quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Lançamento da Coleção Língua Cantada

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Por dentro — um poema de Lucas Gibson

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Sabem pouco
Esses românticos fanfarrões!
Que o amor
Mais do que em flores
Mais do que em poemas
Está,
Nas louças lavadas
De surpresinha
Pela manhã...
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Lucas Gibson
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terça-feira, 29 de setembro de 2009

A paixão clubística, texto de Gilbert Daniel

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O meu time foi campeão naquele ano, melhor, foi bicampeão, melhor, foi tricampeão, melhor ainda, foi tetra, mais que isso, penta penta! O meu time.
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Naquele ano, fomos rebaixados. Voltamos depois, naquele outro ano, e não fomos campeões. Fomos muitos mal naqueles anos seguintes mas, depois, de novo fomos vice-campeões e, melhor, finalmente de verdade fomos campeões, melhor, fomos bicampeões, melhor, fomos tricampeões, melhor ainda, tetra, mais que isso, penta penta! O meu time.
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Gilbert Daniel
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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Clássico do Plástico Bolha, por Mia Vieira

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Acalente-me a alma
Perdida de seus braços.
Use-me com flor;
Vida descartável.
Despetale-me a roupa
Bem me queira.
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Mia Vieira
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Seminário musical com celebridades na PUC!

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domingo, 27 de setembro de 2009

Viriato, um poema inédito de Raquel Naveira

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Viriato,
Rei e pastor da tribo lusitana
No confronto com Roma,
Poderosa e insana.

Viriato,
Rei que empunha a lança,
Celeste mandato
De quem busca paz,
Justiça
E conhecimento;
Herói,
Santo,
Pai da nação lusa,
Mobiliza energias
Nas batalhas do espírito.

Viriato,
Pastor que segura o cajado,
Apascenta o rebanho das estrelas,
Pronto a morrer por suas ovelhas;
Sábio,
Nômade,
Observa os astros,
Distingue os ruídos,
Escuta a chegada dos lobos,
Emissários de seu assassinato.

Viriato,
Rei e pastor,
Comandante amado,
Cantado por Camões,
Habitante do oceano,
Senhor do exército,
O teu retrato
De homem viril e nobre
Está impresso
No meu sangue português,
Na minha rebeldia ancestral,
No meu canto exato.
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Raquel Naveira
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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ciranda entre tangos

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Me desculpe o entusiasmo, mas não é todo dia que encontro alguém assim tão medido, cabido, perfeito; e agora já bem sei que não adianta fugir, fingir nesse verão tão repleto de fumaça e terças-feiras que você não existe nem olha pra mim.

À flor da pele, o tal fulano flautista ilustre experimenta cirandas e agudos para as tantas outras pernas que floreiam em roda, imundo o piso que gruda nos pés. Mesmo no salão cheio, estou um pouco sozinha; ensaio a cara de indiferença e já de prontidão aviso que não sei dançar: dois pra lá, dois pra cá; tem que soltar mais os ombros; segue meus passos; deixa que eu te levo. Prefiro sambar assim de longe; finge que não me toca. Desvio o olhar. Pode provocar que eu sou forte e madura e segura de si. Temos muito em comum; ele diz: “parece estranho mas, com licença, posso te beijar?”

É claro que prudente seria pedir logo um táxi, sacar a chave de casa, bater a porta do quarto de persianas, lençóis, abajur. Ligar o ar-condicionado, dormir de maquiagem, exausta, vazia e um pouco bêbada, como se nada nem ninguém pudesse ter tido a mínima ínfima chance de se aproximar um dia da minha heroica distância particular.

Em vez disso, pega meu telefone, recito afobada os oito números, repito para ter certeza, pode ser que ele ligue, quem sabe marcamos uma praia, vamos ao teatro, ao cinema, à ópera, ao raio que o parta; ou então não liga nunca mais, pediu por capricho, foi apenas solícito, estava sendo bem-educado.

