sexta-feira, 30 de abril de 2021

Luas sem véu

Fogo branco, a fé pelas cinzas
atravessando meu pecado
por entre as vozes ardentes que
se mantêm na fome eterna,
tantos lumes que só abrandam
à noite cheia, ante seu corpo

onde desabo, desafogo entre
seus laços num solavanco, atrás
de seus cachos, os tons num
brilho por se entregarem quietos,
deixam-me implorando,
largado nu nuns sorrisos bobos,

seus lábios que quase logo retribuem,
mas não diz, adivinhe, aquieta
meu gosto pelo risco ligeiro do eclipse,
a emancipação da minguante humana,
manancial de tesouros livres no peito,
prende-me aos restos da natureza em flama,

trajando na pele um terno estapafúrdio
ao penetrar por suas coxas
hirtas, pressionando aflito com palma
cheia o fio que queima,
arde, quero, teima, treme nas trevas
até que, dócil, doo-me

ao peso das provocações,
mas abraçado pelas estrelas
num losango triangular
de lâminas luminosas, fachos
cujo centro implode só,
pérola prata, lua de nada

Árion Lucas