segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Vilarejo

Pessoas apenas passam
Assim como os ventos
No vilarejo
Do esquecimento

Arnoldo Pimentel

domingo, 29 de setembro de 2024

Vozes do cerrado

brasília, brasília,
onde estás
que não respondes?!

em que bloco,
em que superquadra
tu te escondes?!

Nicolas Behr

sábado, 28 de setembro de 2024

Fósforo

Breve pedaço de madeira,
em atrito contra a superfície áspera,
dura, impassível.
Não ceder, mas romper-se, incandescente.
O fogo, o lume,
que súbito se apaga.

Paloma Roriz

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A DANÇA DOS TEMPOS POSSÍVEIS

O passado não dorme
nem jazz.

Recusa a quietude
da memória
mas sem me chamar
para dançar.

Gira mudo e sozinho, sozinho,
entrecruzando meus caminhos
presentes, lançando ao ar
o perfume em torvelinho
de passados outros, e presentes, e futuros
que poderiam ser, e ter sido, e contudo...

Thássio Ferreira

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Um poema de Danilo Diógenes

[...]

digamos
que todo poema
é aquilo que sobra
de uma pessoa;
almoçar, então, ao lado deste poema
é almoçar ao lado de qualquer pessoa
é construir as rampas que nos guiam para o alto
e as escadas que nos levam para baixo

Danilo Diógenes


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Shopping Trem Tudo


Ilustres passageiros,
Chegou o passatempo
para a sua viagem!
Pastilha de eucalipto
Cura sua garganta e
Refresca o seu hálito
Uma é vinte, "seis é real".
Pilha, esponja, "super bond"
Barra de cereal.
Isqueiros, calculadoras
Dois "cotonete" é real.
Bananada é dez.
Paçoquita é dez. 
A SALVAÇÃO É JESUS!
Dois amendoins é cinquenta
Laranja com acerola é cinquenta
Dez tempero é real
Cinco batom é real
"PRÓXIMA PARADA: ESTAÇÃO DE SÃO CRISTÓVÃO.
DESEMBARQUEM PELO LADO ESQUERDO".
A SALVAÇÃO É JESUS!
Novalgina é real
Dipirona é real
Sabão pra piolho é real
Skol lata é real 
SÓ JESUS PODE SALVÁ-LO DESSE MUNDO DE PECADO.
"Salvou-o O RHUM CREOSOTADO".

Solange Valeriano Pinto

terça-feira, 24 de setembro de 2024

poesia

a minha poesia é lírica

tem a beleza bucólica
do voo de uma andorinha

tem o latido melancólico
de um cachorro campestre

tem a solidão jururu
de uma galinha ciscando

mas o que ela queria mesmo
era ter...

a força do tigre
a astúcia do coiote
a agilidade do jaguar
e o mistério do morcego

Jovino Machado

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

"shakespeare"

se nós escrevêssemos
tudo o que sentíssemos
estaríamos sempre sós
e para sempre ocupados
porém não tão infelizes.

Leonardo Marona

domingo, 22 de setembro de 2024

DESPEDIDA

Quando eu morrer,
filhinho, não se
esqueça de colocar água
com açúcar no potinho.
Te visitarei disfarçado
de beija-flor.

Daniel Viana

sábado, 21 de setembro de 2024

AUTREMENT

ecos do dia
num caleidoscópio
movem-se lentas larvas
entre palavras e coisas

In other words:
ninguém sonha em prosa.

Patrícia Lavelle

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

easy come easy go

me despedaço
esta manhã 

              será que alguém escutou?

Pedro Tostes

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Um poema de Nicolas Behr

o poema
é área pública
invadida
pela imaginação

Nicolas Behr

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

CADA VEZ MAIS

com o tempo
minhas dúvidas se tornam
pétalas.

Beatriz Bastos

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Viento ligero

Un viento de recuerdos
atravesó mis sueños,
ha traído su olor
rojo, sin dueños.

Mi dejarte
sola, embarazada
de calidez y libertad.

Jade Prata

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Destino

Eu sou um trem de ferro
Que leva minérios
No coração.

Eu sou um trem de ferro
Que traz histórias
No vagão.

Eu sou um trem de ferro,
Seguindo os trilhos
Da palma da minha mão.

Petrônio Souza Gonçalves

domingo, 15 de setembro de 2024

A LENDA

Pouco se sabe dos Passarinhos Verdes.

Apenas que eles nos procuram
para se alimentar das surpresas.

Pousam em galhos discretos
e se escutam:

— Olha! Um pass...

Voam para longe, felizes por
terem completado seu destino.

Pedro Lago

sábado, 14 de setembro de 2024

PERDEU-SE

dançarina baiana perdeu o rebolado nas areias de copacabana. quem encontrá-lo, é favor devolvê-lo.

muito mais que monetário, ele é de inestimável valor afetivo para sua dona.

mary saravá
7407-0198

Letícia Féres

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

contração do fim de um mundo

No opositor me encontro,
encontro eu, você e a fera.

No opositor me escondo,
escondo eu, você e a fera.

No opositor penso que penso,
mas na verdade é fera, fera e fera.

