segunda-feira, 30 de junho de 2014

Epifania


(Como quem, entrão, sabendo
que não será proibido, invade
sem pudor um ambiente, tiran-
do a calma de quem ali está)
a borboleta entrou
no túnel.

É um longo túnel.
O trânsito está parado sob aquela gávea azul.
No morro onde se cavou o caminho: verdes, árvores
Nele: fumaça fumaça fumaça
Muita gente a caminho do trabalho, como a borboleta.
Suas asas tão loiras, batendo, são como as rodas do
meu ônibus: incansáveis, desesperadas...
buscando o quê?

ficou pra trás, ignorada por todos.
Suas asas, ao fim, negras como as paredes do túnel?
O pulmão e a vida de todos nós enegrecendo naquele lugar,
enquanto a borboleta desliza seu último vôo
contra um século convulsivo.

João Fernandes

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