sexta-feira, 2 de abril de 2021

Procissão da Santa adormecida

No andor se revela a razão da velha
bruxa vir ver as flores
toda hora nesta tarde,
longe de casa, na clareira que desce

Afinal, por ali passam monstros antigos,
o réptil labiríntico que
lhe recobre as decisões,
serpente do átrio que a fere na face,

seu demônio cortado engrandece-se
das outras, vampiro
de sangue velho,
derretido a cada falso perdão repetido,

assemelhado à cara da lembrança estuprada,
sua droga no bolso estragada
pelas garras fétidas,
vil espinhento com dentes corrosivos,

predador nas tocas, canta, depois arrota,
ele a engana, engata
mas ela vomita, esgana, e,
na lâmina, a carne podre do macho à cama

Árion Lucas

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