Esquece, eu sou só uma trepada em potencial, sou qualquer uma, sou fácil demais. Quando precisar, me dá um toque que eu caio direitinho. Pensa que me engana? Cantarola um tango antigo; tem tristezas, nostalgias da Argentina. Ele parece tão sensível... Olha pra mim; eu pareço entusiasmada? Não, não fala. Me abraça outra vez daquele jeito. Espera, eu mal te conheço. Pensando bem, tenho sono; já são cinco da manhã: você pode me deixar na Gávea?
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Constanza De Córdova
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Fragmentos de Maria, no Planetário do Rio

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A Editora da Palavra convida para o lançamento do livro de poesia
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FRAGMENTOS DE MARIA
de Maria Dolores Wanderley
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dia 1º de outubro de 2009
no Planetário da Gávea
a partir das 19h.
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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Discutindo o Relacionamento

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alma gêmea
ou
há uma algema?
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Octávio Roggiero Neto
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Carta ao vento — de Patrícia Schwingel Dias

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Meu tempo acabou. Sinto muito lhe deixar. Mas realmente preciso partir. E, cá entre nós, você já deve estar cansada de só ter uma pessoa. Ficamos aqui a noite toda somente eu e você, e uma intrusa. Ah, como poderia eu esquecer essa noite estrelada que não dorme? Que não nos abandona, pra finalmente termos a quietude de que tanto queremos.
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Vim lhe ver pelo silêncio, mas encontrei um barulho que não me acalma a alma. Você sussurra constantemente em meus ouvidos. Sopra um vento molhado que me tira a razão. Tenta me convencer a qualquer custo de ficar.
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Você joga comigo. Você joga aos meus pés o ir e vir de suas curvas. Me seduz. Tenta me hipnotizar com sua dança, seu cheiro, com seus beijos salgados. Tenta me dar provas de que há vida nesta vastidão do nosso eu.
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Preciso confessar. Você quase me convenceu de ficar. Ficar, até ficaria, mas só se fosse aqui a vida inteira, a te olhar. Adoraria te ter pra sempre. Mas você não pertence a mim. Pertence a vida, ao mundo, aos outros homens. De resto, nada mais quero, nada mais me restou.
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E, vai, admite! Você não iria me aguentar. Afinal, não é esse o seu costume: ficar com um só. Sempre que lhe encontro, você está rodeada por belas pessoas, sorridentes, felizes. E elas fazem o que querem de você. Se aproveitam de tudo o que você tem para oferecer. E, pior é que você deixa. Gosta, até. Pede pela badalação, pelo agito, clama pra ser o centro das atenções.
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Mas, pensa que me engana? Eu conheço o que está por trás desse seu jeito manso, calmo, conciliador. Você tem seus altos e baixos, como todos nós. Fica mal humorada e joga tudo pra cima. Quebra o que vê pela frente, toma espaços que não lhe pertencem. Destrói o que tiver que destruir para impor o seu lugar no mundo.
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Eu sei que você também sabe o que é sofrer. Mesmo assim, tenta me convencer de que há ainda beleza na vida. Me mostra coisas bonitas, narra as suas conquistas, fala de suas jóias, umas tais pedras portuguesas. Conta sobre os seus inúmeros namorados, sobre as suas amigas, visitantes de quase todo o dia, companheiras na diversão e confidentes de problemas.
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Oh, problemas são tantos, que como confidente nem saberia por onde começar. E sinceramente, não vim aqui para falar. Desisto. Vim aqui para terminar o que não começou bem. Terminar talvez seja uma boa forma de recomeçar, não acha? Vou embora agora, vou para os braços da sua mãe Yemanjá. E pedir a ela que me leve ao encontro do Tânatos.
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Patrícia Schwingel Dias
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Venha abraçar a Mãe Africa amanhã, na Lapa

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Mais um, poema de Vanessa Campos Rocha

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eu mereço
tu mereces
ele merece
nós merecemos
vós mereceis
eles merecem

(o meu com calda de chocolate, por favor)
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Vanessa Campos Rocha
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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Participe da oficina de Diário — na UERJ

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Meus paralíticos sonhos desgosto de viver

