segunda-feira, 3 de junho de 2013

Imagens secas (dez por um)


Dos corpos sugados pela paisagem ensolarada e inimiga
Dos corpos, o sangue ausente por culpa do rei...
Dos corpos que compõem a paisagem pálida, sem vida
Do império do espaço sem expectativas
Do horizonte ameaçador do amanhecer
Da penumbra tristonha e esperançosa ao entardecer
Da secura dos olhos mesmo ao chorar
Da amargura na boca sempre suplicando
Do ar quente enchendo os pulmões sem misericórdia
Daquela pele cinzenta em cima da carne sem vida

Do silêncio atormentador dessa vida
Das imagens ilusórias de fartura na falta
Do caminhar na direção dessa falsidade
De pedras até por água suplicantes
Do céu azul sem a graça de alguma divindade
Da fé concentradora das últimas energias para salvar-se
Daquele punhado de nada e comê-lo sorrindo
Do cantar solitário (grito?) da asa branca de triste
Da fina poeira levantada da realidade

Da formiga carregando esperança no seu libertário tempo
Do cacto sem fé, mas resistente ao terreno difícil
Da nuvem cheia passeando com essencial de se viver
Do vago estômago debruçado e fraco na terra
Da falta de tudo do que nasceu...
Do descrer de todos os animais perante o criador
Do sol-rei desassossegado com o calor desse mesmo
Do ser humano com ar frágil e singelo
Do olhar fixo num horizonte perdido
Das imagens secas contra a imagem vívida e esperançosa desse poema...

Ruberval Silva

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