segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ataque do homem-ético, de Fabiano Baião

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Ao descortinar a janela do quarto, reparo as luzes acesas da cidade, pessoas indo e vindo de todas as direções. Desnorteados que vagam por labirintos sem encontrar a saída. Eu penso, mas não queria pensar! Encontro-me em estado de vacuidade, uma descrença que me sufoca, quando penso nas vezes que me ponho a filosofar em mesas de discussões com mentes não libertas, mas infelizmente não aprendo. O assunto não poderia ser outro: ética, tema impróprio para esse país de pilastras ocas - é a mesma coisa que remar contra um tsunami.
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Em minhas reflexões, apoiado nesta janela, vendo tudo passar, mas que em mim não passam, me encontro, me defino finalmente, e concluo que sou um extremista, um radical doido, desvairado que acredita piamente que se matar muitos outros, entrarei no paraíso-ético. Mas diferentemente de outros desatinados pelo mundo, não tenho líderes, não pertenço a grupo algum, não tenho um código de direção a me transmutar a realidade e não espero um paraíso sobrenatural.
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Divido minha tarefa em três: o trabalho mental, a organização de todos os instrumentos, com a escolha do local do ato, e a realização do fato. Meu trabalho metal é minha conclusão psicológica, se o que irei fazer é o que realmente quero, mas doido que sou, não concluo nada e me lembro num lampejo que estou alucinado, alienado e então não penso mais em nada, e pulo esta parte estúpida.
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Vou para minha organização instrumental, que seria a aquisição de todos os equipamentos para meu objetivo extremista. Radical e desequilibrado, anoto tudo num papel: uma dinamite de seriedade e outra de amor, uma dinamite de tolerância e mais uma de honestidade, uma granada de sinceridade e mais uma de ética, um detonador, uma semente de educação. Definida toda parafernália para o ato terrorista, faltavam as compras e a escolha do local de minha glória. O lugar deveria ser onde houvesse seres que não são radicais, mas seria impossível, então, resolvi escolher a capital do país, Brasília para que de lá essa explosão propaga-se até atingir todas as regiões do Brasil.
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Depois de tudo definido, finalmente realizaria o ato. Mas não poderia partir sem antes despedir dos meus pais, pessoas que mais amo e que ficarão orgulhosos desse ato.“Olha, amo vocês, mas meu discernimento mental está por completo desequilibrado, dizem tanto, que comecei a achar realmente que sou radical, extremista e tal, então, já que sou tão anormal, faço esse ato brutal”. Saio então, de Belo Horizonte em um ônibus numa manhã de sexta-feira rumo à capital brasileira. Na praça dos três poderes, abro meus braços para o horizonte, fecho os olhos para ao abri-los novamente, me encontrar no paraíso-ético, mas antes, com todos aqueles equipamentos impregnados em meu corpo, que ao apertar de um botão, o explodir de um milhão.
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A honestidade varre o palácio do planalto, o congresso nacional, o palácio da justiça, o jeitinho brasileiro do povo, vindo por trás à ética, efetivando em todos, sua monstruosa praga, que é hereditária. O que não estava a olho nu nesta explosão é que uma semente de educação voou do meu bolso com toda aquela pressão, penetrando pelo chão, o que seria de fato as bases para nossa evolução.
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Fabiano Mafia Baião
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