segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Ainda por cima


todos
por baixo de suas carnes cálidas
maçãs coradas istmos
ajambrados peles adornadas
contêm os alicerces respectivos
de um esqueleto surrado e frágil
que em sua fria feiúra
sustenta todas as energias
líquidos e músculos
todos
nos subterrâneos de seus sorrisos
francos falas encadeadas firmes
apertos de mão
guardam dispersas dentaduras
resistentes cucas hesitantes
tremores controláveis
à espera do comando
convincente
sob cada mecha doirada e leve
paira a aridez de um couro
cabeludo pálido e reticente
no contraponto da retina ubíqua
a breve cegueira das manhãs mal
despertas
à revelia de cada nome cada
mãe cada manhã
o número incontável de
fragmentos de poeira estelar
na ausência de cada presença
incógnita certeza de vida
acima de cada corpo inteiro
um espírito anêmico pronto para
a qualquer momento
flanar

Clidevar Araujo

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