domingo, 21 de dezembro de 2025

Um poema de Luciana Tonelli


noites intermitentes
feridas abertas
ausências sempre presentes
presenças nunca completas
jamais a indiferença


Luciana Tonelli



sábado, 20 de dezembro de 2025

Precaução


É preciso aprender a nadar antes de
mergulhar num abraço.
No amor, também se morre na praia.


Hudson Pereira

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

copacabana


não ter medo de trapo
nenhum

dia-fantasma
na cidade-transparente

aproveitar bem a decadência do lugar
não somente as lácteas vias valem a pena

para o grande girassol
todo relógio dilacera sereias

e assim faço meu poema de silêncios


Augusto Guimaraens Cavalcanti

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Um poema de Beatriz Bastos


O amor è uma saudade?

Já ouço, ao longe
o rufar dos tambores
os fogos
as explosões
os sinos
anunciando uma chegada.


Beatriz Bastos

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

La ascensorista


la primeira vez que vi a teresa
fue hoy por la mañana cuando
bajé en el ascensor

cuando vi a teresa otra vez
fue hoy por la tarde cuando 
subí en el ascensor

no vi nada la vez tercera
bajé por la escalera


Lucas Viriato

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Sabão


apertar
é inútil.
você sempre
me escapa


Bianka de Andrade

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Um poema de Thiago de Freitas Peixoto


O trânsito de São Paulo
transcende as ruas paradas,
as vias aéreas
também ficam congestionadas.



Thiago de Freitas Peixoto

Neuroses do mundo tecnológico alimentam a tensão de “Curto circuito” com o humor de Luiz Fernando Guimarães


Luiz Fernando Guimarães em "Curto circuito" | Foto de divulgação


Os abalos da saúde mental têm sido matéria-prima de textos escritos para cinema, teatro e televisão. Em "Curto circuito", peça com que o ator carioca Luiz Fernando Guimarães celebra 50 anos de uma carreira que ganhou impulso com o ingresso do artista no grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, as neuroses de um mundo tecnológico e cada vez mais digital são abordadas com leveza e humor pelo dramaturgo Gustavo Pinheiro.

Ansiedade e insônia são temas filtrados pela estética do riso no espetáculo erguido sob direção de Gustavo Barchilon e em cartaz até 21 de dezembro no Teatro do Copacabana Palace, com ingressos já esgotados para toda essa primeira temporada carioca. Em cena, Luiz Fernando Guimarães divide o palco com Letícia Augustin nesse teatro de esquetes. 

Segura nas intervenções episódicas, a atriz personifica a “amígdala” do cérebro, cuja função na peça parece ser acionar uma crítica sobre o comportamento surtado dos personagens encarnados por Luiz Fernando, esse ator de embocadura própria que faz todo mundo ir ao teatro para rir com ele. 

Sim, rir. Luiz Fernando Guimarães é a alma desse quase monólogo em que a tensão entranhada nos temas abordados em “Curto circuito” e no comportamento escrachado dos personagens é alimentada (e diluída) com um humor evocativo do teatro carioca rotulado nos anos 1980 como “besteirol”. Através desse humor popular, tão ácido quanto livre de ranços de falsa erudição, autor, diretor e atores fazem crítica aos costumes de uma sociedade cada vez mais doente.

Em “Curto circuito”, Luiz Fernando interpreta, no tempo próprio de comédia, um comissário impaciente de um voo em turbulência, um estudante descerebrado na prova do ENEM, um paciente que se sente esquecido no tubo em que faz uma ressonância magnética, um resignado insone e uma atriz que entra em curto circuito do alto do carro alegórico do desfile da escola de samba que a homenageia. 

Em comum, além da habilidade para extrair o riso dos espectadores, os esquetes e os personagens expõem o absurdo da vida e a impotência do ser humano diante de situações-limite. A crítica a um mundo surtado é feita em doses homeopáticas e vem entranhada através da gargalhada, objetivo final de cada esquete. Sob tal prisma, “Curto circuito” se alinha com as peças blockbusters do besteirol carioca de outrora. Há uma crítica mordaz à sociedade e ao bicho-homem. Mas essa crítica vem embalada com o papel do humor para ser mais bem digerida pela plateia.

Autorreferente, Luiz Fernando Guimarães enfatiza, no início e no fim do espetáculo, que se trata de um trabalho comemorativo de 50 anos de carreira. Ao longo dessas cinco décadas, o ator solidificou o elo com o público, e isso é visível no espetáculo. Luiz tem a plateia na mão desde que entra em cena. É dessa cumplicidade que se nutre “Curto circuito”, peça que sai de 2025 com fôlego para continuar estourando bilheterias em 2026.

Mauro Ferreira

domingo, 14 de dezembro de 2025

circuito fechado


Quero ver através das paredes
Sua pele enfeitada de luz
Quero ver e sentir seus cabelos
Carregados de eletricidade


Marcela Sperandio

sábado, 13 de dezembro de 2025

MATANDO O TEMPO


o ponteiro
sempre volta
ao local do crime


Knorr

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Meta o pé aí


O espaço está aberto.
Meta aí a sua opinião.
Se mal formada, mal informada,
destrambelhada, faça o serto.

