sexta-feira, 14 de março de 2025
O assassinato de Marielle Franco
como apaga um corpo depois
de correr nele um vinho de tanta
fruta gorda e suculenta
você segura nas mãos da vida
e nela há respiração timbre
a pisada de um búfalo
o fôlego vindo das raízes
o vento que bate na areia da pele,
você vê os pelos eriçados
você inclusive se arrepia
e de repente um outro sopro
morde
onde tudo sangra
como que pode
morrer às vezes
ser tão lento
como apaga um corpo depois
depois de a pele que temos
ser tão consoladora
fica um pouco mais
poderia ter dito
mas o vinho por dentro ardia
e mesmo que o corpo ficasse
o elo de ser um animal
já tinha se desfeito
o visgo inteiro vazado
a ponto de nunca mais
poder ser recolhido
como que pode
um corpo inteiro
quebrado
a gente estendendo a mão
que fica mais no vazio
a gente também um corpo
esperando seu quebrado
como pode um corpo inteiro
sumir
mesmo desmembrado
sempre pode ou deve
o desencanto ser admitido
morrer como adormecer
entre as ruínas
as bombas
perder
sopro sangue ar
barco e mãos
atracados mas
pendentes
nos filamentos do espaço
a mão última que acena
sabe porque dói
o impossível
não pode mais.
Tatiana Pequeno
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário