sexta-feira, 20 de agosto de 2010

a bordo — um poema de Diana Sandes

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esse ônibus até parece uma carroça
sopra o trocador irritado
por entre as geladas barras de ferro
e aquela moça, tão demorada
indo pelo infinito corredor prateado
é como um bicho preguiça
quando quer descer da árvore
as janelas abertas: mil passagens
por onde eu talvez fosse
minhas pálpebras aos poucos despencam
são duas bigornas
até que os cílios se encontrem
selando união, trocando juras de amor
eu consinto a ousadia destes meus
e cansada, falo baixinho
feito cochicho pra dentro:
só queria que esse banco fosse
uma cama, uma onda, um corpo
um acalanto qualquer
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Diana Sandes
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