Noite, um poema de Letícia Simões

saí tropeçando

fuligens.

rastro de pólvora

cola, descola

medo da sua língua

na minha — segurei.

a mão

quente

medrosas gotículas brotaram

do útero.

essa flor

é

pra você.

Letícia Simões

Um poema de Carlos Andreas

Quero um emprego, uma bolsa de estudos

No Cairo, em Bombaim ou Bogotá

Sou um Olmeca faminto nas matas do Tinguá

Se tudo der certo perto em peregrinação tonight

Vou beber cachaça em Santo Amaro ou no Kuwait

Carlos Andreas

FLOR DA IDADE

Homem que chora vira

florzinha — gritou o pai.

Joaquim abaixou a cabeça,

sentiu brotar dentro dele

uma flor de delicadeza

Acabou chorando.

Daniel Viana

Multidão

Livre para descobrir que a noite é um lago,
Televisão para assistir estrelas.

Augusto de Guimaraens Cavalcanti

Chapa Quente, um poema de Pedro Tostes

Meio dia

Quarenta graus

Sombras se protegem do sol

Pedro Tostes

Um poema de Masé Lemos

Minha bisavó materna dizia:

Quem fala o que quer

escuta o que não quer

Depois passava horas em

silêncio

Masé Lemos

palíndromo da resignação, de Heyk Pimenta

assim    missa
somos   somos
missa    assim

Heyk Pimenta

4° episódio do podcast sobre Darcy Ribeiro

Ouça agora clicando aqui!

Neste quarto e penúltimo episódio da série de podcasts "Darcy Ribeiro do Brasil: Um Documento Narrado", é explorada a relação do grande antropólogo, escritor e político com o Estado do Rio de Janeiro. Escute e aprenda mais sobre os diversos monumentos e legados deixados pela passagem de Darcy pelo estado fluminense: da criação do sambódromo (que também é um escolódromo!), passando pela idealização do monumento a Zumbi dos Palmares, até a incrível jornada educacional dos CIEPs. Ah, isso sem falar na sua casa no município de Maricá, até hoje aberta à visitação! Este episódio também conta com leitura em off do nosso editor Lucas Viriato. Ligue o som e seja transportado para esse tempo onde o concreto armado servia de base para a construção de sonhos e ideais.

Dianoia, um poema de André Vinicius Pessôa

Que revolução na terras nos acalentará? Há que se fazer o caminho. Brilhar, pois, girando. Que revolução na terra nos tonará reais? Sob a luz noturna, entre poemas, estamos nas coisas. Tocar é que são elas. Moram longe. Mover, ainda que indefinidamente, assim como as estrelas.

André Vinicius Pessôa

epilepsy is dancing, poema de Tatiana Pequeno

meu pai alegre sua mão tremendo fingindo ser maestro alguma
                                                                                      [música

para violoncelo ressoando pelo bairro acima da leve ladeira

(as janelas abertas e o voil bege claro soprando minha respiração
     [seguidamente para o alto onde vibra o pó enigmático da luz)

aprendi cedo o ponto exato que o corpo atinge antes de cair

Tatiana Pequeno

CAFÉ DA MANHÃ

— Mãe, como chama quando

a gente ouve uma música e

fica triste de felicidade?

— Saudade.

Daniel Viana

SERTRANSNEJA BALAIEIRA

Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju

Travesti é ser vivente
da sobrevida no sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão

Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do nordeste
eu vim de lá
eu vim de lá,

Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá

Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor

Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcelos

haicai semiárido, um poema de Thais Vicente

louvável é a chuva

quando cai sobre o sertão

findando a secura

Thais Vicente

Oráculo, um poema de Alzira Umbelino

Ainda que na contramão do mundo

um sítio sacro

portal para quem se busca

sem chaves

sem reino

para os passos do herói nada de sortilégio

nenhum guia à vista

Um minotauro em seu trono

em sua glória

em sua falta

mais que labirinto mais que olimpo

fio de seda nas mãos de Ariadne

caminho de Teseu

no pergaminho do tempo

a sede de se fazer apenas humano

Alzira Umbelino

Um poema de Paula Reis Vianna

musguinhos são os cabelos da rocha

quando a onda passa e os ajeita

é um ecossistema inteiro

penteado pra direita

Paula Reis Vianna

3º episódio do podcast sobre Darcy Ribeiro

Ouça agora clicando aqui!