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Ele estava ali na minha frente. Espumava como um cão raivoso. Corri em sua direção na esperança de me resignar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto já molhado da sua água. Foi ali, sob o olhar do Pão de Açúcar, que eu me entreguei. Desci até o fundo e deitei-me no chão. Sem palavras, sem pensamento, apenas sentindo uma forte pressão sobre o peito. Ele me roçava inteira, me descabelava toda e me lambia as pernas. Já não havia mais roupas para cobrir meu corpo quente. Permaneci ali embaixo até meus pulmões não aguentarem mais, então, subi covardemente em busca de ar. Levei um tapa, depois outro. Chorei. Bate, bate mais seu merda! Ele me ouviu e mais um tapa levei, sendo que dessa vez bati forte com a cabeça no chão. Meus olhos enxergaram o escuro. Sem forças fui me abandonando enquanto sua água beijava o meu corpo por dentro. Sufocou-me. Eu já era sua. Senti-o me puxar pelos pés. Aos poucos foi me levando para cima e em seu colo me acolheu. Delicadamente acariciou o meu corpo nu e frio enquanto me levava para longe. Ninguém nos viu, nem o poeta de bronze se virou para se despedir. Os canhões do forte permaneceram em silêncio. Ele foi me levando. Só restou-me dizer adeus!
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Cacau Vilardo
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Conferência Municipal de Cultura no Rio

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Pão e Poesia em qualquer padaria. Participe!

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Vulcão

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andar cambaio
chama vulcanica
monstro trepidante
esbaforido e manco
cujas pernas débeis
sofrem sob o peso da dor
celeste e terrestre
demiurgo amoral
apóstolo inspirado
sopra o fogo fabricando
flechas cintilantes
as armas dos deuses
os escudos resplandecentes
o tesouro dos heróis
joias,broches e brincos
anéis,braceletes e colares
para as afrodites insanas
e as belas tábatas mortais
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Jovino Machado
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Poesia e música no corredor de Maricá

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Camila Justino lança novo livro em outubro!

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Camila Justino, nossa colaboradora do jornal Plástico Bolha está lançando seu terceiro (!!!) livro em outubro, na Livraria da Travessa de Ipanema. Vamos todos colocando na agenda...
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Feliz Natal, conto de Solange Valeriano Pinto

