quarta-feira, 20 de outubro de 2010

APARTAMENTO (Natureza-morta), um poema de Victor Heringer

Ludo-
-casa se desloca em blocos.

Os dados na mesa -- herança dos
lados que assumi -- dão sempre ímpar.
É assim que se decide o chão.

Sapatos & chinelos nus
fazem os passos de quem os estacou ali
e foi dançar sozinho (o mesmo de sempre:
dois pra lá pelas uvas, pão e café amargo;
dois pra cá pela rotineira qualquer coisa).

O pó acumulado no canto (em afinações
de escombro -- memento homo,
quia pulvis es) diz que tudo está bem.
Que a ordem é de queda e reentrâncias:
a quarta dimensão é a solidária gravidade.

Só as paredes são felizes,
desmoronadiças, em ânsias de cubismos.
Cada toque em seus interruptores é preparação
para o tombo. Baixo meretrício
violado por dedos de luz última.

E o teto debatendo a retirada possível.

Victor Heringer

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