quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Um poema de Victor Hugo Turezo


nada pode correr embaixo de tripas mover-se
congelar no instante em que engulo
nosso resto de gota alaranjada
nascemos em fevereiro e não consegui carregá-la
sobre as linhas das tuas mão — filhote encolhido-pássaro desvalido — no ventre
cipreste porque nada foi como éramos; e era como
                                                                                pensávamos
e desmantelados, morríamos em jardins
sorríamos capazes de não, de pouco
memorizávamos a inclinação de povoados que viviam
dentro de nossas comunidades incendidas
compilávamos filosofias opostas e isso não nos tornava complexos
mas incapazes de confluir sensações inexatas
nos chamavam pinheiros sebes lítio desfax efexor e, sim,
fomos; quase a inequidade da terra desenvolvíamos
dedos enrugados e compridos e curtos
e cabelos amarelos e vermelhos
dentro de um mesmo atalho, sussurrávamos
quando desviamos de pegadas conjuntas, gritávamos
não, nunca; gritar resolveria a doença do abraço traspassado,
das coisas que não encontrávamos
                                                     em raízes
e morremos no embrião de uma cadela esbranquiçada; na contramão
de nossos movimentos esquivos enquanto eu virava o corpo
e dormia com o rosto tangendo a parede você revelava
o nímio, a languidez, desvivendo-se,
                                                         partindo-se
e não consegui mais encontrar tua parte caminhei pela vereda
de um monte cálido e na inércia não vi o teu nome dentro
do meu;
minha-simbologia-impossível-última-crise-abraço foi e é
pois pensei que era o que
                                       pensávamos.

Victor Hugo Turezo



victor h. turezo nasceu em curitiba (pr), em 1993. publicou minha massa encefálica despenca como se de um desfiladeiro (patuá, 2017) e quando vagalumes morrem no escuro (edição do autor, 2018). truduziu, junto com natália agra bosque musical (corsário-satã, 2018), plaquete com poemas de alejandra pizarnik.

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