quarta-feira, 29 de novembro de 2023

o jamboeiro do IMS, poema de Paula Reis Vianna


jamboeiro me avisou que as frutas estão caindo, está na hora que antes de apodrecerem devo chamar meu pai pra colhermos juntos — a nossa escola o prenúncio do tapete rosa e depois de maduro a queda (o doce-ácido, o branco-rosa) então aqui estamos nós: ele sentado carregando a Sacola de Jambo enquanto me olha catar os frutos debaixo de duas sombras tão antigo hábito esse eu nunca vou deixar de contar os dedos dos pés dos outros na rua pra ver se dá cinco então conto os meus conto os do meu pai conto quantos frutos exatamente caem esse que sobrou catei, estava tão limpo, raridade estar tão limpo, limpo como se estivesse pronto para ser comido entrego ao meu pai num cuidado correto (um alento infantil que outrora inverso) estamos testemunhando o pé de jambo se desfazendo dos seus filhos meu pai aqui, o esforço de vir comigo catar jambo, esse último gesto uma árvore secular, e ele está tão velho desfrutando o jambo, me olhando com olhos de amor de fato mordendo um fruto deixando rastros (eu penso: está soltando a minha mão) assumo então novos frutos que nascem e recolho os que caem aos meus pés Paula Reis Vianna


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