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Na verdade, esse era um fato real que quase se tornou ficção. Uma colega de turma dizia que sua avó não gostava de preto e nem de pobre e a havia proibido de aproximar-se dos bolsistas da PUC. Não obstante aos conselhos da avó, ela sempre me tratou com gentileza. Mantínhamos uma distância polida. Ela sempre comentava (quando o assunto era sobre cotas ou coisa parecida) que sua avó achava inadmissível que um pobre estivesse estudando na mesma universidade que sua neta.
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Sinceramente, nunca me senti ofendida com as palavras dela, apesar de serem bem desagradáveis. Ela fazia o tipo desagradável — e isso não era uma opinião só minha —, mas não sei por que, não sentia que ela falava aquilo por mal, para ferir a mim ou a quem quer que fosse. Ela, simplesmente, falava, e pronto... Embora com ar indiferente e displicente, estava transmitindo a opinião de sua avó.
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Eis que um dia, era fim de novembro, eu estava no ponto do Pirata, voltando para casa, quando uma das domésticas, que trabalhava na Gávea, aproximou-se de mim:
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— Oi, boa tarde.
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— Boa tarde. Tudo bem?
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— Tudo...E aí ? Vai trabalhar no Natal?
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— Não.
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— Não! Por quê? Tá sem casa?
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Sem esperar a minha resposta ela perguntou:
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— Tá a fim de fazer um bico? É aqui pertinho do seu serviço ( essa era uma das que pensavam que eu era doméstica). Mas tem que ser no Natal e no ano novo 25 e 31 . Topa?
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Fiquei pensando na minha situação financeira que estava muito ruim naquele primeiro ano na PUC.
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— Qual é o bico? Perguntei.
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— Você vai ser minha ajudante. Te pago 150 reais. Você vai lavar toda a louça, arrumar a cozinha, descascar os legumes, arrumar e servir a mesa e, de vez em quando, levar uns petiscos na piscina para os patrões e seus convidados. E aí ? Topa?
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— Tudo bem. Vou pensar...
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— Pensa, pensa, porque a parada é boa. Olha só, todo ano eu trabalho no Natal e no ano novo. É com esse dinheiro que eu compro os presentes pros meus filhos, meus netos, meus afilhados, entendeu? Se não for assim, não compro. O dinheiro do pagamento é só pra pagar contas... O triste é que a gente fica longe da família, né? Mas fazer o quê? A gente não pode ter tudo. Depois que passa as festas, eu saio distribuindo os presentes (porque ela só paga no final). Mas quando eu chego, é aquela festa. Meus filhos já até se acostumaram longe da mãe no Natal. Cresceram assim, coitados!
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— Tudo bem . Vou pensar e amanhã te dou a resposta.
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— Valeu... Olha o nosso Pirata ali. Vamos correr pra pegar lugar sentadas.
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Fui para casa pensando na proposta. Cento e cinqüenta reais! Era tudo o que eu precisava para fazer a minha ceia. Mas o preço seria alto demais. Pela primeira vez na minha vida passaria o Natal longe da minha família. As últimas palavras daquela mulher ainda faziam um eco na minha cabeça: meus filhos já até se acostumaram longe da mãe no Natal. Cresceram assim. Coitados!...
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Em casa, comentei com a família. Assim como eu, meus filhos ficaram indecisos. Ganharíamos um dinheiro,mas eu não cearia com eles. Meu marido até que não achou a idéia ruim,pois disse que seriam só dois dias. Mas o Natal, para mim, tem um significado todo especial. A família reunida sempre foi muito mais importante do que a mesa cheia de guloseimas. O Natal me recorda a minha infância. O cheiro de tinta fresca, de tecido novo, de rabanada fritando (que nós comíamos ainda quente). A árvore de Natal era um galho seco, preso a uma lata de leite em pó, que nossa mãe cobria com algodão e enfeitava com caixas de fósforos embrulhadas em papéis coloridos. Não tinha pisca — pisca, tampouco presentes ao redor. Se bem que sempre colocávamos os sapatos na janela, que dormiam e acordavam vazios, pois Papai Noel nunca encontrava o nosso endereço.
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Meu pai era bombeiro hidráulico. Quando desempregado, quase sempre vivia de bicos e trazia o pagamento já no fim da tarde. Trazia tinta (ou melhor, cal e corante — geralmente, verde) para pintar as paredes da nossa casa. Quando caía a noite, ele ainda estava dando os acabamentos externos. Minha mãe corria às lojas e comprava tecidos para fazer nossas roupas. À noite, estávamos todos de roupas novas e tomando bronca de meu pai, pois, não raro estávamos com as roupas e os braços manchados de tinta fresca e a parede marcada por um vazio de tinta, que vinha agarrado a um braço, uma perna, um cabelo, um vestido.
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Já era bem tarde quando minha mãe saía da máquina de costura direto para o fogão para preparar a ceia. Por isso, comíamos as rabanadas ainda quentes. Uma das maiores diversões era ver os distraídos, com os braços e as roupas manchadas de verde fugindo da cara feia do meu pai na hora da ceia.
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Os filhos dos vizinhos ganhavam presentes lindos e eu não conseguia entender por que o “bom velhinho” nunca deixava nada pra nós. Aos pouquinhos fomos entendendo a dinâmica da coisa. Os mais velhos já não colocavam mais o sapato na janela e, à medida que os menores iam crescendo e entendendo, faziam a mesma coisa. Creio que não crescemos magoados pela falta dos presentes, porque tínhamos uns aos outros. Tudo era motivo de risos, piadas e brincadeiras, inclusive a nossa dureza. Não tínhamos dinheiro, mas sempre passávamos os Natais juntos.
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Todas essas memórias pesaram na minha decisão. Se aceitasse o bico oferecido pela colega, teria que deixar a nossa mesa posta antes de ir trabalhar. Como se eu fosse empregada nas duas casas. Na minha e na casa da patroa da colega de ônibus. A diferença é que na casa da patroa eu ganharia para fazer a ceia e na minha eu a faria de graça. Mas, e a graça maior? A de estar com a família? Como recuperar?
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Fui cheia de dúvidas para o ponto de ônibus, mas a moça não estava lá. Não a vi mais nos próximos dias que antecederam o Natal. Deve ter perdido o meu telefone e o meu endereço. Pensei. Paciência, não tinha que ser. Chegou o Natal! Achei tudo tão maravilhoso. A ceia estava tão simples, mas passei com a família. Senti uma alegria diferente da dos outros anos, uma espécie de alívio, como se eu tivesse recuperado algo antes de perder, não sei explicar. Só sei que foi muito bom...
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Volto das férias. Estou na Rua Padre Leonel Franca, como de costume, esperando o ônibus pirata.
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— Oi colega, lembra de mim?
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— Oi. Tudo bem? Claro que lembro. Você ficou de me arrumar um bico no Natal, não é mesmo? Fiquei esperando...
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— Pois é... me desculpa... Fui à sua casa, mas no pé do morro, encontrei uma vizinha sua e perguntei onde você morava. Ela perguntou o que eu queria contigo. Falei sobre o bico e ela perguntou:
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— Quanto é?
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Falei:
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— 150 reais.
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E ela respondeu:
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— Hi , essa vizinha não vai querer isso, não. Ela não precisa. Dá pra mim aí, pô. Eu preciso mais do que ela.
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— Então fiquei sem graça e levei ela no seu lugar. Até que ela trabalhou direitinho... Da próxima vez eu te levo, falou?
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— Falou. Tá tudo bem. Só gostaria de saber como se chamava essa vizinha?
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— Peraí, deixa eu ver... Ah nem lembro mais... Foi em dezembro, já estamos em março... Hi, olha ali quem vai passando do outro lado da rua! É a neta da minha patroa... Ela estuda naquela Faculdade ali na frente — disse a mulher apontando para a PUC.
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— Na PUC?
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— É. Você não trabalha ali por perto? Balancei a cabeça, concordando. Olhei na direção em que ela apontou e deparei-me com a colega, cuja avó não gosta de pobres, pretos e bolsista. Superada a surpresa inicial, vendo a menina afastar-se sem nos ver, dei asas à minha imaginação. Então pensei:
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Se a minha vizinha indiscreta não tivesse ficado com a minha vaga (meu bico), talvez eu tivesse ido à casa da colega de turma como ajudante de cozinha. E, talvez fosse servir petiscos à beira da piscina para ela, sua família e convidados. Talvez, distraída, eu lhe dissesse, na minha displicência:
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— Olá Bia! Feliz Natal. Está curtindo as férias? — Desconcertada e muda ele enfiaria o rosto em uma revista, fingindo ignorar a minha presença e muito menos a minha pergunta. A avó, que não gosta de pobres, de pretos e de bolsistas, nos observaria com olhar atento e reprovador. e perguntaria:
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— De onde você conhece essa serviçal, Bia?
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Bia ficaria muda, sem saber o que responder à avó conservadora... E eu lhe responderia, já me afastando com a bandeja:
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— Nós nos conhecemos da faculdade. Estudamos juntas na PUC...
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

