quinta-feira, 17 de março de 2011

Um ícone feminino na literatura

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“Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida
Um som d'água ou de bronze e uma sombra que
passa…”
EUGÉNIO DE CASTRO
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Em nenhum momento até agora nunca se viu uma figura feminina se tornar um ícone tão grande na Literatura de língua portuguesa como Florbela Espanca. Nascida em Vila Viçosa, muda-se para Évora e, apesar de ter passado por obstáculos em toda sua vida, a poetisa conseguiu, através da poesia e do conto, delinear de forma intensa e singela o íntimo e a sensibilidade — deveras — nunca antes visto. Mesmo que seus dois primeiros livros — O Livro de Mágoas (1919) e O Livro de Sóror Saudade (1931) — não terem sido bem recebidos pela crítica, Florbela consegue nos posteriores alcançar o reconhecimento pelo seu trabalho.

A poetisa passa praticamente a vida toda no dilema amoroso. Casa-se três vezes e em nenhum dos seus matrimônios ela consegue alcançar a felicidade, e, então, passa por problemas de saúde (chegou a ter neuroses, que pioram com o passar do tempo) e retira-se, por alguns momentos, do convívio social. Florbela quase sempre foi incompreendida pela sociedade devido a sua poesia de cunho erótico e, por isso, de ela ser chamada de imoral. Mas a sociedade da época não compreendia o seu alcance e a altitude em seus escritos nos quais tentava passar a sua sensibilidade e expressar a sua dor, servindo como uma confissão.

A sua segunda fase na literatura, Florbela passa por um amadurecimento na poesia, passando a escrever sonetos por achar que é a forma mais prática de expor seus sentimentos. Durante, essa mudança literária, ela recebe várias influências: como a de Antônio Nobre, por este discutir ao tema confessional ligado ao “esteticismo, narcisismo e culto literário da Dor”, a saúde e certo neogarretismo (termo vindo de Almeida Garret, que fez poesias relacionadas à pátria); a de Bocage e Camões, em relação a esta estrutura utilizada (o soneto); Antero de Quental e Camilo Pessanha, por tratarem da dor, de problemas existenciais; o ultra-romantismo sepulcral (como de Alberto de Passos) e o simbolismo por serem escolas literárias que tratam do decadentismo; Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa por estes falarem sobre a “crise de identidade do sujeito e à estratégia de fingimento do poeta”.

Devido a toda essa fase em que Florbela Espanca não teve amor correspondido, acaba-se por se entregar a Natureza a partir da qual vão surgir poemas relacionados à doutrina panteística, à lugares naturais ou de sua infância, à cidade de Évora — onde se casou em 1913 com Alberto de Jesus Silva Moutinho, colega de escola — tudo em um tom melancólico.

Por toda essas características literárias e pessoais de Florbela, ela acabou juntando o anseio pela morte e a sua arte de forma tão extrema que se suicidou em 8 de dezembro de 1930, em Matosinhos. Entretanto, deve-se reconhecer a grande aura literária que cobriu Florbela Espanca que até hoje seduz todos.

José Ricardo Costa Miranda Filho
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