Já está no ar o novo episódio da série “Darcy Ribeiro – Um Documento Narrado”. Nesse capítulo, vamos explorar um pouco mais a relação entre nosso antropólogo e os Povos Originários do Brasil: da idealização do Parque do Xingu, passando pela criação da FUNAI, a expedição dos irmãos Villas-Bôas, a eleição do lendário Cacique Mário Juruna para o Congresso, chegando até a criação do atual Ministério dos Povos Indígenas. Não perca essa oportunidade de conhecer um pouco mais do Brasil profundo, tão amado por Darcy.

quinta-feira, um poema de Miguel Suzarte

quinta-feira. um quente afago que beira. a semana inteira desnudando e a quinta é o quase lá. o zíper entreaberto, as meias de arrasto prestes a rasgar.

Miguel Suzarte

Um poema de Shaina Marina

Nesta brava manhã funesta, passarinhos

decapitam sonetos a deleitar saudades dos

beijos ácidos de minha alma atormentada.

Nesta brava manhã serenata, ávidos são os passos

exauridos de pressa corrompidas, a ver

os dias putrefarem nas esquinas romperem

as ilusões mortalhadas.

Shaina Marina

AVÓ-AR

Foi-se embora com o vento.

Só levou a roupa do corpo

e flores, muitas flores.

A avó floriu em outra estação.

Daniel Viana

cardápio

o amor será servido
cuidado
ele está envenenado

Jovino Machado

Um poema de Isabel Diegues

intuo

tua boca

carnuda

dando

(doce

cena)

na maior

orgia

a língua

a alguém

enquanto

todo mundo

doido

duvida

da tua

aliteração

Isabel Diegues

FAKE NEWS, um poema de Glauber Mizumoto

A olho nu

o cristal líquido

faz dias nudes.

Sol que não.

Glauber Mizumoto

Um poema de Erica dos Santos Rodrigues

Eu seria uma mulher que fuma

Mas me faltou coragem

ou inocência

Aqueles círculos de fumaça

carregados de um prazer egoísta

Afrontando-me no rosto

de forma lascívia e terna

Ah as mulheres que fumam

Como não amá-las

inveja-las

querer tragá-las

suavemente

Erica dos Santos Rodrigues


Na foto, a atriz Joan Crawford, sucesso de Hollywood nos anos 1920.

2º episódio do podcast sobre Darcy Ribeiro

Ouça agora clicando aqui!

Foi lançado hoje o segundo episódio da série “Darcy Ribeiro – Um Documento Narrado”, contando ainda mais sobre a vida e a obra deste grande antropólogo, educador, político, escritor e pensador importante da construção da ideia de Brasil. Escute no link acima ou em qualquer outra das plataformas de áudio. Viva a Educação! E que viva Anísio Teixeira, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro!

Um poema de Numa Ciro

passarei a tarde toda

descascando cebolas

só pra chorar sem motivo

Numa Ciro

É hoje: lançamento de “O livro do verso vivo”

É logo mais o lançamento da antologia lusófona de ecopoesia organizada por Maurício Vieira e Thássio Ferreira. Não percam!

Um poema de Knorr

uma ponte aérea

de hora em hora

entre meus olhos

e seu coração

Knorr

OUTRA QUADRILHA

João amava Teresa
que amava Raimundo
                  mundo mundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava
que amava.
Joaquim suicidou-se
— amava demais.

Daniel Viana

Leia o poema original de Carlos Drummond de Andrade:

Lançamento: Vozes & Visões, de Gringo Carioca

Nosso querido Gringo Carioca esta lançando seu terceiro livro de poemas, “Vozes & Visões” (Ed. Arribaçã), nesta próxima quarta-feira, no Bar Botica, em Botafogo. Depois de “Reflexos & Reflexões” (Ed. Oito e Meio) e “Manifestos & Manifestações” (Ed. Patuá), este terceiro livro do autor vem consagrar as visões antropofágicas já consagradas desse que é o mais carioca dos estadunidenses! Esperamos você lá!

aguardar

aguardo

sem guarda chuva

nem anjo da guarda

Gringo Carioca

Evento “A Trama Tropical”, em Botafogo

A professora Ana Chiara, nossa querida colaboradora, convida para o evento “A Trama Tropical”, com André Masseno, Fred Coelho, Leonardo Davino, e Marcelo Santos, na Casa Dirce, em Botafogo. Não percam!

Beneditino, um poema de Guilherme Ottoni

Olho esta página e antevejo a ruína,

Página em branco, de mudez perversa,

Mas que antes tenha a maldição que versa,

Do que versar a maldição que ensina!

Dela desejo a inspiração divina

Para que frente à encruzilhada inversa

Ouça de Exú a irracional conversa

E cante um verso que alivie a sina!