MAELSTRÖM — pelo grupo "um só olhar"

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A Casa de Cultura Mario Quintana
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convida para a estreia
do espetáculo multimídia (cinema, literatura e música)
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MAELSTRÖM
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em homenagem ao bicentenário de nascimento de Edgar Allan Poe
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apresentado pelo grupo
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UM OLHAR SÓ
Tomaz V. Borges (cineasta)
Paulo Bacedônio (poeta)
Carlos Bica (músico)
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Sábado, 26 de Setembro de 2009, à 1:00 h (da madrugada)
Entrada Franca
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Acervo Mario Quintana – Mezzanino Casa de Cultura Mario Quintana
Rua dos Andradas, 736 – Centro
Porto Alegre – Rio Grande do Sul
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Dona Cleonice na ABL!

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O jornal Plástico Bolha entra na campanha para apoiar a candidatura de Cleonice Berardinelli, a nossa Dona Cléo, para a vaga deixada por Antonio Olinto na ABL.

Ela é super merecedora e seria um justo reconhecimento por toda uma vida de trabalho de altíssimo nível! Contamos com a colaboração dos leitores. Disparem e-mails, façam campanha...
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domingo, 20 de setembro de 2009

Evento "arte em andamento": amanhã, no Rio

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Desengano

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—Alô, amor ?
—Não,
foi engano.
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Saulo Pereira Guimarães
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sábado, 19 de setembro de 2009

Amanhecendo, poema de Franklin Pacifico

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Adormece o escuro e renovadas
ressoam tristes notas graves, justas,
do noturno, através da madrugada.
Abre caminho pelos ares, turva.

Liberta o corpo, galhos e também
as folhas, até a copa dos pinheiros,
até sumir, fugir, para o além.
Risca célere o céu, faz um espelho.

Transfigura o olimpo de cinzento
num laranja longínquo que não esqueça
o reverter sem fim de uma ampulheta.