Luiz Fernando Priamo

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Hemingway e os lugares seus


Gabriel García Márquez diz em sua crônica “Meu Hemingway Pessoal” de 1981 - fácil de encontrar online - que só teve a oportunidade de ver Hemingway uma única vez, este já Nobel e nos finalmentes desta existência. Foi em Paris quando ainda não era o Gabo Nobel de Literatura.

Gabriel traz neste texto, dentre outras coisas, a ideia de que todos os instantes vividos por Hemingway, continuaram a lhe pertencer para sempre porque ele tinha um “inexorável poder de apropriação”, ou seja, que ele tinha a capacidade de tomar posse de certos lugares simplesmente por frequentá-los e mencioná-los em seus textos, pela força da sua passagem por eles. Deixava sua marca.

No entanto, essa ideia contradiz uma das minhas passagens favoritas do próprio Gabo no livro “Doze Contos Peregrinos” de 1992, um dos meus favoritos. No texto, ele diz que, inevitavelmente, depois de um tempo os lugares que haviam sido seus e sustentavam suas nostalgias eram outros e alheios. Gabo, 10 anos após o 1º texto, acha que até Hemingway está sujeito a isso.

Pensei nisso enquanto andava pelas ruas de Havana e fui aos bares que Hemingway mais frequentava na cidade quando morava em Cuba. Os famosos “Bodeguita del Medio” e “La Floridita”, onde ele gostava de tomar mojito e daiquiri, respectivamente, bares estes que foram também visitados por Gabo. Atualmente as biroscas não são mais biroscas e estão lotadas de turistas, grupos tocando “Guantanamera” e Buena Vista Social Club, cobrando preços acima da média nos drinks e celulares tirando fotos de tudo (o meu também, assumo).

E talvez esses lugares não sejam mais de Hemingway mesmo. Mas é realmente maravilhoso pensar no que ele fazia por ali enquanto tomava todas e fumava um charuto Cohiba, quais ideias teve, que contos iniciou e quantos rasgou naquelas mesas. Pensei nisso e acredito que, no final das contas, prefiro pensar como o Gabo mais novo, que talvez fosse menos amargo:
“Na realidade, Hemingway continua a estar onde menos se imagina 20 anos depois de morto, tão persistente e ao mesmo tempo tão fugaz como naquela manhã, que talvez fosse de maio, em q me disse adeus, amigo, da outra calçada do boulevard Saint-Michel.”

Afinal, como disse Hemingway: “o homem não foi feito para a derrota, pode ser destruído, mas não derrotado".


Eduardo Moraes

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

No vício


trago
a cortina de fumaça que tu leva
em cada frase
sem matéria
na nuvem de não-ditos
que nos rodeia.
é meu pulmão que bate por ti.
que arde em todo toque seu
e vira cinzas no ponto final
em vermelho fogo
que pende dos seus lábios
entreabertos
no fim da noite.

Gabriel Silveira

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Perguntas


"No que você pensa quando olha p/ mim?"

"Qual o centro do mundo p/ você?"

"Você não pensa que é o centro do mundo, pensa?"

"Pode morrer sem ternura?"


Franklin Alves Dassie

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Um poema de Otávio Campos

como se chama
esse lugar
que existe
depois que
a noite
termina?

Otávio Campos

domingo, 8 de setembro de 2024

Cantada


Quero ficar morandinho no teu abraço,
E em nenhum outro lugar.
Quero ficar dormindinho no teu ombro,
Até a noite terminar.
Quero ficar sonhandinho com você
Aonde quer que eu vá.


Thais Vicente

sábado, 7 de setembro de 2024

Alarme


Seu despertador é um choque elétrico?
Você acorda todo queimado?


Augusto de Guimaraens Cavalcanti

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Um poema de Naaman


Uma vez me disseram
Que das "verdades"
Nada se deve tirar:
Levei a sério.


Naaman

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Um poema de Flávia Muniz Cirilo

Apresento-te o tempo,
o tempo grande das coisas mínimas.
O sol cabível no grão,
o chão do lugar onde pisas,
o presente de estar em tuas mãos,
soberano amor eterno,
luz infinita manifesta em mim.

Flávia Muniz Cirilo

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Um poema de Otávio Campos


as pálpebras da cidade
quando pesam
fecham-se madeira ou metal
da direita para a esquerda
trancas e taramelas


Otávio Campos

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Ao machismo

minha gatinha,
não me interessa
o que vem
da sua cabeça,
mas o que tem 
na sua calcinha...

meu gatinho,
quero saber
o que ganho de fato,
para conhecer
o tamanho exato
do seu pintinho...


Gringo Carioca

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Um poema de Amanda Bruno

ela tinha os olhos de ressaca
não era capitu, era cachaça
morava no centro da cidade
ardia de suor e fumaça
ia e vinha como uma onda
sem lua

ela era metade gente
e a outra não era peixe

mas ela cantava, iemanjá
e eu me afogava

Amanda Bruno

domingo, 1 de setembro de 2024

Pernambucano paulistano

cada são paulo a que retorno
toca tanto que é ruim

na marginal eu quase choro
só porque me sinto vir

pernambucano paulistano
como tantos por aqui

tenho-a minha toda e tanto
que não a posso possuir

Frederico Barbosa