O seu nome era Octavius,
que quer dizer oitavo em descendência,
um nome que serviu muito depois a homem de mil rostos
falar do mais volátil: os humanos ofícios nas marés
que, quando aproveitadas, conduzem
à fortuna
Casou com Agripina, herdou tribuna,
tiveram filhos, terras
que lhe herdaram o nome –
o nome dele, que o nome dela de pouca serventia:
nem rito de passagem
E a linhagem (parecia)
foi clara e sossegada
Astrid veio uns séculos depois, em embarcação esguia
coberta de plumagens e dragões,
desembarcou com Igor e guerreiros,
ali chegados não só para pilhagem
de terras e mulheres, mas para as bem lavrar
(às mulheres e às terras)
E límpida (parecia)
lhes foi progenitura
Mas por certo algum curto vórtice de luz,
ou deus de natureza, ou deus qualquer,
não fez perfeita a história acontecida,
e ao baralhar os naipes de outra forma
criou pares novos numa arca nova:
a descendência muito ameaçada,
filhos meio alourados, outros sem cor distinta,
nalguns casos sombria, ou alva como a neve
em baixa temperatura
O filho de Igor: baixo,
íris escura
Igor bramando a Thor e a Odin,
ah, os trovões clamados, Astrid sussurrando-lhe
ao ouvido, dizendo-lhe nem sei, não compreendo
como aconteceu, mas ele era tão hábil e gentil,
tinha uns olhos rasgados, falava-me de estrelas,
e o seu perfil, um pouco estonteante,
e tu estavas na guerra –
E um dos filhos de Octavius, seu herdeiro por lei,
com olhos muito azuis
ah os murros fincados sobre a pedra do lar,
Agripina dizendo-lhe nem sei, perdoa, meu amor,
não compreendo como se passou,
mas ele tinha tranças e eram louras,
e chegou devagar, não fez estrondo de trovão nenhum
(como disseste que eles sempre fazem)
e trazia uma pedra cintilante, dizia ser o deus
que o protegia e que o acompanhava,
e tu estavas na guerra –
E assim por aí fora,
assim deve ter sido, assim foi,
de certeza mais segura
Célticos imigrantes, africanos, alguns árabes
fugidos sorrateiros do fim do continente,
mas que a lenda parece ter esquecido dos efeitos futuros,
e quanto a isso tentou ser
obscura
E godos, visigodos, pictos, germanos, hunos,
alguns casando por amor e terras, outros por terras
e talvez amor, outros porque ordenados
pela ordem das terras e dos usos,
mas na verdade amando o vizinho do lado
em vez da doce esposa, alguma esposa
ansiando das ameias a aia cumpridora e desejante –
mas todos dando filhos, pretexto para saga,
mais tarde literatura
E sempre eles em guerra –
Ah como sabe bem,
como é reconfortante
pensar que nesta circular e comum terra
há os limpos e puros!
Ana Luisa Amaral
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