segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Depois da Primavera, de Guilherme Freire


Os dias passam a durar mais
E todas as noites são iguais
O calor penetra nos dias
Tirando o espaço da alegria

A brisa passa a cantar
Crianças correm para nadar
Sentindo o leve aroma do sol
Cada uma um girassol

O mar canta para seus convidados
Que pulam felizes, admirados
Sedentos por areia e água
Para finalmente correr da mágoa

Mas o brilho do sol é forte
E correr na areia dá má sorte
Onde estão as flores da primavera?
Aquelas que sorriam de forma sincera

Seria possível tolerar o Verão?
Por esse crime que leva à solidão
Sem as flores, sem aqueles beijos
Adocicados como goiabada no queijo

Restam apenas boas lembranças
Que deram as mãos para as esperanças
Lentamente escapando pela terra quente
Escondendo-se na noite dormente

Seria um erro amaldiçoar o mar?
Amante da temperatura sempre a aumentar
Ou talvez arrancar esses girassóis
Sempre a louvar a luz feroz

Também cantam alegres os pássaros
Orgulhosos, melódicos, pesarosos
Para esconder sua enorme saudade
Chorando à noite com sinceridade

O crepúsculo surge de repente
Escondendo o brilhante sol gentilmente
Momento oportuno para lamentar
E daquelas belas flores se lembrar

O mar se aquieta no escuro
Levando a areia para um lugar seguro
Ninando os peixes com suas cantigas
Maravilhando-os com canções já esquecidas

Por um momento é noite
Tempo ínfimo, sendo desnecessário o convite
E a saudade inicia seu coro
Implacável a segurar o choro

Gritam com aquela estação
Os intranquilos sem direção
Desprezando os movimentos da Terra
Negando a ida da Primavera

Mais uma vez o crepúsculo
Surgindo sem nenhum escrúpulo
Elevando o sol que surge cantando
Mais uma vez a todos iluminando

Um pássaro desgostoso bate as asas
Sobrevoando descontente todas as casas
Procurando uma flor para ser beijada
Fragmento da estação tão amada

Existiam flores, mas não agradavam
Apenas da Primavera adoravam
No Verão sobram apenas sementes
Simbolizando os amores ausentes

E a saudade batia
Cantando baixo, em harmonia
Devorando o presente distante
Abraçando o passado amante

Mas as sementes caem no chão
Esperando a querida estação
Falta apenas o verão ser regado
Para o futuro não ser largado

Guilherme Freire

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