segunda-feira, 14 de abril de 2014

Mineiridades


O sol esconde atrás das montanhas
e entrete o tímido habitante das gerais.
Sem mar, o itinerante divide os retalhos.
Tantas dores, lampejos de arte.
Finos teares de sombra, cores da tarde.
O falar provinciano reconcilia os opostos,
de Brecht ao mais convicto dos liberais.
Distrai os opostos com queijo e goiabada,
viola, causo e piada.

O menino veste o adulto,
o errante pede o indulto.
Quer o culto ao sábio tempo de nascer dilema.
Conselho de um certo Guimarães,
que me fez colher Rosa
nos prados de Adélia,
nos versos de Drummond.

O riso discreto espreita atrás da porta,
entreaberta tamanha espera.
Serena lágrima que acende a fogueira.
Eu madrugando no clarão da ribanceira,
ao som do cancioneiro popular
embalado em noite estrelada.

Os mineiros se perdem nos mistérios
que nem seus ricos minérios conseguem pagar.
O detalhe sutil ressurge para reparar
a beleza altiva da estrada real,
pouco afetada pelo falso ideal
de um controverso inconfidente feito herói.
Velho Chico, choro-rio agonizante,
gemido pungente que dói.
Seca escassez, contido em barragens, ganância dos patrões.

As lavadeiras alvejam roupas nos quintais
enquanto o jovem desassossega-se lendo jornais.
O doce caseiro satisfaz a boca
enquanto a alma se deleita na tristeza
divertindo-se com o tom barroco dos vitrais.
A arte também tem seus frágeis cristais.
Sentada na calçada,
alcoolizada de indecifráveis ais.
Fingindo-se mal-amada,
útil e fútil, tudo e nada.
Sentencia-se suportável e, às vezes, não.
Bem-vindo ao interior das bagagens.
Identidade plural de Minas Gerais.

Patrícia Vieira de Faria 


Patrícia Vieira de Faria é leitora-colaboradora da cidade de Uberlândia - MG. 

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