Canta do leste, aurora, sua vinda.
Nada embaraça teus caminhos, luz.
Canta, aurora brilhosa, vem, belíssima.
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Franklin Pacifico
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

canseira, um texto de Vanessa Campos Rocha

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acerta aqui, ajeita lá, assopra, acende, risca, devolve moço, pede, suplica, machuca os joelhos, vivo! morto! brinda (quantas vezes?), corre, respira, para de respirar, parou? não? chora, reza, planta, pede e pede de novo mas duvida que alguém escute, limpa, joga, atravessa, arranca, é no peito que dói? hum-hum, fala de novo, chove douradinho e ah esquece, é na alma.
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Vanessa Campos Rocha
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Inocentes do Leblon II

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"...tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas e esquecem."
(Carlos Drummond de Andrade)

Não vimos o DOPS e, quando nascemos, a cozinha já era de inox.
Desconhecemos Byron, Sartre, Dylan e Baudelaire,
Nem em placa de salão entendemos Hair.

Foi proibido proibir, mas, logo liberaram de novo.
Fizeram Revoluções contra e em favor do povo,
Ah, e descobriram: quem veio antes, pobre galinha, foi o ovo.

Nós, que viemos depois até do pós,
Não esperamos pela anistia nem por Quércia.
A rebeldia da nossa juventude é a inércia.
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Rodrigo Siqueira Ribeiro
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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ataque do homem-ético, de Fabiano Baião

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Ao descortinar a janela do quarto, reparo as luzes acesas da cidade, pessoas indo e vindo de todas as direções. Desnorteados que vagam por labirintos sem encontrar a saída. Eu penso, mas não queria pensar! Encontro-me em estado de vacuidade, uma descrença que me sufoca, quando penso nas vezes que me ponho a filosofar em mesas de discussões com mentes não libertas, mas infelizmente não aprendo. O assunto não poderia ser outro: ética, tema impróprio para esse país de pilastras ocas - é a mesma coisa que remar contra um tsunami.
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Em minhas reflexões, apoiado nesta janela, vendo tudo passar, mas que em mim não passam, me encontro, me defino finalmente, e concluo que sou um extremista, um radical doido, desvairado que acredita piamente que se matar muitos outros, entrarei no paraíso-ético. Mas diferentemente de outros desatinados pelo mundo, não tenho líderes, não pertenço a grupo algum, não tenho um código de direção a me transmutar a realidade e não espero um paraíso sobrenatural.
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Divido minha tarefa em três: o trabalho mental, a organização de todos os instrumentos, com a escolha do local do ato, e a realização do fato. Meu trabalho metal é minha conclusão psicológica, se o que irei fazer é o que realmente quero, mas doido que sou, não concluo nada e me lembro num lampejo que estou alucinado, alienado e então não penso mais em nada, e pulo esta parte estúpida.
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Vou para minha organização instrumental, que seria a aquisição de todos os equipamentos para meu objetivo extremista. Radical e desequilibrado, anoto tudo num papel: uma dinamite de seriedade e outra de amor, uma dinamite de tolerância e mais uma de honestidade, uma granada de sinceridade e mais uma de ética, um detonador, uma semente de educação. Definida toda parafernália para o ato terrorista, faltavam as compras e a escolha do local de minha glória. O lugar deveria ser onde houvesse seres que não são radicais, mas seria impossível, então, resolvi escolher a capital do país, Brasília para que de lá essa explosão propaga-se até atingir todas as regiões do Brasil.
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Depois de tudo definido, finalmente realizaria o ato. Mas não poderia partir sem antes despedir dos meus pais, pessoas que mais amo e que ficarão orgulhosos desse ato.“Olha, amo vocês, mas meu discernimento mental está por completo desequilibrado, dizem tanto, que comecei a achar realmente que sou radical, extremista e tal, então, já que sou tão anormal, faço esse ato brutal”. Saio então, de Belo Horizonte em um ônibus numa manhã de sexta-feira rumo à capital brasileira. Na praça dos três poderes, abro meus braços para o horizonte, fecho os olhos para ao abri-los novamente, me encontrar no paraíso-ético, mas antes, com todos aqueles equipamentos impregnados em meu corpo, que ao apertar de um botão, o explodir de um milhão.
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A honestidade varre o palácio do planalto, o congresso nacional, o palácio da justiça, o jeitinho brasileiro do povo, vindo por trás à ética, efetivando em todos, sua monstruosa praga, que é hereditária. O que não estava a olho nu nesta explosão é que uma semente de educação voou do meu bolso com toda aquela pressão, penetrando pelo chão, o que seria de fato as bases para nossa evolução.
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Fabiano Mafia Baião
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sábado, 12 de setembro de 2009

