quinta-feira, 31 de outubro de 2024

tragédia doméstica — 1º ato

— tô ficando maluco!
digo com ar grave de quem enxerga luz
no escuro

ela me encara e bebe suco

Caio Carmacho

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

bem-vinda


ressarcir
engendrar

a toda hora
em todo lugar
nasce uma palavra

— bem-vinda!

quando perderes o sentido
esvoaça daqui
descansa em paz


Chacal

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Crepuscular


Ainda poder
escutar a Musa,
embora já imerso
na sombra difusa

que vai se adensando
para se fazer
uma treva de
nunca amanhecer.

Ainda poder
Chegar à extrema
duração do dia
na voz de um poema,

mesmo humilde, apenas
suspiro da Musa
num adeus à beira
da noite difusa.


Ruy Espinheira Filho

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Som

Gosto de ouvir
o som dos seus dentes rangendo
quando sobre mim e junto a mim
procura a explosão do gozo.

Rosilene Jorge dos Ramos

domingo, 27 de outubro de 2024

Roda


Enrubesci.
Peguei a raiva
e rodei o mundo
que cabia debaixo da minha saia.

Ela virou pó,
Eu — movimento


Jade Prata

sábado, 26 de outubro de 2024

Um poema de Bruna Escaleira

sexualidade
ou imensidão

no oceano da pele
nado em águas livres

Bruna Escaleira

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Um poema de Ana Chiara

Beija-flor parado
Tremor de asas
Também viaja
Suga alegria
Por deslocamentos mínimos

Ana Chiara

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Operando a manhã


Um saco pleno de gemas,
algo assim como um câncer luminoso,
E um bisturi afia a ponta da sua lâmina sobre a fina pele.

Repente
Amarelo!

Não é preciso nenhum galo
Para anunciar o amanhecer.


Lucas Matos

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Miramar


Pôr-do-sol em Miramar.
A faixa de areia é ampla, branca.
As mulheres indianas, floridas, coloridas.
O mar aquietado do sul, azul.
O sol que encosta no espelho, vermelho.
Momentos para serem lembrados, dourados.

Miramar.
Sem trocadilhos, sem referências.
Somente o sol se pondo na praia


Lucas Viriato

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Bumerangue

As palavras,
lancei-as
ao mundo.

O vento,
agressivo,
trouxe-as
de volta.

Me golpearam!

Bianka de Andrade

domingo, 20 de outubro de 2024

Naná


silêncio das estrelas
fumaça branca
que atravessa o céu
fumaça d'água
que jorra forte de dentro do estreito de uma pedra

sopro divino do céu
duas estrelas
me miram
como dois olhos
sinto a presença dela
meu coração se inunda
e transborda
pelos meus olhos embaçados
fumaça que escorre pelo canto da minha face


Mônica B. Alvim



sábado, 19 de outubro de 2024

Trinta e nove no ibope

O playground no jardim.
A menina no jardim.
Seu corpo não brinca no playground.

Israel Antonini

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Elemento


Palavra nenhuma existe.
Existem o fogo, a pedra, a água, o ar.
E a dor, dissimulada no verso.


Paloma Roriz

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

CASO HOUVESSE OUTRA SAÍDA

faria bom uso da garganta
usaria bem o que foi violado

Natasha Felix

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Lucidez


Estou perdendo a visão, mas não estou perdendo você. Tenho sua aliança junto à minha, lado a lado, em meu dedo. Com isso sinto que o nosso amor está cada vez mais vivo. E assim será até a hora do nosso reencontro, quando estaremos juntos para sempre. Em breve, na eternidade.


Marina V. Medeiros

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Um poema de Nadiá Paulo Ferreira


Gotas rubras
no vértice
do meu corpo

Sou vaga sísmica
entre mulheres azuis

Onde o nada me espreita
espedaço-me flamejante
na imensidão da areia branca


 Nadiá Paulo Ferreira

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Colapso

não restou nem poeira
da rotina de folhas e caminhadas

necessidade não é fraqueza
necessidade é necessidade

não sei o que dá mais medo
encontrar algo
ou não encontrar nada

Mauro Santa Cecília

domingo, 13 de outubro de 2024

Vento vadio


ás  vezes vem um vento
e levanta a aba do pensamento
jogando meu chapéu
pra lá da possibilidade.


Chacal

sábado, 12 de outubro de 2024

AMANHÃ

dorme agora
que amanhã
vamos embora
de nós mesmos

Tiago Rattes de Andrade

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Azul mar


Sinto muita saudade
de você, tem dias que eu sinto
que sou ilha perdida
no meio de tanto mar
como fui me separar?
de um continente tão forte
deixei pra trás
muita terra segura
passei por tempestades
tormentas, chuvas imensas
e agora uma calmaria
em que paro tudo
e observo do mirante
o oceano, atlântico,
pacífico, gigante


Rafael Magalhães

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

COLOMBO

O pinto
se sai do ovo
pode achar
um mundo novo?

Graça Rios

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Fênix

Como fênix renasço
voo alto no céu
compartilho da chama
que se forma canção
música vibra na alma
o milagre da transmutação


Marcela Sperandio

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Se livrando das pulgas sem pesticidas


No meu ouvido
Entrou uma pulga
Narrando a rota de fuga
Convenceu a mente que julga
E isso quase me derruba
Deus que me acuda, me dê arruda
Pra esse perigo
Quase que eu me torno
Meu pior inimigo
Mas não, sou meu melhor amigo
E digo:
Não embarque nessa viagem
Tendo o medo como bagagem!


Jonas Samaúma

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

descrição alguma

essa escritura calada
essa tamanha bebedeira
esse arrependimento de matar
essa falta de assunto
essa vontade finita
de sair daqui

André Monteiro

domingo, 6 de outubro de 2024

O amor mudou-se


Agora possuo uma mancha escura
As praças já não possuem os portões abertos de quando cheguei aqui
O amor mudou-se
A estrada de ferro eu abandonei
As fotografias que tirei na Central do Brasil
Foram arquivadas para chorar depois
Eu vesti a roupa devida
Mas não disse a palavra certa


Marilene Vieira

sábado, 5 de outubro de 2024

Fogo

Uma fogueira
De amor
De amizade
Paz de aprender.

Alice Jobim

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Um poema de Lorena Martins


a noite no sofá
é pele
cascata
que não alcança
a janela.

as tardes
se trancafiam
nos cantos da sala:

desperto
meu bonde abandono
a mão no parapeito
e minha garganta

que voa.


Lorena Martins

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Yôga

De pé.
Tire um pé do chão.
Agora o outro.

Lucas Viriato


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Às vezes , ócio

 
às vezes choro,
pois no choro lavo a alma.

ás vezes, oro,
pois a fé me acalma.

às vezes, calmo,
em profundo silêncio,
não preciso falar a vivalma,
apenas viver meu ócio.


Giovani Miguez

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Um poema de Paulo D'Auria

Feito um menino que levantasse a lona do circo,
espiava debaixo da linha do horizonte.
Aprendeu a dar risada do destino.

Paulo D'Auria