Oh, folha em branco, Adamastor dos poetas,

Quanto de ti na imensidão do engano

Não cala as vozes tontamente inquietas?!

Certo é, escrevo, mimetizo o estoico,

E olho o papel que rabisquei sem dano

Na vala reles do soneto heroico!

Guilherme Ottoni

Pixo, um poema de Iuri Mello

O livros dos hieróglifos se abre nas sacadas altas regulares como textos cuneiformes runas, escritas disforme nomes mágicos que só é dado a ler aos iniciados culto rupestre de jovens calados marcam seus nomes no templo de asfalto Iuri Mello

do amor ao espanto

a Marilena de Moraes

O amor resiste ao redemoinho

do mais barítono dos outonos

enquanto assiste ao céu da primavera

negando a flor

parir o espanto.

Alexandre Brandão

Darcy Ribeiro do Brasil: Um Documento Narrado

Ouça agora clicando aqui!

O centenário de Darcy Ribeiro (1922-1997) motivou a criação da nova temporada dos podcasts Cultura Transviada e Saudiversidade. E o Jornal Plástico Bolha tem o maior orgulho de trazer esse projeto em primeira mão para nossos leitores. Afinal, Darcy não é um qualquer!

‘Darcy Ribeiro do Brasil – Um Documento Narrado’ é o título da série de cinco episódios que será lançada semanalmente a partir de hoje. Idealizado pelo jornalista Pedro Neves em parceria com a médica infectologista Vivian Avelino-Silva, o podcast mergulha em uma pesquisa documental sobre a vida e o legado de Darcy Ribeiro, personalidade que trilhou uma trajetória tão múltipla quanto representativa ao estudar, defender e lutar pelo Brasil e por toda a diversidade do povo brasileiro.

Este projeto/podcast foi realizado com recursos do prêmio concedido pelo edital ‘100 anos de Darcy Ribeiro’, no âmbito do projeto da Muriqui Cultural, realizado através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Oi, apoio do Oi Futuro e coprodução da Zucca Produções.

O primeiro episódio já está disponível em todas as plataformas de áudio!

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Episódio 01: Quem foi este grande brasileiro?

Apresentação e idealização: Vivian Avelino-Silva e Pedro Neves

Roteiro e direção geral: Pedro Neves

Pesquisa: João Gustavo Melo, Pedro Neves e Vivian Avelino-Silva

Participações especial do ator Pedro Henrique Müller como Darcy Ribeiro

Participações em OFF: Athos Souza, Thaynara Firmiano, Fabiana Dapia e Ricardo Oliveira

Todas as falas de Darcy Ribeiro foram tiradas de discursos e entrevistas concedidas para Revista Manchete, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, O Globo, Estado de São Paulo, Veja, TV Cultura, TV Manchete e TV Globo.

A finalização dos episódios é da Baioque Conteúdo

Redes sociais e design: Thaynara Firmiano, Gabriela BNV, Giulia Franzini, Organograma Comunicação (Lucas Viriato e Bernardo Arouca)

Produção: Clímax Comunicação e Conteúdo

Realização: Instituto Saudiversidade.

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Sometimes a gente lembra

Anos depois
Tudo reacende como algo que nunca deixou de ser
Sometimes a gente lembra
Você sabe
Ontem foi o dia mais feliz das nossas vidas
Tanto tempo isso
Tanto tempo
To aqui em memória
Esperando o ônibus que me levará pra longe de você
Depois de tudo
Mas um dia você vai lembrar
Eu sei
E quando parecer opaco
A mensagem das 6 horas da manhã virá

Fabio Reis Vianna 

YOGA

estique os braços como lanças
abra os olhos dos joelhos
conte cinco respirações
na posição do coração
cobra
elefante
golfinho
cachorro
com as pernas em ângulo de noventa graus
expire nas costelas
procure sentir a carga de energia
do ponto que há entre as sobrancelhas
relaxe a relação do maxilar com a mandíbula
alivie a tensão da lombar a cada respiração
entregue seu corpo ao chãohmmm

Luiza Mussnich

LEXICOCRACIA

Não tenho palavras. Nunca as tive.
Soberanas, elas me têm. Atiram-se à minha frente
e desviam minha atenção no trânsito.
Tergiversam. Vaticinam.
Regozijam-se de meu tormento.
Espalhafatosas, subvertem minha atração
por elas com seus piripaques e faniquitos.
De madrugada, despertam-me
aos sopapos, sem pena:
Levanta! Endireita-te!
Vai fazer poema!

Noélia Ribeiro