Corujão da Poesia na livraria DiVersos

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Em Flor — um poema de Pedro Braga Soares

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Perpetro da tua pele uma simbologia de pétala
— nada me impede
de tatuar-te de palavras.
Sopro feito arrepio aspergido sobre teu vasto,
desabrochada de intenção, arrependida, de repente.
Visto o disfarce do impossível, porque tudo pode ser,
e podemos: seja.
Rascunho das tuas veias uma linguagem intuída de decifrar-te nua
e aguço-te o tato com o toque intermitente de sussurros.
Insinuo pecados como formas de redenção,
consinto render, deploro o perdão.
Insista no erro porque a justiça é uma forma arbitrária
de compensação do desejo; nunca me sinta reparado.
Note que os absurdos vêm à tona conforme os olhos vêem
Cale a veêmencia dos contrários como quem silencia uma criança
E deixe-se devoluta, mas se faça perder por um propósito.
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Pedro Braga Soares
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Negra Loura

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Desceu em Belford Roxo
de um ônibus que vinha de Vilar dos Telles.
Sua pele era de feijoada
mas seu cabelo era puro trigo.
Sua pele era de noite
mas o seu cabelo era o horizonte de tardinha.
Falsa britânica.
Nórdica preta.
Africana de cabelo pintado entre o castanho e o dourado.
Zulu disfarçada de branca.
Entrou na padaria
pediu um refrigerante
e cruzou suas grossas coxas
debaixo de um curtíssimo jeans rasgado.
A rapaziada toda olhou e babou
ela toda no pensamento
imaginando estar no século retrasado
e possuir aquele território à revelia
que parecia ter saído de uma letra
de Benjor ou Melodia.
Bebeu tudo numa só golada
pagando a conta.
Saiu não só levando
o louro e duro cabelo entrançado
acima do sorriso amarelo
mas também o olhar de todos nós
entre aquele busto
que eram dois maduros jamelões gigantes
embaixo daquele vermelho sutiã.
Sumiu entre pagodeiros e funkeiros
entre credores e devedores
entre viajantes e farofeiros
entre pequenos empresários e vendedores.
Ela saiu do nada
e foi com tudo para qualquer lugar
tomando seu sorvete demais
deixando em sua língua
que nos banhava em sonho
o sabor daquele morno verão.
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Marcio Rufino
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Na batucada da vida: Carmen Miranda na ABL

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LINA POR ESCRITO — Lançamento no Rio

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sábado, 5 de setembro de 2009

Praia de Fora, um poema de Carlos Morgado

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Dentro de meu quarto arredio
escuto o mar vindo de uma Avenida Suburbana.
Real, de uma realidade extrema, posso ouvir
as ondas quebrarem entrecortadas pelos comboios-
e sentir quase que a branca espuma beija-me os pés
por entre cortinas de fumaça.

Não sejamos mais que o rio das coisas,
nem nos preocupemos com quem somos ou sonhamos em ser.
apenas sejamos, como o verde das árvores
ou o cinza concreto desta praia,
somente assim,
simples e absurdo.
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Carlos Morgado
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Arte em Andamento — Evento aberto no Rio

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Lançamento: Pastores de Virgílio, em SP

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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

RJ CONTINUA LINDO — de Gabriel Pardal

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O cristo redentor está cansado.
De braços abertos.
Numa mão o revólver apontando pra Zona Norte
e na outra apontando pra Zona Oeste.
Sorte daqueles
que sentem-se cariocas
quando tem no horizonte o Corcovado.

Já no interior da cidade do Rio de Janeiro,
onde não dá vista pra onda,
nem chega brisa nem maresia,
nem a luminosa decoração de natal da lagoa,
o cartão postal é a foto de uma corda
amarrada numa árvore,
que à título de turismo
deram o nome de Forca.
É ali que esses cariocas sabem-se no Rio.

Em outros mais profundos interiores,
onde nem se acha mais árvore para uma corda amarrar.
Apenas barro e poeira e homem,
ainda Rio de Janeiro,
sabem-se cariocas quando olham para um prego.
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Gabriel Pardal
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terça-feira, 1 de setembro de 2009