Ferida aberta, meta aí o dedo;
só vai sangrar o rosto alheio.
Faça sim, meta aí sem medo;
vai com força, sem receio.

Quem frequenta a rede social
quer mesmo se machucar?
Já não é hora de debandada geral?
Quem mais quer derrubar montanhas de açúcar?

Meta aí o dedo pro alto e venha comigo!
É hora de levantar acampamento.
Ainda que meta aí ardis e perigo,
é de público e notório conhecimento

que é sempre melhor estar em terreno amigo.
Meteram aí um discurso que com a prática não condiz.
Encontre outro lugar, e faça o que eu digo:
Meta o pé aí e seja feliz!


Ẹgrium Tạdrel

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Pulso, de Claudia Roquette-Pinto


O que o corpo quer
é a vertigem de se perder
no salto das águas
(não: resistir ao curso),
cruzar o campo de força,
suas explosões
entre os corpos mudos,
cumprir o gesto hesitado,
o impulso que entorna o caldo,
precipitar o susto
(bem-vindo e sem reparo)
de cair dentro do outro
enfronhar-se
no escuro desse pulso,
consumir,
chegar ao fim.


Claudia Roquette-Pinto

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A vida nos encontros


Como uma labareda de fogo
Movimento em passos aleatórios.
Isso enquanto chama.
Enquanto onda não sou nada.
Nada definido pelo menos.
As ondas se cruzam,
se amam e tornam-se algo,
real, palpável.

Como alma e corpo imoral,
caminho na rua inexpressivo.
Andrógino até o próximo contato.
Até que uma nova onda cruze
minha potencialidade de tomar forma,
contorno, identidade, palavras.
Até lá sou puro som sem melodia.
Uma onda de gente, aleatória;
indefinida até o próximo cruzamento.


Dimitri Merino

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

LUAMÉRICA


Que adianta ser cantada por todos os poetas se a lua é a mais solitária das musas? Só os Americanos conhecem a lua. Nelson, o que é mais solitário que a companhia de um Americano?


Domingos Guimaraes

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Um poema de Ana Chiara


Caderneta de viagem:
Anoto para depois
Não ler.
As minúcias miosótis
A  música deste lado
Do sol
Luminosidades
O suor pelas costas
Teu sul
Estrangeira paisagem
Ao norte língua perdida
Retrocesso
Fruto maduro
O apodrecimento
Da polpa de um pêssego.


Ana Chiara

domingo, 7 de dezembro de 2025

Da civilização


na calçada
o corpo
feito
carne
na tábua

o dente ri
o dente morde

o farrapo
o pano de trapo
o restaurante gourmet
(mora na filosofia:
ele não tem nada a ver
com isso)

na calçada
o carro
as duas rodas
fincadas
a janela fechada a mão
que afaga é a mesma
que dá
porrada

na calçada
o corpo
morno
a gasolina
(morra na filosofia)

a rua
o rato
o resto
o restaurante
gourmet

na calçada
o corpo
como
carne
na tábua


Paulo D'Auria

sábado, 6 de dezembro de 2025

Um poeminha de Alvaro Posselt


Entre arranhões e lambidas
para cuidar de tanto gato
precisarei de sete vidas


Alvaro Posselt

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Em abismo


Dias que escorrem pelo ralo adentro
deixando um rasto de espuma na pia
no fundo de uma cozinha vazia

num hipotético apartamento
num prédio ainda em construção
numa rua sem mão nem contramão

numa cidade num continente
traçado num mapa de espuma
entorno do ralo de pia nenhuma.


Paulo Henriques Britto

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Cadência


quem disse que é fácil
sabe só a teoria
o trânsito é pesado
e nada linear
mas hei de vencer
vendo daqui a distância
até lá
apoiado na ciência
e no mistério
na telepatia
no abraço amor telúrico
apagamento gradativo
do rancor
até conseguir o passe
para virar a página
daí em diante
já é sobrevivência


Mauro Santa Cecília

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Marés, de André Vinícius Pessôa


A lua
cheia
de si
é nua.

Se
é minha
já não é.

Amei-a.


(se derrama a lua):
irradia alheia.


André Vinícius Pessôa

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Rota de colisão


Habituado aos caminhos errados
escolhas impensadas
nunca chego ao destino

Sempre aplaudido
Tomo o rumo do caos,
da incoerência, do desafio

A trilha da poesia
o nosso destino
de pecado e salvação

Vou correndo em direção à vida
na fatal rota de colisão.


Hudson Pereira

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Anúncio classificado


Vende-se cara-de-pau. Motivo doença. Único dono. Perfeito estado de conservação e funcionamento. Entrega somente após o pagamento. Pix para o meu celular. Não faço reembolso. Quem pagar primeiro leva.


Ẹgrium Tạdrel