sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Surdos de Arrombalândia, por Gabriel Matos

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Uma festa divertidíssima. Uma finesse. Uma educação. Eu queria que vocês pudessem escutar o silêncio que eu presenciava ali. As mãos mais falantes que eu já conheci. As gargantas mais silenciosas que eu já ouvi. As gargalhadas mais ruidosas e interessantes que eu já ouvi. Gente fina e civilizada é outra coisa. Não é que nem eu e outros aí, que nos proclamamos Homens de/a Cultura mas temos abobrinha e outras agriculturas no cérebro. ó! Que saudade.
No meu último sonho, havia um horário eleitoral surdo.
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— Instalamos dezenas de telefones públicos para os deficientes auditivos — diz o Tucano.
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— Instalamos closed caption em todas as novelas mexicanas — vocifera a Macaca, ou melhorzíssimo, o Macaco-Fêmea.
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— Instalamos uma lei onde todas as empresas de telefonia móvel terão de estar lançando aplicativos para amparar os portadores de deficiência física, visual, sonora, olfativa e gustativa — proclama a Baleia Azul.
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O despertador de luzes coloridas... dESperTA. Acordo. Graças ao meu Papai Noel, em cujo sapatinho havia uma nota. Não foi sonho; foi uma aparição demagógica. Obrigado, Bom Velhinho.
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Eu queria uma festa. Uma festa divertidíssima, com nuvens de algodão-doce. Um templo de surdos-mudos onde eu pudesse moodar o mundo e suas onomatopeias. Vou me candidatar à lista do SurdosOL, a rede social de surdos On-Line, e prometer uma educação de fato inclusiva, onde os ouvintes se incluam num mundo irado que nem o dos surdos.
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Um cachorro-quente, por favor.
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