quarta-feira, 26 de março de 2014

Fotografias e quarteirões


Pelas nossas fotografias
Observo um amarelo fecundo
Comendo as bordas
Afinal, envelhecemos juntos
Moramos na mesma casa construída
No mesmo palacete moribundo
Aqui, portanto, Tom Zé
Aprendo uma mensagem importante
Que  o mundo é infinito
É propulsor, molécula
Espaço espacial do zênite
Do orgasmo, das viagens
Dos Pêndulos Vociferantes

Ah, como vociferam as horas!

E de cada verdade te faz absoluto!!
E te geras uma mecânica orbital
Somos mesmos donos de nossa cabeça...
Ao nascimento, uma surpresa
Uma evolução seguida com sábia ventura
Neste enlace absoluto, o cético vacila
Questiona-se, há algo além do precipício?
Certamente que existe, há sempre outras vidas
Perpetuando-se, criando-se, exasperando-se

Não é mesmo assim que apregoam os religiosos cientistas?

Na base do cerne desta questão
Facas medulam, lâminas entrecortam entre si
Questões como cortam os salames
Temperados no limão da verdade
Afirmativas, declarações, assertivas
Derrubam-se com a mesma facilidade
Que migalhas de um pão envelhecido
Sob a geladeira, a esperança
Do alimente fecundo, a fome saciada
A verdade velada, a vida guiada

Pelas nossas fotografias, observo tua voz
Tuas músicas encenam a paisagem que teço
Aranha sobrenatural e poética
Sob as alamedas dos meus quartos
Te sigo resoluto, completo
Pelas ruas, quando caminho
Certo que há mais que uma vida após o quarteirão



Rafael Magalhães tem outros textos publicados no blog e no jornal Plástico Bolha!

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