo disso fiquei imóvel
porque o outro em mim
continuou a insistir num projeto
imutável digno do Eclesiastes.
Todavia o jogo muda
e nada permanece pare sempre.
Nesse momento,
descobri que nada é o que foi
nem o que parecerá ser.

Pedro Demenech

domingo, 17 de dezembro de 2017

Bagagem


O meu corpo cansado
e curvado
é o fruto
de uma longa viagem.
Carrego o peso abençoado do aprendizado
que amealhei durante esta trajetória.
Não me pergunte mais nada
sobre essa história,
pois não saberia explicar
e ninguém sabe
onde pode e deve acabar.
Toda história tem começo,
meio e fim,
mas eu não quero mais falar.
Quem quiser
que fale por mim!

Lenita Holtz

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Minha memória


Minha falha memória   
falha!
e anda seletiva.
de te esquecer,
ela me priva.

Renata Rosa

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

ultraísmo furibundo


tão difícil desarmar fronteiras
que palavras-fósseis já sedimentadas
anseiam escapar pelo ar
caindo tortas pelos não-ouvidos
nada de novo, senão a cera do já-tapado
buraco que por sentar-se à mesa num não-dialogo
envolve exatamente um ninguém de pessoas
discutindo alto na casa de ausência preenchida
por barulhos de TV que antes fossem ao vivo

Pedro Demenech

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Marias sem graças a deus


Quando as horas vagam meu corpo é esfinge
A chuva ostenta as saudades
Os dedos lambem as vestes dos dias
As casas são réstias para a emancipação
E onde fica a rua mais próxima para o amor
Que eu fale reticências, asneiras, onde fica a invasão mais próxima para o amor
Onde ficam as camas, as vagas, as chupadas deliciosas
Só falo é de amor!
Então! Onde fica a voz mais fulgurante para o amor
Onde leva as ideias para o amor
Onde chama o teu amor

A Ponte
Aqui calo-me como um passarinho com dor
Calo-me como um cachorro que já não vê mais jeito para sua vida
Perambulando nestas estradas úmidas e não sabendo que sinal seguir
Afinal em que justo é o mundo?
Não é!
Lá de cima gostaria só de festejar com minhas amigas, vestir
roxo e beber um bom vinho nos próximos dias que se sucedem
Daqui a pouco se rasgam as plumas
E a voz ficará a estupor nesta latitude
As lambidas de sangue
Serão os clowns destas noites frias
As mulheres rasparão as cabeças
E os cílios verterão em Marias sem graças a deus
Raspo e me dispo como ser quem sou e não quero saber dessa
tua repressão me talhando os olhos
Não quero saber se antes não entendia o que é ser mulher
Hoje entendo
E sei aos versos que físico é o espírito que amplia
As costelas dessa bela Maria sem graças a deus
E que aqui neste terraço imenso de dispersão
Quando até maribondos fazem morada em nossos mamilos
O casulo sai para a liberdade
E o cordão que de mais virtude é
Cresceu e virou mulher
Marias sem graças a deus

Marilene Vieira 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Soneto Pr. 31


São entulhos jogados n’algum canto
Deste meu coração tuas lembranças,
A sombra dos teus passos vai sumindo...
Daquele vasto Amor o que sobrou?...

Sobrou uma saudade que, baixinho,
Solfeja uma canção desafinada,
Sobrou algum desejo de morrer...
— Seria melhor se não sobrasse nada...

Eu busco o teu esquecimento... Logo...
O bem que me fizeste comparado
Às dores que me deste sem pensar

São nada... Teus critérios se perderam...
Alguns versos de ti inda se aproximam,
Repara!... É por ti que eles não rimam!...

Maurilo Rezende

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Fome | Hunger — poema de Marina Du Bois e tradução de Pedro Du Bois


Fome

Quando a fome
não se resolve
com comida

há o prato
a cor
o destino
dos restos
aproveitáveis

quando some a fome
no que não há para comer
há o prato

a receita internacional
a descoberta
a mistura
de restos inaproveitáveis

quando a comida
não atende a fome.

Pedro Du Bois



Hunger

When hunger
is not solved
with food

there is the dish
the color
the destination
of the enjoyable
remains

when hunger fades
by the emptiness to eat

there is the dish
the international recipe
the discovery
the mixture
of unusable debris

when the food
does not meet the hunger.

Marina Du Bois

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Conselho de classe


VIADO: é o recado
Que os meninos me atiram
Junto à mesa.
O vento carrega os papéis
Sem sobreaviso.
“Nos dias de chuva,
Ninguém consegue trabalhar”.

No pátio uma sirene
Perfura a palidez da tarde
Conspirando em silêncio
Com a tempestade
Que segue varrendo
A solidez dos ideais.

Depois do lanche
A classe eufórica me afoga
Com seus gritos -
Dentro do peito, porém
Ausculto uma ressaca
Inaudível
Que faz tremer o corpo
Inteiro, com o pavor
Da criação.

Marco Aurélio de Souza


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

luto


apenas porque morremos
o sol voltará amanhã
exigindo que ao menos
um
de nós
tente de novo
(ítalo diblasi)


luiz, querido amigo,
vai pela luz vai pela sombra
penetrar as planícies da paz celestial
e aspirar fundo o ar que aqui lhe faltou

vai luiz, meu camarada,
vai pela luz vai pela sombra
colocar em movimento a moviola do céu
pra editar as sequências que imaginou por aqui

vai luiz, finíssima criatura,
com sua diplomacia e generosidade
amotinar as falanges do santo guerreiro
para dar um help na vida dos que ficaram

vai luiz, anjo em todas as dimensões,
que nessa aqui passaste só o trailer
saindo de cena quando ia entrar
como uma estrela que cai para o alto

luiz, meu caro, luiz
você foi mas sempre estará por aqui
nesse devir imperceptível
que rói a carne e se amolécula

aproveita luiz o projetor
multidimensional das salas do paraíso
e programa com tudo que tem direito
os filmes que você quis ver no odeon

vai luiz pela luz e pela sombra
e coloca em ação seus projetos
que essa vida miserável
não deixou acontecerem

vai luiz, vai na paz
confortar com sua frondosa sombra
tudo que se gesta no escuro
e que mais dia menos dia virá à luz

vai luiz vai na paz

Chacal

Homenagem do poeta Ricardo Chacal ao nosso colega Luiz Giban que partiu esta semana.