domingo, 6 de agosto de 2023

Beneditino, um poema de Guilherme Ottoni


Olho esta página e antevejo a ruína,
Página em branco, de mudez perversa,
Mas que antes tenha a maldição que versa,
Do que versar a maldição que ensina!

Dela desejo a inspiração divina
Para que frente à encruzilhada inversa
Ouça de Exú a irracional conversa
E cante um verso que alivie a sina!

Oh, folha em branco, Adamastor dos poetas,
Quanto de ti na imensidão do engano
Não cala as vozes tontamente inquietas?!

Certo é, escrevo, mimetizo o estoico,
E olho o papel que rabisquei sem dano
Na vala reles do soneto heroico!

Guilherme Ottoni

2 comentários:

Luiz disse...

Saudades suas dos seus poemas, querido Gui!
Parabéns pela garra na luta contra as páginas em branco!

Com amor,
Luiz.

Anônimo disse...

Adorei o poema. Representa todo mundo que um dia já tentou escrever.